Paisagem subtil com cedros e árvores, pintada por Bô Yin Râ, notável pintor e escritor alemão, em homenagem a quem criei uma página no Facebook.
Um dos aspecto da nossas amigas árvores pouco conhecido e menos ainda documentado é a presença delas nos sonhos, nas visões e no mundos do além, subtis e espirituais. Há contudo inúmeras lendas e contos que nos mostram as árvores a moverem-se ou a falarem, e há muita gente a vê-las nos sonhos, e muitos de nós já tivemos a visão da Árvore Cósmica que liga a Terra e o Céu, os humanos e animais e a Divindade, tão representada na Arte pré-histórica e antiga ocidental e oriental...
Sri Tathata, um sábio yogi da Índia testemunha aqui a meditação iluminativa sob a figueira sagrada, tal como Sidharta Gautama, o Budha, e tantos outros mestres ao longo dos tempos..
Lenhador do Extremo Oriente, num desenho nipónico....
Quanto a tradições populares há uma curiosa, que até pode ter acontecido algumas vez em Portugal, pois está associada às festas dos mortos, ou seja, quando cultivamos mais a ligação com os mundos subtis, e o seres que já partiram, e que ocorrem no início de Novembro:
Joaquim Alberto Pires de Lima, na sua bem interessante obra No Crepúsculo, 1951, cita Olavarria y Huarte, no seu Folklore de Proaza e conta-nos que “no dia dos Fiéis defuntos, vêm à terra os mortos, depois das doze badaladas da meia noite, e que os que roubaram alguma coisa na vida, a trazem às costas: assim por exemplo, os que roubaram uma árvore, trazem-na ao ombro, estendida e com a copa para a frente, de maneira que a primeira coisa que se vê são os ramos. Se isto fosse possível, em Portugal, poderia assistir-se, no baixo Minho, à meia noite do dia 2 de Novembro, a uma grande parada de milhares e milhares de almas do outro mundo com os pinheiros às costas, pois que os ladrões de árvores são vulgaríssimos nessa terras. Seria um espectáculo fantasmagórico e de um realismo surpreendente...”
Árvore já sem a copa, pois desapareceu por ser ramagem sem grande valor ao arder num instante e não dar dinheiro. Contudo, na tradição do mundo subtil ou da vida depois da morte física, a árvore virá com a folhagem verde à frente, talvez para lembrar as esperanças que cortamos com os nossos actos egoístas, irreflectidos ou insensíveis....
Despertarmos mais a nossa ligação com a Árvore Cósmica ou Primordial e com as árvores, bosques e jardins do Cosmos visível e invisível é uma demanda a tempo inteiro e que passa pela verticalização da nossa coluna vertebral e a sua sintonização, alinhamento ou mesmo "sub-coincidência" com a Cósmica, pela consciencialização de que estamos a alimentar as raízes da nossa árvore interior (pela respiração e posturas, por exemplo) e pela preservação e culto de uma boa qualidade-quantidade de relacionamentos com as árvores no fio da nossa história temporalizada, mesmo que seja agora no leve tocar numa delas, num passeio de uma rua de Lisboa (nas que houver, pois os arboricídios no país continuam), ou num bonsai ou vaso caseiro...
Quanto aos sonhos e clarividências há que merecê-las, e não está bem discernido nem consciencializado os factores que mais contribuem para tais graças da contemplação das árvores nos mundos subtis e espirituais. Talvez outrora com os vigilantes das florestas, nessa tarefa meritória, ou com os que iam trabalhar para matas e lá ficavam a dormir, tal acontecesse com mais facilidade. Resta-nos sempre a meditação e a consciência interior da árvore cósmica, invertida ou não...
Caminhar por entre carvalhos alvarinhos transmontanos no Gerês.
Sim, há que merecer e reclamar, admitir e receber mais, nas paisagens ou cenários dos sonhos, a presença das árvores e dos seus ensinamentos e benefícios medicinais psico-somáticos, não tanto por roubos delas, como vimos na legenda ou por estarmos indignados com mais uma poda ou abate criminoso municipal, e porque possamos intuir o karma de tais actos, mas porque as amamos, as estudamos, e invisivelmente cultivamos as ligações subtis com elas e com a Arvore Cósmica.
Certamente plantá-las, potegê-las e comungar mais amiúde com elas, nos jardins citadinos ou na Natureza e seus vales, montanhas e aldeias, quintas e quintalecos....
Carvalho alvarinho erguendo-se ao céu e elevando-nos também....
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