sexta-feira, 17 de setembro de 2021

"A ORAÇÃO", de Bô Yin Râ. 5º cap. Renovação Espiritual. (1ª p.) Tradução por Pedro Teixeira da Mota.

                               RENOVAÇÃO ESPIRITUAL

«Se alguém em si acreditasse que  graças à  “oração” verdadeira toda a humanidade poderia encontrar uma renovação espiritual, ele não teria de modo algum caído em erro.

Mas uma vez que, na Terra, “a humanidade” está constituída simplesmente de um grande número de seres humanos individuais, uma tal renovação só pode partir de uma pessoa, pelo que falaremos aqui somente da pessoa individual em vez de nos perdermos no conjunto, pois desse modo perder-se-ia muito para o indivíduo.

Se uma só pessoa, algures nesta Terra, se encontrar preparada e a querer renovar-se pela  “oração” verdadeira, já muito terá sido ganho para toda a humanidade, pois nós, seres humanos, não estamos isolados uns dos outros no espaço vazio, mas o bem ou o mal que flui através de um, flui  dele ainda mais através de todas as almas humanas mesmo que elas estejam em acção nos mais remotos lugares e possam sabê-lo ou não.

Se  dei, nos capítulos anteriores,  dum modo tão detalhado o que se relaciona com a verdadeira “oração” e em que é que consiste a autêntica "oração", isso aconteceu sobretudo porque muitas pessoas não imaginam nada mais fácil que rezar, - pois muitas pensam que  já  oraram,  quando na sua compreensão imaginativa  têm conversas, numa familiaridade demasiado presunçosa, com uma criatura dos seus sonhos a quem chamam o seu “Deus”, e que aceitam como consolação fácil o efeito recíproco de auto-sugestão produzido nos seus sentimentos. -

Desta pseudo-maneira de orar só pode certamente resultar auto-ilusão e  um sentimento passageiro e falso de exaltação, - nunca a verdadeira renovação espiritual que quem ora tem tanta necessidade .

Todavia, nada seria  mais errado se as pessoas sentissem o mais pequeno desencorajamento face à minha explicação.

É fácil imaginar-se que este ou aquele estaria disposto a dizer:«Se orar verdadeiramente encerra em si todas estas condições prévias, então eu nunca a aprenderei! - Eu desabafarei com o meu Deus, e encontrarei consolação no pensamento que serei ouvido, e talvez mesmo atendido!”

Mas quem  tenha lido o livro até aqui com a mente desperta,  e contudo pode falar assim, em verdade não compreendeu  plenamente as minhas palavras.

Quando eu procurei apresentar os requisitos da verdadeira “oração”,  com base na promessa de “procurar”, “pedir” e “bater”,  foi-me necessário  entrar nos detalhes, para que o leitor não duvidasse mais que a verdadeira “oração” é algo diferente da piedosa recitação de certas fórmulas de oração.

Assim instruído, o leitor com discernimento  rapidamente estará certo em si e saberá o que para ele próprio doravante  se segue.

Compreenderá que só lhe será possível “orar” verdadeiramente quando tiver ocorrido uma reorientação total do pensar,  sentir e agir, do modo a que estejam  preenchidas todas as pré-condições da real "oração" , antes mesmo que ele comece a “orar”.

Agora por causa dos  demasiado receosos, gostaria de salientar aqui  que apesar de ter descrito o que acontece na verdadeira “oração” ,  tudo isso manifesta-se por si mesmo, depois que a vida inteira foi modelada de tal modo que se está sempre pronto a orar. -

Aos que só podem conceber a oração como algo para pessoas abatidas e afligidas, devo dizer que em verdade uma vida pronta para a oração não precisa de renunciar a qualquer alegria nobre, e  pode francamente tornar-se garantida de contínua serenidade, uma constante  felicidade. - -

Quanto à necessidade de "desabafar o seu coração", sentida pelo ser que é levado tal, ela é apenas o sentir particularmente intenso da verdade que ele não é um ser totalmente isolado e reduzido só a ele  no espaço cósmico, - que apesar do seu isolamento cósmico e da fuga da vontade em relação ao Espírito, mantém-se ligado - mesmo que passivamente - à sua pátria original: o reino do Espírito puro e essencial, e que a ajuda que pode vir de lá, tem uma abrangência bem mais vasta que toda a ajuda provinda do mundo sensorial físico das coisas manifestadas espacialmente.

Ele engana-se somente na interpretação do seu sentimento, quando acredita  ser, como se o fosse, um interlocutor pessoal, sem um nível intermediário, face ao Ser Original eterno, e não erra menos quando considera como "oração" esta auto-confissão da sua aflição  diante testemunhas invisíveis, a qual é de facto uma confissão verdadeira, justa e santa…

Uma tal “confissão” cumpre uma necessidade inata da natureza humana e constitui uma obra libertadora da alma, duma importância inestimável na vida, de modo que todo ser humano terrestre, qualquer que seja,  de tempos a tempos deveria confessar-se assim diante dos “sacerdotes” verdadeiros invisíveis, de modo a tornar-se capaz de receber constantemente novas forças do mundo invisível.

Não se deve esperar que a alma seja invadida por uma aflição muito difícil, para recorrer-se a uma tal verdadeira “confissão”, que traz sempre em si mesma a sua eternamente válida “absolvição” .

Só depois duma tal “confissão”, e a consequente libertação da alma graças a ela obtida, se deve pedir, através duma verdadeira “oração”, o que uma pessoa pode “pedir”.

O homem que “ora” então da maneira certa, tal como deve pedir-se, - atingirá verdadeiramente um renovação espiritual, e esta renovação é  necessária sempre que a vida exterior entorpece insensibilizadoramente  os sensores da alma. -

A “renovação espiritual” não reside portanto num renovamento da centelha vital espiritual no ser humano, mas numa renovação da receptividade da alma para todos influxos que, emanando do Reino do Espírito puro, podem e querem atingi-la pelas “antenas” do   núcleo da sua essência espiritual. -»

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