quarta-feira, 15 de dezembro de 2021

Ensaios Espirituais: viver plenamente o presente, o difícil e o único, nas três Graças, no Espírito e na Divindade.

                                    

Sabermos aprofundar os momentos valiosos, os locais bons ou belos, as situações estimulantes, harmoniosas ou únicas, as mudanças e desenlaces libertadores, mas também as dores e as dificuldades, passa por uma assunção deles plena, isto é, com todo o nosso ser, pensante, sentiente, criativo, espiritual, universal...

Deste modo o que foi ou é pensado, sentido e vivido mais intensificadamente, se for bem enfrentado e assimilado, torna-se parte integrante do nosso ser presente e perene e propulsiona o processo de despertar, nosso e dos outros seres, frutificador no futuro, mesmo para além da morte, gerando efeitos belos, úteis e luminosos...

Em cada momento, em cada grau da nossa escada, há degraus à frente e é da atenção, força e consciência manifestada, que já foi testada, recolhida e desenvolvida nos estágios anteriores, que recebemos também forças para interagirmos plenamente (em amor e sabedoria) no presente e no futuro e nos guindarmos aos degraus seguintes de desprendimento, de compreensão, de gnose, de expansões consciencial e visão espiritual.

É diariamente, cumprindo as pequenas tarefas ou objectivos, que vamos capacitando-nos para realizar as grandes tarefas e fazer desabrochar as sementes que, lançadas agora harmoniosamente à terra, querem germinar e ser benéficas no presente e futuro...

Certamente nem toda gente tem a visão da vida como uma subida de escadas ou degraus, seja de madeira, em caracol ou talhada na terra montanhosa, granítica ou xistosa, mas deveríamos a cada momento ter mais consciência do que acabámos de deixar para trás, onde nos encontramos, que caminho bifurcado em Y pitagórico nos desafia, nomeadamente quanto aos estados conscienciais que deveremos cultivar,  com quem estar ou comunicar e o que de melhor de qualidades podemos desenvolver, num conjunto de decisões e trabalhos que, ao interpelarem-nos, geram esforços, capacidades, ideais, encontros, obras, bênçãos e graças.

 Assim, a gratidão pela estação do nosso percurso onde estamos é fundamental. Ou seja, estar no aqui e agora com  gratidão, alegria e plena atenção e, logo, sentirmos que tal felicidade e a aspiração à consciência de Deus baseiam-se numa vida justa, amorosa e harmoniosa e no darmos graças à Divindade e à sua Hierarquia, tanto mais que tal impulsiona outros a se alinharem e darem graças também. E os que se sentem bem pelo que nós partilhamos  crescem também no bem e podem sentir mais a subtil presença espiritual interna ou ainda a do Amor unificador, que brota do coração ou que se derrama do Sol no Cosmos e na atmosfera.

Deste modo, neste círculo ou elo de graças, a gratidão funda-se e eleva-se da Terra e retorna ao Céu e ao Sol, pois a sua etericidade e leveza substancial fazem-na facilmente chegar aos mundos espirituais, manifestando a unidade subjacente de Amor, que é no fundo também a base da vida social em comunidade e não em competição e imperialismo e, portanto, do progresso evolutivo dos seres, tornando-nos mais transparentes, redondos e condutores-transmissores do Amor...

Saibamos pois aproveitar os momentos mais saudáveis, luminosos ou decisivos do dia a dia, ou das nossas vidas, e não os deixemos partir ingloriamente (e "glória", doxa em grego, e kvarnath em persa, significa luz, resplendor), nem serem soterrados sob novos dados de informação ou de consumo, tão frenéticos hoje, antes consigamos percepcionar a luz interna  e deleitar-nos um pouco, no nosso íntimo, na gratidão, no Amor aos seres, à vida e à Divindade adorável, sob que forma, tradição ou face afim...

Ou seja, vivamos mais no aqui e agora pleno, no qual a transparência e a unidade dos mundos e seres pode  ser mais sentida ou vivenciada com a Graça do Amor libertador a brilhar e a Divindade a ser intuída no círculo e na circulação do que é recebido, amado e gratamente devolvido, ou  reintegrado, o que foi representado nas Três Graças por tantos pintores e escultores, e glosada por filósofos e espirituais, sobretudo no Renascimento, e a imagem que vemos mais à frente é de Rafael: Recebemos da Divindade e do Cosmos, damos e partilhamos aos outros e numa linha ascendente de gratidão as energias amorosas retornam à Fonte, donde se derramarão de novo em chuva de bênçãos e inspirações sobre os seres nos mundos intermediários e finalmente em nós, numa circularidade geral...

Saibamos pois constantemente sentir o que vivemos com gratidão elevante e abençoante: seja o que se passou há umas horas e que é agora oferecido em amor e em memorização amorosa aos que participaram e aos seres dos planos superiores, seja o que se encontra virginalmente diante do tempo que nos resta por trabalhar nesta peregrinação terrena: - Venha a nós o vosso dinamismo vivo, ó graça do Amor...

Saibamos pois peregrinar e navegar corajosamente e plenamente os momentos ora mais difíceis ora mais especiais e invulgares e que  apelam às nossas melhores qualidades ou virtudes e à descida ou assunção do espírito dinâmico, tendo presente e vivo o importante reconhecimento do valor do presente intenso do dito nipónico: icchi go, icchi e, um momento único na vida, irrepetível. E podem ser muitos...

Tentemos então descobri-los e criá-los mais pela nossa plena atenção e amor, unindo o exterior e o interior, quem somos e o que queremos ser, os outros e nós, por todos e por nós, pelo Cosmos e pelo Divino e seus fiéis do Amor.

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