quarta-feira, 15 de setembro de 2021

"A ORAÇÃO", de Bô Yin Râ. 3º cap. 3ª p. "Pedi e recebereis". Tradução por Pedro Teixeira da Mota.

«A promessa, de que  quem pede “receberá”, certamente não deve  ser tomada como aplicando-se só às coisas da existência terrestre, e os que virem a promessa apenas pelo ângulo terrestre, devem consciencializar-se que ela pode ser cumprida mesmo quando o que pede recebe algo diferente do que pedira.

No entanto o que está presente neste caso, e que é muito instrutivo quanto ao ensinamento transmitido, é que o que está reservado por toda a eternidade para o ser terrestre, pode ser "recebido" através da correcta oração.

Deve-se fazer uma coisa, mas não negligenciar a outra por causa dela!

Como para o homem da terra são primeiramente os aspectos da sua vida terrestre os mais urgentes e veementes, ele deve certamente recorrer ao poder da “oração” para aligeirar também o seu fardo terrestre ou para socorrer o seu vizinho, mesmo quando toda a possibilidade de ajuda exterior está esgotada desde há muito ou se verificou insuficiente.

Acima de tudo porém a oração é dada ao ser humano  para que ele possa de novo possuir a sua herança eterna - de modo a que ele possa “receber" o que, na linguagem dos denominados "teólogos" se designa com uma palavra muito melindrosa, a chamada Graça. - - 

O que aqui em verdade se quer significar pelos que ainda sabiam do que se tratava, é tudo menos um dom da arbitrariedade!

Até mesmo o Amor Primordial eterno, donde emana tudo o que está em “Ser" e em "Existência", não pode modificar a sua própria "estrutura" - não pode negar por amor a Lei,  assumida pela Sua própria Essência eterna, e pelo contrário tem de ver se estão cumpridas as condições necessárias para poder acolher de novo no seu seio o que se desviara de si. --

Assim é o verdadeiro “pedido" que abre de novo à corrente do Amor eterno a possibilidade de circular através da consciência do ser terrestre.

O "pedido", que não é mendicidade nem vontade de regatear, mas um calmo dom de si na plena certeza  de que não lhe será recusado o receber a corrente do Amor divino, - não pode ser-lhe recusado.

Trata-se de nada mais do que uma Lei espiritual, que é preciso cumprir, antes que os efeitos aconteçam.

Deste modo, tal como o que procura só encontra em si mesmo o que antes em vão procurava no exterior, assim o que pede recebe agora em si mesmo a necessária corrente vital do Amor. - - 

Anteriormente era comparável a um motor eléctrico verificado cuidadosamente em todas as peças e pronto a trabalhar, mas que não está ainda percorrido pela corrente de energia vinda da central eléctrica.

Agora, o contacto está fechado: - o motor é posto em movimento pela corrente, - mas  aguarda pela utilização da sua potência de trabalho, pois a corrente de energia percorre-lo-ia em vão, se não houvesse qualquer possibilidade de fazer uso do seu movimento.

Nesta imagem mostram-se de igual modo os três requerimentos da verdadeira “oração“.

Procurar" e “encontrar" é comparável à verificação técnica do motor, até às suas partes mais internas.

Pedir" e “receber" reconhecem-se no estabelecimento do contacto e na passagem da corrente eléctrica.

Já o “bater" e “abrir" podem ser correctamente assimiladas por um lado à conexão do motor com a máquina que ele  accionará, e por outro lado à actividade que será assim produzida.

Todavia esta analogia, tomada do âmbito da técnica dos nossos dias, não pretende ser em caso algum mais do que uma indicação que poderá talvez apoiar as minhas palavras.

Quem não tem necessidade desta indicação ou que se sente incomodado por eu não ter hesitado em inserir aqui uma comparação de vida diária, pode calmamente deixar desapercebido o que contudo eu desejei manter incluído na minha narrativa!

Creio ter assim lançado a ponte da segunda para a terceira condição duma verdadeira “oração”, e espero que todos aqueles a quem falo aqui me sigam mais para a frente sobre esta ponte.» 

Fim do 3º capítulo do livro Das GebetA Oração, publicada em 1921, por Bô Yin Râ (1876-1943), artista e mestre espiritual bem valioso e verdadeiro, o que é raro, em baixo numa fotografia.

                                        

Sem comentários: