quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Fernando Leal, biografia do poeta, peregrino de terras desconhecidas, cientista e oficial (1846-1910).

Fernando Leal, biografia de um poeta amigo de Antero de Quental, e notável militar, explorador e cientista na Índia e África. (Últimos acrescentos 15-X-24. Lux...). 
Fernando Leal, provavelmente, no seu último ano de vida terrena. Fotografia de Alves de Sousa.
Foi em Margão, Índia, a 15 de Outubro de 1846, que nasceu Fernando Xavier da Costa Leal, escritor, tradutor, poeta, cientista e oficial do Exército. Os seus antepassados eram originários de Caminha, no Minho, tendo sido o seu pai Fernando da Costa Leal um dos heróis da Guerra Peninsular e um dos Liberais que desembarcaram (tal como  Fernando de Quental, o pai de Antero) na praia do Mindelo, junto ao Porto, em 8-VII-1832, com o objectivo (conseguido) de derrubar o regime absolutista de D. Miguel. Em 1842 seu pai partira para Goa, já como Brigadeiro, a acompanhar o Tenente-General Conde das Antas, que fora nomeado Governador Geral da Índia, seguindo com os seus dois filhos, Sebastião e Fernando.
Sebastião, alferes, chega com 20 anos e ao fim de três anos casar-se-á com D. Mariana Adelaide de Melo Xavier, deles nascendo o nosso poeta Fernando Xavier da Costa Leal e as suas irmãs Leopoldina e Alba. Em 1855 seria nomeado administrador rural das aldeias de Assolnã, Velim e Ambelim (condado de Concolim), trabalho que o Intendente geral da Agricultura e autor de um dos mais belos livros sobre a Índia Portuguesa, António Lopes-Mendes (um notável desenhador), reconhecerá nos «esforços do inteligente, incansável e probo administrador, sr. Sebastião Augusto da Costa Leal». Quanto ao seu irmão Fernando (e tio de Fernando Leal) partiu de Goa para exercer o cargo de Governador do distrito de Moçâmedes, em 1853, e foi erguido depois a Governador Geral de Moçambique, onde faleceria precocemente aos 44 anos.
Fernando Leal, criado com seus pais em Assolnã, estuda particularmente línguas, filosofia e matemática, alista-se como cadete no regimento de Artilharia de Nova Goa e inscreve-se na Escola Matemática Militar, tendo recebido sempre o primeiro prémio nos seis anos do curso. Ofereceu-se como voluntário e foi despachado como Segundo-Tenente na expedição enviada pelo Governo de Goa contra o Bonga da Zambézia.
É em Fevereiro de 1869, com 23 anos, que chega a Lourenço Marques como ajudante de campo do seu tio, na época o Governador Geral da Província de Moçambique. Anos mais tarde dedicar-lhe-á a sua primeira obra poética, os Reflexos e Penumbras: «À memória do meu tio, o coronel Fernando da Costa Leal, que determinou a foz do rio dos Elefantes, explorou os sertões de Huíla, Quipungo, Gambos e outros; que construiu, com Sá-da-Bandeira, a carta de Angola; enérgico promotor da prosperidade de Moçâmedes, repressor do gentio de Mandombe e Nano, soldado valente em Torres-Vedras, em Ourém, nas linhas do Porto, em África; cidadão benemérito e imaculado, que morreu pobre depois de três governos no Ultramar - saudosamente consagro este livro».
É então que as suas qualidades de investigador, explorador e cientista vêm ao de cima e assim, ao fim de alguns meses com o tio, parte de Lourenço Marques para o Transval como secretário da missão diplomática de delimitação e acordo dos limites territoriais e amizade com os Boers, por caminhos duros e complexos até chegar em Dezembro de 1869. Já o regresso fá-lo, não no percurso normal com os outros colegas da missão, mas com o naturalista alemão Carl Mauch (o redescobridor das ruínas de Zimbaué), numa longa peregrinação do Transval às águas suaves da baía de Lourenço Marques por caminhos até então não percorridos pelos europeus, onde chegam em 8/12/1870 (Cândido Figueiredo regista 8-8). As suas viagens contribuem não só para a confirmação da presença e soberania portuguesa em Moçambique, na arbitragem internacional de Mac-Mahon, de 1875, como também para descobertas científicas nas áreas da Geologia e Botânica, tendo identificado uma nova planta, a Arbol Botella, um arbusto com belas flores brancas e que receberá o seu nome,  Pachypodium Lealli, e que ele explicará numa judiciosa nota inserida na tradução que fez dum livro
passado na Índia, do francês Méry.  A viagem foi publicada no Boletim Oficial de Moçambique de 1870-1871 e pouco depois no Boletim da Índia. 
Voltou à Índia em 1871 e partiu para a capital do Reino em 1872 (passando em Dezembro pela 1ª vez no Egipto, em Porto Said), devido à polémica extinção do Exército da Índia, "por um decreto ditatorial do ministro Jaime Moniz", que decepava a profissão principal de muitos luso-descendentes. Fernando Leal, todavia, escolheu transitar para a arma de Infantaria do Exército Português, entrando em 1874 e sendo graduado no posto de tenente em 1881, tendo então 35 anos.
Permaneceu alguns anos em Portugal, como oficial do Exército provavelmente em certo quartel (investigar...), publicando os seus escritos, traduções e poesias, e convivendo com notáveis escritores como Antero de Quental, João de Deus, Rafael Bordalo Pinheiro, Eça de Queirós, Cândido Figueiredo, Gomes Leal, Moniz Barreto, Frederico Ayala, Santos Valente, etc.
Em 1876 publicou em Lisboa num in-4º de 80 páginas o livro Elefantes e Monstros, episódio da insurreição Indiana de 1857, por Méry. Versão e notas por um Índio, uma tradução de um excelente romance pela intensidade emotiva e com três notas suas em dez páginas, bem esclarecedoras de aspectos históricos, etnográficos e botânicos. Uma reimpressão obteria provavelmente algum sucesso...
O notável escritor e político António Augusto Teixeira de Vasconcelos, que durante a luta entre Antero e Castilho, na Questão do Bom Senso e o Bom Gosto, propusera a conciliação com o seu texto Pazavaliará bem esta obra de Fernando Leal no Jornal da Noite, de 17-IV-1876:«as notas são importantes, sensatas e eruditas. Vê-se por elas que o tradutor é do Oriente, e está bem informado acerca da história e circunstâncias daquelas regiões...»
Em Dezembro de 1876, publica um opúsculo Lettre à mademoiselle Marie Denis sur l' immoralité parisienne por Rouget de la Presqu'ile (seu pseudónimo), sobre aspectos do Teatro, onde analisa a metodologia crítica: «Mas para ferir alguém ou alguma coisa, é indispensável ter essa coisa ou esse alguém, ali, muito perto de nós, ao alcance do braço ou do tiro. Aí está a razão porque a própria imoralidade deve aparecer no teatro (ou no romance ou no poema): apenas para ser pateada, escarnecida, sovada».
Em 1878-79 colabora em jornais e revistas com traduções de Victor Hugo: A consciência, Acareações, Fábula ou História, A sagração da mulher, no Diário da Manhã, Lisboa, 3-II; O gigante e o pigmeu, Revista de Arte e Crítica, Porto, em Novembro; Cantiga, O Contemporâneo, nº4, Lisboa; Palavras na Adversidade, Democracia, Lisboa, 23-VIII-79; O sono de Booz, Diário da Manhã, 23-VIII-79.
 Em fins de 1880 sai em Lisboa, na Typ. de J. H. Verde,  o seu primeiro livro,  in-8º de VIII-242-8 páginas,  Reflexos e Penumbras, de composições originais e, sobretudo, traduções de poesias de Victor Hugo e outros.
Em relação a Fernando Leal e a estas traduções, muitas de Victor Hugo, e em especial da Legende des Siècles, escreve Silva Pinto, na Voz do Povo, 5-I-1880:«É um Índio. Foi da Ásia aos sertões africanos, veio da África Austral, soldado e explorador, do convívio das feras e da imensidade, cheio do largo estoicismo duplo da alma honesta, avigorada ao calor da Natureza livre. Veio dos montanheses Zulus «muito bravios, mas muito leais e amigos dos seus amigos,» ao meio dos cafres da sociedade enferma contemporânea e achou-se deslocado. Procurou um refúgio, um amigo: encontrou o Júpiter tonante da poesia moderna: o velho Hugo, poderoso e solitário, como o Moisés de A. de Vigny, e abraçou-se nele. Traduzamo-lo: - traduziu-o...». E também o elogiam O Comércio de Lisboa, a 9-I-1880, Fernandes Costa, no Atlântico, 13-III-1880, Alberto Pimentel, Camilo Castelo Branco (in Eccos Humorísticos do Minho, nº 3, 1880), Gomes Leal, Cândido de Figueiredo, este explicando mesmo que fora a ele quem, divulgando as suas traduções de Victor Hugo no Diário de Notícias, revelara os seus dotes poéticos, e Luís Botelho, que no Primeiro de Janeiro, 20-1-1880, descrevia-o assim:
«Fernando Leal conhece bem a sua língua, conhece igualmente a história; e de mais, tem num alto grau o golpe de vista sintético peculiar aos espíritos superiores, sobranceiros e largos horizontes, e pulsa-lhe no coração, com uma intensidade fremente, a nobre fibra do entusiasta.
Os Reflexos e Penumbras são, em suma, um dos mais apreciáveis livros de versos que entre nós se tem dado recentemente à estampa.»
Em 1882, a 29 de Março no Jornal da Noite, escreve um artigo sobre Victor Hugo e pouco depois, sua linha forte de activista social e cultural, como o eram seus inspiradores e amigos Gomes Leal e Antero de Quental, a propósito do bombardeamento de Alexandria pela esquadra do Almirante inglês Seymor, ergue a voz em fortes quadras:
"Calaram-se os canhões de Alexandria;
Teve o marujo inglês fácil vitória.
Mas não pode fazer calar a História,
Amordaçar a boca da ironia".
  
 Será em 1884 que dá à luz as Palmadas na pança do John Bull. - Foguete de Guerra offerecido a Camillo Castello Branco, reagindo fortemente contra o imperialismo inglês, numa forte e irónica crítica à falta de princípios do Governo Britânico, que tanto explorava e oprimia por toda a parte. No começo da obra a propósito do tratado de Methuen ou Metwen, escreve: «Dicionário político internacional. Metwen (tratado de) - Nome que soa: mete o n. e que os portugueses traduzem: mete a unha; porque, se o trocadilho, é de mau gosto, como todos os trocadilhos, o tratado desse nome é, para os portugueses, de muito pior gosto ainda. A Inglaterra, com esse tratado, meteu a unha e, atrás da unha, a mão e o braço todo até ao sovaco - na algibeira de Portugal. Deste e outros factos se depreende, que a respeitável associação dos honrados ratoneiros de Londres, os senhores pick-pockets, a qual tem aulas e cursos perfeitamente organizados, onde se ensina a nobre arte de furtar com destreza e perfeição, pode gabar-se de ter no Foreign-Office a sua escola superior, a sua academia suprema».
Colabora no Tesouro Artístico, de Cândido Magalhães, com o Rei de Benares, e explicar-nos-á:«Este conto, versão parafrástica de um episódio do Mahabharata, foi escrito em 1884 para uma publicação lisbonense destinada às crianças, chamada o Thesouro artístico, e da qual os outros colaboradores eram Júlio César Machado, Guiomar Torrezão, Fialho de Almeida, Carlos de Moura Cabral e poucos mais...». Em 1885, a 23 de Fevereiro, colabora na Homenagem a Victor Hugo, no suplemento literário do Correio da Manhã, ao lado de João de Deus, Bulhão Pato, Fialho de Almeida, Tomás Ribeiro, João Costa e Cristóvão Aires.
                                                                   
Em 1888 traduz, prefacia e anota os Soldados da Revolução, do historiador idealista francês Michelet, tão apreciado também por Antero de Quental. Sobre esta obra escreverá um longo e valioso artigo, no Jornal do Comércio, de 27-IV-4-1889, a escritora Maria Amália Vaz de Carvalho: «vertido para português por um poeta de muito talento - o snr. Fernando Leal, - é originalmente firmado pelo nome quase divino de Michelet, o santo, o sonhador, o entusiasta, o crente, que viveu na conveniência estreita dos heróis e dos mártires, sem que a derrota de uns ou o suplício dos outros apagasse na sua alma a fé e o ardor dos prosélitos...»
                                                                      
O valioso prólogo, de XXXIII páginas, da sua autoria, termina assim:«Bendito seja o venerando historiador, um dos maiores do mundo!
Ele bem sabia, o santo, o humano, o consolador Michelet, ele bem sabia que, apesar de Bonaparte, como apesar de Bismarck e de Moltke, apesar de Iena como de Sedan, apesar da violência, apesar do êxito, apesar das traições, das cobardias do destino, apesar de tudo, há sempre, no firmamento moral, alguma coisa que fulgura, que se não deixa empanar por toda a glória das batalhas, por todo o esplendor das vitórias. Essa coisa, que tem longos eclipses para a multidão idólatra dos triunfadores do momento, mas sempre e bem visível para alguns, através do fumo da pólvora, da poeira dos triunfos, das nuvens do incenso, através das brumas da história, essa coisa terrível, ineluctável, imanente, chama-se a Justiça», nestas últimas linhas tanto lembrando o seu amigo Antero de Quental.

É também nos princípios de 1888 que dá à luz o seu segundo livro, Relâmpagos, onde o seu estro tanto revolucionário e patriótico como lírico se afirma. As pessoas a quem são dedicados os poemas mostram algumas das suas amizades e provam a grande sodalidade ou república de Letras em que vivia. E como a primeira poesia é dedicada a uma G., poderemos estar certos que já então admiraria a jovem sua futura mulher, Maria Guiomar de Noronha. Nas outras dedicatórias salientemos Gomes Leal, António Bettencourt Rodrigues, Cândido Figueiredo, Antero de Quental, Bulhão Pato, Teófilo Braga, Jaime de Séguier, António Ennes, João de Deus, Lopes Mendonça, Luís Botelho, Viscondesa de Bucelas, José de Vasconcelos e Sá, Bordalo Pinheiro, Frederico Ayala, Auguste Vacquerie. No final inclui várias notas valiosas, uma das quais uma apreciação crítica dos Sonetos de Antero de Quental e que iremos traduzir do francês e gravar (
Dos que o elogiam na Imprensa nomeemos Luiz Botelho, Rodrigues Velloso, Teófilo Braga, Maria Amália Vaz de Carvalho, Reis Damaso, Cândido Figueiredo e Guiomar Torrezão. 

Após publicar em 19 de Maio de 1889, n' A Voz do Operário, em Lisboa, uma tradução de Victor Hugo, O Sapo, regressa à terra natal, a Índia, provavelmente no Outono, já que no Verão passara alguns dias em Vila o Conde com Antero de Quental, seguindo o conselho que ele lhe dera: «regresse à Índia e case-se com a mulher que o ama...»
A casa mãe de Mahém, sobre os arrrozais infinitos.

Fernando Leal veio em verdade a casar com Maria Guiomar Correia da Silva e Gama de Noronha (nascida em 10/3/1874 e portanto bastante mais nova do que ele), uma das seis filhas do conde de Mahém, D. José de Noronha (1847-1929), participando então em muitos serões literários que, com as récitas juvenis organizadas por Higino da Costa Paulino (casado com outra das irmãs, Maria Helena, sendo esta "artista consumada, tocando piano como uma virtuose"), eram momentos intensificadores no final do séc. XIX e princípios do séc. XX do convívio cultural em Pangim, a capital de Goa. Ao seu pendor artístico, ao ambiente tropical e espiritual indiano juntava-se uma bela época convivial, fazendo desabrochar ainda mais o pendor poético, no qual se notabilizava, unindo assim, tal como Camões, o culto das Musas e o exercício das Armas e das ciências...
O jornal Heraldo, de Panjim, noticiava algo desse ambiente quando em 1926, já em Lisboa, desencarnava Higino da Costa Paulino (nascera a 27/10/1868): «Homem aprimorado, artista de raça, foi entre nós sempre valioso o seu concurso em todas as festas de arte. Poeta e comediógrafo, era um ensaiador admirável (...)
Que encantadoras noites se passavam em casa de Costa Paulino, onde a poetisa Florência de Morais
[ler: https://pedroteixeiradamota.blogspot.com/2023/10/sete-sonetos-camoneanos-de-florencia-de.html,] Visconde de Castelões e Fernando Leal se juntavam a "virtuoses" como a snra. D. Helena da Cunha Pereira e outras damas e cavalheiros, pondo em tudo uma tal nota de arte que eram noites de sublime prazer intelectual!
"A notícia da morte de Costa Paulino traz-nos à memória aqueles tempos distantes, cuja simples recordação faz bem ao espírito torturado pelas misérias dos tempos presentes»....
Um dos filhos de Higino da Costa Paulino e de Maria Helena Noronha, e sobrinho de Fernando Leal, o capitão António Noronha, testemunha no seu livro Relembrando Goa: «Morávamos então numa velha e grande casa apalaçada do engenheiro Assa Castelo Branco, que foi casa solarenga, nos antigos tempos, dos Távoras, e onde hoje, dizem, foi construído o belo Hotel Mandóvi. Deram-se lá belas festas, «serões» e bailes que marcaram na sociedade de Goa desse tempo. Recitava-se, cantava-se, tocava-se e bailava-se também animadamente. Recitavam-se versos dos poetas Osório de Castro, Álvaro de Castelões, Fernando Leal e da poetisa Florência de Morais. E também do meu pai, que «dizia» maravilhosamente». 
                            
Ora quando Fernando Leal regressou à Índia foi, a exemplo do seu tio, Administrador do distrito de Assolnã, e de tal missão publicará um relatório em 1897. Disto dá testemunho o seu sobrinho e futuro 2º conde Mahém António de Noronha Paulino (o tio Paco e que ainda conheci em criança) quando escreve no seu livro Goa Nossa Terra: "Por motivo da minha doença - febres intermitentes - encontrávamos-nos minha mãe, meus irmãos e eu no concelho de Assolnã, que um tio meu, o poeta Fernando Leal, administrava. Assim que soubemos da atitude dos Ranes, procurámos juntar-nos a meu pai, que residia na capital, uns 40 quilómetros distante de nós..."
O outro dos seus sobrinhos que nos dá indicações sobre Fernando Leal é o já mencionado capitão António de Noronha Paulino, fomentador da Educação Física em Goa, que no seu livro Relembrando Goa (Lisboa, 1963) refere a amizade do tio com João de Deus, Gomes Leal e D. João da Câmara, e conta histórias passadas com ele: «A grande casa da Administração, onde moravam, ficava debruçada sobre o romântico rio-Sal, todo bordejado de frondosos salgueiros. Que lindos passeios nós [Fernando Leal e ele] dávamos, aos domingos, em cómoda jangada, pelo rio abaixo, até à foz, à calma e poética Betul!»


Caetano Gonçalves, no seu opúsculo Fernando Leal poeta e soldado (Estudo bio-bibliográfico), impresso em Famalicão, em 1942, é, além dos seus sobrinhos e descendentes já mencionados, uma das boas fontes, auxiliando-nos neste artigo e elogiando-o, também diante do Betul: «Esta devoção do português pela terra que ele adopta (como na Índia o fez em sucessivas gerações, mais especialmente a partir do século XVII) como sua segunda pátria, é uma das características do singular poder de atracção e adaptação do génio lusitano, que faz simultaneamente a glória da Nação em séculos de História e a honra e a fortuna dos países cujo destino passa desde então a estar ligado ao seu. Esse é o segredo da expansão dum pequeno povo de navegadores, do seu espírito de continuidade, da sua vocação de eternidade, pelas mais recônditas e remotas regiões do globo! Com Fernando Leal, durante semanas - há bons 50 anos - senti o contacto e a vibração desta verdade num velho reduto, que na costa portuguesa do Malabar, em pleno Oceano Índico, assinala o limite sul da nossa província de Salcete e a encantadora paisagem do porto de Betul, tão tranquilo nas suas águas como no movimento da sua alfândega. Uma inscrição gravada num dos muros do forte diz-nos que a construção foi ordenada pelo governador Lopes de Lima...», governador da Índia de 1840 a 1842.
A este testemunho da convivência serena de semanas entre Caetano Gonçalves e Fernando Leal, acrescentemos de novo o do seu sobrinho António de Noronha, sobre os seus últimos anos de vida:"Esse meu tio como poeta que era, tinha - além de um génio exaltado - as suas manias. E uma delas: o de estar sempre com um terrível calor e por via disso trazia, à sua ilharga, o criado mouro, o Soliman, com uma grande ventarola em punho para o abanar constantemente... Até quando de machila (meio de transporte), lá ia o pobre Soliman, correndo ao lado, a dar à ventarola. Depois do almoço e do jantar, meu Tio, sentava-se por momentos, pachorrentamente, num cadeirão de braços, junto à larga janela, que dava para o rio, procurando talvez inspiração para os seus versos, de olhos semi-cerrados... Quando não cantava, em voz submissa, qualquer cantiga brejeira - o que muito arreliava, minha Tia, toda beata... E lembro-me duma delas: "Tenho pena da menina/ Ser tão linda e dormir só/ Tenho pena, meu amor, tenho pena/Tenho pena, meu amor, tenho dó..."
Outras vezes eram lindos «mandós» em concanim, língua que ele dominava perfeitamente, gostando mais do concanim falado em Salcete, do que o de Bardês. Um desses mandós, com uma música lindíssima, dizia assim: "Sacani uttom combo, Mãi/Sad galita/ Toch combo, Mãi, toch combo, Mãi/ Pejek uttaita», repetindo-se estes dois últimos versos...»
Quanto à "atitude dos Ranes" referida no início da transcrição, trata-se da chamada Revolta dos Ranes, nascida da recusa dos soldados maratas do Exército de
em 1895 partirem para Moçambique  sem as suas mulheres, e a consequente deserção ou saída dos quartéis, gerandoa movimentações de tropas e negociações, mas sem haver mortes.
Neste caso Fernando Leal esteve de sobreaviso ou a sua familiaridade com os soldados terá mesmo contribuído para o diálogo que se estabeleceu e no qual o conde de Mahem e o visconde de Bardez foram os escolhidos pelo Governo para diplomatas adequados às negociações que se entabularam junto a Sanquelim? Pouco depois chegava ao rio Mandovi vindo de Portugal uma expedição comandada pelo infante D. Afonso que acabou por cancelar o despacho que punha em causa a vida familiar dos soldados maratas.
Relembremos a sua tríade literária principal: primeiro, os Reflexos e Penumbras de 1880, de composições originais, cheias de idealismo revolucionário e lirismo, e traduções francesas de Victor Hugo, dedicado saudosamente "à memória de meu tio, o coronel Fernando da Costa Leal". Em segundo, os Relâmpagos, já de 1888, impresso num in-8º de 268 págs., no Porto, na Livraria Civilização, e em terceiro, a sua última obra, o Livro da Fé, 1906, que inclui, como foi habitual, poemas originais seus e traduções, e teatro e textos em prosa.

                                                           
 Todas elas receberam aplausos gerais e de figuras consagradas da nossa literatura, como podemos ver nas transcrições inseridas no Livro da Fé, tal o testemunho de Teófilo Braga no jornal o Século de 25 de Agosto de 1884:«a feição oriental é representada nos Relampagos por algumas composições características, como a Serenata Indiana, a Queda do Homem, e o Rei de Benares, episódio encantador, liberrimamente parafraseado do Mahabharata, em que o poeta atinge todas as delicadezas do sentimento indiano». 
Poliglota notável, como o testemunho da escritora Guiomar Torresão realça, traduziu versos de Victor Hugo e de outros autores franceses e, na dedicatória que lhe endereça num dos livros, confessa ter aprendido francês "numa obscura aldeia perdida nas grandes florestas do Malabar": «O meu professor de francês era um pobre padre cristão, muito inteligente, mas brâmane pela sua casta e que nunca encontrara na sua vida um só francês. Esta circunstância, atenuante para mim, prova, penso eu, uma vez mais a irradiação imensa e maravilhosa do génio francês».
Depois de regressar à Índia deu à luz em 1891,  em Lisboa, na Typographie Franco-Portuguaise, Corymbe Exotique, [Inflorescência exótica], num in-4º de XVII-38 páginas, escrita toda em francês, com uma extensa introdução muito crítica da Inglaterra, com um nota trágica mas valiosa a assinalar  a morte de Antero de Quental, nos Açores, em Setembro de 1891, e com poemas em francês, entre os quais o do bombardeamento de Alexandria pelos ingleses e que tanto o indignara. O primeiro poema é auto-biografico do amor que o une à sua mulher, e muito belo.
E em 1897 publica o Relatório acerca da administração geral dos campos nacionaes de Assolnã, Velim, Ambelim, Talvordá, Nuém e Ragibaga, relativo a 1897 pelo administrador, o major Fernando Leal. (In-4º de 19 págs.) É um testemunho dos seus dotes de cientista e agricultor e nesse sentido Sérgio de Castro, in Homens de Letras e Flores, 1926, refere os seus conhecimentos de Botânica expressos por João de Deus, outro amante da jardinagem, numa carta, patentes também numa das suas notas juntas à tradução que fez da obra de Méry, Elefantes e Monstros.
Em 1898 publica duas traduções de Victor Hugo no jornal Era Nova, Carta aos ateus, e Aos pés dum crucifixo, em 2 e 10 e Março e pouco depois dá à luz a Homenagem ao Ex. e Rev. Sr. Dom Matheus de Oliveira Xavier, bispo de Cochim, no dia da sua sagração em Goa.
 Este poema mereceu do crítico e jornalista Avelino de Almeida (de quem cataloguei há uns anos a sua biblioteca para leilão no Palácio do Correio Velho), sob o pseudónimo de Pedro Fabro, um grande elogio equiparando tal escrito a uma conversão religiosa, um aspecto que Mayer Garção, nos seus Homens Esquecidos, realçará também em Fernando Leal, mas cujos contornos e causas verdadeiras ou precisas dificilmente poderemos afirmar, embora se saiba que a sua mulher Maria Guiomar de Noronha era muito religiosa ou mesmo espiritual, De qualquer modo foi de facto um poema abençoador, inspirado, profético face à grande alma e carreira de Dom Mateus de Oliveira Xavier. [Já depois da redação inicial deste escrito, vim a encontrar entre os meus folhetos a Homenagem, e com a dedicatória de Fernando Leal ao conselheiro Dias da Costa, que li e gravei: https://pedroteixeiradamota.blogspot.com/2022/05/fernando-leal-e-o-poema-de-consagracao.html
                                                   
Em 1899 em Margão, escreve Dieu garde le Tsar! a propos du Congrés de la Paix, que se celebrara em Haya, «uma franca homenagem (...) endereçada ao Imperador da Rússia em aplauso às suas nobres tentativas de paz universal» e uma forte crítica aos norte-americanos e ingleses.
Esta plaquette ou opúsculo de 21-IV páginas, e que foi logo reeditado, é elogiado por Rodrigues Veloso, n' A Aurora do Cávado, de 20-XII-1899: «Com que veemência íntima e sincera não aplaudo esse azorragar tão vigoroso e lategante quão merecido, do eminente poeta sobre os orgulhosos opressores de Cuba e das Filipinas, da Irlanda, da Ásia e do Traansval. Com o ouro e os couraçados que possuem em demasia, e com a nenhuma vergonha e brios que lhes restam, entendem que todo o mundo é seu e que dele podem dispor a seu talante
!...»
                                                                                
 Também o juiz e político, jornalista e escritor (e autor do 1º livro impresso em Timor, Flores de Coral Alberto Osório de Castro (1868-1946, na fotografia) endereçou-lhe uma elogiosa carta bem espiritual em 1900: «Agradeço muitíssimo penhorado a oferta do seu cântico ao Tsar, à federação dos Povos, à solidariedade humana, ao ideal das raças superiores e das supremas civilizações. (...) O senhor Fernando Leal precisa de explicar ao mundo o segredo da eterna mocidade, que de certo descobriu. Que misteriosa alquimia é essa que o deixa em eternal adolescência da alma, eterno insurrecto e paladino do ideal inquebrantável de justiça e bondade entre os homens, desdenhoso do direito da Força, desprezador dos darwinismos terríveis do conflito das Raças! Eu admiro extraordinariamente tão grande primavera do coração...»

     Destes tempos do findar da presença cultural e convivial portuguesa na Índia fala-nos o capitão António de Noronha, que os sentia nostalgicamente, no seu Relembrando Goa: «E outros pensamentos surgiam agora como dobres a finados.... como aqueles queixumes, ditos em versos por homens bons e sábios da portuguesíssima têmpera que eu muito admirava e que se reuniam de quando em quando em casa de meus pais, em amenos serões, tais como o velho Barão de Combarjua, tão acertado no seu dizer, o literato Visconde de Bucelas, o escritor e historiador Frederico de Ayala, os poetas Fernando Leal e Alberto Osório de Castro, Dr. Fragoso, tão original na suas teorias e meu pai [Higino da Costa Paulino]... e mais tarde, o romântico e célebre Visconde de Castelões, Álvaro de Castelões, que provocou o falado "ultimato", a poetisa Florência de Morais... e neles, nesses versos, traduziram a mágoa que lhes ia na alma por todo aquele abandono para o qual não viam remédio, nem esperança...»
Evoco alguns desses versos que eu jamais esqueci:
De Fernando Leal:
"Cai sobre ti chama como um pranto,
Sobre ti, Goa, um Sol sinistro cai.
Cidade que Albuquerque prezou tanto,
Seu grande sonho que em solidão se esvai."


E ainda este do mesmo poeta:

"Tange oh sino da Sé, oh sino doiro, tange!
Por a espada cristã partir o mouro alfange...
Mas Goa é morta já!
Não mais repicas, sino; agora oh sino, dobras....Goa é negra mansão de feras e de cobras,
Deserta Goa está!"»
 
                            
Fernando Leal passou à reserva em 1904, como Coronel, quando tinha 58 anos, dois antes de publicar o já referido Livro da Fé, uma obra bastante mais religiosa, observando-se uma conversão ou pelo menos já a não contestação dos defeitos de papas e clérigos que o caracterizaram na sua juventude, mas cremos que o seu idealismo justiceiro se manteve até ao fim. No Livro da Fé inclui, além dos poemas, as críticas, apreciações e cartas de críticos e de escritores amigos, onde se destacam as de Antero de Quental, que numa das cartas a de 1-X-1889) alude à convivência em Vila de Conde: «Diga-me como passa, física e moralmente. Oxalá que melhor. E que faz? Prosa ou verso? Lembro-me dos bons bocados de tardes, este Verão, em sua companhia...» 
 Eis algumas das cartas de Antero de Quental a Fernando Leal, bem substanciais, partes delas já transcritas neste blogue:


 
 
                               
  «É bom, é até necessário passar pelo Pessimismo, mas não se deve ficar nele por muito tempo. O Pessimismo não é um ponto de chegada, mas um caminho. É a síntese das negações na esfera da natureza, a luz implacável caída sobre o acervo de ilusões das coisas naturais. Mas, para além da natureza, ou, se quiser, escondido, envolvido no mais íntimo dela, está o mundo moral, que é o verdadeiro mundo, ao qual a harmonia, a liberdade e o optimismo são tão inerentes como ao outro a luta cega, a fatalidade e o pessimismo. Afinal, não vivemos verdadeiramente senão na proporção do que partilhamos desse mundo íntimo e perfeito, ou, mais exactamente, da parte dele que desentranhamos de nós mesmos e fixamos nos nossos pensamentos, nos nossos sentimentos e nos nossos actos. Já vê que a existência tem um fim, uma razão de ser, e o Fernando, embora diga sinceramente o contrário, no fundo não o crê. Lá no fundo do seu coração há uma voz humilde, mas que nada faz calar, a protestar, a dizer-lhe que há alguma coisa por que se existe e por que vale a pena existir. Escute essa voz: provoque-a, familiarize-se com ela, e verá como cada vez mais se lhe torna perceptível, cada vez fala mais alto, ao ponto de não a ouvir senão a ela e de o rumor do mundo, por ela abafado, não lhe chegar já senão como um zumbido, um murmúrio, de que até se duvida se terá verdadeira realidade. Essa, meu amigo, é a verdadeira revelação, é o Evangelho eterno, porque é a expressão da essência pura e última do homem, e até de todas as coisas, mas só no homem tornada consciente e dotada de voz. Ouça essa voz e não se entristeça.»
                                
 Nos últimos anos de vida Fernando Leal publicou vários poemas e sonetos em folhetos, plaquettes ou mesmo folhas volantes, com pequenas tiragens, excepto a de 1906 Novembro, A reconquista de Goa,  impressa na Imprensa Nacional em Nova Goa, para ser distribuída ao público por ordem do Governador Geral da Índia Portuguesa Arnaldo de Novaes, aquando do aniversário da conquista de Goa. A Pérola Indiana, Panjim, 1907.  Sonetos, Margão, 1907, e libertou-se do corpo físico evolando-se para os mundos espirituais  em 4 de Abril de 1910, em Goa, com 64 anos.   A sua mulher Maria Guiomar  Gama de Noronha, muito religiosa e que o influenciara nos últimos tempos,  tinha então apenas 36 anos e amando-o tanto  manteve o  caixão de chumbo em casa, debaixo da cama, bastante tempo. Era uma mulher muito culta, e uma prima ainda viva hoje 2023, a Maria de Fátima de Oliveira, filha do capitão-de-mar-e guerra Abel da Costa Campos de Oliveira, na sua meninice em Goa, conheceu-a. E o avô dela, o cap. José Joaquim de Oliveira dialogava com a Guiomar Noronha Leal, tendo ficado com uma obra de Giovani Papini que ela lhe ofereceu. Fernando e Guiomar não tiveram filhos, embora educassem a criança de um familiar... Que possam ser felizes nos mundos espirituais.... Aum, Amen...
Na pagela que lhe foi dedicada transcrevia-se a tradução que ele fizera do poema de Victor Hugo, no Pedestal dum Crucifixo:
 
"Este Deus chora; ó vós que chorais, vinde aqui;
Vinde, vós que sofreis, pois cura a sua graça;
Vinde, vós que tremeis, a Ele que sorri;
Vinde, vós que passais, a Ele - que não passa."
 
Uma das duas fotografias de Fernando Leal conhecidas, publicada no Século aquando da sua libertação terrena em 1910.
 
O famoso poeta revolucionário Gomes Leal,  grande amigo de Fernando Leal, que chegou a chorar mesmo quando este lhe leu a sua versão do Rei de Bénares, Gomes Leal a quem Fernando Pessoa dedicou um poema astrológico, e que foi também atraído pela sabedoria tanto geral como cristã, indiana e teosófica, e de formas muito originais, revolucionárias ou mesmo heréticas, em 1884, nos nºs 10 e 11 do jornal O Século elogiava-o e equiparava-o assim no fim do seu extenso artigo biográfico: «Para concluir diremos, como começamos, que Fernando Leal, pela sua organização típica e especial, é na nossa literatura, depois de João de Deus que representa o suave misticismo lírico, Teófilo Braga a revolução científica e a penetração da Análise, Antero de Quental a serena contemplação budística e a majestade transcendente da Síntese, é depois destes, repetimos, a entidade mais original, mais simpática, mais viva - porque representa os nervos, a inquietação, a jovialidade e a força.
É na nossa literatura, quase apagada e triste, um raio de sol da resplandecente Índia, onde a bela Lakshmi nasceu radiante de um mar todo de leite no largo cálice de um lótus, a bela flor azul!...
Receba Fernando Leal estas linhas como um preito ao seu talento, ao seu carácter excepcional, à sua alma de ouro, - dado por um homem cujas mãos estão mais acostumadas a traçar frases amargas e penosas do que a mover o incensador ante o nariz das divindades».
Saudemo-lo também nós, e aos seus amigos e familiares, passados estes anos todos...
                                               
Lakshmi, uma das faces femininas da Divindade mais cultivada na Índia, brotando do lótus da devoção...
                                                       
São quarenta páginas com  informação valiosa, mas quem quiser saber mais de Fernando Leal terá de socorrer-se de outros autores, nomeadamente dos seus sobrinhos já referidos, tal Caetano Gonçalves. E ainda de Sérgio de Castro, Homens de Letras e Flores, 1926; Cândido de Figueiredo, Homens e Letras, 1881; Mayer Garção, Homens Esquecidos, 1924; e ainda de José Julião do Sacramento Almeida, 
A imprensa portuguesa chorando a morte do grande poeta do século XIX Fernando Leal. Bombaim, 1911.
Anote-se ainda que além de ocasionais folhas volantes com versos seus por ocasião de acontecimentos e festividades, de que se conhecem algumas (tal o Soneto a D. Emilia de Castro Novaes Sotto-Mayor no dia do seu consórcio, 1906), colaborou em várias revistas e jornais, tais como Democracia (1878), Occidente (1878-1924), Jornal do Domingo (1881-1888), Galeria Republicana (1882-1883), A Imprensa (1885-1891), A Comedia Portugueza (1888-1892) e Jornal do Comércio (1889).

terça-feira, 14 de outubro de 2014

Das livrarias e das últimas inundações lisboetas que mataram muitos livros. 13/10/2014


OS SINAIS APOCALíPTICOS DOS LIVROS E DAS LIVRARIAS AS ÚLTIMAS INUNDAÇÕES LISBOETAS TAMBÉM MATARAM...
Foi a 13 de Outubro de 2014 que mais uma chuvada se abateu por algumas curtas mas intensas horas não em Fátima mas em Lisboa, o suficiente para lançar o caos no trânsito e na vida das pessoas... Nada que não se esperasse, dado o seu acontecimento quase já crónico ultimamente, ao qual se acrescenta a passividade e a grande capacidade de sacrifício ou de amochamento dos lisboetas, que tudo aguentam sem nada fazer e pouco protestar ou votar...
Não morreram pessoas nem animais, pelo menos de porte maior pois dos outros não reza a história, mas os danos colaterais foram grandes, sobretudo na Cultura, com a morte de centenas de livros desfeitos em água e talvez desfazendo algumas partes das almas em lágrimas...
Houve sinais dados quase que profeticamente para os entendedores, ou para os subconsciente deles, na Livraria do Bernardo Trindade, à rua do Alecrim,
                                       
pois ao lado de uma gravura de homenagem ao grande feito da união do Oriente e do Ocidente, que foi o descobrimento do caminho marítimo para a Índia, por Vasco da Gama e os seus corajosos companheiros, fora colocado um cartaz moderno que, em sintonia com o profético aviso e clarim de Fernando Pessoa: "É a Hora", e que declarava: "O Apocalipse é Agora"...
                                   
Duas jovens livreiras, a Gabriela Gouveia e a Ana Cruz, manifestavam alguma preocupação nos seus campos de ressonância psico-mórfica, face às crises que tem caído sobre os portugueses pelas múltiplas causas político-financeiras que todos sabemos, mas pouco podemos...
                                    
A funda livraria, os livros secos e até pousados delicadamente no chão, o olhar lúcido do Bernardo Trindade e do Filipe Feio, garantiam que nesta zona semi-alta uma livraria funciona bem e preserva e transmite cultura, com livros para todos os gostos e bolsas... Situada numa zona de descida acentuada do solo lisboeta, e logo protegida de acumulações do caudal das águas que emigram fora das sarjetas, entupidas ou inscoavéis pela proximidade do Tejo, ela é poupada aos apocalipses que revelam as fragilidades das instituições e saneamentos, que nunca são o que todos desejaríamos...
                                         
Já no Rossio, local onde se tem verificado as grandes inundações nos últimos tempos e dias, uma pomba sobre a cabeça do libertador augurava-nos que tudo já passara e que a Arca livreira, tal a a famosa Arca do Fernando Pessoa, estaria incólume...
                                                
Contudo, visto de outro ângulo a coluna de homenagem ao D. Pedro IV mostrava algumas nuvens em descida, o que poderia ser um sinal de borrasca ou paspalhice (de paspalhão, nome que os marinheiros dão a algumas nuvens baixas que se podem tornar chuva...)
                                          
E eis-nos que, chegados à Arca que demandávamos, um dos templos mais frequentados na capital, a livraria do Carlos Bobone, na rua das Portas de S. Antão, junto ao mítico Coliseu, não de Roma mas de Amor (sobretudo da petizada ao longo de muitos anos) nos vimos subitamente envolvidos num rescaldo apocalíptico, assim se efectivando os pressentimentos inconscientes ou mesmo avisos proféticos...
                           
Sacos e sacos a acumularem-se fora da livraria, a Sónia forçada ora a saltar ora a carregar e a descarregar para o olho da rua toda uma quantidade imensa de livros afogados nas últimas inundações e onde ninguém mais porá os olhos enlevada ou clarificadoramente...
                                     
Será que esta apreciada tradução portuguesa (e António Sérgio foi um dos tradutores, tal como Jaime Cortesão) de Axel Munthe, um dos mais belos livros do séc. XX, O Livro de San Michele, sonharia que o papão da reciclagem se abateria sobre ele?
                                 
Baldes ou ondas de água fria e humidade nos livros não fazem bem, não....
                                              
Em suma, fechemos os sacos, pensará a Sónia, lancemo-los ao mar do esquecimento, e esperemos que um dia chegue o D. Sebastião camarário que resolva o saneamento da zona baixa de Lisboa...
                                          
Uma jovem violinista italiana, sentindo o estado sofrimento não só dos livros como dos seus autores já mortos ou dos bibliófilos desencarnados, e dos livreiros (aqui a Ana, a Sónia e o Carlos, a quem apresentamos desde já e daqui as nossas sinceras condolências), resolveu intervir no local e com a sua arte maviosa dispersar os eflúvios mais traumatizantes e bloqueantes da aceitação do que já sucedera e do optimismo profissional e nacional....
                                                
O interior da tão arrumada e recheada livraria parecia mais uma dispensa de obras, ou um dispensário generoso para o papelão, o sucedâneo do receado papão...
Mais um, bem pesado, ... O que devemos sentir, pensar, fazer?
As bibliotecárias da Sociedade Histórica da Independência, nesta imagem a poetisa Maria João Nunes, que sobreviveram calmamente a todas as vicissitudes históricas, lá do alto, não deixaram de expressar solidariedade com os livros atingidos, levados pelas águas, e com as almas mais afectadas ou sensíveis, como os peregrinos da Sabedoria que por ali passavem e se condoíam ou indignavam...
Enquanto alguém, que não sabemos se era um mirone se um amante dos livros, com a mão em pala para desviar reflexos ou embaciamentos, espreitava para o interior da casa de cultura ferida ou inundada, a Arianna Luci continuva sorrindo e tangendo melodiosamente o seu espírito e violino, vindos de Itália sempre bela e humanista...
Uma poça de água interroga-nos: está a Câmara a tentar resolver estas inundações quase crónicas, em que se podem perder centenas de livros e ideias, e de euros, sem que haja o mínimo de ressarcimento, quando os desvios fraudulentos dos banqueiros são pagos pelos contribuintes?
O bibliófilo firme a rezar pela alma dos livros mortos e a violinista na rua ainda encharcada lançando acordes harmoniosos fazem-nos pensar, querer ou crer que a Cultura triunfará, embora haja naufrágios e os Lusíadas terão escapado de um deles...

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Da Árvore no mundos físicos e subtis e da Árvore Cósmica. Tradições clarividentes que as defendem...

                
              Paisagem subtil com cedros e árvores, pintada por Bô Yin Râ, notável pintor e                                         escritor alemão, em homenagem a quem criei uma página no Facebook.
Um dos aspecto da nossas amigas árvores pouco conhecido e menos ainda documentado é a presença delas nos sonhos, nas visões e no mundos do além, subtis e espirituais. Há contudo inúmeras lendas e contos que nos mostram as árvores a moverem-se ou a falarem, e há muita gente a vê-las nos sonhos, e muitos de nós já tivemos a visão da Árvore Cósmica que liga a Terra e o Céu, os humanos e animais e a Divindade, tão representada na Arte pré-histórica e antiga ocidental e oriental...
                              
Sri Tathata, um sábio yogi da Índia testemunha aqui a meditação iluminativa sob a figueira sagrada, tal como Sidharta Gautama, o Budha, e tantos outros mestres ao longo dos tempos.. 
                                                         
                     Lenhador do Extremo Oriente, num desenho nipónico....
Quanto a tradições populares há uma curiosa, que até pode ter acontecido algumas vez em Portugal, pois está associada às festas dos mortos, ou seja, quando cultivamos mais a ligação com os mundos subtis, e o seres que já partiram, e que ocorrem no início de Novembro: 
Joaquim Alberto Pires de Lima, na sua bem interessante obra No Crepúsculo, 1951, cita Olavarria y Huarte, no seu Folklore de Proaza e conta-nos que “no dia dos Fiéis defuntos, vêm à terra os mortos, depois das doze badaladas da meia noite, e que os que roubaram alguma coisa na vida, a trazem às costas: assim por exemplo, os que roubaram uma árvore, trazem-na ao ombro, estendida e com a copa para a frente, de maneira que a primeira coisa que se vê são os ramos. Se isto fosse possível, em Portugal, poderia assistir-se, no baixo Minho, à meia noite do dia 2 de Novembro, a uma grande parada de milhares e milhares de almas do outro mundo com os pinheiros às costas, pois que os ladrões de árvores são vulgaríssimos nessa terras. Seria um espectáculo fantasmagórico e de um realismo surpreendente...”
                                    
 Árvore já sem a copa, pois desapareceu por ser ramagem sem grande valor ao arder num instante e não dar dinheiro. Contudo, na tradição do mundo subtil ou da vida depois da morte física, a árvore virá com a folhagem verde à frente, talvez para lembrar as esperanças que cortamos com os nossos actos egoístas, irreflectidos ou insensíveis.... 
Despertarmos mais a nossa ligação com a Árvore Cósmica ou Primordial e com as árvores, bosques e jardins do Cosmos visível e invisível é uma demanda a tempo inteiro e que passa pela verticalização da nossa coluna vertebral e a sua sintonização, alinhamento ou mesmo "sub-coincidência" com a Cósmica, pela consciencialização de que estamos a alimentar as raízes da nossa árvore interior (pela respiração e posturas, por exemplo) e pela preservação e culto de uma boa qualidade-quantidade de relacionamentos com as árvores no fio da nossa história temporalizada, mesmo que seja agora no leve tocar numa delas, num passeio de uma rua de Lisboa (nas que houver, pois os arboricídios no país continuam), ou num bonsai ou vaso caseiro...
Quanto aos sonhos e clarividências há que merecê-las, e não está bem discernido nem consciencializado os factores que mais contribuem para tais graças da contemplação das árvores nos mundos subtis e espirituais. Talvez outrora com os vigilantes das florestas, nessa tarefa meritória, ou com os que iam trabalhar para matas e lá ficavam a dormir, tal acontecesse com mais facilidade. Resta-nos sempre a meditação e a consciência interior da árvore cósmica, invertida ou não...
                                  
                                      Caminhar por entre carvalhos alvarinhos transmontanos no Gerês.
Sim, há que merecer e reclamar, admitir e receber mais, nas paisagens ou cenários dos sonhos, a presença das árvores e dos seus ensinamentos e benefícios medicinais psico-somáticos, não tanto por roubos delas, como vimos na legenda ou por estarmos indignados com mais uma poda ou  abate criminoso municipal, e porque possamos intuir o karma de tais actos, mas porque as amamos, as estudamos, e invisivelmente cultivamos as ligações subtis com elas e com a Arvore Cósmica.
Certamente plantá-las, potegê-las e comungar mais amiúde com elas, nos jardins citadinos ou na Natureza e seus vales, montanhas e aldeias, quintas e quintalecos....
                           
                       Carvalho alvarinho erguendo-se ao céu e elevando-nos também.... 

domingo, 12 de outubro de 2014

Sri Tathâta em Portugal.

Sri Tathâta em Portugal. 4, 5 e 6 de Novembro, em Lisboa.
                             
Pela primeira vez em Portugal este autêntico yogi e rishi (sábio) da Índia estará em Portugal para transmitir os seus ensinamentos e iniciação a quem estiver interessado
O local da conferência ou satsanga será na Rua Castilho, nº 14, às 20:00 do dia 5. No fim dela Sri Tathata transmitirá a sua bênção pelo olhar, rito tradicional da Índia onde é denominado darshan, e  oferece algumas pétalas de rosas...
No dia seguinte haverá a iniciação para quem cumprir as condições de merecimento, aspirar à luz e estar disposto a fazer uma prática espiritual e a adoptar uma forma de vida harmoniosa, nomeadamente de pureza alimentar e de motivações
Para este importante momento da iniciação será necessário inscrever-se... (Tem. 918222175. Ema.)

                                  
Com cerca de 74 anos, nascido no Sul da Índia, com uma vida extraordinária de ascese e de peregrinações, meditações e revelações, nos principais locais espirituais da Índia, Sri Tathata, recebeu a missão de transmitir o Dharma, começou desde 2007 a vir ao Ocidente partilhar os seus ensinamentos, impulsos e bênçãos...
                              
      "É uma oportunidade extraordinária de conhecermos uma grande alma. Sri Tathata viveu muitos anos retirado nos Himalaias, e por muitas vezes em estados prolongados de samadhi. Embora esta experiência pouco tenha a ver com a nossa realidade, ele quer oferecer o fruto da sua realização à Humanidade. É no propósito desta dádiva que se desloca a Portugal ao nosso encontro. Inspirador do caminho espiritual, iniciando quem quiser numa prática de meditação." 
Ema Blanc de Sousa, a discípula de Sri Tathâta e de Maitreyi Amma e organizadora deste evento a que eu aderi e que tenho estado a ajudar.
Sri Tathâta apresenta-nos nos seus livro a visão que tem do processo evolutivo, presidido pela Verdade primeira e última, Deus, Agni, o Fogo e cuja Vontade quando é activada cria, manifesta e lança o Universo numa evolução no decorrer do qual a matéria se transforma em criatura viva, depois em ser pensante e finalmente em ser consciente.
Assim a consciência humana actual e de cada um de nós deve deixar a escravatura dos desejos e do mental social e colectivo e passar ao plano humano superior, ou seja, ao plano dos devas e deuses, e, por fim à Consciência divina, vivendo então naturalmente ou dharmicamente, ou seja, de um modo justo e adequado ao objectivo ou propósito da manifestação cósmica que é manifestarmos a Divindade e as suas qualidades.
              
«Os que querem sinceramente praticar a espiritualidade devem conhecer o segredo do prana ascendente: eles devem receber de um mestre autêntico a iniciação numa técnica de respiração consciente (pranayama). O fio que liga a alma individual (jiva) à Consciência Universal é o prana ascendente (urdhva prana). Quando os praticantes espirituais conseguem ligar-se a Consciência universal, a Presença desce sobre eles e também sobre a Terra-Mãe. A Presença espiritual permite realizar tanto a vida espiritual como a material. O segredo de tudo  está ligado a esta verdade e dela depende o acesso à riqueza imensa a que temos direito».  
O Apelo do Dharma.
«Como prelúdio ao verdadeiro conhecimento espiritual, uma etapa preliminar deve ser franqueada: ela é conhecida sob o nome de Dharma Snana [Iª iniciação]. Trata-se de um ritual que acontece pela força da intenção do Mestre e da Graça Divina, com o objectivo de purificar o aspirante e permitir-lhe elevar-se a uma vida mais nobre. Nos tempos antigos, o despertar da alma individual (jiva) pela iniciação espiritual era dada somente aos discípulos merecedores e que tivessem acabado uma aprendizagem de muitos anos ao pé do Mestre. Como este modo de fazer hoje não é facilmente realizável, o método de iniciações posto em prática permite a purificação do aspirante num tempo curto de modo a que ele possa em seguida receber o verdadeiro conhecimento espiritual. Os que desejam receber o Dharma Snana devem ter uma vida e uma alimentação puras...”

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

"O Amor é cego". Love is Blind. Máximas do Amor Cego. Manual....

                        O Amor é cego.   Love is blind.

O AMOR É CEGO foi o lema de uma exposição organizada em Março de 2010 por Carlos Barroco e sua mulher Nadia Baggioli, na sua Galeria Novo Século, em Lisboa e em que colaboraram diversos artistas, cabendo-me a mim a redacção de alguns textos e poemas, o que fiz  em papel antigo, aguarelados...
Como pessoas amigas que apreciaram os meus últimos  poemas escritos me pediram que publicasse mais, eis as fotografias de alguns de tais contributos para a exposição de 2010 sobre o dito tão glosado quanto infinito e perene: O Amor é Cego...
O primeiro livro intitula-se: Máximas do Amor Cego...
Segue-se em inglês esta apresentação e a tradução das sete páginas do livro Máximas do Amor Cego...

Love is Blind was the motto for an Art exposition organized by Carlos Barroco and Nadia Baggioli at his gallery Novo Século, in Lisboa, in March 201o, for which I made some poems and texts in my own kind of manual books, some of them with small paintings.
As two days ago  I made three more poems on Love appreciated by some friends who asked me if I could publish more, let us share this ones written four years ago...
This first one, is called Maxims of the Blind Love...

Maxims on the dictum: Love is Blind
Love is blind because in this way we feel and love more deeply...
Love is blind because the he can touch, caress and merge, to be One.
Love is blind to the imperfections but clairvoyant for the expansions.
When you want to find a great Love then you have to become blind to lesser loves...
Love is so clairvoyant that it blinds himself to love better...
Love disappear when he is not more blind to the appearances...
Love blinds itself, closes his seeing, to refresh himself in the divine fountain internal and external omnipresent...
Love is blind because then he really needs the other...
Love has to become blind to shine invincibly...
Love is blind, sacrifice, suffer, kills itself, just for Love, for loving
Although blind, says Love:/- with the wings of imagination/ I can fly and find you./
Love is blind in us/ until someone comes and makes/ his heart one with us...
Love becomes blind in the blindness of the love's sight of the other...
Of so much searching and studying,/ my eyes became blind/ for what is not Love...

From so much suffering, searching and/ wishing, I become a/ burning fiery of Love..
Blind to the dangers and fears,/ perseverant in exercise and/ art, I know that I will contemplate thee, or embrace thee,/ says Love...
Love is blind and is clairvoyant,/ unites the heaven and earth,/ harmonizes the pleasure and pain,/ good and bad, gnosis and ignorance./ Knows how to see and not see,/ how to Be and not be...
Last page:  «Blind, thousand times blind, to loose you Oh Love, says love...
I will cross the Divine Ocean, rowing with you, oh Love..

The lover, of so much loving the beloved, becomes one alone and the same with her...
Blind and deaf by Love I dash the breast and he, bright and fiery, spurt out: Be the Fire of Love...
Os 1ºs quatro textos. The first four texts...
Os últimos três... The last three...
Alpha and Omega, the first and last pages...
Be a Lover in all levels, but specially on the higher levels...
A primeira e última página, 
Sê um ser de Amor, irradiante e comungante, divinamente harmonizando o Cosmos...

domingo, 5 de outubro de 2014

Poemas de Amor, no Amor, para o Amor.. Love Poems... Poémes sur l' Amor, pour l'Amour...


Poemas de Amor, no Amor, para o Amor..
Love Poems...
Poémes sur l' Amor, pour l'Amour...

Como todos sabemos a chama ardente do Amor é a força vital e a essência psíquica criativa da Divindade e dos seres e, portanto, de quando em quando, comungarmos mais intima e poeticamente com ela origina uma sintonização e elevação da nossa alma a níveis mais luminosos do Universo e do Ser, e que é também em si uma irradiação ou mesmo comunhão com os seres que mais amamos e que mais nos amam. Ela pode ser sentida como um banho refrescante no grande Oceano primordial, uma aproximação e intensificação do coração espiritual, uma abertura à Divindade, alegria e beatitude.
Deveríamos cultivar mais esta sintonização com o Amor Primordial.

As we all know, the fiery Love is the same Life Force and creative Psychic Essence of the Divinity and of beings, and so, time to time, to have more communion by meditation, poetically and intimately with Love is a important way of the soul ascend to more luminous levels of the Universe and Being, and also a communion with the beings we love more or that love us more, and a refreshing and purifying bath in the Primordial Ocean. It is also an approach and intensification of the spiritual heart in us, a opening to the Divine Being and His blessings...
It is good to cultivate that attunement...

                  

Lê-se da direita para a esquerda, 1º Inglês, 2º em Português, 3º em Francês...
We read from right to left, first English, 2º Portuguese, 3º French...
On lit de la droite vers la gauche, 1ª en Anglais, 2ª en Portugais, 3ª en Français.

                         

Os mesmos poemas, já pontuados e num sítio corrigido, tirada fotografia com luz de lâmpada...
The same three poems, with the punctuation and one correction, already the photo taken with artificial light...

                                   

Noite e dia o meu coração está a chamar por ti.
Por vezes flores desabrocham e Amor é sentido com felicidade.
Outras vezes distraio-me de ti e não sou.
Pelo teu nome e sorriso a minha alma recebe 

A luz que brilha do teu coração

E até mim chega e me abraça, nos abraça.

                                

I know you are far away, still, from the blood of love, the immortal tree is nurtured, the one that grows in the middle of us and make us birds of her. I wanted to sing thy name in the secret affinity of souls, but only a whisper of the stream that unite us I could hear.
I asked then to the East breezes to bring me news from you and that  thy interweaved hair enveloped me in the parfue of thy precious aspirations, and I felt in a smile that the doors of our hearts communicate in light and I revered thee lastly and lovely...

                              
Através do coração do ser eu ardia pela tua presença em mim/ e assim acendi este fogo na noite/ para que o teu ser seja guiado/ a este alto da montanha/ onde permaneço orando ao Eterno/ para que Ele nos desabroche./
O Mestre e o Anjo vêem-nos/ e nas criatividades nossas o sopro/ divino impulsiona-nos para/ estes cimos da Consciência/ onde a Unidade, a Luz, a Verdade e o Amor são verdadeiramente nós...

Through the heart of the being in me I really aspire to your presence and so I lighted this fire in the night for the guidance of thy being to the spiritual mountain  where I stand invoking the Divine blessings to make us bloom...
The Master and the Angel see us and the divine Shakti or energy of Love intensify us to towards the higher levels of Consciousness, where Light, Truth, Love and Unity are really us and blessing us....
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AMA * LOVE * AMOUR
SÊ AMOR * BE LOVE * AIME
VIVE EM AMOR * LIVE IN LOVE * VIT EN AMOUR
CELEBRA O AMOR * CELEBRATE LOVE * CELEBRONS L'AMOUR
INVOCA O AMOR ** INVOKE LOVE ** INVOQUE L'AMOUR
AMA O AMOR ** LOVE THE LOVE ** AIME L'AMOUR
ARDE NO AMOR ** BURN IN THE FIRE OF LOVE
DANS TON COEUR, EN TOUT TON ÊTRE, SOIT et RAYONNE L'AMOUR....

Pedro Teixeira da Mota 5-X- 2014, Lisboa, pelas 16:30...