domingo, 26 de fevereiro de 2023

Da demanda e realização espiritual do Amor e da Divindade. Por Pedro Teixeira da Mota. 26.II.2023.

O meu último livro, Da Alma ao Espírito (ainda há exemplares...), e a pintura Himavat, de Bô Yin Râ.

A Divindade é o mistério mais elevado e profundo da vida, pois é tanto a origem como o fim do seres e da manifestação dos Cosmos e por isso tal questão ou interrogação, se é levada ao peito e se torna uma demanda (do graal),  deverá ter naturalmente mais tarde ou mais cedo como epílogo um conhecimento melhor acerca d'Ela, até mesmo unitivo como muitas almas místicas ou iniciadas sentiram, pesem as muitas distrações, dificuldades e manipulações que nos separam da paz e clareza anímica que permitem esse aprofundamento do  conhecimento psico-afectivo íntimo, clarividente, iluminativo, plenificante...

Nos nossos dias, em que o materialismo, o globalismo, as narrativas oficiais, o darwinismo, o transhumanismo (ou melhor infra-humanismo), e as usuais alienações televisivas e dos espetáculos captam e perturbam tantas energias anímicas das pessoas, é evidente que elas chegam ao fim de cada dia ou mesmo da vida com pouco ou nada de Divino, mesmo que haja  rebentos ou gérmens das pequenas aspiração, orações, cogitações e meditações praticadas, ou então de actos de compaixão, abnegação, amor e sacrifícios, estes ainda assim ocorrendo mais devido à existência das famílias (daí que elas estejam a ser tão atacadas) e da fraternidade e solidariedade nas almas humanas, e também pela primazia grande da acção ou trabalho sobre a contemplação, uma característica  da civilização moderna..

Todavia, a nossa missão e luta diária, e mesmo que falhemos muitas vezes deveremos sempre renascer, avançar,  persistir e recriar, é no fundo não desanimarmos de conseguir religações à Divindade e ao Amor pelos modos que nos sejam mais afins, fáceis, apreciados.

Ora um dos aspectos mais importantes para que tal religação à Divindade aconteça é que nós consigamos sentir mais na vida a força ou mesmo a Presença divina em nós, nos outros e à nossa volta.

Se tal parece difícil actualmente, já os  povos  em estados mais antigos e naturais de civilização sentiam-na muito naturalmente e expressaram-no em cultos de árvores e pedras, montes e rios, aves e animais, anjos e deuses, e sentiam-na enquanto o numinoso e sagrado, no silêncio e no canto dos pássaros, nos fenómenos e ciclos da natureza, nas manifestações dos quatro elementos, nas pedras preciosas e cristais, na voz e na música, na noite estrelada e da música das esferas, e aprofundavam tal na gratidão silenciosa, orativa ou dialogante, em imobilidade, peregrinação,  dança, rito ou culto...

Modernamente o intelectualismo e cepticismo, a insensibilidade pelo excesso do digital e dos telemóveis, têm secado muito as fontes do sentimento e do amor para o numinoso, para o sagrado, para o invisível divino.  Por isso é bem recomendável o interagir real com as pessoas amigas e o ir-se e estar-se na natureza, sentindo-a com amor e em unidade,  o que pode gerar por vezes até  uma experiência de forte unidade com ela e com a vida divina que a anima e que não sendo a Divindade em si mesma, ainda assim é algo dela na manifestação.

Ao longo dos séculos, numa evolução psíquica, moral e religiosa imensa e que  ninguém consegue discernir plenamente ou realizar bem, foi-se desenvolvendo em alguns seres a capacidade de estabelecerem melhor tal  religação, no Oriente demandada pelas vias ou yogas, em condições favoráveis ou não, e que deixaram assim trilhos nos caminhos subtis das almas e da memória da terra lúcida e perene e que nós devemos cultivar e levar mais longe e acima,  tanto mais que nascemos em famílias, em nações, grupos e religiões e temos antepassados, compatriotas, colegas ou fiéis que já deixaram o caminho do avanço terreno e que ora deixaram testamentos anímicos para prosseguirmos ora nos mundos subtis ainda precisam das nossas energias intencionais ascensionais, as quais com eles se juntam ao cruzarmo-nos em relações de lembrança grata, oração, apoio e inspiração.

Este é um dos meios que os antigos nos deixaram: o Corpo Místico da Humanidade, e o orarmos pelos que já tendo partido podem precisar ainda  de luz e amor na alma deles para poderem despertarem os seus sentidos espirituais, através dos quais podem avançar e elevar-se nos mundo subtis e espirituais  conscientemente, de acordo com a aspiração, a impulsão, a auto-consciência, o merecimento interior e a graça.

Ao orarmos por eles, para que sejam mais fortificados espiritualmente e para que a Divindade neles esteja mais viva ou consciencializada espiritual e amorosamente, estamos a trabalhar para a intensificação luminosa em vários planos  do universo, deste o terreno físico até aos subtis e espirituais, ou mesmo divino, interagindo com  eles. E caso tais almas já não  já não precisem, chegará a outras....

Se é pelo olho espiritual que vemos a Luz divina descendo sobre nós, ou discernimos melhor o subtil universo e os seus seres e símbolos, é sobretudo pelo coração que desenvolvemos ou intensificamos o amor que cria a vibração ambiental que permite a coalescência ou avatarização da subtilíssima Divindade e que desde a sua transcendência e na sua imanência consegue então fazer-se mais sentida em nós. 

Então há alegria, gratidão, paz, esperança e amor e no centro e fundo nobre da alma podemos invocar e sentir mais a Divindade que se vai fazendo renascer em nós e naqueles por quem oramos ou amamos.  

De Bô Yin Râ....

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