A representação do arcano XII, o Enforcado ou Pendurado, apresenta poucas variantes nos trionfis e tarots antigos ou tradicionais revelando-nos um jovem, ou um homem, pendurado de cabeça para baixo, por uma corda atada a um pé, a outra perna estando livre e cruzada, e com as mãos atadas atrás das costas. O significado interpretativo de modo geral é limitação, prisão, bloqueamento, sacrifício, frustração, ou ainda punição por erro, maldade e sobretudo traição.
Na maior parte das representações tradicionais está dependurado entre duas árvores com os ramos cortados, como se tivessem sido podados, podendo relembrar o saber agrícola milenário da poda no qual nas árvores, para darem melhores frutos, convém cortarem-se os ramos e folhas para a energia captada da terra e do céu não ter que alimentar tantos ramos e assim poder ascender mais concentradamente e dar mais vigor à árvore, ou ser, e seus frutos.
Interessante e algo enigmática é a representação das cores verdes, seja da relva e ervas do solo, seja a da copa das duas árvores, que se paresentam também ao contrário, como que se a Natureza estivesse também enforcada, dependurada, o que é bem sintomático da consciência da unidade do ser humano com a Natureza, e como o que acontece a um repercute-se no outro...
Dentro das correspondências invertidas, a seiva humana escorre então para a cabeça e um ou outro Tarot moderno realça esta sublimação energética, pondo mesmo a serpente seja a da traição e fingimento seja a kundalinica, ou vital e sexual, enrolada na perna presa, e seja a ser controlada, as pernas do movimento e do desejo motor assim dominadas, seja a ser elevada, caso que remete para representações antigas de Deuses, como Odin, ou seres especiais, nessa posição difícil, ou no ar, recebendo algum tipo de poder e clarividência. Aliás na Grécia Aristófanes, nas Rãs, 121, põe em cena Hércules a sugerir a Dionísio, que lhe perguntara qual era o melhor acesso ao outro mundo, que se enforcasse...
Este arcano também é designado por Sacrifício, Sacrificado e, em verdade, ao longo da vida todos passamos por limitações, servidões e dores, que temos de assumir por variadas razões e este arquétipo de fazer sagrado, sacrum facere, o que quer que seja que nos aconteça, nomeadamente as prisões, perdas, doenças, desastres, bloqueios é um bom princípio transformativo ou metamórfico, sem que com isso não se deixe de afirmar a luta e o querer a libertação em relação a tal situação, tanto mais que ela mais de que ser aceite deve ser transmutada nas causas e direcções logo ultrapassada ou mesmo vencida.
Algo disso se passou com o Covid, que ainda hoje nos desafia bastante, seja na sua origem como nos seus efeitos, tanto mais que muitos interesses se sobrepuseram e sobrepõe à verdade e à cura e manipulam as políticas e medidas que os governantes têm tomado, os media divulgado e as pessoas sofrido aterrorizadamente e no rescaldo com muita viscosidade no sangue e nas vidas. Sabermos não nos deixar pendurar, ou manipular daninhamente, é cada vez mais fundamental face à classe política ocidental crescentemente autoritária, ditatorial, egoísta e vendida...
Ora elo sacrifício consciente e adequado o ser imobiliza-se na sua capacidade de agir e de receber, reflui sobre si mesmo, concentra-se e pode aspirar e trabalhar intensamente por estados melhores, ou por novas criatividades, ligando-se assim mais aos mundos interiores espirituais, com os quais sintoniza ou mesmo pede ajuda, apoio e desvendação.
Deste modo o ser interioriza-se, desprende-se da agitação exterior, das ilusões da personalidade e purifica-se, reentra em si mesmo e pode aproximar-se mais do seu ser interior, do coração do Amor, do espírito e do Divino. Esta é uma orientação metodológica bem adequada aos nossos dias, face aos confinamentos e bloqueamentos, frequentemente exagerados e destruidores da vida de muita empresa e gente e úteis a intencionalidades obscurecedoras...
Já na civilização Egípcia o enforcado existia, tal como noutros povos, e o castigo para traidores podia ser esta posição. A história de Judas que entregou ou traiu Jesus por trinta dinheiros e que se enforcou poderia estar também na génese ilustrativa deste arcano e na linha geral de advertência de não roubarmos, de não trairmos pois seremos certamente descobertos e castigados, se não formos nós próprios a punir-nos posteriormente, já que a Voz da Consciência, entre nós tão trabalhada por Antero de Quental, é uma espécie de eco ou sombra do mestre universal ou divino em nós...
Algumas representações deste arcano XII com o dinheiro a cair dos bolsos do Enforcado ou Sacrificado, remetendo-nos para tantos traidores e corruptos que devem ser condenados mesmo e verem portanto que foi de curta duração o ganho, também nos aconselham a estarmos mais desprendidos em relação ao dinheiro, às posses e às eventuais perdas, tais como as que pessoas, instituições, bancos, empresas nos causam frequentemente, embora certamente devamos lutar pela justiça, e que não sejamos só nós a ser sacrificados mas que também os políticos e gestores sejam responsabilizados e despojados os bolsos ilicitamente enchidos.
Sabermos assumir as limitações, os trabalhos custosos, as demoras na resolução das situações, a empatia dolorosa mas necessária com os que sofrem, a nossa cruz e a cruz dos outros, tudo isso pode ser vivenciado mais harmoniosamente se tivermos presente este arcano e lembrar-nos das vidas sacrificiais de certos seres. E do que alguns mestres escreveram relembrando-nos que o caminho para a Luz e Fonte Divina passa necessariamente por noites escuras da alma, e por podas, frustrações e crucificações de expectativas e de desejos, sendo tais situações sentidas como feridas no coração, no tronco, no fundo sendo estados martirizantes, sacrificiais...
Todavia, mesmo nesses momentos de maior treva exterior e solidão, decepção e dor, a consciência pode tentar estar transparente, axializar-se verticalmente e invocar e percepcionar as ajudas dos planos invisíveis e dos mestres e santos, fortificando-se nessa resistência e estoicismo e, obtendo a ligação interior espiritual e amorosa, vencer-se então melhora a desilusão e fome, a sede e dor, o sofrimento e isolamento, o roubo e incompreensão.
A peregrinação da vida é tanto uma espiral ondulatória como partículas voláteis e posições estáticas, e a arte e sabedoria está em sabermos assumir sacrificialmente, sagradamente, ora os dinamismos acertados ora as posturas físicas e anímicas recolhidas e que causam ou geram a morte e renascimento geral e espiritual, para que a ligação entre a Terra e o Céu continue a realizar-se e ao de cima venha ou se forme ou desvende o Ser perfeito, o Ser Universal, Estrela pentagonal em corpo espiritual.
Algo que o dito antigo, e mais do que nunca actual face à manipulação aterrorizante dos media, propõe sabiamente como mantra: "mente sã em corpo são". E a carta final do Tarot, o XXI, o Mundo, é como que o reverso ou a evolução frutificante do Enforcado, pois nela a alma humana já está sã, harmonizada, espiritualizada, quintaessenciada...
Saiba então reconhecer-se pessoalmente que, embora bastante limitado no corpo, na matéria, nas redes sociais e na sociedade, é um espírito de origem divina, apto lutar pela justiça, a verdade, a saúde natural e a liberdade, estando bem vigilante nos sub-campos ou ambientes em que se encontrar, discernindo (no meio de tanta contra-informação) do que se deve abster ou renunciar, quando se tem ou deve retirar e tal bem utilizar (alimentação boa, ler, escrever, meditar, dialogar, movimentar-se, dançar, cantar, criar e ajudar mais), para saber e conseguir ser, sustentar, apoiar amar, criativa, luminosa e desabrochadoramente os seres com quem contacta para que possamos ser todos mais livres, harmoniosos, verdadeiros e justos, transformação esta que constitui a esperança da Humanidade que evolui, desperta e se aperfeiçoa e não se submete ou degrada a novas ordens mundiais globalistas anti-humanas...
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