Sabermos aprofundar os momentos valiosos, os locais bons ou belos, as situações estimulantes, harmoniosas ou únicas, as mudanças e desenlaces libertadores, mas também as dores e as dificuldades, passa por uma assunção deles plena, isto é, com todo o nosso ser, pensante, sentiente, criativo, espiritual, universal...
Deste modo o que foi ou é pensado, sentido e vivido mais intensificadamente, se for bem enfrentado e assimilado, torna-se parte integrante do nosso ser presente e perene e propulsiona o processo de despertar, nosso e dos outros seres, frutificador no futuro, mesmo para além da morte, gerando efeitos belos, úteis e luminosos...
Em cada momento, em cada grau da nossa escada, há degraus à frente e é da atenção, força e consciência manifestada, que já foi testada, recolhida e desenvolvida nos estágios anteriores, que recebemos também forças para interagirmos plenamente (em amor e sabedoria) no presente e no futuro e nos guindarmos aos degraus seguintes de desprendimento, de compreensão, de gnose, de expansões consciencial e visão espiritual.
É diariamente, cumprindo as pequenas tarefas ou objectivos, que vamos capacitando-nos para realizar as grandes tarefas e fazer desabrochar as sementes que, lançadas agora harmoniosamente à terra, querem germinar e ser benéficas no presente e futuro...
Certamente nem toda gente tem a visão da vida como uma subida de escadas ou degraus, seja de madeira, em caracol ou talhada na terra montanhosa, granítica ou xistosa, mas deveríamos a cada momento ter mais consciência do que acabámos de deixar para trás, onde nos encontramos, que caminho bifurcado em Y pitagórico nos desafia, nomeadamente quanto aos estados conscienciais que deveremos cultivar, com quem estar ou comunicar e o que de melhor de qualidades podemos desenvolver, num conjunto de decisões e trabalhos que, ao interpelarem-nos, geram esforços, capacidades, ideais, encontros, obras, bênçãos e graças.
Deste modo, neste círculo ou elo de graças, a gratidão funda-se e eleva-se da Terra e retorna ao Céu e ao Sol, pois a sua etericidade e leveza substancial fazem-na facilmente chegar aos mundos espirituais, manifestando a unidade subjacente de Amor, que é no fundo também a base da vida social em comunidade e não em competição e imperialismo e, portanto, do progresso evolutivo dos seres, tornando-nos mais transparentes, redondos e condutores-transmissores do Amor...
Saibamos
pois aproveitar os momentos mais saudáveis, luminosos ou decisivos
do dia a dia, ou das nossas vidas, e não os deixemos partir
ingloriamente (e "glória", doxa em grego, e kvarnath em persa, significa luz, resplendor), nem serem
soterrados sob novos dados de informação ou de consumo, tão
frenéticos hoje, antes consigamos percepcionar a luz interna e deleitar-nos um pouco, no nosso
íntimo, na gratidão, no Amor aos seres, à vida e à Divindade adorável, sob que forma, tradição ou face afim...
Ou seja, vivamos mais no aqui e agora pleno, no qual a transparência e a unidade dos mundos e seres pode ser mais sentida ou vivenciada com a Graça do Amor libertador a brilhar e a Divindade a ser intuída no círculo e na circulação do que é recebido, amado e gratamente devolvido, ou reintegrado, o que foi representado nas Três Graças por tantos pintores e escultores, e glosada por filósofos e espirituais, sobretudo no Renascimento, e a imagem que vemos mais à frente é de Rafael: Recebemos da Divindade e do Cosmos, damos e partilhamos aos outros e numa linha ascendente de gratidão as energias amorosas retornam à Fonte, donde se derramarão de novo em chuva de bênçãos e inspirações sobre os seres nos mundos intermediários e finalmente em nós, numa circularidade geral...
Saibamos
pois constantemente sentir o que vivemos com gratidão elevante e
abençoante: seja o que se passou há umas horas e que é agora
oferecido em amor e em memorização amorosa aos que participaram e
aos seres dos planos superiores, seja o que se encontra virginalmente
diante do tempo que nos resta por trabalhar nesta peregrinação
terrena: - Venha a nós o vosso dinamismo vivo, ó graça do Amor...
Saibamos
pois peregrinar e navegar corajosamente e plenamente os momentos ora mais difíceis ora mais
especiais e invulgares e que apelam às nossas
melhores qualidades ou virtudes e à descida ou assunção do espírito dinâmico, tendo presente e vivo o importante reconhecimento do valor do presente intenso do dito nipónico:
icchi go, icchi e, um momento único na vida, irrepetível. E podem ser muitos...
Tentemos então descobri-los e criá-los mais pela nossa plena atenção e amor, unindo o exterior e o interior, quem somos e o que queremos ser, os outros e nós, por todos e por nós, pelo Cosmos e pelo Divino e seus fiéis do Amor.
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