sexta-feira, 14 de outubro de 2016

Tarot: arcano XIV, Temperança. Hermenêutica e consciencializações energético-psico-espirituais.

                                  
O arcano XIV da Temperança  evoca ou apela tanto a uma virtude de  harmonização e plenificação, muito considerada e enaltecida na Antiguidade clássica, no Cristianismo, no Sanatana Dharma (a eterna Ordem, ou Hinduísmo)  e na generalidade das vivências e doutrinas morais, filosóficas, religiosas e espirituais dos povos, como também a um ser celestial, ou mesmo o Anjo, em especial em nós.   
Na Grécia, Sophrosyne (Sofrosine) era tanto uma qualidade ou virtude essencial, a do equilíbrio, moderação, adequada circulação das energias, instintos e emoções, evitando-se as tão daninhas irritações e desânimos, ou ainda os excessos na alimentação e bebida, sono e vigília, como  também um espírito celestial, um Anjo bom (Daimon agato) e, muito provavelmente, foi esta uma  ou mesmo a fonte principal desta representação arcânica no Tarot. 
Podemos  realçar, dentro da imagem padrão representando a Temperança nos diversos Tarots, as abluções purificadoras (mesmo as caseiras diárias), tão presentes nas tradições religiosas e iniciáticas,  e o processo constante  e desprendido de se observar, discernir e equilibrar as energias internas e externas, em especial nas suas carências e frustrações,  dinamismos e impactos. 
A Temperança pede-nos que saibamos caldear e unificar os diversos tipo de polos ou extremos que por vezes estão muito pouco harmonizados ou alinhados correctamente. O que é  natural face a tanto desequilíbrio, carência, conflito e ameaças em que as pessoas se veem envolvidas, seja por "direito próprio", seja por poluição exterior, seja por "taxa social" veiculada pelos famigerados meios de informação, de facto altamente desequilibradores do estado anímico das pessoas, nomeadamente nos nossos dias com as corrupções, escândalos, fogos, vírus, epidemias e vacinas, e em especial com a guerra da NATO, USA e UE contra a Rússia na zona russa da Ucrânia, com uma política tão inepta ou mesmo suicida (para os mais pobres) nas sanções e inflações decorrentes. Ou mais recentemente a tragédia e genocídio de Gaza. Pax!
    Temperar, equilibrar e harmonizar energias, dentro e fora de nós, é então sugerido pela imagem duma   entidade celestial jovem, dotada de asas e com uma veste longa que oculta as extremidades, no fundo um espírito e alma mais luminosa, angélica, que transvasa um ou dois líquidos, seja água, vinho ou energias subtis, de um vaso para outro, em algumas versões diferentes na cor, com a polarização vermelha x azul, numa mistura, diluição ou activação vitalizadora e transformadora, a qual, na imagem que veremos em seguida, ao contrário da moderna inicial, antiga e dos Tarots originais quatrocentistas, é realizada numa circulação  do alto para baixo e, provavelmente, depois alternando, mostrando-se assim a necessidade de exercermos repetida e persistentemente (com virtude...) o religar ou harmonizar os nossos diferentes níveis sob pena de estagnarmos, enfraquecermos, adoecermos, dispersar-nos, e as formas principais em que esta religação acontece sendo a respiração, a oração, a concentração, a meditação, a contemplação e unificação.
                                           
  A Temperança, ainda que sendo pois uma virtude (de vir - força) individual, implica ou invoca uma componente cósmica, celestial ou espiritual,  que tanto pode ser o Anjo, como a Divindade, como o Espírito em nós, o Bem, a força divina temperadora, a qual se deve invocar, sentir e manifestar. Será ela, ser e qualidade, a Sofrosine, que de certo modo nos inspira, ou pelo menos se actualiza, nas concentrações e circulações, descendentes e ascendentes, com seus efeitos harmonizadores e unificadores e que, numa alquimia persistente diária (por exemplo, nos banhos),  devemos realizar, vencendo os insidiosos  miasmas exteriores e  subtis, as doenças e os estados de inércia e de depressão, na doutrina indiana das três gunas ou qualidades da matéria, abrangidos na 3º guna denominada tamas. Não estagnarmos, não nos petrificarmos, não nos deprimirmos, mas enfrentar, lutar e transmutar, lavar-nos, endireitar-nos, realinhar-nos, renascermos.
Numa versão primordial do Tarot, a dos Trionfi de Visconti Sforza, de cerca de 1450, observamos então uma  jovem  sentada com um nimbo bem marcado a envolver a cabeça e a  veste avermelhada, esta cor estando compensada pelos braços verdes que assinalam o dinamismo da purificação e harmonização das energias dos dois vasos, os quais podem indicar o quente e o frio, a água e o vinho, o seco e o doce, o coração e o sexo, a razão e os instintos, o consciente e o inconsciente, o feminino e o masculino, a arrogância e a humildade, a coroa e a raiz, a noite e o dia, a ilusão e a desilusão, a doença e a saúde, a vida e a morte...
                                      
À Sophrosine da tradição Grega, que tinha pois a sua identificação originante a um Espírito celestial, qual génio ou deusa, veio a corresponder depois a Temperantia na tradição Romana, a qual  perder essa origem e identidade animada ao subsumir-se abstractamente na doutrinação moral cristã dos primeiros Padres da Igreja,  tornando-se apenas uma das quatro Virtudes cardeais, ou seja, as que, como gonzos (cardines) podem fazer girar as portas de  acesso aos mundos subtis, espirituais e ao Ser Divino.  
Permanecia contudo ainda o sentido interior de autocontrole,  o do comunicar, equilibrar e complementar as dualidades e contrários, orientando ciente e salutarmente o fluxo dos instintos, alimentos, desejos, actos, energias, sentimentos e pensamentos, sob um amor temperante e assim gerando uma vida equilibrada e luminosa.
As representações em mapas e globos da constelação e signo da Virgem como uma mulher alada sugerem  também a temperança, a pureza e a ligação com planos superiores inspiradores ou fortificadores de tal qualidade. E a eles dedicamos recentemente um artigo: https://pedroteixeiradamota.blogspot.com/2017/08/as-representacoes-de-anjos-nas.html
                                      
No Tarocchi de Mantegna, um proto-Tarot de 22 arcanos, desenhado cerca de 1460, encontramos incluído no seu programa humanista de imagens, além de Apolo e as Musas, Artes e Ciências, Planetas ou Esferas Celestiais, e Profissões ou Estados, as quatro Virtudes Cardeais, nas quais a Temperança surge com uma Mulher com uma dimensão acentuada e um diadema no cimo da testa, e com um aspecto particular ao estar a dar de beber a um pequenino animal a seus pés, indicando deste modo provavelmente tanto uma proporcionalidade entre o espiritual e o animal em nós, como o saber alimentar o lado animal da vida, interno e externo, harmoniosamente. É de certo modo ainda uma nota ecológica e compassiva, sinal da consciencialização da Unidade da Vida, tão necessária nos nossos dias de crises ambientais e éticas e em que os valores de não-violência e unidade são tão importantes de serem cultivados perante a opressão de tanto magnate ou desgovernante mais ambicioso e desequilibrado.
      A Temperança inspira-nos assim a melhorarmos a nossa relação com os eco-sistemas e a multidimensionalidade dos seres, implicando  atenção e receptividade, respeito e amor, a fim de nos relacionarmos harmoniosamente no dar e  receber,  ganhar e gastar, comer e beber,  dormir e trabalhar, falar e calar, ler, escrever e meditar, individualismo egoísta e altruísmo, equilibrando-se estes opostos complementares de um modo preservador, salutar e luminoso, para nós e para os outros...
 

Em alguns Tarots da zona de Paris, Bruxelas e Rouen, cidades importantes do sacro Império Romano Germânico, as representações  deste arcano apresentam a Temperança coroada e numa das mãos segurando uma vara ou ceptro do poder, e só na outra há o temperar das dualidades nos dois vasos, talvez se projecta a matriz imperial sobre a angélica, assinalando que os reis e imperadores eram dos que mais tinham autoridade e poder para temperarem as dualidades e conflitos. Contudo, o moto que surge "sol fama" é extraído de um poema de Mateo Boiardo (1441-1494) que diz que "após a morte só a fama continua", Dopo la morte sol fama n’avanza. E ao estar colocada na sequência das cartas após a da Morte, faz sentido, tato mais que Petrarca nos seus Triomphi, após celebrar nesse seu livro a Morte, passa à da Fama. Neste sentido, os dois vasos podem ser o da vida terrena e o da celestial, e que devemos agir na vida conscientes que estamos a transferir simultaneamente energias e qualificações para o vaso ou corpo espiritual e portanto para a nossa vida depois da morte. Poderíamos até considerar este Anjo como o da Morte, e será certamente uma boa visão cm que podermos enfrentar os momentos da morte e transição para o além.
                               
     Os Tarots do sul de França, designados posterior e genericamente de Marselha, desde os meados do séc. XVI e já XVII reafirmam o ser Angélico feminino na figuração da Temperança a passar de um vaso azul para outro vermelho uma corrente energética ou líquida de três correntes em cima e de duas em baixo, e tanto ecoam a deidade ou entidade celestial grega (o tal Agato Daimon, o espírito bom) como eventualmente uma tradição de androginato, no sentido de equilíbrio das duas polaridades (o azul e o vermelho) em nós, assinalada também na roupagem.
Ecoa ainda a noção do Anjo da Guarda (provindo dos persas - fravashi -, gregos e dos cristãos), o qual nos acompanha e pode inspirar, proteger e guiar, na morte e na vida, assistindo-nos nas nossas tentativas de moderarmos os instintos, impulsos e conteúdos psíquicos e de unirmos  dentro e fora de nós as polaridades referidas já, tais como o positivo e o negativo, a dor e o prazer, higienicamente, harmoniosamente.  De modo a, seguindo as melhores aspirações e determinações, atingirmos e vivermos momentos e estados expandidos de saúde e bem estar, harmonia e paz, sabedoria e amor, visão e religação espiritual, ou seja, de unidade.
    Estas representações do Tarot de Marselha têm em geral os dois vasos mais em baixo, mas a uma altura tão próxima que conseguem transmitir melhor a ideia de que serão energias subtis psico-somáticas, sendo a dualidade realçada pelas cores vermelha e azul, num indício possível até de conhecimento das cores anímico-espirituais visíveis ao olhar interior na meditação...
O olho espiritual, ou mesmo o centro de forças do cimo da cabeça, marcado com flor vermelha, sinaliza tanto a irradiação do espírito ou centelha solar, como a visão interior, como ainda o esforço de vontade necessário para controlarmos as vagas de pensamentos e recebermos a Luz no nosso vaso ou Graal, e tanto para a assimilarmos como para depois a irradiarmos, partilharmos. Assim fortificamos ou retemperamos a nossa alma, elevando-a à possibilidade de manifestar às frequências vibratórias caracterizadas como asas, próprias  das mais vastas ou expandidas consciências angélicas e espirituais...
                            
  O Tarot do ocultista Arthur E. Waite, ainda que desenhado por Pamela Colman Smith a partir de um semi-perdido tarot renascentista a que ele tivera acesso no British Museum, o Sola-Busca de 1491, recria segundo critérios ocultistas e esotéricos do séc. XIX, por vezes discutíveis, alguns dos componentes deste arcano, nomeadamente o ser angélico ou celestial, acrescentando a dualidade expressa nos pés assentes em água e terra (ao contrário dos do Tarot Marselha, que estão tapados ou não existem), e o arco-íris que "liga e ecoa" as asas dardejantes em cima de nós e no horizonte. E, ao fundo, ou profundo do ser, e da vereda, observa-se a via e a chegada irradiante ao cimo da montanha sagrada, num caminho que teoricamente vai da ignorância e inconsciência à super-consciência.
    As indicações e hermenêuticas do simbólico são catalizadoras de circulações energéticas e conscienciais em quem  contempla mais demorada e aprofundadamente as imagens, pois esta seria a função principal das cartas do Tarot, e não a exploração comercial que se faz delas em livros ou cursos cheios de imaginativas e contraditórias correspondências com letras hebraicas, sefirotes da cabala e signos astrológicos (embora neste último caso haja influências ou correspondências), algo que se desenvolveu com vários ocultistas mistificadores do séc. XIX, nomeadamente com Eliphas Levy, ou mesmo Papus, à cabeça, e que tantos seguidores tiveram, tal Haziel e companhia, e ainda têm...
A par disto, diga-se de passagem, que numa consulta se o método de  tiragem implica várias cartas tal só complica ou obstrui a possível intuição facilitada antes pela oração, concentração e a tiragem simples de poucas cartas e gerando uma consequente leitura mais directa e segura. Assim, as leituras resultantes das tiragens de muitas cartas frequentemente são mais enganadoras do que clarificadoras  e, quanto a probabilidades antecipadoras, pouco têm de minimamente provável. Embora, certamente, uma pessoa possa receber auxílio psicológico ou inspirador importante, se consulta alguém que trabalha não movido pelo dinheiro e o negócio, e que estuda o Tarot, vive harmoniosa e sabiamente e sabe meditar, ou estar ligada ao alto, e consegue intuir a situação do consulente...
                                     
     Uma versão moderna do arcano da Temperança mostra a figura central como um poderoso ser Angélico ou Deva de um vale, apresentando assim a Natureza mais  desvendada:  ela contém seres subtis e angélicos,  podendo ser vista unificadamente, individualizada como tal, como alude a tradição iraniana com o Anjo Feminino da Terra,  Daena, ou certas deusas da Grécia, tal Demeter, Geia ou Gaia. Há neste moderno Tarot uma clara naturalização face às anteriores versões, nas quais a Temperança estava bem menos representada como espírito ou deva da Natureza.
Esta representação será certamente adequada à meditação, invocação e intuição de quem, por exemplo, vive no campo e o cultiva em modos (tão importantes e necessários) de agricultura biológica, permacultura e agricultura bio-dinâmica, ou de quem é simplesmente um ser ecológico e amante dos eco-sistemas e das caminhadas e peregrinações por vales e montanhas...
Pode ser bem forte em nós esta imagem, pois realça a circulação energética, nos corpos invisíveis e subtis, nossos e dos Devas e Anjos, e à qual devemos estar mais sensíveis e dialogantes, já que o tão fundamental desenvolvimento do espírito e dos seus sentidos é apoiado por uma circulação harmoniosa das energias psico-vitais nossas e uma interacção dialogante ambiental harmonizante e aprofundante, amante e grata no que hoje se chamam os sub-campos unificados de energia consciência informação que unem, envolvem ou contém todos os seres, e dos quais a web pode dar uma noção ou imagem e que têm na pura Natureza como um tudo, que abrange e liga a terra, água, ar e sol,  o seu potencial harmonizador maior...
                                     
A sensação de retemperança que sentimos na Natureza verde e aquática está bem expressa nesta versão da Temperança, num dito Tarot Céltico, a qual nos relembra ou pode impulsionar a desenvolver com mais frequência momentos de comunhão com a Natureza e suas energias e seres, conscientes dos fluxos vitalizadores que ocorrem, seja apenas em vasos com plantas dentro de casa (quantas vezes lhes tocamos ou falamos por dia?), ou já em jardins e campos, em trabalhos, peregrinações, diálogos, meditações e orações.
                                        
Neste versão moderna voadora da Temperança realçaremos  o equilíbrio entre os aspectos terrestres, aquáticos e celestiais que devemos procurar na vida ou, se quisermos, dos nossos actos, sentimentos e pensamentos, para conseguirmos depois verter a ambrósia ou vinho da sabedoria e do amor dos níveis mais elevados para o vaso ou Graal (o Jam-e jam, persa) do nosso coração, e daí irradiar no ambiente do Campo unificado e seus seres. 
E ainda se pode ler esta imagem, ou fazer a sua hermenêutica, como a passagem de um plano de vida terrena para um subtil e psíquico, pois tanto os dois jarros como as suas energias lembram que somos cidadãos não só de dois mundos, mas também do terceiro, o espiritual, cujo centro é o Divino, e que é a coroa, fonte e essência mais íntima deles. 
E, como este arcano XIV vem a seguir ao da XIII da Morte, pode ainda simbolizar, de um modo belo (e lembraremos Antero de Quental e a sua atracção-paixão - talvez demais - ou, melhor, o seu destemor face à morte)  os processos energéticos conscienciais de desprender-nos da Terra, e passarmos e despertarmos no além, e não nos detendo nas zonas ribeirinhas do mundo espiritual...
Acrescente-se ainda, fruto de uma intuição recente, que XIV é o meio do ciclo lunar de 28 dias e de certo modo mesmo do mês solar, pelo que assinala um dia de passagem, de transmutação, de recomeço.
                                 
Terminemos esta revisitação do arcano da Temperança com a versão com que começamos, uma moderna boticeliana, ou seja, inspirada em Sandro Botticelli, membro da Academia platónica florentina fundada por Marsilio Ficino no séc. XV, artista que segundo certos estudos recentes poderá até ter contribuído para a representação em pinturas, dentro de palácios italianos, de alguns dos arcanos. 
Além da grande suavidade, beleza e doçura desta face feminina da Divindade, das Deusas, do Anjo Feminino, da Musa Alma-Gémea e da Mulher na mulher, ou da mulher como Deusa, certos arcanos de simbologia espiritual foram bem desenhados: a rosa do Amor que a acompanha e se derrama ou infunde no movimento de troca e de circulação de energias entre os vasos que somos, temos  e estabelecemos com os outros, no todo do Campo unificado de energia informação consciência. 
Destaca-se deste, no horizonte, a Corona Solis, uma coroa dentro do Sol, vencedora de coronas menores, tais as que nos anos 2020 e 2021 começaram a afectar demasiadamente a vida, a convivialidade e liberdade humana e esperando-se que com o enfraquecimento do vírus, cada vez mais visível, termine a campanha de aterrorização e opressão, que sobretudo os media (em parte bem pagos pelas farmacêuticas) pregam e retalham nas frágeis e alienáveis almas que ainda abrem a televisão e muitos dos jornais e revistas.  
Vemos então a fulguração solar iluminante acontecer sobre a montanha sagrada do Oriente, a qual se pode considerar física e espiritual, sendo esta (denominada na Índia Himavat, e tão bem espelhada pelo mestre alemão Bô Yin Râ nas suas obras e pinturas) a que deveríamos mais invocar, aspirar, contemplar e comungar, sobretudo face a situações difíceis, ou apenas para bênção das nossas orações e meditações diárias.
Os Himalaias, Himavat, a montanha mais sagrada da Humanidade numa pintura de Bô Yin Râ...
São ainda de destacar neste arcano do Tarot de A. E. Waite o triângulo do fogo da aspiração do Amor unitivo, dentro do quadrado da matéria e do corpo, representado no peito, qual coração espiritual, e o olho espiritual igualmente bem activado. E, por fim, a bela espiral de nuvens de energias e espirituais (nuvens que contempladas com amor podem ser tão inspiradoras de fortificações e elevações conscienciais diariamente),  a qual fortalece e religa  a alma que aspira à pureza, à harmonia, à temperança e à Sophrosyne no caminho da vida e abrindo-lhe assim as possibilidades de religação divina e de felicidade...
Sejamos então mais harmonizadores, iluminadores e unificadores das dualidades e tensões, miasmas e doenças, mistérios e desafios. 
A cada momento da vida estejamos mais conscientes das presenças e circulações luminosas energéticas, psíquicas e espirituais, e saibamos invocar mais forte e sabiamente, em uníssono com familiares, amigos, companheiros de causas, antepassados,  seres angélicos e espirituais e, finalmente, com a Divindade...
Que o nosso subtil Anjo da Guarda, ou o Mestre, seja mais invocado, pois bem precisamos dele no meio das crises e ameaças. Tentemos descobrir ou inventar meios de nos religarmos mais, de a sua presença ser mais merecida e sentida, de as suas bênção estarem connosco...
 Que também a invocação ou mesmo a ligação ao Mestre e aos Mestres, Santos e Santas, Anjos e Arcanjos esteja mais consciencializada e viva em nós... 
Que o Amor Divino arda firme em nós, impulsionando os movimentos psico-energéticos necessários e as passagens  e transmutações de estados semi-conscientes dificultosas, apurando-nos para agirmos e irradiarmos beneficamente no Todo e em crescente ligação criativa e alegre, feliz, com o Espírito, o Amor, a Divindade...

 

quarta-feira, 12 de outubro de 2016

Tarot, XIII, a Morte. Imagens arquétipas, símbolos energéticos, iniciações conscienciais.

O arcano XIII da Morte é dos mais simples e claros, tanto que na maioria dos Tarots é o único arcano que dispensava o nome,  e nesta versão muito primordial renascentista dos Trionfi ou Tarot de Visconti Sforza, cerca de 1450, vemos um esqueleto segurando a uma árvore  seca da seiva da vida, indicando-nos que a duração do corpo, carne e sangue como veículo da alma e do espírito terminará um dia, pois com o envelhecimento corporal e a maturação anímico-espiritual é conveniente deixar o corpo e este mundo físico. 
Todavia,  o que o vento ou a energia subtil desfraldará da nossa consciência no além pouca gente demanda ou interroga, e como tal esta carta apela a uma maior auto-consciência espiritual, pois o  hálito da morte subitamente vem e não sabemos bem para onde nos levará ou soprará, ou seja, para que estado consciencial nos elevaremos 
Maior auto-consciência significará então maior sensibilidade à nossa multidimensionalidade subtil e espiritual, bem como aos campos ambientais, vitais, auricos e psíquicos que nos rodeiam, manipulam e ameaçam, ou os que criamos e nos protegem. 
Como talvez já saiba os Tarots nasceram provavelmente de transmissões orais itinerante dos Mistérios e sabedorias antigas e de programas humanistas e herméticos na época do Renascimento, concretamente nas cortes italianas, e assim a imagem da Morte montada no cavalo e abatendo ricos e pobres era bem adequada num tempo em que constantes guerras na Europa faziam as suas razias, algo que hoje em dia no mundo da globalização e do terrorismo se alargou a uma sociedade planetária, na qual as guerras e mortes já não são só localizadas ou encerradas em fronteiras e continentes mas em grande parte provêm em grande parte do globalismo financeiro, do imperialismo, nacionalismo, racismo e ideologias insensíveis à Natureza e ao ser humano, e logo violentas, extremistas, mortíferas, por diversas vias mas sobretudo económicas e militares, ainda que não se possa pôr de parte que o mesmo suceda com guerras biológicas ou de vírus, tal é a falta de sensibilidade e de amor de tantos financeiros, governantes e cientistas...
Há que estarmos então atentos às múltiplas circunstâncias ambientais e saber até prever se determinada situação ou local, forma de pensamento ou hábito, não é conducente ao desequilíbrio energético e psíquico, ao sofrimento, à doença ou mesmo à morte, e se devemos mudar de local, de hábito, de modo de ver e agir. E isto a cada momento...
Assim passando dos Tarots primordiais para os mais modernos, vemos como houve já quem apontasse bem o dedo ao imperialismo norte-americano, baseado em alianças de países e grupos de petrolíferas, armamentos, agro-quimícas, farmacêuticas e finanças, como a maior causa da morte e da destruição no planeta, com milhares ou milhões de seres morrendo, sobretudo no Médio Oriente, e milhões de bombas sendo largadas. Como tudo poderia ser diferente se os desejos e aspirações de paz, fraternidade, cultura e progresso harmonioso prevalecessem e substituíssem os criminosos,  ineptos e corruptos líderes...
Mas voltemos aos Tarots mais antigos e a uma simplicidade bem maior e menos trágica e criminosa da Morte, pois ela vinha sobre todos quando chegava a hora, naturalmente, as guerras não tinham a escala, a hipocrisia e a tecnologia de hoje, e mesmo uma esperança maior de imortalidade reinava nas almas individuais que retornavam a esse além, infernal, purgatorial ou paradisíaco como se doutrinava, se antevia, se merecia, ainda que com pouca clareza real se antevendo...
E como todas as pessoas estão sujeitas à morte e para ela se devem preparar, mostrava-se no desenho simbólico das cartas a cabeça de uma mulher e uma de homem coroado, além de mãos e pés de vários tipos de pessoas, espreitando ou exprimindo-se para fora da lama ou terra indiferenciadora da morte, com algumas plantas até já a germinarem. Tudo provavelmente como sinal do post-mortem, de uma vida depois da morte e quem sabe de partes do corpo mais ora despertas ora embrutecidas e cortadas...
Na religião do Egipto, era o chacal divinizado Anubis a acompanhar  a alma do defunto na cerimónia da Pesagem do Coração e a ajudá-la a avançar nos reinos da Luz. Os Gregos, que herdaram alguma sabedoria egípcia, via Sólon e provavelmente Pitágoras, entre outros, chamaram psicostasis à verificação do estado de alinhamento da alma com a verdade e a justiça (a deusa Maat), e  os Pitagóricos antecipavam-na diariamente, numa revisão à noite do dia vivenciado, melhor ou pior, exercendo-se ou treinando-se assim de certo modo a morrerem diariamente, e a auto-julgarem-se, já em vida...
Tarot XIII. A Morte. La Mort. Death.. E ressuscita...
 O arcano XIII da Morte, nesta imagem do clássico Tarot de Marselha, corresponde bem à ideia arquétipa que em sociedades ainda muito agrárias se fazia da morte, a Ceifeira: ela ceifava as vidas a direito, fazia os corpos retornarem ao húmus indiferenciado, embora algo delas sobrevivesse, como as coroas, mãos e pés sugerem. Quando havia as pestes, então toda a gente via à sua volta tal imagem em acção. Nos nossos dias com a covinagem e a absurda luta do Ocidente contra a Rússia, temos assistido a tal ceifar de seres.
Provavelmente terá sido durante séculos esta a imagem no Ocidente que mais se auto-gerava da morte e seja nos Livros de Horas, seja nas representações teatrais, seja já com a tipografia com os Livros das Danças da Morte, em xilogravuras ou gravuras, ela estava bem presente. Para além de que em muitos sermões dominicais alguma de arte de bem morrer se tentava ensinar através das práticas da virtude e do desprendimento e, claro, penitências e arrependimentos...
Certamente que o arcano XIII da Morte ou da Foice não tem o sentido de momento, fase ou dia aziago ou apenas de morte física e das transformações ou metamorfoses que ocorrem posteriormente, pois constantemente estamos a morrer em milhares de células e partículas. E mesmo o ciclo de vigília-adormecimento (com os seus sonhos) é já uma morte menor e temporária e que, tal como a outra, ainda permanece bem misteriosa, apenas poucas pessoas tendo os sentidos espirituais despertos para estarem conscientes com o corpo físico adormecido, ou durante essa passagem da consciência para o mundo onírico e interior ou mesmo para os mundos subtis e espirituais.
Em verdade, morremos também, e muito, psiquicamente, por causas diversas e sem que seja o envelhecimento dos anos a causa obrigatória do morrer, havendo mesmo pessoas novas praticamente mortas na alma, por actos e psiquismos  daninhos, e que permanecem ainda vivas fisicamente. Também a exposição às televisões e em espacial aos seus noticiários vendidos comentadores pode ser bastante mortífera em nós. Evite-os, deixe mesmo de ter televisão, para renascer mais...
Outras vezes dispersamo-nos demasiado, abusamos das nossas forças, e a morte apanha-nos precocemente, em termos de expectativas, ainda que frequentemente tal pudesse ter sido previsto. Na verdade, temos pouco desenvolvido o auto-termómetro que nos avisaria do que nos mata ou vai matando, ou da progressão insuspeitada de uma doença, ou quão próxima está a partida desta peregrinação terrena..
Um misterioso Tarot Zombie, muito actual quando se tenta massificar, manipular, zombizar toda a gente com os vírus, as vacinas e as narrativas oficiais do bem e do mal nos complexos conflitos, servindo tal a desígnios opressivos e autoritários...
Ora para conseguirmos viver longa e harmoniosamente e para não morrermos na alma espiritual e sabermos morrer antes no ego e para os seus erros, apegos e ilusões, sempre houve o caminho espiritual, iniciático. Neste sentido  tanto Antero de Quental e Joaquim de Araújo como Fernando Pessoa reafirmaram textualmente o antigo dito da Antologia Palatina Grega: "Morrer é ser iniciado" não só porque com a morte entramos no mundo subtil mas porque morrer em vida para o que nos ilude e desilude, para as aparências e medos, e renascer espiritualmente pela meditação e o modo de vida correcto e corajoso, iniciam-nos mais no amor, na sabedoria, na fraternidade, no Espírito e nos mundos subtis, espirituais possibilitando mais ligação ao misterioso Ser Divino. 
Morrer é então deixar os hábitos e inércias limitadoras (nomeadamente antes de dormir, meditando), abandonar as falsas identificações (e à hora da morte as vestes corporais e ambientais), subir de frequência vibratória e renascer mais conscientes como espírito, num corpo psico ou espacio-espiritual. Ser iniciado será mesmo a demanda principal (a par do génio literário) de Fernando Pessoa, que nos deixou vários textos interessantes sobre as condições de iniciação e as práticas meditativas e activas, tal como a conversa com o Anjo da Guarda, a tal conducentes.
Nas mortes psíquicas que temos de atravessar em vida, e que é bom consciencializar-nos  como tal, para as podermos melhor atravessar ou transmutar, para além das provocadas por doenças e faltas de dinheiro, destacam-se as desilusões nos relacionamentos, seja  por divergências afectivas, culturais, políticas (hoje muito visível no conflito Ucrânia-Rússia) ou simplesmente dos egos, ou mesmo por causa das concepções e vias evolutivas espirituais de cada um serem demasiado condicionadas por doutrinas e crenças...
Mas tais desilusões e mortes são ou servem para renascermos, de modo a que o amor, alegria, a coragem não se esfriem nem se apaguem em nós, antes se fortifiquem interiormente e com os outros, com o Espírito, no Angélico, no Divino e no Todo, avancemos mais criativa e realizadoramente.
Não é fácil estudar-se ou consciencializar-se bem de como a desilusão em relação a uma pessoa amiga, ou o corte de uma afectividade amorosa, provoca, além disso, ferimentos e sangramentos psíquicos, e até certo tipo de morte e logo afastamento e desprendimento do mundo. 
E contudo milhares de pessoas amam-se e "desamam-se" diariamente e apenas sabemos depois que há muita a gente a tomar comprimidos, a fechar-se mais em si, a compensar-se de outros modos, sem meditarem e auto-consciencializarem-se do seu estado interior e fazerem as alquimias, diálogos e transmutações necessárias...
Outras pessoas  conseguem porém desabrochar da sua cruz, provações e mortes anímicas a Rosa do Amor perene do Espírito e do Ser divino (e neste sentido publiquei em 1988 o livro Rosea Cruz, de textos quase todos inéditos de Fernando Pessoa, e recentemente em 2016 os trinta e três ensaios  Da Alma ao Espírito); para tais seres, provavelmente, nos momentos antes da partida da Terra,  a imagem-sensação e estesia da morte que verão, sentirão, e as acompanhará ou rodeará, será então bem luminosa...
Na Tradição Espiritual Portuguesa, Bocage, Antero de Quental e Fernando Pessoa destacam-se como três dos elos que, não pertencendo à Igreja Católica, a qual administrava de certo modo as chaves do Além e facultava uma relativa Arte de Bem Morrer (patentes nas Ars Moriendis, tal como a que Erasmo escreveu, e entre nós vários outros, nem que fosse nas biografias de santos e santas), trabalharam bastante a morte, o primeiro, Bocage, em dezenas de elegias, odes e sonetos nos quais afirma a sua visão da sobrevivência da alma no além e a sua capacidade de ter uma comunicação subtil connosco, sendo este de facto um psicomorfismo, ou dinamismo psíquico, bastante presente na grande Alma Portuguesa ao longo da sua história. 
Podemos citar, como exemplo deste psicomorfismo, tanto mais que ao longo dos séculos os poetas foram um dos mais importantes elos da transmissão espiritual ou iniciática,  o final do dramático e belo soneto Antero de Quental, Com os mortos, onde o poeta responde à interrogação inicial: "Os que amei, onde estão": «Mas se paro um momento, se consigo/ fechar os olhos, sinto-os ao meu lado/ De novo esses que amei:vivem comigo,// Vejo-os, ouço-os e ouvem-me também,/ Juntos no antigo amor, no amor sagrado,/ Na comunhão ideal do eterno Bem»
Em algumas das elegias de Bocage a sua qualidade de Fiel do Amor, presente por exemplo também noutro grande vulto literário Jorge Ferreira de Vasconcelos (bem revitalizado nos nossos dias por Silvina Pereira), surge original e poderosa, nomeadamente quando descreve a passagem do último sopro ou hálito de vida tingido de amor para a amada, ou vice-versa, tal como a imagem de um Tarot recente sugere e que deveria ser sempre um desiderato de dois seres que vivem juntos e se amam verdadeiramente...
 Na realidade, o segundo destes dois valiosos elos da Tradição Espiritual Portuguesa, Antero de Quental, cultivou tanto um desejo de superação da injustiça, da incompletude, da transitoriedade e das ilusões desta vida que o fez abraçar voluntariamente, precocemente, impulsionado por circunstâncias ambientais desilusivas do momento, aquela que ele chamava a irmã Morte, a libertadora e amada.
Antero, numa fotografia próxima da sua aura talvez tingida demais pela Morte...
Mas naquele final do século XIX qual seria a representação da Morte que  ele teria mais predominante dentro e à volta de si e que provavelmente foi determinante no acto de chamá-la voluntariamente? 
Que imagem e arcano das centenas de versões dos Tarots modernos poderia aproximar-se daquela que ele gerara dentro de si ou que mais lhe correspondia?
Interrogação ou questão bem difícil.....
E cada um de nós, qual é imagem e vivência da Morte que estamos a criar no nosso corpo e alma, ao longo da vida?
Sabemos morrer no nosso ego ou personalidade, face às idiossincracias das outras pessoas que não nos são tão agradáveis?
Sabemos morrer quando adoecemos, suportando as dores, jejuando, orando, lavando-nos, chorando, aspirando?
Sabemos morrer para certos defeitos ou gostos que nos estão a enfraquecer ou a adoecer, e assim regenerarmos partes do nosso ser e renascermos?
Como enfrentamos e acolhemos a Morte quando morrem familiares e almas amigas?
Quantos animais matamos para nos alimentarmos ou para sobrevivermos mais facilmente?
Quantas pessoas amigas deixamos para trás porque não as quisemos acompanhar ou não as podemos amar?
Como sentimos as mortes ou, que sejam, as violências feitas sobre os mais fracos, pessoas ou países? 
Como assistimos e a deixamos acontecer tão passiva ou subjugadoramente, talvez pela banalização da morte e por uma passiva aceitação da falta de ética na utilização da força ou nas governações de alguns Estados, regimes, forças policiais ou sobretudo grupos de extremistas, ora neo-liberais fascizantes ou nazis, ora terroristas wahhabis sunitas ou sionistas, que tanto desfiguram e fazem sofrer a Humanidade?
Que forças psicofísicas ou psicomórficas deveremos desenvolver para transmutar tal situação, em ressonância com a nota final do testamento, seis meses antes de deixar a Terra, do terceiro elo referido, Fernando Pessoa, alguém certo da vida depois da morte e que a venceu também na imortalidade e sucesso da sua obra: «Ter sempre na memória o mártir Jacques de Molay, grão mestre dos Templários, e combater sempre e em toda a parte, os seus três assassinos - a Ignorância, o Fanatismo e a Tirania.»
Estamos a preparar uma morte e continuidade luminosa pelo desprendimento em relação ao ego e às suas tendências e instintos e pelo desabrochamento dos sentidos psico-espirituais e a abertura ou mesmo comunhão solidária e criativa com a Alma do Mundo, ou  Campo unificado de energia-informação-consciência da Humanidade e  os seus seres, humanos e celestiais?
Estamos mesmo a talhar  um corpo espiritual com o qual avançaremos nos mundos subtis e espirituais conscientemente, cumprindo o tal dito grego, provindo talvez do Egipto, repetido por Antero de Quental, Joaquim de Araújo (hoje em dia a ser bem investigado por Amélia Maia) e Fernando Pessoa: «Morrer é ser iniciado»?
Então que todas as mortes e ferimentos sejam metamorfoseantes e luminosa e amorosamente intensificadoras do Ser e do seu corpo de glória ou de partículas-ondas controladas, luminosas, harmoniosas...
Vá vencendo a Morte em si, manifeste mais o Amor eterno, divino... 
Dia XIII, um dia não aziago mas de triunfo do Amor libertador sobre a morte, tal como Antero de Quental cantou genialmente no seu soneto Mors-Amor...

Tarot, XII, o Pendurado ou Sacrificado. Imagens arquétipas, símbolos energéticos, iniciações conscienciais.

A representação do arcano XII, o Enforcado ou Pendurado, apresenta poucas variantes nos trionfis e tarots antigos ou tradicionais  revelando-nos um jovem, ou um homem, pendurado de cabeça para baixo, por uma corda atada a um pé, a outra perna estando livre e cruzada, e com as mãos atadas atrás das costas. O significado interpretativo de modo geral é limitação, prisão, bloqueamento, sacrifício, frustração, ou ainda punição por erro, maldade e sobretudo traição.
Na maior parte das representações tradicionais está dependurado entre duas árvores com os  ramos cortados, como se tivessem sido podados, podendo relembrar o saber agrícola milenário da poda no qual nas árvores, para darem melhores frutos, convém cortarem-se os ramos e folhas para a energia captada da terra e do céu não ter que alimentar tantos ramos e assim poder ascender mais concentradamente e dar mais vigor à árvore, ou ser, e seus frutos. 
Interessante e algo enigmática é a representação das cores verdes, seja da relva e ervas do solo, seja a da copa das duas árvores, que se paresentam também ao contrário, como que se a Natureza estivesse também enforcada, dependurada, o que é bem sintomático da consciência da unidade do ser humano com a Natureza, e como o que acontece a um repercute-se no outro...
Dentro das correspondências invertidas, a seiva humana escorre então para a  cabeça e um ou outro Tarot moderno realça esta sublimação energética, pondo mesmo a serpente seja a da traição e fingimento seja a kundalinica, ou vital e sexual, enrolada na perna presa, e seja a ser controlada, as pernas do movimento e do desejo motor assim dominadas, seja a ser elevada, caso que remete para representações antigas de Deuses, como Odin, ou seres especiais, nessa posição difícil, ou no ar, recebendo algum tipo de poder e clarividência. Aliás na Grécia Aristófanes, nas Rãs, 121, põe em cena Hércules a sugerir a Dionísio, que lhe perguntara qual era o melhor acesso ao outro mundo, que se enforcasse...  
Este arcano também é designado por Sacrifício,  Sacrificado e, em verdade, ao longo da vida todos  passamos por limitações, servidões e dores, que temos de assumir por variadas razões e este arquétipo de fazer sagrado, sacrum facere, o que quer que seja que nos aconteça, nomeadamente as prisões, perdas, doenças, desastres, bloqueios é um bom princípio transformativo ou metamórfico, sem que com isso não se deixe de afirmar a luta e o querer a libertação em relação a tal situação, tanto mais que ela mais de que ser aceite deve ser transmutada nas causas e direcções logo ultrapassada ou mesmo vencida. 
Algo disso se passou com o Covid, que ainda hoje nos desafia bastante, seja na sua origem como nos seus efeitos, tanto mais que muitos interesses se sobrepuseram e sobrepõe à verdade e à cura e manipulam as políticas e medidas que os  governantes têm tomado, os media divulgado e as pessoas sofrido aterrorizadamente e no rescaldo com muita viscosidade no sangue e nas vidas. Sabermos não nos deixar pendurar, ou manipular daninhamente,  é cada vez mais fundamental face à classe política ocidental crescentemente autoritária, ditatorial, egoísta e vendida...
Ora elo sacrifício consciente e adequado o ser imobiliza-se na sua capacidade de agir e de receber, reflui sobre si mesmo, concentra-se e pode aspirar e trabalhar intensamente por estados melhores,  ou por novas criatividades, ligando-se assim mais aos mundos interiores espirituais, com os quais sintoniza ou mesmo pede ajuda, apoio e desvendação.
Deste modo o ser interioriza-se, desprende-se da agitação exterior, das ilusões da personalidade e purifica-se, reentra em si mesmo e pode aproximar-se mais do seu ser interior, do coração do Amor, do espírito e do Divino. Esta é uma orientação metodológica bem adequada aos nossos dias, face aos confinamentos e bloqueamentos, frequentemente exagerados e destruidores da vida de muita empresa e gente e úteis a intencionalidades obscurecedoras...
Já na civilização Egípcia o enforcado existia, tal como noutros povos, e o castigo para traidores podia ser esta posição. A história de Judas que entregou ou traiu Jesus por trinta dinheiros e que se enforcou poderia estar também na génese ilustrativa deste arcano e na linha geral de advertência de não roubarmos, de não trairmos pois seremos certamente descobertos e castigados, se não formos nós próprios a punir-nos posteriormente, já que a Voz da Consciência, entre nós tão trabalhada por Antero de Quental,  é uma espécie de eco ou sombra do mestre  universal ou divino em nós...
Algumas representações deste arcano XII com o dinheiro a cair dos bolsos do Enforcado ou Sacrificado, remetendo-nos para tantos traidores e corruptos que devem ser condenados mesmo e verem portanto que foi de curta duração o ganho, também nos aconselham a estarmos mais desprendidos em relação ao dinheiro, às posses e às eventuais perdas, tais como as que pessoas, instituições, bancos, empresas nos causam frequentemente, embora certamente devamos lutar pela justiça, e que não sejamos só nós a ser sacrificados mas que também os políticos e gestores sejam responsabilizados e despojados os bolsos ilicitamente enchidos.
Sabermos assumir as limitações, os trabalhos custosos, as demoras na resolução das situações, a empatia dolorosa mas necessária com os que sofrem, a nossa cruz e a cruz dos outros, tudo isso pode ser vivenciado mais harmoniosamente se tivermos presente este arcano e lembrar-nos das vidas sacrificiais de certos seres. E do que alguns mestres escreveram relembrando-nos que o caminho para a Luz e Fonte Divina passa necessariamente por noites escuras da alma, e por podas, frustrações e crucificações de expectativas e de desejos, sendo tais situações sentidas como feridas no coração, no tronco, no fundo sendo estados martirizantes, sacrificiais...
Todavia, mesmo nesses momentos de maior treva exterior e solidão, decepção e dor, a consciência pode tentar estar transparente, axializar-se verticalmente e invocar e percepcionar as ajudas dos planos invisíveis e dos mestres e santos, fortificando-se nessa resistência e estoicismo e, obtendo a ligação interior espiritual e amorosa, vencer-se então melhora a desilusão e fome, a sede e dor, o sofrimento e  isolamento, o roubo e incompreensão.
A peregrinação da vida é tanto uma espiral ondulatória como partículas voláteis e posições estáticas, e a arte e sabedoria está em sabermos assumir sacrificialmente, sagradamente, ora os dinamismos acertados ora as posturas físicas e anímicas recolhidas e que causam ou geram a morte e renascimento geral e espiritual, para que  a ligação entre a Terra e o Céu continue a realizar-se e ao de cima venha ou se forme ou desvende o Ser perfeito, o Ser Universal, Estrela pentagonal em corpo espiritual. 
Algo que o dito antigo, e mais do que nunca actual face à manipulação aterrorizante dos media, propõe sabiamente como mantra: "mente sã em corpo são". E a carta final do Tarot, o XXI, o Mundo, é como que o reverso ou a evolução frutificante do Enforcado, pois nela a alma humana já está sã, harmonizada, espiritualizada, quintaessenciada...
Saiba então reconhecer-se pessoalmente que, embora bastante limitado no corpo, na matéria, nas redes sociais e  na sociedade,  é um espírito de origem divina, apto lutar pela justiça, a verdade, a saúde natural e a liberdade, estando bem vigilante nos sub-campos ou ambientes em que se encontrar, discernindo (no meio de tanta contra-informação) do que se deve abster ou renunciar, quando se tem ou deve retirar e tal bem utilizar (alimentação boa, ler, escrever, meditar, dialogar, movimentar-se, dançar, cantar, criar e ajudar mais),  para saber e conseguir ser, sustentar, apoiar  amar, criativa, luminosa e desabrochadoramente os seres com quem contacta para que possamos ser todos mais livres, harmoniosos, verdadeiros e justos, transformação esta que constitui a esperança da Humanidade que evolui, desperta e se aperfeiçoa e não se submete ou degrada a novas ordens mundiais globalistas anti-humanas...