quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Fernando Leal, biografia do poeta, peregrino de terras desconhecidas, cientista e oficial (1846-1910).

Fernando Leal, biografia de um poeta amigo de Antero de Quental, e notável militar, explorador e cientista na Índia e África. (Últimos acrescentos 15-X-24. Lux...). 
Fernando Leal, provavelmente, no seu último ano de vida terrena. Fotografia de Alves de Sousa.
Foi em Margão, Índia, a 15 de Outubro de 1846, que nasceu Fernando Xavier da Costa Leal, escritor, tradutor, poeta, cientista e oficial do Exército. Os seus antepassados eram originários de Caminha, no Minho, tendo sido o seu pai Fernando da Costa Leal um dos heróis da Guerra Peninsular e um dos Liberais que desembarcaram (tal como  Fernando de Quental, o pai de Antero) na praia do Mindelo, junto ao Porto, em 8-VII-1832, com o objectivo (conseguido) de derrubar o regime absolutista de D. Miguel. Em 1842 seu pai partira para Goa, já como Brigadeiro, a acompanhar o Tenente-General Conde das Antas, que fora nomeado Governador Geral da Índia, seguindo com os seus dois filhos, Sebastião e Fernando.
Sebastião, alferes, chega com 20 anos e ao fim de três anos casar-se-á com D. Mariana Adelaide de Melo Xavier, deles nascendo o nosso poeta Fernando Xavier da Costa Leal e as suas irmãs Leopoldina e Alba. Em 1855 seria nomeado administrador rural das aldeias de Assolnã, Velim e Ambelim (condado de Concolim), trabalho que o Intendente geral da Agricultura e autor de um dos mais belos livros sobre a Índia Portuguesa, António Lopes-Mendes (um notável desenhador), reconhecerá nos «esforços do inteligente, incansável e probo administrador, sr. Sebastião Augusto da Costa Leal». Quanto ao seu irmão Fernando (e tio de Fernando Leal) partiu de Goa para exercer o cargo de Governador do distrito de Moçâmedes, em 1853, e foi erguido depois a Governador Geral de Moçambique, onde faleceria precocemente aos 44 anos.
Fernando Leal, criado com seus pais em Assolnã, estuda particularmente línguas, filosofia e matemática, alista-se como cadete no regimento de Artilharia de Nova Goa e inscreve-se na Escola Matemática Militar, tendo recebido sempre o primeiro prémio nos seis anos do curso. Ofereceu-se como voluntário e foi despachado como Segundo-Tenente na expedição enviada pelo Governo de Goa contra o Bonga da Zambézia.
É em Fevereiro de 1869, com 23 anos, que chega a Lourenço Marques como ajudante de campo do seu tio, na época o Governador Geral da Província de Moçambique. Anos mais tarde dedicar-lhe-á a sua primeira obra poética, os Reflexos e Penumbras: «À memória do meu tio, o coronel Fernando da Costa Leal, que determinou a foz do rio dos Elefantes, explorou os sertões de Huíla, Quipungo, Gambos e outros; que construiu, com Sá-da-Bandeira, a carta de Angola; enérgico promotor da prosperidade de Moçâmedes, repressor do gentio de Mandombe e Nano, soldado valente em Torres-Vedras, em Ourém, nas linhas do Porto, em África; cidadão benemérito e imaculado, que morreu pobre depois de três governos no Ultramar - saudosamente consagro este livro».
É então que as suas qualidades de investigador, explorador e cientista vêm ao de cima e assim, ao fim de alguns meses com o tio, parte de Lourenço Marques para o Transval como secretário da missão diplomática de delimitação e acordo dos limites territoriais e amizade com os Boers, por caminhos duros e complexos até chegar em Dezembro de 1869. Já o regresso fá-lo, não no percurso normal com os outros colegas da missão, mas com o naturalista alemão Carl Mauch (o redescobridor das ruínas de Zimbaué), numa longa peregrinação do Transval às águas suaves da baía de Lourenço Marques por caminhos até então não percorridos pelos europeus, onde chegam em 8/12/1870 (Cândido Figueiredo regista 8-8). As suas viagens contribuem não só para a confirmação da presença e soberania portuguesa em Moçambique, na arbitragem internacional de Mac-Mahon, de 1875, como também para descobertas científicas nas áreas da Geologia e Botânica, tendo identificado uma nova planta, a Arbol Botella, um arbusto com belas flores brancas e que receberá o seu nome,  Pachypodium Lealli, e que ele explicará numa judiciosa nota inserida na tradução que fez dum livro
passado na Índia, do francês Méry.  A viagem foi publicada no Boletim Oficial de Moçambique de 1870-1871 e pouco depois no Boletim da Índia. 
Voltou à Índia em 1871 e partiu para a capital do Reino em 1872 (passando em Dezembro pela 1ª vez no Egipto, em Porto Said), devido à polémica extinção do Exército da Índia, "por um decreto ditatorial do ministro Jaime Moniz", que decepava a profissão principal de muitos luso-descendentes. Fernando Leal, todavia, escolheu transitar para a arma de Infantaria do Exército Português, entrando em 1874 e sendo graduado no posto de tenente em 1881, tendo então 35 anos.
Permaneceu alguns anos em Portugal, como oficial do Exército provavelmente em certo quartel (investigar...), publicando os seus escritos, traduções e poesias, e convivendo com notáveis escritores como Antero de Quental, João de Deus, Rafael Bordalo Pinheiro, Eça de Queirós, Cândido Figueiredo, Gomes Leal, Moniz Barreto, Frederico Ayala, Santos Valente, etc.
Em 1876 publicou em Lisboa num in-4º de 80 páginas o livro Elefantes e Monstros, episódio da insurreição Indiana de 1857, por Méry. Versão e notas por um Índio, uma tradução de um excelente romance pela intensidade emotiva e com três notas suas em dez páginas, bem esclarecedoras de aspectos históricos, etnográficos e botânicos. Uma reimpressão obteria provavelmente algum sucesso...
O notável escritor e político António Augusto Teixeira de Vasconcelos, que durante a luta entre Antero e Castilho, na Questão do Bom Senso e o Bom Gosto, propusera a conciliação com o seu texto Pazavaliará bem esta obra de Fernando Leal no Jornal da Noite, de 17-IV-1876:«as notas são importantes, sensatas e eruditas. Vê-se por elas que o tradutor é do Oriente, e está bem informado acerca da história e circunstâncias daquelas regiões...»
Em Dezembro de 1876, publica um opúsculo Lettre à mademoiselle Marie Denis sur l' immoralité parisienne por Rouget de la Presqu'ile (seu pseudónimo), sobre aspectos do Teatro, onde analisa a metodologia crítica: «Mas para ferir alguém ou alguma coisa, é indispensável ter essa coisa ou esse alguém, ali, muito perto de nós, ao alcance do braço ou do tiro. Aí está a razão porque a própria imoralidade deve aparecer no teatro (ou no romance ou no poema): apenas para ser pateada, escarnecida, sovada».
Em 1878-79 colabora em jornais e revistas com traduções de Victor Hugo: A consciência, Acareações, Fábula ou História, A sagração da mulher, no Diário da Manhã, Lisboa, 3-II; O gigante e o pigmeu, Revista de Arte e Crítica, Porto, em Novembro; Cantiga, O Contemporâneo, nº4, Lisboa; Palavras na Adversidade, Democracia, Lisboa, 23-VIII-79; O sono de Booz, Diário da Manhã, 23-VIII-79.
 Em fins de 1880 sai em Lisboa, na Typ. de J. H. Verde,  o seu primeiro livro,  in-8º de VIII-242-8 páginas,  Reflexos e Penumbras, de composições originais e, sobretudo, traduções de poesias de Victor Hugo e outros.
Em relação a Fernando Leal e a estas traduções, muitas de Victor Hugo, e em especial da Legende des Siècles, escreve Silva Pinto, na Voz do Povo, 5-I-1880:«É um Índio. Foi da Ásia aos sertões africanos, veio da África Austral, soldado e explorador, do convívio das feras e da imensidade, cheio do largo estoicismo duplo da alma honesta, avigorada ao calor da Natureza livre. Veio dos montanheses Zulus «muito bravios, mas muito leais e amigos dos seus amigos,» ao meio dos cafres da sociedade enferma contemporânea e achou-se deslocado. Procurou um refúgio, um amigo: encontrou o Júpiter tonante da poesia moderna: o velho Hugo, poderoso e solitário, como o Moisés de A. de Vigny, e abraçou-se nele. Traduzamo-lo: - traduziu-o...». E também o elogiam O Comércio de Lisboa, a 9-I-1880, Fernandes Costa, no Atlântico, 13-III-1880, Alberto Pimentel, Camilo Castelo Branco (in Eccos Humorísticos do Minho, nº 3, 1880), Gomes Leal, Cândido de Figueiredo, este explicando mesmo que fora a ele quem, divulgando as suas traduções de Victor Hugo no Diário de Notícias, revelara os seus dotes poéticos, e Luís Botelho, que no Primeiro de Janeiro, 20-1-1880, descrevia-o assim:
«Fernando Leal conhece bem a sua língua, conhece igualmente a história; e de mais, tem num alto grau o golpe de vista sintético peculiar aos espíritos superiores, sobranceiros e largos horizontes, e pulsa-lhe no coração, com uma intensidade fremente, a nobre fibra do entusiasta.
Os Reflexos e Penumbras são, em suma, um dos mais apreciáveis livros de versos que entre nós se tem dado recentemente à estampa.»
Em 1882, a 29 de Março no Jornal da Noite, escreve um artigo sobre Victor Hugo e pouco depois, sua linha forte de activista social e cultural, como o eram seus inspiradores e amigos Gomes Leal e Antero de Quental, a propósito do bombardeamento de Alexandria pela esquadra do Almirante inglês Seymor, ergue a voz em fortes quadras:
"Calaram-se os canhões de Alexandria;
Teve o marujo inglês fácil vitória.
Mas não pode fazer calar a História,
Amordaçar a boca da ironia".
  
 Será em 1884 que dá à luz as Palmadas na pança do John Bull. - Foguete de Guerra offerecido a Camillo Castello Branco, reagindo fortemente contra o imperialismo inglês, numa forte e irónica crítica à falta de princípios do Governo Britânico, que tanto explorava e oprimia por toda a parte. No começo da obra a propósito do tratado de Methuen ou Metwen, escreve: «Dicionário político internacional. Metwen (tratado de) - Nome que soa: mete o n. e que os portugueses traduzem: mete a unha; porque, se o trocadilho, é de mau gosto, como todos os trocadilhos, o tratado desse nome é, para os portugueses, de muito pior gosto ainda. A Inglaterra, com esse tratado, meteu a unha e, atrás da unha, a mão e o braço todo até ao sovaco - na algibeira de Portugal. Deste e outros factos se depreende, que a respeitável associação dos honrados ratoneiros de Londres, os senhores pick-pockets, a qual tem aulas e cursos perfeitamente organizados, onde se ensina a nobre arte de furtar com destreza e perfeição, pode gabar-se de ter no Foreign-Office a sua escola superior, a sua academia suprema».
Colabora no Tesouro Artístico, de Cândido Magalhães, com o Rei de Benares, e explicar-nos-á:«Este conto, versão parafrástica de um episódio do Mahabharata, foi escrito em 1884 para uma publicação lisbonense destinada às crianças, chamada o Thesouro artístico, e da qual os outros colaboradores eram Júlio César Machado, Guiomar Torrezão, Fialho de Almeida, Carlos de Moura Cabral e poucos mais...». Em 1885, a 23 de Fevereiro, colabora na Homenagem a Victor Hugo, no suplemento literário do Correio da Manhã, ao lado de João de Deus, Bulhão Pato, Fialho de Almeida, Tomás Ribeiro, João Costa e Cristóvão Aires.
                                                                   
Em 1888 traduz, prefacia e anota os Soldados da Revolução, do historiador idealista francês Michelet, tão apreciado também por Antero de Quental. Sobre esta obra escreverá um longo e valioso artigo, no Jornal do Comércio, de 27-IV-4-1889, a escritora Maria Amália Vaz de Carvalho: «vertido para português por um poeta de muito talento - o snr. Fernando Leal, - é originalmente firmado pelo nome quase divino de Michelet, o santo, o sonhador, o entusiasta, o crente, que viveu na conveniência estreita dos heróis e dos mártires, sem que a derrota de uns ou o suplício dos outros apagasse na sua alma a fé e o ardor dos prosélitos...»
                                                                      
O valioso prólogo, de XXXIII páginas, da sua autoria, termina assim:«Bendito seja o venerando historiador, um dos maiores do mundo!
Ele bem sabia, o santo, o humano, o consolador Michelet, ele bem sabia que, apesar de Bonaparte, como apesar de Bismarck e de Moltke, apesar de Iena como de Sedan, apesar da violência, apesar do êxito, apesar das traições, das cobardias do destino, apesar de tudo, há sempre, no firmamento moral, alguma coisa que fulgura, que se não deixa empanar por toda a glória das batalhas, por todo o esplendor das vitórias. Essa coisa, que tem longos eclipses para a multidão idólatra dos triunfadores do momento, mas sempre e bem visível para alguns, através do fumo da pólvora, da poeira dos triunfos, das nuvens do incenso, através das brumas da história, essa coisa terrível, ineluctável, imanente, chama-se a Justiça», nestas últimas linhas tanto lembrando o seu amigo Antero de Quental.

É também nos princípios de 1888 que dá à luz o seu segundo livro, Relâmpagos, onde o seu estro tanto revolucionário e patriótico como lírico se afirma. As pessoas a quem são dedicados os poemas mostram algumas das suas amizades e provam a grande sodalidade ou república de Letras em que vivia. E como a primeira poesia é dedicada a uma G., poderemos estar certos que já então admiraria a jovem sua futura mulher, Maria Guiomar de Noronha. Nas outras dedicatórias salientemos Gomes Leal, António Bettencourt Rodrigues, Cândido Figueiredo, Antero de Quental, Bulhão Pato, Teófilo Braga, Jaime de Séguier, António Ennes, João de Deus, Lopes Mendonça, Luís Botelho, Viscondesa de Bucelas, José de Vasconcelos e Sá, Bordalo Pinheiro, Frederico Ayala, Auguste Vacquerie. No final inclui várias notas valiosas, uma das quais uma apreciação crítica dos Sonetos de Antero de Quental e que iremos traduzir do francês e gravar (
Dos que o elogiam na Imprensa nomeemos Luiz Botelho, Rodrigues Velloso, Teófilo Braga, Maria Amália Vaz de Carvalho, Reis Damaso, Cândido Figueiredo e Guiomar Torrezão. 

Após publicar em 19 de Maio de 1889, n' A Voz do Operário, em Lisboa, uma tradução de Victor Hugo, O Sapo, regressa à terra natal, a Índia, provavelmente no Outono, já que no Verão passara alguns dias em Vila o Conde com Antero de Quental, seguindo o conselho que ele lhe dera: «regresse à Índia e case-se com a mulher que o ama...»
A casa mãe de Mahém, sobre os arrrozais infinitos.

Fernando Leal veio em verdade a casar com Maria Guiomar Correia da Silva e Gama de Noronha (nascida em 10/3/1874 e portanto bastante mais nova do que ele), uma das seis filhas do conde de Mahém, D. José de Noronha (1847-1929), participando então em muitos serões literários que, com as récitas juvenis organizadas por Higino da Costa Paulino (casado com outra das irmãs, Maria Helena, sendo esta "artista consumada, tocando piano como uma virtuose"), eram momentos intensificadores no final do séc. XIX e princípios do séc. XX do convívio cultural em Pangim, a capital de Goa. Ao seu pendor artístico, ao ambiente tropical e espiritual indiano juntava-se uma bela época convivial, fazendo desabrochar ainda mais o pendor poético, no qual se notabilizava, unindo assim, tal como Camões, o culto das Musas e o exercício das Armas e das ciências...
O jornal Heraldo, de Panjim, noticiava algo desse ambiente quando em 1926, já em Lisboa, desencarnava Higino da Costa Paulino (nascera a 27/10/1868): «Homem aprimorado, artista de raça, foi entre nós sempre valioso o seu concurso em todas as festas de arte. Poeta e comediógrafo, era um ensaiador admirável (...)
Que encantadoras noites se passavam em casa de Costa Paulino, onde a poetisa Florência de Morais
[ler: https://pedroteixeiradamota.blogspot.com/2023/10/sete-sonetos-camoneanos-de-florencia-de.html,] Visconde de Castelões e Fernando Leal se juntavam a "virtuoses" como a snra. D. Helena da Cunha Pereira e outras damas e cavalheiros, pondo em tudo uma tal nota de arte que eram noites de sublime prazer intelectual!
"A notícia da morte de Costa Paulino traz-nos à memória aqueles tempos distantes, cuja simples recordação faz bem ao espírito torturado pelas misérias dos tempos presentes»....
Um dos filhos de Higino da Costa Paulino e de Maria Helena Noronha, e sobrinho de Fernando Leal, o capitão António Noronha, testemunha no seu livro Relembrando Goa: «Morávamos então numa velha e grande casa apalaçada do engenheiro Assa Castelo Branco, que foi casa solarenga, nos antigos tempos, dos Távoras, e onde hoje, dizem, foi construído o belo Hotel Mandóvi. Deram-se lá belas festas, «serões» e bailes que marcaram na sociedade de Goa desse tempo. Recitava-se, cantava-se, tocava-se e bailava-se também animadamente. Recitavam-se versos dos poetas Osório de Castro, Álvaro de Castelões, Fernando Leal e da poetisa Florência de Morais. E também do meu pai, que «dizia» maravilhosamente». 
                            
Ora quando Fernando Leal regressou à Índia foi, a exemplo do seu tio, Administrador do distrito de Assolnã, e de tal missão publicará um relatório em 1897. Disto dá testemunho o seu sobrinho e futuro 2º conde Mahém António de Noronha Paulino (o tio Paco e que ainda conheci em criança) quando escreve no seu livro Goa Nossa Terra: "Por motivo da minha doença - febres intermitentes - encontrávamos-nos minha mãe, meus irmãos e eu no concelho de Assolnã, que um tio meu, o poeta Fernando Leal, administrava. Assim que soubemos da atitude dos Ranes, procurámos juntar-nos a meu pai, que residia na capital, uns 40 quilómetros distante de nós..."
O outro dos seus sobrinhos que nos dá indicações sobre Fernando Leal é o já mencionado capitão António de Noronha Paulino, fomentador da Educação Física em Goa, que no seu livro Relembrando Goa (Lisboa, 1963) refere a amizade do tio com João de Deus, Gomes Leal e D. João da Câmara, e conta histórias passadas com ele: «A grande casa da Administração, onde moravam, ficava debruçada sobre o romântico rio-Sal, todo bordejado de frondosos salgueiros. Que lindos passeios nós [Fernando Leal e ele] dávamos, aos domingos, em cómoda jangada, pelo rio abaixo, até à foz, à calma e poética Betul!»


Caetano Gonçalves, no seu opúsculo Fernando Leal poeta e soldado (Estudo bio-bibliográfico), impresso em Famalicão, em 1942, é, além dos seus sobrinhos e descendentes já mencionados, uma das boas fontes, auxiliando-nos neste artigo e elogiando-o, também diante do Betul: «Esta devoção do português pela terra que ele adopta (como na Índia o fez em sucessivas gerações, mais especialmente a partir do século XVII) como sua segunda pátria, é uma das características do singular poder de atracção e adaptação do génio lusitano, que faz simultaneamente a glória da Nação em séculos de História e a honra e a fortuna dos países cujo destino passa desde então a estar ligado ao seu. Esse é o segredo da expansão dum pequeno povo de navegadores, do seu espírito de continuidade, da sua vocação de eternidade, pelas mais recônditas e remotas regiões do globo! Com Fernando Leal, durante semanas - há bons 50 anos - senti o contacto e a vibração desta verdade num velho reduto, que na costa portuguesa do Malabar, em pleno Oceano Índico, assinala o limite sul da nossa província de Salcete e a encantadora paisagem do porto de Betul, tão tranquilo nas suas águas como no movimento da sua alfândega. Uma inscrição gravada num dos muros do forte diz-nos que a construção foi ordenada pelo governador Lopes de Lima...», governador da Índia de 1840 a 1842.
A este testemunho da convivência serena de semanas entre Caetano Gonçalves e Fernando Leal, acrescentemos de novo o do seu sobrinho António de Noronha, sobre os seus últimos anos de vida:"Esse meu tio como poeta que era, tinha - além de um génio exaltado - as suas manias. E uma delas: o de estar sempre com um terrível calor e por via disso trazia, à sua ilharga, o criado mouro, o Soliman, com uma grande ventarola em punho para o abanar constantemente... Até quando de machila (meio de transporte), lá ia o pobre Soliman, correndo ao lado, a dar à ventarola. Depois do almoço e do jantar, meu Tio, sentava-se por momentos, pachorrentamente, num cadeirão de braços, junto à larga janela, que dava para o rio, procurando talvez inspiração para os seus versos, de olhos semi-cerrados... Quando não cantava, em voz submissa, qualquer cantiga brejeira - o que muito arreliava, minha Tia, toda beata... E lembro-me duma delas: "Tenho pena da menina/ Ser tão linda e dormir só/ Tenho pena, meu amor, tenho pena/Tenho pena, meu amor, tenho dó..."
Outras vezes eram lindos «mandós» em concanim, língua que ele dominava perfeitamente, gostando mais do concanim falado em Salcete, do que o de Bardês. Um desses mandós, com uma música lindíssima, dizia assim: "Sacani uttom combo, Mãi/Sad galita/ Toch combo, Mãi, toch combo, Mãi/ Pejek uttaita», repetindo-se estes dois últimos versos...»
Quanto à "atitude dos Ranes" referida no início da transcrição, trata-se da chamada Revolta dos Ranes, nascida da recusa dos soldados maratas do Exército de
em 1895 partirem para Moçambique  sem as suas mulheres, e a consequente deserção ou saída dos quartéis, gerandoa movimentações de tropas e negociações, mas sem haver mortes.
Neste caso Fernando Leal esteve de sobreaviso ou a sua familiaridade com os soldados terá mesmo contribuído para o diálogo que se estabeleceu e no qual o conde de Mahem e o visconde de Bardez foram os escolhidos pelo Governo para diplomatas adequados às negociações que se entabularam junto a Sanquelim? Pouco depois chegava ao rio Mandovi vindo de Portugal uma expedição comandada pelo infante D. Afonso que acabou por cancelar o despacho que punha em causa a vida familiar dos soldados maratas.
Relembremos a sua tríade literária principal: primeiro, os Reflexos e Penumbras de 1880, de composições originais, cheias de idealismo revolucionário e lirismo, e traduções francesas de Victor Hugo, dedicado saudosamente "à memória de meu tio, o coronel Fernando da Costa Leal". Em segundo, os Relâmpagos, já de 1888, impresso num in-8º de 268 págs., no Porto, na Livraria Civilização, e em terceiro, a sua última obra, o Livro da Fé, 1906, que inclui, como foi habitual, poemas originais seus e traduções, e teatro e textos em prosa.

                                                           
 Todas elas receberam aplausos gerais e de figuras consagradas da nossa literatura, como podemos ver nas transcrições inseridas no Livro da Fé, tal o testemunho de Teófilo Braga no jornal o Século de 25 de Agosto de 1884:«a feição oriental é representada nos Relampagos por algumas composições características, como a Serenata Indiana, a Queda do Homem, e o Rei de Benares, episódio encantador, liberrimamente parafraseado do Mahabharata, em que o poeta atinge todas as delicadezas do sentimento indiano». 
Poliglota notável, como o testemunho da escritora Guiomar Torresão realça, traduziu versos de Victor Hugo e de outros autores franceses e, na dedicatória que lhe endereça num dos livros, confessa ter aprendido francês "numa obscura aldeia perdida nas grandes florestas do Malabar": «O meu professor de francês era um pobre padre cristão, muito inteligente, mas brâmane pela sua casta e que nunca encontrara na sua vida um só francês. Esta circunstância, atenuante para mim, prova, penso eu, uma vez mais a irradiação imensa e maravilhosa do génio francês».
Depois de regressar à Índia deu à luz em 1891,  em Lisboa, na Typographie Franco-Portuguaise, Corymbe Exotique, [Inflorescência exótica], num in-4º de XVII-38 páginas, escrita toda em francês, com uma extensa introdução muito crítica da Inglaterra, com um nota trágica mas valiosa a assinalar  a morte de Antero de Quental, nos Açores, em Setembro de 1891, e com poemas em francês, entre os quais o do bombardeamento de Alexandria pelos ingleses e que tanto o indignara. O primeiro poema é auto-biografico do amor que o une à sua mulher, e muito belo.
E em 1897 publica o Relatório acerca da administração geral dos campos nacionaes de Assolnã, Velim, Ambelim, Talvordá, Nuém e Ragibaga, relativo a 1897 pelo administrador, o major Fernando Leal. (In-4º de 19 págs.) É um testemunho dos seus dotes de cientista e agricultor e nesse sentido Sérgio de Castro, in Homens de Letras e Flores, 1926, refere os seus conhecimentos de Botânica expressos por João de Deus, outro amante da jardinagem, numa carta, patentes também numa das suas notas juntas à tradução que fez da obra de Méry, Elefantes e Monstros.
Em 1898 publica duas traduções de Victor Hugo no jornal Era Nova, Carta aos ateus, e Aos pés dum crucifixo, em 2 e 10 e Março e pouco depois dá à luz a Homenagem ao Ex. e Rev. Sr. Dom Matheus de Oliveira Xavier, bispo de Cochim, no dia da sua sagração em Goa.
 Este poema mereceu do crítico e jornalista Avelino de Almeida (de quem cataloguei há uns anos a sua biblioteca para leilão no Palácio do Correio Velho), sob o pseudónimo de Pedro Fabro, um grande elogio equiparando tal escrito a uma conversão religiosa, um aspecto que Mayer Garção, nos seus Homens Esquecidos, realçará também em Fernando Leal, mas cujos contornos e causas verdadeiras ou precisas dificilmente poderemos afirmar, embora se saiba que a sua mulher Maria Guiomar de Noronha era muito religiosa ou mesmo espiritual, De qualquer modo foi de facto um poema abençoador, inspirado, profético face à grande alma e carreira de Dom Mateus de Oliveira Xavier. [Já depois da redação inicial deste escrito, vim a encontrar entre os meus folhetos a Homenagem, e com a dedicatória de Fernando Leal ao conselheiro Dias da Costa, que li e gravei: https://pedroteixeiradamota.blogspot.com/2022/05/fernando-leal-e-o-poema-de-consagracao.html
                                                   
Em 1899 em Margão, escreve Dieu garde le Tsar! a propos du Congrés de la Paix, que se celebrara em Haya, «uma franca homenagem (...) endereçada ao Imperador da Rússia em aplauso às suas nobres tentativas de paz universal» e uma forte crítica aos norte-americanos e ingleses.
Esta plaquette ou opúsculo de 21-IV páginas, e que foi logo reeditado, é elogiado por Rodrigues Veloso, n' A Aurora do Cávado, de 20-XII-1899: «Com que veemência íntima e sincera não aplaudo esse azorragar tão vigoroso e lategante quão merecido, do eminente poeta sobre os orgulhosos opressores de Cuba e das Filipinas, da Irlanda, da Ásia e do Traansval. Com o ouro e os couraçados que possuem em demasia, e com a nenhuma vergonha e brios que lhes restam, entendem que todo o mundo é seu e que dele podem dispor a seu talante
!...»
                                                                                
 Também o juiz e político, jornalista e escritor (e autor do 1º livro impresso em Timor, Flores de Coral Alberto Osório de Castro (1868-1946, na fotografia) endereçou-lhe uma elogiosa carta bem espiritual em 1900: «Agradeço muitíssimo penhorado a oferta do seu cântico ao Tsar, à federação dos Povos, à solidariedade humana, ao ideal das raças superiores e das supremas civilizações. (...) O senhor Fernando Leal precisa de explicar ao mundo o segredo da eterna mocidade, que de certo descobriu. Que misteriosa alquimia é essa que o deixa em eternal adolescência da alma, eterno insurrecto e paladino do ideal inquebrantável de justiça e bondade entre os homens, desdenhoso do direito da Força, desprezador dos darwinismos terríveis do conflito das Raças! Eu admiro extraordinariamente tão grande primavera do coração...»

     Destes tempos do findar da presença cultural e convivial portuguesa na Índia fala-nos o capitão António de Noronha, que os sentia nostalgicamente, no seu Relembrando Goa: «E outros pensamentos surgiam agora como dobres a finados.... como aqueles queixumes, ditos em versos por homens bons e sábios da portuguesíssima têmpera que eu muito admirava e que se reuniam de quando em quando em casa de meus pais, em amenos serões, tais como o velho Barão de Combarjua, tão acertado no seu dizer, o literato Visconde de Bucelas, o escritor e historiador Frederico de Ayala, os poetas Fernando Leal e Alberto Osório de Castro, Dr. Fragoso, tão original na suas teorias e meu pai [Higino da Costa Paulino]... e mais tarde, o romântico e célebre Visconde de Castelões, Álvaro de Castelões, que provocou o falado "ultimato", a poetisa Florência de Morais... e neles, nesses versos, traduziram a mágoa que lhes ia na alma por todo aquele abandono para o qual não viam remédio, nem esperança...»
Evoco alguns desses versos que eu jamais esqueci:
De Fernando Leal:
"Cai sobre ti chama como um pranto,
Sobre ti, Goa, um Sol sinistro cai.
Cidade que Albuquerque prezou tanto,
Seu grande sonho que em solidão se esvai."


E ainda este do mesmo poeta:

"Tange oh sino da Sé, oh sino doiro, tange!
Por a espada cristã partir o mouro alfange...
Mas Goa é morta já!
Não mais repicas, sino; agora oh sino, dobras....Goa é negra mansão de feras e de cobras,
Deserta Goa está!"»
 
                            
Fernando Leal passou à reserva em 1904, como Coronel, quando tinha 58 anos, dois antes de publicar o já referido Livro da Fé, uma obra bastante mais religiosa, observando-se uma conversão ou pelo menos já a não contestação dos defeitos de papas e clérigos que o caracterizaram na sua juventude, mas cremos que o seu idealismo justiceiro se manteve até ao fim. No Livro da Fé inclui, além dos poemas, as críticas, apreciações e cartas de críticos e de escritores amigos, onde se destacam as de Antero de Quental, que numa das cartas a de 1-X-1889) alude à convivência em Vila de Conde: «Diga-me como passa, física e moralmente. Oxalá que melhor. E que faz? Prosa ou verso? Lembro-me dos bons bocados de tardes, este Verão, em sua companhia...» 
 Eis algumas das cartas de Antero de Quental a Fernando Leal, bem substanciais, partes delas já transcritas neste blogue:


 
 
                               
  «É bom, é até necessário passar pelo Pessimismo, mas não se deve ficar nele por muito tempo. O Pessimismo não é um ponto de chegada, mas um caminho. É a síntese das negações na esfera da natureza, a luz implacável caída sobre o acervo de ilusões das coisas naturais. Mas, para além da natureza, ou, se quiser, escondido, envolvido no mais íntimo dela, está o mundo moral, que é o verdadeiro mundo, ao qual a harmonia, a liberdade e o optimismo são tão inerentes como ao outro a luta cega, a fatalidade e o pessimismo. Afinal, não vivemos verdadeiramente senão na proporção do que partilhamos desse mundo íntimo e perfeito, ou, mais exactamente, da parte dele que desentranhamos de nós mesmos e fixamos nos nossos pensamentos, nos nossos sentimentos e nos nossos actos. Já vê que a existência tem um fim, uma razão de ser, e o Fernando, embora diga sinceramente o contrário, no fundo não o crê. Lá no fundo do seu coração há uma voz humilde, mas que nada faz calar, a protestar, a dizer-lhe que há alguma coisa por que se existe e por que vale a pena existir. Escute essa voz: provoque-a, familiarize-se com ela, e verá como cada vez mais se lhe torna perceptível, cada vez fala mais alto, ao ponto de não a ouvir senão a ela e de o rumor do mundo, por ela abafado, não lhe chegar já senão como um zumbido, um murmúrio, de que até se duvida se terá verdadeira realidade. Essa, meu amigo, é a verdadeira revelação, é o Evangelho eterno, porque é a expressão da essência pura e última do homem, e até de todas as coisas, mas só no homem tornada consciente e dotada de voz. Ouça essa voz e não se entristeça.»
                                
 Nos últimos anos de vida Fernando Leal publicou vários poemas e sonetos em folhetos, plaquettes ou mesmo folhas volantes, com pequenas tiragens, excepto a de 1906 Novembro, A reconquista de Goa,  impressa na Imprensa Nacional em Nova Goa, para ser distribuída ao público por ordem do Governador Geral da Índia Portuguesa Arnaldo de Novaes, aquando do aniversário da conquista de Goa. A Pérola Indiana, Panjim, 1907.  Sonetos, Margão, 1907, e libertou-se do corpo físico evolando-se para os mundos espirituais  em 4 de Abril de 1910, em Goa, com 64 anos.   A sua mulher Maria Guiomar  Gama de Noronha, muito religiosa e que o influenciara nos últimos tempos,  tinha então apenas 36 anos e amando-o tanto  manteve o  caixão de chumbo em casa, debaixo da cama, bastante tempo. Era uma mulher muito culta, e uma prima ainda viva hoje 2023, a Maria de Fátima de Oliveira, filha do capitão-de-mar-e guerra Abel da Costa Campos de Oliveira, na sua meninice em Goa, conheceu-a. E o avô dela, o cap. José Joaquim de Oliveira dialogava com a Guiomar Noronha Leal, tendo ficado com uma obra de Giovani Papini que ela lhe ofereceu. Fernando e Guiomar não tiveram filhos, embora educassem a criança de um familiar... Que possam ser felizes nos mundos espirituais.... Aum, Amen...
Na pagela que lhe foi dedicada transcrevia-se a tradução que ele fizera do poema de Victor Hugo, no Pedestal dum Crucifixo:
 
"Este Deus chora; ó vós que chorais, vinde aqui;
Vinde, vós que sofreis, pois cura a sua graça;
Vinde, vós que tremeis, a Ele que sorri;
Vinde, vós que passais, a Ele - que não passa."
 
Uma das duas fotografias de Fernando Leal conhecidas, publicada no Século aquando da sua libertação terrena em 1910.
 
O famoso poeta revolucionário Gomes Leal,  grande amigo de Fernando Leal, que chegou a chorar mesmo quando este lhe leu a sua versão do Rei de Bénares, Gomes Leal a quem Fernando Pessoa dedicou um poema astrológico, e que foi também atraído pela sabedoria tanto geral como cristã, indiana e teosófica, e de formas muito originais, revolucionárias ou mesmo heréticas, em 1884, nos nºs 10 e 11 do jornal O Século elogiava-o e equiparava-o assim no fim do seu extenso artigo biográfico: «Para concluir diremos, como começamos, que Fernando Leal, pela sua organização típica e especial, é na nossa literatura, depois de João de Deus que representa o suave misticismo lírico, Teófilo Braga a revolução científica e a penetração da Análise, Antero de Quental a serena contemplação budística e a majestade transcendente da Síntese, é depois destes, repetimos, a entidade mais original, mais simpática, mais viva - porque representa os nervos, a inquietação, a jovialidade e a força.
É na nossa literatura, quase apagada e triste, um raio de sol da resplandecente Índia, onde a bela Lakshmi nasceu radiante de um mar todo de leite no largo cálice de um lótus, a bela flor azul!...
Receba Fernando Leal estas linhas como um preito ao seu talento, ao seu carácter excepcional, à sua alma de ouro, - dado por um homem cujas mãos estão mais acostumadas a traçar frases amargas e penosas do que a mover o incensador ante o nariz das divindades».
Saudemo-lo também nós, e aos seus amigos e familiares, passados estes anos todos...
                                               
Lakshmi, uma das faces femininas da Divindade mais cultivada na Índia, brotando do lótus da devoção...
                                                       
São quarenta páginas com  informação valiosa, mas quem quiser saber mais de Fernando Leal terá de socorrer-se de outros autores, nomeadamente dos seus sobrinhos já referidos, tal Caetano Gonçalves. E ainda de Sérgio de Castro, Homens de Letras e Flores, 1926; Cândido de Figueiredo, Homens e Letras, 1881; Mayer Garção, Homens Esquecidos, 1924; e ainda de José Julião do Sacramento Almeida, 
A imprensa portuguesa chorando a morte do grande poeta do século XIX Fernando Leal. Bombaim, 1911.
Anote-se ainda que além de ocasionais folhas volantes com versos seus por ocasião de acontecimentos e festividades, de que se conhecem algumas (tal o Soneto a D. Emilia de Castro Novaes Sotto-Mayor no dia do seu consórcio, 1906), colaborou em várias revistas e jornais, tais como Democracia (1878), Occidente (1878-1924), Jornal do Domingo (1881-1888), Galeria Republicana (1882-1883), A Imprensa (1885-1891), A Comedia Portugueza (1888-1892) e Jornal do Comércio (1889).

2 comentários:

Unknown disse...

Gostei muito de ler este ensaio biográfico sobre Fernando Leal. Poderei ter acesso ao texto inteiro da sua homenagem ao Arcebispo D. Mateus de Oliveira Xavier? Agradecia se pudesse ser enviado ao meu e-mail teodesouza@gmail.com

Pedro Teixeira da Mota. disse...

Muitas graças, Teotónio de Sousa. Que eles nos inspirem na caminhada para mais luz e Amor!.