Este texto, que seria para o livro em preparação Ensaios Espirituais, é dado à luz antes no blogue, pois talvez seja mais lido nele do que na forma de livro, uma realidade que temos contudo de avaliar constantemente. De qualquer modo poderá um dia, e até aprofundado, ter lugar nele ou num outro. Imagens recentes na serra da Estrela e Castelo Branco, onde estive com a Paula, a Alice e a Sandra, almas luminosas...
Consequências deste estado de coisas social é a raridade do encontro de seres que estejam bem incarnados em si mesmos, ou seja, em quem no corpo se expresse harmoniosamente a alma espiritual. Tais seres são hoje cada vez mais raros pois
a maioria anda sempre a correr e preocupada dum lado para outro, e se com mais tempo, ou desempregada ou envelhecida deixa-se traumatizar ou alienar pelo que sobretudo a
televisão lhe descarrega através das suas fossas orbiculares até
aos abismos da sua alma e ser, desnorteando-a, desorientando-a e desligando-a do Cosmos, que significa em grego um todo belo e ordenado, e que nos é ainda acessível na natureza, na meditação, no amor...
Quanto à palavra, também é raro ouvirmos mais do que conteúdos meramente intelectuais ou repetitivos, avalanches de lugares comuns, partidarismos e asneiras em vez de palavras justas, precisas, fortes, adequadas, carregadas do que elas referem ou simbolizam, e que se tornam gérmens depositados (com mais ou menos amor e delicadeza) nas almas ouvintes e as harmonizam e as predispõem a compreender, meditar e a agir melhor. Talent de bien faire, como foi o lema do Infante Dom Henrique.
Poucos
são os que conseguem gerar as imagens, ideias e realizações do que
querem dizer, ou partilhar, seja forte emotivamente, seja nítidas dentro de si de modo a
transmiti-las com efeitos valiosos nos outros, ao serem
pronunciadas de forma clara e precisa, gerando compreensões, emoções
e propósitos elevados.
Frequentemente, sem querer até, as pessoas preferem
antes, ou são levadas tendencialmente a enveredar pela crítica, que pode ter valor esclarecedor mas que desce e pode
até prender-se a quem ou ao que se critica. Outras entram e dissolvem-se na conversa superficial e repetitiva, ou mesmo na
má-língua, em confidências negativas ou trocistas que fazem diminuir
na alma as vibrações luminosas, em vez de se elevarem e elevarem os
outros...
Sabe-se que em vários segmentos do nosso cérebro são registados os nossos pensamentos, palavras, actos e emoções, e há fortificações e trocas constantes entre essas zonas pela sinapses neuronais mas esse estado interior é pouco sentido bem como a irradiação que essas partes do cérebro tem sobre os que nos rodeiam. Em geral pensa-se que as pessoas e os seus cérebros são estanques mas não é bem assim, pois tudo está interligado subtilmente, tanto mais que a alma ou corpo psíquico existe numa forma subtil de milhões de partículas luminosas, em ondulação constante. Neste sentido há experiências laboratoriais já a comprovarem a acção a distância remota, que antigamente se denominava telepatia, algo que Antero de Quental e Fernando Pessoa, dois elos importantes da Tradição espiritual Portuguesa, entre nós experimentaram e investigaram um pouco.
Há
assim uma "interfluência", um panpsiquismo e, consequentemente, um contágio para o melhor ou o menos bom e por isso os antigos sempre tiveram
os seus agrupamentos de afinidades electivas em que só alguns mais evoluídos
eram convidados a participar e logo a poder comungar as vibrações de tais sodalidades ou irmandades
manifestadas por seres mais realizados na sua integralidade, e em que a pureza e elevação
de intenções criavam ambientes e correntes de alta tensão, ora
específicas, quando em meditações ou ritos todos convergiam as vontades para a realização de certas imagens e efeitos, ora
gerais, pelo mero viver de quem tem realizações e aspirações elevadas,
nobres e depois dialoga, interage, convive, inspira, ama.
Deveríamos evitar uma abertura excessiva ao exterior e à confusão e
desinformação reinante, de que a oferta televisiva noticiarista é, à parte um ou outro
canal, o pior paradigma alienativo, e recolher-nos mais, partilhando
pessoalmente com uns poucos, em grupos ou não, a nossa experiência e vivências, esses
que não a farão baixar mais sim apurar-se, intensificar-se,
elevar-se em nós e eles, e no Universo e, seguindo a expressão de Antero de Quental, «alma infinita das coisas».
Saibamos ser as sementes e os artesãos de uma Humanidade mais ecológica, ética, fraterna, artística, amorosa, espiritual e universal...
2 comentários:
Um tratado existencial! Simples como a verdade! Tão antiga como o mundo e actual. Com a lucidez que sustenta o intemporal:
"...fortifique-se nas comunhões com a natureza, nas orações e meditações, e em alguns diálogos com almas afins"
Graças pelo comentário, e peço desculpa de só agora ter visto que não respondera ou agradecera. Um contributo para, como realçou bem, nos fortificarmos na lucidez, na verdade, na interioridade, nas comunhões electivas. Boas realizações!
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