sábado, 11 de setembro de 2021

Biografia de Antero de Quental, cronológica e resumida, nas comemorações dos 130 anos de sua partida.

                                         

Tal como muitos dos grandes seres, Antero de Quental, ainda que tenha tido alguns amigos bem próximos, acabou por se consciencializar da sua impossibilidade de fusão e união com alguém e, tendo atravessado a vida com a ardência e a sinceridade dum idealista da justiça, da verdade e da liberdade, mas sem o coração em maior desabrochamento, acabou por se lançar ao mar da misteriosa Morte, por ele sempre muito cultuada, voluntariamente, a 11 de Setembro, na sua terra natal, ao final da tarde.  Nascera em 18 de Abril de 1842, em Ponta Delgada, na ilha vulcânica de S. Miguel, Açores, de família com tradições religiosas e poéticas marcadas (o P. Bartolomeu Quental era parente, e o seu avô fora poeta, companheiro de Bocage),  matriculando-se na Universidade de Direito de Coimbra em 1858, onde cedo o seu génio convivial, poético, filosófico peripatético e contestatário brilha: é preso em 1859 por oito dias (cumpridos em duas vezes) por ordem do Conselho dos Decanos, em 1861 funda com José e Alberto da Cunha Sampaio, António de Azevedo Castelo Branco e Frederico da Silva Filemon, uma  associação secreta e iniciática, a Sociedade do Raio, contra o despotismo na Universidade e a modernização do ensino, e refere-a numa carta:«irmãos e adeptos nesta grande maçonaria da inteligência e da poesia e um pouco também da dor.»  A partir dela, em 1862, lidera  a pateada ao reitor Basílio Alberto de Sousa Pinto e redige o manifesto dos Estudantes da Universidade de Coimbra à Opinião Ilustrada do País, subscrito por 314 estudantes. Mas é de 1861 o seu primeiro livro Sonetos, contendo vinte e um, mas que fará desaparecer rapidamente tornando-se uma edição raríssima. Estavam antecedidos da sua teoria poética, mostrando nela os principais elos da tradição espiritual do soneto em Portugal: Camões, Bocage e João de Deus, seguindo-se os seus sonetos. E em Outubro e Novembro de 1863 vai publicar os livrinhos  Beatrice, e Fiat Lux onde de certo modo se filia ou se identifica com os Cavaleiros de Amor, de Dante, Camões, Jorge Ferreira de Vasconcelos, Bocage. Beatrice, com quatorze poemas e o belíssimo soneto, "Pôs-te Deus sobre a fronte" escrito sob a égide de Dante, tem uma valiosa citação inicial de Lamennais, na linha dos Fiéis do Amor de Eugène Aroux, acerca da Beatriz, musa e símbolo da demanda da Verdade do Amor humano e divino, infinito e perene. 

Em Março de 1864 começa a  assinar como Bacharel José, o seu terceiro "heterónimo-pseudónimo", o 1º tendo sido Vasco Vasques Vasqueanes e o 2º Raimundo Castromino, Correspondências coimbrãs semanais muito irónicas no jornal O Século XIX, de Penafiel, fundado a 19 de Março pelo seu amigo Germano Vieira Meireles e o pai do seu futuro amigo Joaquim de Araújo (1858-1917). Estas correspondências, quarenta e nove escritas até 5 de Julho de 1865, espelham uma época muito criativa de Antero.

Em Abril de 1864 lidera a revolta e a saída dos estudantes (a Rolinada) até ao Porto, em protesto contra o presidente do Governo, o duque de Loulé, Rolim de Moura, e em Julho termina a sua formatura em Direito.  Poeta nato,  irreverente, caminheiro, filósofo e revolucionário, interessa-se ainda pelas literaturas, mitologias e religiões orientais, em especial persas e indianas. Os seus primeiros versos são românticos, religiosos e filosóficos, editados em folhas volantes, revistas, jornais ou em pequenos opúsculos já mencionados mas será só em Agosto de 1865, com as Odes Modernas, que transmite ou manifesta publicamente com mais impacto os seus ideais revolucionários de justiça, verdade e liberdade: a Revolução era a nova Religião... 

É nesse ano super-movimentado de 1865, iniciado em Janeiro com a publicação magistral e irónica  da Defesa da Carta Encíclica de Sua santidade Pio IX contra a chamada Opinião Liberal, e continuado em Abril com o Sentimento de Imortalidade, que em Novembro inicia a polémica do Bom-Senso e  Bom-Gosto com António Feliciano Castilho, o principal mestre literário de então, que criticara e ridicularizara a nova escola moderna coimbrã de poesia, polémica na qual participarão vários escritores, e tendo até de vencer num duelo em Fevereiro de 1866 o conservador e algo farfalhão Ramalho Ortigão, que se erguera em defesa do patriarca Castilho. Era o começo da Literatura moderna a despontar em Portugal

Embora já formado em Leis, e hesitando quanto ao seu futuro, tal como alistar-se nos exércitos autonomistas de Garibaldi,  decidiu-se a entrar na realidade social como aprendiz de tipógrafo na Imprensa Nacional de Lisboa, e parte em Novembro para Paris a fim de ser um operário numa tipografia, mas também assistindo a palestras no Collège de France, vida que contudo não aguenta muito tempo (dois meses e pouco), pelo que regressa em Janeiro de 1866, recuperando na quinta dos seus condiscípulos José e Alberto Sampaio, em Guimarães. Em 1867 regressa a Paris, e  encontra-se em Agosto com um dos seus mestres (tal como Proudhon) ou inspiradores,  Jules Michelet, mas não se desvenda como o autor do livrinho que lhe oferece. Quando regressa a Lisboa em Novembro de 1868, após quase um ano em Ponta Delgada,  valoriza as ideias iberistas de Emílio Castelar, que o chega a convidar a ir para Madrid, e escreve o Portugal perante a Revolução de Espanha - Considerações sobre o Futuro da Política Portuguesa no ponto de vista da Democracia Ibérica, bastante atento às linhas de força que estavam para se concretizar: a Revolução Espanhola de 1869 e a proclamação da República em 1871. Esta fermentação espanhola influenciava bastante o meio português, nomeadamente na fundação de jornais e de ideologias, embora o folheto e as ideias iberistas de Antero tivessem tido os seus opositores, tal como acontecerá sempre em relação às suas obras, sobretudo as mais polémicas. Refiramos apenas, por exemplo, o Almanach Patriótico e Anti-Ibérico para 1869, contendo um artigo Abaixo a União Ibérica, e um poema de Tomás Ribeiro Aos Iberistas, onde denuncia e apela: «É dizem que é Lisboa a filha impura/que invoca essa madrasta destestável!/ Sobre o roto burel veste a armadura/ parte essa louça e surge, ó condestável!»

Inicia a divulgação dos ideais de Proudhon e do socialismo, na qual a   caverna filosófica foi o Cenáculo, um grupos de condiscípulos e amigos que se reunia em casa de Jaime Batalha Reis, ao Bairro Alto lisbonense na Travessa do Guarda-Mór, nº 19, 1º, em que épicas dissertações e acaloradas discussões se ergueram, refrescadas peripateticamente no jardim de Alcântara, situado a uns metros e com vista bem abrangente sobre o centro do burgo lisboeta.

Em 1869, de Março a Novembro, vai por barco até Nova Iorque, que o desilude, e regressa, continuando na escrita de artigos e poemas, e dá à luz em Dezembro no jornal Primeiro de Janeiro poemas do seu pseudónimo Carlos Fradique Mendes, que será posteriormente explorado por Eça de Queiroz.  1870 é um dos anos mais políticos, pois conhece e trabalha com José Fontana, o grande pioneiro do socialismo em Portugal, e Oliveira Martins, dirigindo ou fundando com eles  e Jaime Batalha Reis, António Arriaga e António Enes, os jornais República Federal e A República - Jornal de Democracia Portuguesa, numa época de florescimento imenso de tipografias, editoras, jornais, revistas e livros, que ocupavam fortemente o centro das cidades, sobretudo de Lisboa.

                                        

Em 27 de Maio de 1871, dois meses exactos depois da eclosão da Comuna em Paris, liderando um grupo de pensadores amigos mais avançados, pronuncia a fortíssima conferência sobre As causas da decadência dos povos Peninsulares nos três últimos séculos, a que se seguiram outras até que o ministro do Reino, Ávila e Bolama, determina proibi-las, obrigando Antero a replicar-lhe contundentemente em 30 de Junho, em mais um dos seus geniais escritos ou folhetos em defesa da liberdade.  Dá a luz em Fevereiro de 1872, no meio da sua actividade pública socializante, tanto a revista  Pensamento Social, com José Fontana, Jaime Batalha Reis, Oliveira Martins e Jaime Batalha Reis, onde irá escrevendo múltiplos artigos, como o livro Primaveras Românticas, uma escolha da criatividade e vivência mais juvenil e romântica, amorosa e idealista e que contém poemas belíssimos, vários dedicados às musas dos seus amores juvenis.

Tendo regressado a Ponta Delgada em Abril de 1873 por causa da morte do seu pai adoece inesperadamente em 1874, só regressando no fim do ano e para começar um longo calvário de diagnósticos e tratamentos ineficazes (seja um estrangulamento do piloro, que lhe dificultara as digestões e o sono, seja um estado psicosomático nervoso sujeito a enfraquecimentos) que o vão diminuindo, e o fazem peregrinar por Lisboa, Açores e Paris em busca de cura.  Em 1877 nas termas de Bellevue encontra uma mulher por quem sente uma paixão forte, Clotilde, mas que não avançara, contudo gerará um dos seus mais belos poemas de amor, Mors-Amor.

 Tudo isto aliado a uma certa desilusão da actividade política e social a que se entregara bastante em 1878 e 1879, chegando a ser candidato pelo Partido Socialista, depois de ter recusado sê-lo no Partido Republicano-Socialista, reforçam algum pessimismo filosófica e poeticamente. Mas nos primeiros dias de 1881 sai à luz no Porto, na Biblioteca da Renascença,  do seu amigo Joaquim de Araújo, a segunda edição aumentada dos Sonetos, que o afirmam virtualmente como a grande voz poética da época. São apenas 28 sonetos, inclusos em 21 títulos, que mostram linhas de força do seu processo crítico de libertação de mistificações religiosas e de ilusões e medos humanos, numa demanda intensa e sentida da Verdade, filosófica e espiritualmente, proporcionadora sobretudo de desprendimento e estoicismo e serenidade...

 O seu pessimismo começa a ser ultrapassado de certo modo partir do Outono de 1881, quando já instalado em Vila do Conde, com as duas filhas do seu amigo Germano Vieira Meireles, que adoptara no final de 1879, e a viúva Teresa, as suas inquietações metafísicas e poéticas começam a dar frutos interiores de transmutação, realizando em si algo próximo do que chamara seja um “Budismo coroando um Helenismo”, seja algo da compreensão profunda da alma dos místicos cristãos alemães, seja uma maior união do espiritualismo com os dados do materialismo científico, seja do panpsiquismo que permeia tudo e todos.

                                 

 Em Vila do Conde, com as suas pupilas Albertina e Beatriz e a mãe Teresa adoentada, junto ao mar, depois de dar a luz em 1883, para elas e para a juventude o Tesouro Poética da Infância, com um belo poema seu, As Fadas (já abordado neste blogue), onde no prefácio justifica-se:«Este livrinho, destinado exclusivamente à infância, dedico-a às mães e cuido fazer-lhes um presente de algum valor. Convencido de que há no espírito das crianças tendências poéticas e uma verdadeira necessidade de ideal, que convém auxiliar e satisfazer, como elementos preciosos para a educação - no alto sentido desta palavra, isto é, para a formação do carácter moral - coligi para aqui tudo quanto no campo da literatura portuguesa me pareceu, por um certo tom ao mesmo tempo simples e elevado, ou ainda meramente gracioso e fino, poder contribuir para aquele resultado, em meu conceito, importantíssimo»
Entretanto vai escrevendo e enviando aos amigos  os seus notáveis Sonetos, na forma e no conteúdo, os quais testemunham uma certa evolução espiritual, embora ainda assim bastante aquém do que ele desejaria já sentir, ser e ver de plena luz e conhecimento. Poderemos pensar que lhe faltou uma prática espiritual meditativa persistente e uma boa contextualização da Divindade, nisso algo limitado pelo ateísmo, o inconsciente e o budismo que na altura predominavam. Mas de facto progredira bastante e em Março de 1885,  escrevia os sonetos Com os Mortos, e O que diz a Morte, os últimos da sua veia poética e bem significativos de crença na vida depois da morte: «Mas se paro um momento, se consigo//Fechar os olhos, sinto-os a meu lado//De novo, esses que amei: vivem comigo,//Vejo-os, ouço-os e ouvem-me também,//Juntos no antigo amor, no amor sagrado,//Na comunhão ideal do eterno Bem.» Deles dirá uns dias depois a Francisco Machado de Faria e Maia «cheguei a dar expressão poética (e creio que ninguém ainda o tinha feito) ao misticismo moderno, misticismo científico e positivo, se assim se pode dizer».
Os Sonetos sairão à luz em 20.VIII.1886 e tornam-se uma obra incontornável da poesia moderna portuguesa e, no  nível formal ou no  filosófico, incomparável, embora na altura só alguns amigos lhe escreveram elogiando o livro, restando hoje várias cartas das respostas de Antero, de agradecimento maior ou menor conforme tinham compreendido a obra. Uma segunda edição dos Sonetos enriquecida com traduções em línguas estrangeiras realizadas por notáveis intelectuais, dá-lhe em 1889 um relativo sabor de consagração...
Uns meses depois da publicação do livro o crítico literário e lusófono alemão Wilhelm Storck envia-lhe a tradução de alguns sonetos, respondendo-lhe Antero, a 14.V. 1887, com uma extensa carta-autobiográfica de grande valor, onde confessa como se sentiu poeta muito cedo e descreve o seu percurso de vida, corpo, pensamento e alma. A dado momento afirma bem o seu posicionamento panpsíquico: «O Naturalismo apareceu-me, não já como a explicação última das coisas, mas apenas como o sistema exterior, a lei das aparências e a fenomenologia do Ser. No  Psiquismo, isto é, no Bem e na Liberdade Moral, é que encontrei a explicação última e verdadeira de tudo, não só  do homem moral mas de toda a natureza, ainda nos seus momentos físicos elementares.». Em Fevereiro de 1888 repetirá o mesmo em carta ao jovem poeta Carlos de Lemos valorizando muito:« o sossego interior e a placidez crente de quem encontrou na liberdade moral e no Bem a lei da existência», e aponta-lhe  Camões, Herculano e João de Deus, como os três mestres supremos da poesia portuguesa, recomendando lê-los por serem "grandes espíritos e profundos moralistas", podendo ajudá-lo "a fazer-se  um homem, que é esse o fim soberano da vida"....

Tenta aprofundar e coordenar as suas ideias e "doutrinas", os seus trabalhos para a Geração nova e a Religião do Futuro, mas a saúde ainda assim apoquenta-o. Vai recebendo alguns amigos, como por vezes a sua maravilhosa correspondência, conservada pelos destinatários apenas, manifesta, e destacaremos Fernando Leal, Luís de Magalhães, Eça de Queirós e António Feijó e desde meados de 1889 começa a escrever o seu testamento filosófico, ético e espiritual, que se encontra também disseminado nas cartas, As  Tendências Gerais da Filosofia na segunda metade do século XIX, que será publicado na Revista Portugal, no primeiro trimestre de 1890 e virá a ser bem estudada por Leonardo Coimbra, Joaquim de Carvalho e outros.

Quando se dá a 11 de Janeiro de 1890 o Ultimatum do imperialismo inglês, face à reacção cívica dos portuenses e em especial ao convite dos estudantes, aceita o cargo de Presidente da Liga Patriótica do Norte, que Luís de Magalhães e mais uns poucos de intelectuais lhe foram pedir a Vila do Conde, com eventos de grande emoção e civismo, tal a recepção dos estudantes aos vivas diante da casa de Carolina Michäelis onde ficaria hospedado. Escreve artigos para vários jornais e revistas e  sai também em folha volante e de grande tiragem o seu tão pedagógico Discurso lido na sessão de 7 de Março da Liga Patriótica do Norte pelo seu presidente Antero de Quental onde Antero depois de criticar "o insulto e a vilânia da Inglaterra" considera necessário "um esforço viril e persistente para sermos de facto independentes", constatando ainda "entre a nação e os governantes um verdadeiro divórcio", a  realidade triste de que "os governos, em Portugal, deixaram há muito de representar genuinamente os interesses e o sentir da nação".  E de facto a fraqueza do País e dos políticos acabam por desiludi-lo, já que o movimento desapoiado esmorece, abandonando de vez a participação pública na marcha dos acontecimentos políticos. Regressado a Lisboa, onde permanece cerca de um ano bastante desiludido com o ambiente geral e em especial a política, volta ainda uns 40 dias a Vila do Conde para encerrar a casa,   regressando  a Lisboa para se ir despedindo dos amigos e a 8 de Junho partir para S. Miguel, rumo a Ponta Delgada. 

Com os seus padecimentos nervosos, a consciência de que a sua missão e inserção terrena estava muito frágil e sobretudo a situação dolorosa de ter de se afastar das duas jovens que educara, resolve desincarnar samuraicamente com dois tiros de pistola, que comprara umas horas antes e embrulhara num jornal,  em 11 de Setembro de 1891, pelas 20:00, sentado calma, ou quem sabe algo nervosamente, num banco do campo de S. Francisco, que se encontrava debaixo de uma âncora em relevo e da significativa palavra, essa que acompanha todos os peregrinos e nobres viajantes, e que talvez o tenha desamargurado um pouco antes de se lhe abrir a vereda árdua da vida depois da morte: "Esperança".

Antero de Quental foi um dos raros pensadores que se aproximou lúcido mas imaginativamente  da ideia da morte e das abismais regiões do Não-Ser, talvez se preparando nesta linha negativa para vir a experimentar com certa dificuldade e dor o dito grego "Morrer é ser iniciado", que pouco depois o seu grande amigo Joaquim de Araújo, e posteriormente Fernando Pessoa glossaram com grande qualidade, (como pode encontrar em textos deste blogue). Pouco antes de morrer, desejara ou sonhara fundar uma ordem de contemplativos, a Ordem dos Mateiros que o crítico literário e pensador Fidelino de Figueiredo realçou como o testamento anímico de alguém que «teria sido um S. Bento de Portugal, restaurador da disciplina das almas, iniciador da sua reconstrução pelo recolhimento meditativo», acrescentando «Três coisas devemos pedir ao recolhimento monástico ou à sua irradiação: firmeza, paciência e esquecimento. Só para as propagar e difundir valeria a pena fundar a velha ordem dos Mateiros, de Antero de Quental - velha, sem nunca ter existido». 
Numa das suas mais belas poesias Antero concluirá: «A Ideia, o sumo Bem, o Verbo, a Essência, / Só se revela aos homens e às nações / No céu incorruptível da Consciência», cabendo-nos este trabalho perseverante de transformação da nossa identidade, estabilização da consciência e religação dela ao espírito e, por fim, à Divindade e na sua graça...  
 
Os seus panfletos, a obra poética, nomeadamente os Sonetos, a filosófica e, sobretudo, as tão valiosas Cartas dirigidas aos amigos, bem editadas por Ana Maria Almeida Martins,  sobreviverão sempre na literatura, na filosofia e na espiritualidade portuguesa, tal como o seu In-Memoriam que, publicado cinco anos depois da sua partida do corpo físico, fá-lo vivo e interactivo connosco dada a qualidade do testemunho de muitos dos vinte e nove amigos, onde se destacam os de Eça de Queirós, Manuel Duarte de Almeida, Jaime de Magalhães Lima, Luís Magalhães, Joaquim de Araújo, etc...

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