segunda-feira, 18 de outubro de 2021

Discernir, Ser, partilhar e co-criar resistentes subcampos unificados de energia consciência informação.

 Este texto, que seria para o livro em preparação Ensaios Espirituais, é dado à luz antes no blogue, pois talvez seja mais lido nele do que na forma de livro, uma realidade que temos contudo de avaliar constantemente. De qualquer modo poderá um dia, e até aprofundado, ter lugar nele ou num outro. Imagens recentes na serra da Estrela e Castelo Branco, onde estive com a Paula, a Alice e a Sandra, almas luminosas...

Para atravessarmos a vida com qualidade, com poucos erros e sofrimentos, desenvolvendo até boas qualidades e criações, é indispensável sabermos as energias que estão em nós, do inconsciente ao supra-consciente, e os efeitos que possam ter em nós e à nossa volta, ou mesmo para os mundo subtis.
O desconhecimento de tal é geral, e perdem-se assim muitas possibilidades de realizações valiosas, havendo apenas um ou outro ser que consegue discernir tais forças ou potenciais e concretizá-los em realizações internas e externas na caminhada escarpada da vida. E como o corpo físico vai enfraquecendo com o tempo, há que ter bem treinado e controlado o corpo psíquico ou mente, se não o espiritual tem poucas possibilidades de se manifestar  e abrir até para o que do Ser Divino  não seja mera auto-sugestão, como em geral casos sucede a gente muito bem intencionada e até convencida. Esse conhecimento, treino e controle do corpo psíquico, das nossas forças anímicas é em grande parte o Caminho espiritual, que é vida e verdade.
Mesmo para quem tenha muitas limitações físicas, financeiras, psíquicas, ainda assim a vida tem em si mesma uma força de renascimento profunda que desafia todos os condicionamentos e sofrimentos e que se revela e se entrega facilmente na Natureza aos que sabem apreciá-la, procurá-la e senti-la, restabelecendo a relação criadora de efeitos benéficos para os humanos que é a da união consciente do ser humano com a natureza pura, o universo ou mesmo até os seres celestiais e a Divindade.

Infelizmente muitos seres já não conseguem ver o mundo com olhos seja de adoração e gratidão seja de receptividade e simpatia, antes se encontram em estado permanente de criticismo, conflituoso por vezes e que pode degenerar até no pseudo, ou não, cretinismo que criticam.
É preciso saber ver, ouvir, sentir o Universo e os outros com empatia, em uníssono, em compaixão antes de os podermos compreender, transformar, ou apenas criticar, e tal não é fácil, pois frequentemente superiorizamo-nos, e menosprezamos os outros, pelo que as nossas palavras e pensamentos para eles se tornam injustas ou pelo menos desapropriadas, inconvenientes, pouco benéficas...
Cada ser, momento ou situação tem a sua especificidade, harmonia e beleza únicas que devemos tentar acolher, sondar e aprofundar, em vez de estarmos sempre a querer criticar, mudar, partir, ou então a deixar-nos inundar seja por preconceitos seja por outras informações e situações que nos dispersam da relação presente e em causa, algo que a vida moderna e digital tanto intensifica, pouca gente estando plenamente no aqui e agora plenificador.

Na verdade, tal frequente atitude e estado psíquico do ser humano moderno, pouco empático e tão disperso, incapacita-o de viver com os seus níveis mais profundos pois estes são como as profundezas dum lago que só se deixam ver quando a agitação à superfície diminui o suficiente para que o fundo consiga reflectir para cima alguns raios de luz. Ora com o coração humano passa-se o mesmo....
Em geral tais aspectos e poderes interiores anímico espirituais só se manifestam quando não há conflitos constante de ritmos e vibrações entre a personalidade, o mundo exterior e o mundo interior anímico, espiritual. Ou seja, quando há coerência entre actos, sentimentos, pensamentos e ideais, e uma prática de recolhimento, oração, canto, peregrinação, meditação ou contemplação ocorre.

Consequências deste estado de coisas social é a raridade do encontro de seres que estejam bem incarnados em si mesmos, ou seja, em quem no corpo se expresse harmoniosamente a alma espiritual. Tais seres são hoje cada vez mais raros pois a maioria anda sempre a correr e preocupada dum lado para outro, e se com mais tempo, ou desempregada ou envelhecida deixa-se traumatizar ou alienar pelo que sobretudo a televisão lhe descarrega através das suas fossas orbiculares até aos abismos da sua alma e ser, desnorteando-a, desorientando-a e desligando-a do Cosmos, que significa em grego um todo belo e ordenado, e que nos é ainda acessível na natureza, na meditação, no amor...

Assim, pessoas de olhar vivo, magnético, impressivo, capazes quase de transmitirem pelo olhar as suas ideias e realizações, influenciando fortemente o seu ambiente em vez de serem abafadas ou comidas por ele, são raras.
E mais raras ainda são as que conseguem aprofundar o auto-conhecimento (já que há tanta informação que é causadora de anti-conhecimento) e fazer chegar até à sua visão interior, e até aos olhos corporais físicos, a força, o brilho, os raios do espírito.
Quanto à palavra, também é raro ouvirmos mais do que conteúdos meramente intelectuais ou repetitivos, avalanches de lugares comuns, partidarismos e asneiras em vez de palavras justas, precisas, fortes, adequadas, carregadas do que elas referem ou simbolizam, e que se tornam gérmens depositados (com mais ou menos amor e delicadeza) nas almas ouvintes e as harmonizam e as predispõem a compreender, meditar e a agir melhor. Talent de bien faire, como foi o lema do Infante Dom Henrique.

Poucos são os que conseguem gerar as imagens, ideias e realizações do que querem dizer, ou partilhar, seja forte emotivamente, seja nítidas dentro de si de modo a transmiti-las com efeitos valiosos nos outros, ao serem pronunciadas de forma clara e precisa, gerando compreensões, emoções e propósitos elevados.
Frequentemen
te, sem querer até, as pessoas preferem antes, ou são levadas tendencialmente a enveredar pela crítica, que pode ter valor esclarecedor mas que desce e pode até prender-se a quem ou ao que se critica. Outras entram e dissolvem-se na conversa superficial e repetitiva, ou mesmo na má-língua, em confidências negativas ou trocistas que fazem diminuir na alma as vibrações luminosas, em vez de se elevarem e elevarem os outros...

Sabe-se que em vários segmentos do nosso cérebro são registados os nossos pensamentos, palavras, actos e emoções, e há fortificações e trocas constantes entre essas zonas pela sinapses neuronais mas esse estado interior é pouco sentido bem como a irradiação que essas partes do cérebro tem sobre os que nos rodeiam. Em geral pensa-se que as pessoas e os seus cérebros são estanques mas não é bem assim, pois tudo está interligado subtilmente, tanto mais que a alma ou corpo psíquico existe numa forma subtil de milhões de partículas luminosas, em ondulação constante. Neste sentido há experiências laboratoriais já a comprovarem a acção a  distância remota, que antigamente se denominava telepatia, algo que Antero de Quental e Fernando Pessoa, dois elos importantes da Tradição espiritual Portuguesa, entre nós experimentaram e investigaram um pouco.

Há assim uma "interfluência", um panpsiquismo e, consequentemente, um contágio para o melhor ou o menos bom e por isso os antigos sempre tiveram os seus agrupamentos de afinidades electivas em que só alguns mais evoluídos eram convidados a participar e logo a poder comungar as vibrações de tais sodalidades ou irmandades manifestadas por seres mais realizados na sua integralidade, e em que a pureza e elevação de intenções criavam ambientes e correntes de alta tensão, ora específicas, quando em meditações ou ritos todos convergiam as  vontades para a realização de certas imagens e efeitos, ora gerais, pelo mero viver de quem tem realizações e aspirações elevadas, nobres e depois dialoga, interage, convive, inspira, ama.
Devería
mos evitar uma abertura excessiva ao exterior e à confusão e desinformação reinante, de que a oferta televisiva noticiarista é, à parte um ou outro canal, o pior paradigma alienativo, e recolher-nos mais, partilhando pessoalmente com uns poucos, em grupos ou não, a nossa experiência e vivências, esses que não a farão baixar mais sim apurar-se, intensificar-se, elevar-se em nós e eles, e no Universo e, seguindo a expressão de Antero de Quental, «alma infinita das coisas».

Saiba pois tanto libertar-se das televisões como usar sobriamente a internet e as redes sociais, leia e escreva mais, e fortifique-se nas comunhões com a natureza, nas orações e meditações, e em alguns diálogos com almas afins, de preferência pelo telefone ou ao vivo, co-criando eventualmente  pequenas redes ou subcampos unificados de energia consciência informação e saiba assim resistir às tendências e medidas de governantes  tão desrespeitadoras dos direitos e liberdade humanas, e tão ignorantes e atentórias da dignidade do ser humano e da integridade e pureza  das árvores, ambientes e Natureza.

Saibamos ser as sementes e os artesãos  de uma Humanidade mais ecológica, ética, fraterna, artística, amorosa, espiritual e universal...

2 comentários:

MJTV disse...

Um tratado existencial! Simples como a verdade! Tão antiga como o mundo e actual. Com a lucidez que sustenta o intemporal:
"...fortifique-se nas comunhões com a natureza, nas orações e meditações, e em alguns diálogos com almas afins"

Pedro Teixeira da Mota. disse...

Graças pelo comentário, e peço desculpa de só agora ter visto que não respondera ou agradecera. Um contributo para, como realçou bem, nos fortificarmos na lucidez, na verdade, na interioridade, nas comunhões electivas. Boas realizações!