Este texto, que seria para o livro em preparação Ensaios Espirituais, é dado à luz antes no blogue, pois talvez seja mais lido nele do que na forma de livro, uma realidade que temos contudo de avaliar constantemente. De qualquer modo poderá um dia, e até aprofundado, ter lugar nele ou num outro. Imagens recentes na serra da Estrela e Castelo Branco, onde estive com a Paula, a Alice e a Sandra, almas luminosas...
Consequências deste estado de coisas social é a raridade do encontro de seres que estejam bem incarnados em si mesmos, ou seja, em quem no corpo se expresse harmoniosamente a alma espiritual. Tais seres são hoje cada vez mais raros pois
a maioria anda sempre a correr e preocupada dum lado para outro, e se com mais tempo, ou desempregada ou envelhecida deixa-se traumatizar ou alienar pelo que sobretudo a
televisão lhe descarrega através das suas fossas orbiculares até
aos abismos da sua alma e ser, desnorteando-a, desorientando-a e desligando-a do Cosmos, que significa em grego um todo belo e ordenado, e que nos é ainda acessível na natureza, na meditação, no amor...
Quanto à palavra, também é raro ouvirmos mais do que conteúdos meramente intelectuais ou repetitivos, avalanches de lugares comuns, partidarismos e asneiras em vez de palavras justas, precisas, fortes, adequadas, carregadas do que elas ferefrem ou simbolizam, e ques e tornam gérmens depositados (com mais ou menos amor e delicadeza) nas almas ouvintes e as harmonizam e as predispõem a compreenderem, meditarem e a agirem melhor.
Poucos
são os que conseguem gerar as imagens, ideias e realizações do que
querem dizer, ou partilhar, seja forte emotivamente, seja nítidas dentro de si de modo a
transmiti-las com efeitos valiosos nos outros, ao serem
pronunciadas de forma clara e precisa, gerando compreensões, emoções
e propósitos elevados.
Frequentemente, sem querer até, as pessoas preferem
antes, ou são levadas tendencialmente a enveredar pela crítica, que pode ter valor esclarecedor mas que desce e pode
até prender-se a quem ou ao que se critica. Outras entram e dissolvem-se na conversa superficial e repetitiva, ou mesmo na
má-língua, em confidências negativas ou trocistas que fazem diminuir
na alma as vibrações luminosas, em vez de se elevarem e elevarem os
outros...
Sabe-se que em vários segmentos do nosso cérebro são registados os nossos pensamentos, palavras, actos e emoções, e há fortificações e trocas constantes entre essas zonas pela sinapses neuronais mas esse estado interior é pouco sentido bem como a irradiação que essas partes do cérebro tem sobre os que nos rodeiam. Em geral pensa-se que as pessoas e os seus cérebros são estanques mas não é bem assim, pois tudo está interligado subtilmente, tanto mais que a alma ou corpo psíquico existe numa forma subtil de milhões de partículas luminosas, em ondulação constante. Neste sentido há experiências laboratoriais já a comprovarem a acção a distância remota, que antigamente se denominava telepatia, algo que Antero de Quental e Fernando Pessoa, dois elos importantes da Tradição espiritual Portuguesa, entre nós experimentaram e investigaram um pouco.
Há
assim uma "interfluência", um panpsiquismo e, consequentemente, um contágio para o melhor ou o menos bom e por isso os antigos sempre tiveram
os seus agrupamentos de afinidades electivas em que só alguns mais evoluídos
eram convidados a comungar as vibrações de tais sodalidades ou irmandades
manifestadas por seres mais realizados na sua integralidade, e em que uma pureza e elevação
de intenções criavam ambientes e correntes de alta tensão, ora
específicas, quando em meditações ou ritos todos convergiam as
suas vontades para a realização de certas imagens e efeitos, ora
gerais, pelo mero viver de quem tem realizações e aspirações elevados,
nobres e depois dialoga, interage, convive, inspira, ama.
Deveríamos evitar uma abertura excessiva ao exterior e à confusão e
desinformação reinante, de que a oferta televisiva noticiarista é, à parte um ou outro
canal, o pior paradigma alienativo, e recolher-nos mais, partilhando
pessoalmente com uns poucos, em grupos ou não, a nossa experiência e vivências, esses
que não a farão baixar mais sim apurar-se, intensificar-se,
elevar-se em nós e eles, e no Universo e, seguindo a expressão de Antero de Quental, «alma infinita das coisas».
Saibamos ser as sementes e os artesãos de uma Humanidade mais ecológica, ética, fraterna, artística, amorosa, espiritual e universal...
1 comentário:
Um tratado existencial! Simples como a verdade! Tão antiga como o mundo e actual. Com a lucidez que sustenta o intemporal:
"...fortifique-se nas comunhões com a natureza, nas orações e meditações, e em alguns diálogos com almas afins"
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