- Embora este texto tenha um ou dois aspectos mais discutíveis na sua interpretação dos factos, nomeadamente do desenrolar da guerra e dos perigos nucleares, ele representa a visão valiosa de um dos mais conceituados pensadores contemporâneos russos, defensor e propugnador da Euroásia e seus valores, nossa raiz profunda ctónica e graal celestial, e como tal merece ser conhecido e divulgado. Estamos pois diante um escrito de Aleksandr Dugin, de 24 de Fevereiro de 2023, aquando do 1º aniversário do começo da Operação Especial. A tradução brasileira da sua página geopolitika.ru.pt foi aperfeiçoada ou acrisolada lusitanamente ao ser transcrita para este blogue.
- Que a Luz do discernimento e da verdade, e o Amor da fraternidade e da paz inundem as mentes e corações de todos os seres e os abram mais à Divindade e aos seus santos e santas, mestres, Anjos e Arcanjos...
«De Operação Especial a Guerra em larga escala.
- Passou-se um ano desde o início da Operação Militar Especial Russa na Ucrânia. Começou precisamente como uma Operação Militar Especial, mas é claro hoje que a Rússia se viu envolvida numa guerra difícil mas de plena justiça. Uma guerra não tanto com a Ucrânia – mas sim com o regime e não com o povo (daí a exigência de desnazificação política ter sido apresentada desde o inicio), mas antes de tudo com o “Ocidente coletivo”, ou seja, de fato, com o bloco da NATO (excepto pela posição especial da Turquia e da Hungria [e a Sérbia], os quais procuram permanecer neutros no conflito – os demais países da NATO participam da guerra do lado do regime da Ucrânia de uma forma ou de outra).
- Este ano de guerra abalou muitas ilusões que todos os lados do conflito tinham.
O Ocidente estava errado nos seus cálculos.
- O Ocidente, esperando a eficácia de uma avalanche de sanções contra a Rússia e a sua exclusão quase completa da economia, política e diplomacia mundiais controlada pelos Estados Unidos e seus aliados, não teve sucesso. A economia russa manteve-se firme, não houve protestos internos, e a posição de Putin não só não vacilou, mas até se fortaleceu. A Rússia não pôde ser coagida a parar as operações militares, os ataques a infraestrutura técnico-militar da Ucrânia ou a retirar decisões de anexar novas zonas. Também não houve revolta dos oligarcas, cujos bens foram apreendidos no Ocidente. A Rússia sobreviveu, mesmo que o Ocidente acreditasse seriamente que ela iria cair.
- Desde o início do conflito, a Rússia, percebendo que as relações com o Ocidente estavam a desmoronar-se, virou-se mais em direção aos países não ocidentais – especialmente China, Irão, países islâmicos, mas também Índia, América Latina e África – declarando de forma clara e contrastante a sua determinação de ajudar a construir um mundo multipolar. De certo modo, a Rússia já antes tentava fortalecer a sua soberania, mas com hesitações, não consistentemente, voltando constantemente às tentativas de se integrar no Ocidente global. Agora esta ilusão finalmente dissipou-se, e Moscovo não tem outra solução senão simplesmente mergulhar de cabeça na construção de uma ordem mundial multipolar. Já alcançou certos resultados, mas estamos ainda no início do caminho.
Os planos russos foram drasticamente alterados.
- No entanto, na própria Rússia, tudo não correu como deveria. Aparentemente, o plano era não esperar que a Ucrânia atacasse o Donbass e depois a Crimeia, o que estava sendo preparado durante os Acordos de Minsk com o apoio ativo das elites globalistas do Ocidente – Soros, Nuland, o próprio Biden e seu gabinete – mas sim dar um rápido e mortal golpe preventivo contra a Ucrânia, apressar-se para sitiar Kiev e forçar o regime de Zelensky a capitular. Depois disso, Moscovo planeou trazer um político moderado (alguém como Medvedchuk) ao poder, e começar a restaurar as relações com o Ocidente (como aconteceu após a reunificação com a Crimeia). Nenhuma reforma económica, política ou social significativa foi planeada. Tudo deveria permanecer exatamente como antes.
- No entanto, muito saiu errado. Após os primeiros sucessos reais, enormes erros de cálculo no planeamento estratégico de toda a operação tornaram-se visíveis. O clima de paz do exército, da elite e da sociedade, não preparados para um confronto sério – seja com o regime ucraniano, seja com o Ocidente coletivo, teve o seu impacto sobre o desenvolvimento da situação. A ofensiva parou, encontrando a resistência desesperada e feroz de um adversário com um apoio sem precedentes da máquina militar da NATO. O Kremlin provavelmente não levou em conta nem a prontidão psicológica dos neonazis ucranianos de lutar até o último ucraniano, nem a escala da ajuda militar ocidental.
- Além disso, não levamos em conta os efeitos de oito anos de propaganda intensiva, que inculcaram à força a russofobia e o nacionalismo histérico extremado na sociedade ucraniana, dia após dia. Enquanto em 2014 a esmagadora maioria da Ucrânia Oriental (Novorossiya) e metade da Ucrânia Central estavam dispostas positivamente em relação à Rússia, embora não tão radicalmente quanto os residentes da Crimeia e Donbass, em 2022 este equilíbrio mudou – o nível de ódio contra os russos aumentou significativamente, e as simpatias pró-russas foram violentamente reprimidas – frequentemente através de repressão direta, violência, tortura e espancamentos. Em qualquer caso, os apoiantes ativos de Moscovo na Ucrânia tornaram-se passivos e intimidados, enquanto que os que antes hesitavam se colocaram do lado do neonazismo ucraniano, encorajado de todas as maneiras possíveis pelo Ocidente (creio que com propósitos puramente pragmáticos e geopolíticos).
- Apenas um ano depois Moscovo percebeu finalmente que esta não era uma Operação Militar Especial, mas uma guerra de pleno direito.
A Ucrânia teve um desempenho relativamente bom.
- A Ucrânia estava mais preparada para as ações da Rússia do que qualquer outra nação, numa preparação já trabalhada desde 2014, quando Moscovo não tinha sequer a remota intenção de expandir o conflito, e a reunificação com a Crimeia parecia suficiente. Se o regime de Kiev foi surpreendido por alguma coisa, foram precisamente os fracassos militares da Rússia que sucederam aos seus sucessos iniciais. Isto impulsionou muito a moral de uma sociedade já saturada de russofobia raivosa e de nacionalismo exaltado. A dado momento, a Ucrânia decidiu combater a Rússia com seriedade até o fim. Kiev, dada a enorme ajuda militar do Ocidente, acreditava na possibilidade de vitória, e isto tornou-e um factor muito significativo para a psicologia ucraniana.
O grande desastre para a elite pró-ocidental da Rússia.
- Mas a maior surpresa de todas foi o próprio início da Operação Militar Especial para a elite liberal pró-ocidental russa. Esta elite estava profundamente integrada no mundo ocidental ao nível individual, a maioria mantinha suas economias (às vezes gigantescas) no Ocidente e participava ativamente de transações de títulos e jogos de mercado de ações. A Operação Militar Especial realmente colocou esta elite sob uma ameaça direta de ruína total. E na própria Rússia, esta prática habitual começou a ser percebida como uma traição aos interesses nacionais. Portanto, os liberais russos até o último momento não acreditavam que a Operação Militar Especial começaria, e quando ela começou, contavam os dias em que ela terminaria. Tendo se transformado em uma guerra longa e prolongada com um resultado incerto, a Operação Militar Especial foi um desastre para todo o segmento liberal da classe dominante. Até hoje, alguns estão a fazer tentativas desesperadas de parar a guerra (em quaisquer condições), mas nem Putin, nem as massas, nem Kiev, nem mesmo o Ocidente, o aceitariam. O Ocidente notou a fraqueza da Rússia, um pouco atolada no conflito, e junto com Kiev irá até o fim em sua suposta desestabilização [da sociedade russa].
Aliados hesitantes e a solidão russa
- Os amigos e aliados da Rússia também ficaram parcialmente desapontados com o primeiro ano da Operação Militar Especial. Muitos provavelmente pensaram que nossas capacidades militares eram tão substanciais e bem ajustadas que o conflito com a Ucrânia deveria ter sido resolvido com relativa facilidade. E a transição para um mundo multipolar parecia para muitos já irreversível e natural, enquanto os problemas que a Rússia enfrentou pelo caminho trouxeram todos de volta a um cenário mais problemático e sangrento.
- Aconteceu que as elites liberais do Ocidente estavam prontas para lutar seriamente e desesperadamente para preservar sua hegemonia unipolar, admitindo até a probabilidade de uma guerra em larga escala com participação direta da NATO e até mesmo um conflito nuclear de pleno direito. A China, a Índia, a Turquia e outros países islâmicos, assim como os Estados africanos e latino-americanos, dificilmente estavam prontos para tal reviravolta. Uma coisa é se aproximar de uma Rússia pacífica, fortalecendo silenciosamente sua soberania e construindo estruturas regionais e inter-regionais não ocidentais (mas também não anti-ocidentais!). E outra coisa é entrar em um conflito frontal com o Ocidente. Portanto, com todo o apoio tácito dos partidários da multipolaridade (e sobretudo graças à política amigável da grande China), a Rússia foi deixada nesta guerra com o Ocidente, de fato, sozinha.
- Tudo isso se tornou óbvio um ano após o início da Operação Militar Especial.
- As fases da guerra.
1ª fase: início.
- O primeiro ano desta guerra teve várias fases. Em cada uma delas, muitas coisas mudaram na Rússia, na Ucrânia e na comunidade mundial.
- A primeira fase abrupta do sucesso russo, durante a qual as tropas russas atravessaram Sumy e Chernihov pelo norte e chegaram a Kiev, foi recebida com uma barragem de fúria no Ocidente. A Rússia provou sua seriedade ao libertar o Donbass, e com um rápido avanço partindo da Crimeia estabeleceu controle sobre mais duas regiões, Kherson e Zaporozhye. Esta fase durou os dois primeiros meses. Em uma situação de êxitos demonstráveis, Moscou estava pronta para negociações que consolidariam os ganhos militares com ganhos políticos. Kiev também concordava, relutantemente, com as negociações.
2ª fase: o fracasso das impossíveis conversações de paz
- Mas então começou a segunda fase. Aqui os erros de cálculo militares e estratégicos no planeamento da operação se fizeram sentir em grande medida. A ofensiva parou, e em algumas direções a Rússia foi forçada a recuar de suas posições. A Rússia tentou ganhar algo com as conversações de paz na Turquia. Mas fracassou.
- As negociações ficaram sem sentido porque Kiev sentiu que poderia resolver o conflito com ferramentas militares a seu favor. A partir de então, o Ocidente, tendo preparado a opinião pública com a furiosa russofobia da primeira fase, começou a fornecer à Ucrânia todas as formas de armas letais em uma escala sem precedentes.
3ª fase: impasse № 1
- No verão de 2022, a situação começou a estagnar, embora a Rússia tenha tido algum sucesso em algumas áreas. A segunda fase durou até agosto. Durante este período, a contradição entre a ideia inicial da Operação Militar Especial como um rápido conjunto de ataques militares precisos, que logo deveria ter entrado na fase política, e a necessidade de conduzir operações de combate contra um inimigo fortemente armado, que tinha apoio logístico, de inteligência, tecnológico, de comunicações e político de todo o Ocidente, tornou-se evidente em sua totalidade. E agora a frente era de enorme extensão.
- Enquanto isso, Moscovo tentou continuar a conduzir a Operação Militar Especial de acordo com o cenário original, sem querer perturbar a sociedade como um todo ou dirigir-se diretamente ao povo. Isto criou uma contradição nos sentimentos da frente e do lar, e levou a desacordos no comando militar. A liderança russa não queria permitir que a guerra penetrasse a sociedade, adiando de todas as maneiras o imperativo da mobilização parcial, que já estava atrasada naquela época.
- Durante este período, Kiev e o Ocidente em geral voltaram-se para táticas terroristas – matando civis na própria Rússia, explodindo a ponte da Crimeia e explodindo os gasodutos do Nord Stream.
4ª fase: contra-ataques ucranianos
- Assim, entramos na Fase 4, que foi marcada por uma contra-ofensiva das Forças Armadas ucranianas na região de Kharkov, que até então já havia passado parcialmente sob controle russo. Os ataques dos ucranianos no restante da frente de batalha também se intensificaram, e a entrega em massa de unidades HIMARS e o fornecimento do sistema de comunicações via satélite Starlink às tropas ucranianas, em combinação com uma série de outros meios militares e técnicos, criou sérios problemas para o exército russo, para os quais ele não estava preparado. A retirada na região de Kharkov, a perda de Kupyansk e mesmo da cidade de Krasnyy Liman na República de Donetsk foi o resultado da “meia guerra” inicial. Foi neste ponto que a Operação Militar Especial se transformou numa guerra de pleno direito. Mais precisamente, esta transformação foi finalmente percebida com seriedade nos escalões superiores da Rússia.
5ª fase: o despertar parcial da Rússia
- A estas falhas seguiu-se a quinta fase, que
mudou o curso dos eventos. O anúncio da mobilização parcial, a
remodelação da liderança militar, a criação do Conselho Coordenador de
Operações Especiais, a transferência da indústria militar para um regime
mais duro, o endurecimento das penalidades pelo não cumprimento da
ordem de defesa do Estado, e assim por diante. O ponto culminante desta
fase foi o referendo de adesão à Rússia em quatro territórios – a
República de Donetsk, a República de Lugansk e as regiões Kherson e
Zaporozhye, a decisão de Putin de deixá-los aderir à Rússia. E o seu
discurso ideológico fundamental nesta ocasião, em 30 de setembro, no
qual ele declarou, pela primeira vez, com toda franqueza, a oposição da
Rússia à hegemonia liberal ocidental, a sua completa e irreversível
determinação de construir um mundo multipolar e o início da fase aguda
da guerra das civilizações, na qual a civilização moderna do Ocidente
foi denominada “satânica”. Em seu posterior discurso na reunião de Valdai, Putin
reiterou e desenvolveu as principais teses. Embora a Rússia já tivesse
sido forçada a render Kherson depois disso, enquanto ainda em retirada,
os ataques das Forças Armadas ucranianas foram interrompidos, a defesa
das fronteiras controladas foi reforçada e a guerra entrou numa nova
fase. Como próximo passo da escalada, a Rússia começou a destruir
regularmente a infraestrutura técnico-militar e às vezes até energética
da Ucrânia com ataques imparáveis de bombardeamentos de mísseis.
6ª fase: novo equilíbrio — impasse № 2
- Todavia, gradualmente, a frente estabilizou-se e um novo impasse se desenvolveu. Agora nenhum dos adversários conseguia inverter a maré. A Rússia reforçou-se com uma mobilização da reserva. Moscovo apoiou os voluntários e especialmente o grupo Wagner, que conseguiu um sucesso significativo na alteração do curso da maré nos teatros de guerra locais.
- Esta fase durou até agora. Ela é caracterizada por um relativo equilíbrio de poder. Ambos os lados não podem alcançar êxitos decisivos e neste estado. Mas Moscovo, Kiev e Washington estão prontos para continuar o confronto pelo tempo que for necessário.
Uso de armas nucleares: últimos argumentos
- A seriedade do confronto da Rússia com o Ocidente levantou a questão da probabilidade de este conflito se transformar num conflito nuclear. O uso de Armas Nucleares Táticas e Armas Nucleares Estratégicas foi discutido em todos os níveis, desde os governos até a mídia. Como já estávamos falando de uma guerra plena entre a Rússia e o Ocidente, tal perspectiva deixou de ser puramente teórica e tornou-se um argumento cada vez mais mencionado por várias partes do conflito.
- Alguns comentários devem ser feitos a este respeito:
- Apesar do fato de que a situação atual da tecnologia nuclear é profundamente confidencial, e ninguém pode ter certeza absoluta de como as coisas realmente são ou estão nesta área, acredita-se (e provavelmente não sem razão) que as capacidades nucleares da Rússia, assim como os meios para utilizá-las através de mísseis, submarinos e outras formas, são suficientes para destruir os Estados Unidos e os países da NATO. No momento, a NATO não tem meios suficientes para se proteger de um potencial ataque nuclear russo. Portanto, no caso de uma emergência, a Rússia pode recorrer a este último argumento. Putin esboçou-o quando disse que: essencialmente, se a Rússia [começar a] enfrentar uma derrota militar direta nas mãos dos países da NATO e seus aliados, seguida [por tentativa] de ocupação e ameaça de perda de soberania, a Rússia pode utilizar armas nucleares.
Soberania nuclear: apenas duas instâncias
- Ao mesmo tempo, a Rússia também não possui equipamentos de defesa aérea que o protegeriam de forma confiável de um ataque nuclear americano. Consequentemente, a eclosão de um conflito nuclear em larga escala, não importa quem atacar primeiro, será quase certamente um apocalipse nuclear e a destruição da humanidade, e possivelmente de todo o planeta. As armas nucleares – especialmente em vista das armas nucleares estratégicas – não podem ser utilizadas efetivamente apenas por uma das partes. A segunda responderia, e seria suficiente para que a humanidade ardesse em fogo nuclear. Obviamente, o próprio fato de possuir armas nucleares significa que em uma situação crítica elas podem ser usadas por governantes soberanos – ou seja, pelas mais altas autoridades dos Estados Unidos e da Rússia. Quase ninguém mais é capaz de influenciar tal decisão sobre o suicídio global. Este é o ponto da soberania nuclear. Putin tem sido bastante franco sobre os termos do uso de armas nucleares. Obviamente, Washington tem suas próprias opiniões sobre o problema, mas é claro que em resposta a um hipotético ataque da Rússia, ele também terá que responder simetricamente.
- Será que poderia chegar a isso? Eu acho que sim.
Linhas Vermelhas Nucleares
- Se o uso de armas nucleares estratégicas é quase certamente o fim da humanidade, elas só serão usadas se as linhas vermelhas forem cruzadas. Desta vez, linhas muito sérias. O Ocidente ignorou as primeiras linhas vermelhas que a Rússia identificou antes do início da Operação Militar Especial, estando convencido de que Putin estava a fazer bluff. O Ocidente estava convencido disso estando parcialmente desinformada pela elite liberal russa, que se recusava a acreditar na seriedade das intenções de Putin. Mas estas intenções devem ser tratadas com muito cuidado.
- Assim, para Moscou, as linhas vermelhas, que cruzariam com o início de uma guerra nuclear, são bastante óbvias. E soam assim: uma derrota crítica na guerra da Ucrânia com o envolvimento direto e intensivo dos Estados Unidos e dos países da NATO no conflito. Estávamos no limiar disso na 4ª fase da Operação Militar Especial, quando, na verdade, todos falavam de armas nucleares táticas e armas nucleares estratégicas. Apenas alguns sucessos do exército russo, confiando nos meios convencionais de armas e de guerra, desarmaram a situação até certo ponto. Mas, é claro, eles não a removeram completamente. Para a Rússia, a questão do confronto nuclear só será retirada definitivamente da agenda depois de que ela alcançar a vitória total. Falaremos um pouco mais tarde sobre em que consistirá essa vitória.
O Ocidente não tem nenhuma razão para usar armas nucleares
- Para os Estados Unidos e a NATO, na situação em que se encontram, não há motivação alguma para utilizar armas nucleares num futuro próximo. Elas só seriam utilizadas em resposta a um ataque nuclear russo, o que não aconteceria sem uma razão fundamental (ou seja, sem uma ameaça séria – ou mesmo fatal – de um ataque militar). Mesmo que se imagine que a Rússia assumiria o controle de toda a Ucrânia, isso não aproximaria os Estados Unidos das linhas vermelhas. Em certo sentido, os EUA já conseguiram muito em seu confronto com a Rússia – descarrilaram uma transição pacífica e suave para a multipolaridade, cortaram a Rússia do mundo ocidental e a condenaram ao isolamento parcial, conseguiram demonstrar uma certa fraqueza da Rússia na esfera militar e técnica, impuseram sérias sanções, contribuíram para a deterioração da imagem da Rússia entre aqueles que eram seus aliados reais ou potenciais, atualizaram seu próprio arsenal militar e técnico e experimentaram novas tecnologias em situações da vida real. Se a Rússia puder ser vencida por outros meios, e não pelo extermínio mútuo, o Ocidente coletivo ficará mais do que feliz em fazê-lo. Por qualquer meio, exceto o nuclear. Em outras palavras, a posição do Ocidente é tal que eles não têm motivos para serem os primeiros a usar armas nucleares contra a Rússia, mesmo em um futuro distante. Mas a Rússia tem.
- Todavia tudo nisto depende do Ocidente. Se a Rússia não for levada a um beco sem saída, isto pode ser facilmente evitado. A Rússia só destruirá a humanidade [ou melhor, algumas pessoas] se a própria Rússia for levada à beira da destruição.
Kiev: esta figura está condenada em qualquer caso.
- Finalmente, há Kiev. Kiev encontra-se em numa situação bastante difícil. Zelensky já uma vez pediu aos seus parceiros e patronos ocidentais que lançassem um ataque nuclear contra a Rússia depois que um míssil ucraniano caiu em território da Polónia. Que ideia tinha ele?
- O fato é que a Ucrânia está condenada nesta guerra por todos os pontos de vista. Já a Rússia não pode perder, porque a sua linha vermelha é a sua derrota. E, então, todos perderão.
- O Ocidente coletivo, mesmo que perca algo, já ganhou muito, e nenhuma ameaça crítica aos países europeus da NATO, muito menos aos próprios Estados Unidos da América, vem da Rússia. Tudo o mais que é ou seja dito a este respeito é pura propaganda [para atemorizar os ocidentais e os fazerem aderir à russofobia].
- Contudo, a Ucrânia nesta situação – na qual se viu várias vezes em sua história, entre o martelo e a bigorna, entre o Império (branco ou vermelho) e o Ocidente – está condenada. Afinal, os russos não farão nenhuma concessão e permanecerão de pé até a vitória. Uma vitória para Moscovo significaria a completa derrota do regime nazista pró-ocidental de Kiev. E como um Estado soberano nacional, não haverá Ucrânia mesmo num futuro distante. E é nesta situação que Zelensky, em imitação parcial de [a potencialidade de] Putin, está pronto [em último caso, e em resposta] para “apertar o botão nuclear”. Como não haverá Ucrânia, é necessário destruir a humanidade. Em princípio, está na moda entender isto, está bem na lógica do pensamento terrorista. A única coisa é que ele não tem um botão vermelho. Porque ele não tem soberania – nem nuclear nem qualquer outra.
- Pedir aos EUA e à NATO que cometam suicídio global em nome da nezalezhnost da Ucrânia, ou seja, sua “independência” (que nada mais é do que uma ficção) é no mínimo ingénuo. Armas sim, dinheiro sim, apoio da mídia sim, é claro, apoio político sim. Mas nuclear?
- A resposta é óbvia demais para ser dada. Como se pode acreditar seriamente que Washington, por mais fanáticos que os partidários do globalismo, da unipolaridade e da manutenção da hegemonia a qualquer custo a estejam governando hoje, avançará para a destruição da humanidade em nome do grito de guerra neonazi ucraniano “Glória aos Heróis!” Mesmo perdendo toda a Ucrânia, o Ocidente não perde muito. E o regime neonazi de Kiev e seus sonhos de grandeza mundial, é claro, desmoronar-se-ão.
- Em outras palavras, as linhas vermelhas de Kiev não devem ser levadas a sério, embora Zelensky aja como um verdadeiro terrorista. Ele tomou todo um país como refém e ameaça destruir a humanidade.
O fim da guerra: os objetivos da Rússia
- Depois de um ano de guerra na Ucrânia, é absolutamente claro que a Rússia não pode perder. Este é um desafio existencial: ser ou não ser um país, um Estado, um povo? Não se trata de adquirir territórios disputados ou do equilíbrio de segurança. Isso era há um ano. As coisas estão muito mais agudas agora. A Rússia não pode perder, e cruzar esta linha vermelha remete-nos novamente para aurora do apocalipse nuclear. E sobre esta questão todos devem ser claros: esta não é apenas a decisão de Putin, mas a lógica de todo o caminho histórico da Rússia, que em todas as etapas lutou contra cair na dependência do Ocidente – seja a Ordem Teutônica, a Polónia católica, a burguesia de Napoleão, o racista Hitler ou os globalistas modernos. A Rússia ou será livre ou não será nada.
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Vitória mínima
- Agora temos de considerar o que é a vitória para a Rússia? Há três opções:
- A escala mínima de vitória para a Rússia poderia, sob certas circunstâncias, consistir em colocar todos os territórios das quatro novas entidades – as regiões de Donetsk, Lugansk, Kherson e Zaporozhye – sob total controle russo. Paralelamente a isto, o desarmamento da Ucrânia e garantias plenas de seu status neutro para o futuro previsível. Enquanto isso, Kiev tem que reconhecer e aceitar o estado atual das coisas. Com isso, o processo de paz pode começar.
- Entretanto, tal cenário é muito improvável. Os relativos sucessos do regime de Kiev na região de Kharkov deram aos nacionalistas ucranianos a esperança de que poderão derrotar a Rússia. A feroz resistência que fazem no Donbass demonstra a intenção de permanecerem até ao fim, reverterem o curso da campanha e entrarem novamente numa contra-ofensiva – contra todos os novos membros da Federação Russa, incluindo a Crimeia. E não há quase nenhuma chance de que as autoridades atuais em Kiev concordem com tal fixação do status quo.
- Para o Ocidente, porém, esta seria a melhor solução, pois uma pausa nas hostilidades poderia ser usada como os Acordos de Minsk para militarizar ainda mais a Ucrânia. A própria Ucrânia – mesmo sem estas áreas – continua sendo um território enorme, e a questão do status neutro seria confundida em termos ambíguos.
- Moscovo entende tudo isso. Washington entende-o um pouco pior. E a atual liderança de Kiev não quer entendê-lo de forma alguma. [Todavia, esta é certamente a mais pragmática, equitativa e que deveria ser conducente ao cessar-fogo e ao fim da mortandade tremenda eslava, que a NATO; USA, Zeelensky e União Europeia tanto parecem desejar...]
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Vitória média: libertação da Novorrússia
- A versão intermediária da vitória da Rússia seria a libertação de todo o território da histórica Novorrússia, que inclui a Crimeia, o 4 novos membros da Federação Russa e mais três regiões – Kharkov, Odessa e Nikolaev (com partes de Dnepropetrovsk e Poltava). Isto completaria a divisão lógica da Ucrânia em partes orientais e ocidentais, que têm diferentes histórias, identidades e orientações geopolíticas. Tal solução seria aceitável para a Rússia e certamente seria percebida como uma vitória muito real, completando o que foi iniciado, e depois interrompido, em 2014.
- Também se adequaria ao Ocidente, cujos planos estratégicos seriam mais sensíveis à perda da cidade portuária de Odessa. Mas mesmo isso não é tão crucial, devido à presença de outros portos do Mar Negro – da Roménia, Bulgária e Turquia, três países da NATO (não potenciais, mas membros atuais da Aliança).
- É claro que tal cenário é categoricamente inaceitável para Kiev, embora uma advertência deva ser feita aqui. É categoricamente inaceitável para o atual regime e para a atual situação estratégico-militar. Se chegar à plena libertação bem sucedida dos quatro novos membros da Federação e a subsequente expansão das tropas russas para as fronteiras das três novas regiões, tanto o exército ucraniano quanto o estado psicológico da população, o potencial econômico e o próprio regime político de Zelensky estarão em um estado muito diferente. A infraestrutura da economia continuará a ser destruída pelos ataques russos e as derrotas nas frentes levarão uma sociedade, já exausta e sangrando da guerra, ao completo desânimo. Talvez haja um governo diferente em Kiev, e não se pode descartar que haja também uma mudança de governo em Washington, onde qualquer governante realista certamente reduzirá a escala de apoio à Ucrânia, simplesmente calculando sobriamente os interesses nacionais dos Estados Unidos sem uma crença fanática na globalização. Trump é um exemplo vivo de que isto é bem possível e não muito além do reino das probabilidades.
- Numa situação de vitória mediana, ou seja, a libertação completa da Novorrússia, seria extremamente benéfico para Kiev e para o Ocidente avançar para acordos de paz a fim de preservar o resto da Ucrânia. Um novo Estado poderia ser estabelecido que não teria as restrições e obrigações atuais, e poderia tornar-se – gradualmente – um baluarte para cercar a Rússia. Para salvar pelo menos o resto da Ucrânia, o projeto Novorrússia seria bastante aceitável e, a longo prazo, seria bastante benéfico para o Ocidente coletivo – inclusive para o [eventual] futuro confronto com a Rússia soberana.
Vitória completa: libertação completa da Ucrânia
- Finalmente, uma vitória completa para a Rússia seria libertar todo o território da Ucrânia do controle do regime pró-ocidental neonazis e recriar a unidade histórica tanto do Estado dos eslavos orientais quanto da grande potência eurasiática. Então a multipolaridade teria sido irreversivelmente estabelecida, e teríamos virado a história humana de 180 graus.
- Além disso, somente uma tal vitória permitiria implementar plenamente as metas estabelecidas no início – desnazificação e desmilitarização, pois sem o controle total do território militarizado e neonazi, isto não pode ser alcançado.
- Mas mesmo sob esta opção, o Ocidente não teria sofrido danos críticos em um sentido militar-estratégico e ainda mais num sentido económico. A Rússia teria permanecido isolada do Ocidente e demonizada [como tanto tem acontecido, a Mátria de tantos génios]. Sua influência sobre a Europa seria reduzida a zero, para não dizer que seria negativa. A comunidade atlântica teri-se-ia consolidado mais do que nunca diante de um inimigo tão perigoso. E a Rússia, excluída do Ocidente coletivo e separada da tecnologia e das novas redes, teria dentro de si uma enorme massa de população que não seria inteiramente leal, se não mesmo hostil, e cuja integração numa única estrutura social exigiria um esforço extraordinário de um país já desgastado pela guerra.
- E a própria Ucrânia não estaria sob ocupação, mas como parte de um único povo, sem qualquer violação por motivos étnicos e aberta a qualquer perspectiva de ocupação de cargos de governo de todo tipo e de livre circulação em todo o território da Grande Rússia. Se quiséssemos, isto poderia ser visto como “anexação da Rússia à Ucrânia”, e a antiga capital do Estado russo estaria novamente no centro do mundo russo, e não em sua periferia.
- Naturalmente, neste caso, a paz viria por si só, e não haveria nenhum sentido em negociar seus termos com ninguém.
- É assim que se deve pensar em uma análise equilibrada e objetiva, livre de qualquer propaganda.
Mudando a fórmula das relações internacionais russas: do realismo ao conflito de civilizações
- A última coisa que vale a pena considerar, ao analisar o primeiro ano da Operação Militar Especial. Desta vez é uma avaliação teórica da transformação que a guerra na Ucrânia causou no espaço das Relações Internacionais.
- Aqui temos a seguinte imagem: a administração Joe Biden exatamente como Bill Clinton, o neocon George Bush Jr e Barak Obama está rigidamente do lado do liberalismo nas Relações Internacionais. Eles vêem o mundo como global e governado pelo Governo Mundial acima das cabeças de todos os Estados-nações. Mesmo os próprios Estados Unidos não são, aos seus olhos, mais do que uma ferramenta temporária nas mãos de uma elite mundial cosmopolita. Daí a antipatia e até mesmo o ódio dos democratas e globalistas por qualquer forma de patriotismo americano e pela identidade muito tradicional dos americanos.
- Para os defensores do liberalismo nas relações internacionais, qualquer Estado Nacional é um obstáculo ao Governo Mundial, e um Estado Nacional forte e soberano, desafiando abertamente a elite liberal, é o verdadeiro inimigo, que deve ser destruído.
- Após a queda da URSS, o mundo deixou de ser bipolar e tornou-se unipolar, e a elite globalista, os adeptos do liberalismo nas relações internacionais, tomaram conta das principais alavancas de gestão da humanidade.
- Os [russos] derrotados desmembraram a Rússia, como remanescente do segundo pólo, e sob o governo de Iéltsin aceitaram estas regras do jogo e concordaram com a lógica dos liberais nas relações internacionais. Moscovo só tinha que se integrar ao mundo ocidental, participar com sua soberania e começar a jogar de acordo com suas regras. O objetivo era obter pelo menos algum status no futuro Governo Mundial, e a nova elite oligárquica fez tudo o que era possível para se encaixar no mundo ocidental a qualquer custo – mesmo individualmente.
- Todas as universidades na Rússia tomaram desde então o lado do liberalismo na questão das Relações Internacionais. O realismo nas relações internacionais foi esquecido (mesmo quando o conheciam), equiparado ao “nacionalismo”, e a palavra “soberania” não era proferida de forma alguma.
- Tudo mudou na política real (mas não na educação) com a chegada de Putin. Putin era um realista convicto nas Relações Internacionais e um radical defensor da soberania. Ao mesmo tempo, ele compartilhava plenamente a opinião da universalidade dos valores ocidentais e considerava o progresso social e científico-tecnológico do Ocidente a única maneira de desenvolver a civilização. A única coisa em que ele insistia era na soberania. Daí o mito de sua influência sobre Trump. Foi o realismo que uniu Putin e Trump. De outra forma, eles são muito diferentes. O realismo não é contra o Ocidente, é contra o liberalismo nas Relações Internacionais e contra o Governo Mundial. Tal é o realismo americano, o realismo chinês, o realismo europeu, o realismo russo e assim por diante.
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- Mas a unipolaridade [liderada pela elite oligárquica globalista] que se desenvolveu desde o início da década de 90 virou a cabeça dos liberais nas Relações Internacionais. Eles acreditavam que o momento crucial havia chegado, a história como confronto de paradigmas ideológicos havia terminado (tese de Fukuyama) e chegar o momento de se iniciar com nova força o processo de unificação da humanidade sob o governo mundial. Mas para fazer isso, a soberania residual teria que ser abolida.
- Esta linha estava em estrita contradição com o realismo de Putin. No entanto, Putin tentou equilibrar-se no limite e manter relações com o Ocidente a todo custo. Isto foi muito fácil de fazer com o Trump realista, que compreendeu a vontade de Putin por soberania, mas se tornou bastante impossível com a chegada de Biden à Casa Branca. Então Putin, como realista, chegou ao limite de um possível compromisso. O Ocidente coletivo, liderado pelos liberais em relações internacionais, pressionou cada vez mais a Rússia a começar finalmente a desmantelar sua soberania, em vez de reforçá-la.
- O auge deste conflito foi o início da Operação Militar Especial. Os globalistas apoiaram ativamente a militarização e a nazificação da Ucrânia. Putin rebelou-se contra isso, porque entendeu que o Ocidente coletivo estava a preparar-se para uma campanha simétrica – para “desmilitarizar” e “desnazificar” a própria Rússia. Os liberais fecharam os olhos para o rápido florescimento do neonazismo russofóbico na própria Ucrânia e, além disso, promoveram-no ativamente, contribuindo para sua militarização o máximo possível, enquanto a própria Rússia era acusada da mesma coisa – “militarismo” e “nazismo”, tentando equiparar Putin a Hitler [algo muito repetido pelos milheiros televisivos].
- Putin iniciou a Operação Militar Especial como um realista. Não mais do que isso. Mas, um ano depois, a situação mudou. Ficou claro que a Rússia está em guerra com a moderna civilização liberal ocidental como um todo, com o globalismo e os valores que o Ocidente tenta impor a todos os outros. Esta mudança na consciência da Rússia sobre a situação mundial é talvez o resultado mais importante da Operação Militar Especial. A partir da defesa da soberania, a guerra se transformou num choque de civilizações (corretamente previsto por Samuel Huntington). E a Rússia não insiste mais simplesmente na governação independente, compartilhando atitudes, critérios, normas, regras e valores ocidentais, mas age como uma civilização independente – com suas próprias atitudes, critérios, normas, regras e valores. A Rússia não é mais o Ocidente. Não é um país europeu, mas uma civilização eurasiática ortodoxa. Isto é exatamente o que Putin declarou no seu discurso de 30 de setembro por ocasião da recepção dos quatro novos membros da Federação, depois no discurso de Valdai, e em seguida mais vezes noutros discursos. E finalmente, no Édito 809, Putin aprovou os fundamentos de uma política estatal para proteger os valores tradicionais russos, um conjunto que não só difere significativamente do liberalismo, mas em alguns pontos é exatamente o oposto dele.
- A Rússia mudou o seu paradigma de realismo para a
Teoria de um Mundo Multipolar, rejeitou diretamente o liberalismo em
todas as suas formas, e desafiou diretamente a civilização ocidental
moderna – negando-lhe abertamente o direito de ser universal.
- Putin não acredita mais no Ocidente. E ele explicitamente chama a civilização ocidental moderna de “satânica”. Nesse uso de termos pode-se facilmente identificar um apelo direto à escatologia e teologia ortodoxa, bem como uma pitada de confronto entre os sistemas capitalistas e socialistas da era Stalin. Hoje, é verdade, a Rússia não é um Estado socialista. Mas este é o resultado da derrota sofrida pela URSS no início dos anos 90, quando a Rússia e outros países pós-soviéticos se encontraram na posição de colónias ideológicas e económicas do Ocidente globalista.
- Todo o governo de Putin até 24 de fevereiro de 2022 foi uma preparação para este momento decisivo. Mas ele costumava permanecer dentro do quadro do realismo. Ou seja, a forma ocidental de desenvolvimento mais soberania. Agora, após um ano de severas provações e terríveis sacrifícios que a Rússia sofreu, a fórmula mudou: soberania mais identidade civilizacional, ou seja, o modo de ser russo [a grande alma russa, a Hagia Sophia, ou Santa Sabedoria].»
-
Daria Dugin, mártir da Eurásia e da Santa Rússia...
As regiões de Donetsk, Lugansk, Kherson e Zaporozhye |
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