domingo, 5 de abril de 2020

"A minha Cartilha", de Teixeira de Pascoaes. Um testamento anímico, lido e comentado para os nossos dias, com vídeo, por Pedro Teixeira da Mota.

 A minha Cartilha, de Teixeira de Pascoaes, foi finalizada em 9 de Junho de 1951, nas faldas da serra do Marão, na sua casa em S. João de Gatão, a uns breves meses, 18, de partir da Terra para os mundos subtis e espirituais.
É um testamento anímico de Pascoaes, já bem maduro, pois nascera em 1877, onze mais cedo que Fernando Pessoa e morrerá em 1952, portanto tendo então 75 anos, bem cheios de obras, diálogo, amigos, voos poéticos de incendiada e comovida imaginação riquíssima, ainda assim talvez demasiado alimentada de café e do cigarro, tudo isso alquimizado num condensado manual de bem compreender e viver a passagem terrena.
 Bem impresso, já postumamente, em 1954, na tipografia Cruz & Cardoso Lda., na Figueira da Foz, num in-12º de 41 págs, com a capa de Carlos Carneiro, está constituído por 60 sutras, ou seja, como aforismos que resumem ou condensam a sua ampla e profunda visão do mundo, da humanidade e da Divindade.
Embora tenho lido e apreciado Teixeira de Pascoaes, tanto mais que meu pai era também das zonas próximas do Marão e ainda o conheceu como a Leonardo Coimbra, foi pela sua revista A Águia, o movimento da Renascença Portuguesa e Leonardo Coimbra que me interessei mais, sobretudo na época em que vivi no Porto e convivia com Sant' Anna Dionísio, que os conhecera bem e muito cultivava (tal como a Antero de Quental), deixando vários testemunhos sobre os três, e Dalila Pereira da Costa, que para além de saudosista espiritual e telúrica, abordou Pascoaes em alguns dos seus livros.
Como esta Cartilha não está muito divulgada e é rara e é bastante rica ou fecunda, resolvi, pegar na obra e comentá-la enquanto a leio.
Será uma homenagem e uma inserção na Tradição Espiritual Portuguesa, actualizando-a com a minha reflexão de comentários breves e espontâneos que a leitura me for suscitando.
Nesta primeira gravação de breves 15 minutos (devido à bateria pouco carregada), entrei ou li os quatro primeiros sutras. E transcrevo aqui o 3º e o 4º, que passam assim a estar disponíveis na web:
«III - O sentido perfeito do real pertence aos que avistam o ideal. Quem ignora a folha, não conhece a raiz. O ideal é a última expressão da realidade, ou ela a continuar-se, além de si.
IV - A vida sai da existência, e regresso a ela, que a existência é natural, e a vida é sobrenatural, uma espécie de efémero milagre. E então a vida consciente é o Milagre dos milagres.
A vida efémera participa da existência eterna, como a Criação do Criador. Logo no efémero, há o eterno, e no humano transluz o divino, e temos Deus em Jesus Cristo. Um Cristo, que eu não admito senhor, nem na terra nem no céu.
Eu por exemplo, existo desde sempre, e para sempre existirei; mas apenas vivo, desde o dia 2 de Novembro de 1877. A minha eternidade apenas foi interrompida por um lapso de tempo; mas esse lapso de tempo representa o advento da consciência humana, a conversão do Creador em Redentor. Todo o ser humano é uma Bíblia, o Velho, o Novo e o Novíssimo Testamento: o Verbo encarnado ou a falar.» 
 Apenas acrescentarei aos comentários a provável visão e gnose de Teixeira de Pascoaes quanto a Jesus Cristo, de ele ser um Christos, um ungido do espírito, um ser em quem o Divino brilha, vive, transluz mais; realização esta que Pascoaes não limita a Jesus e por isso não o querendo ver como senhor do céu ou da terra, antes apelando a que cada um seja um redentor da Humanidade e da Natureza, encarnando o Divino Verbo,  Palavra, Logos, de modo a que a Razão-Coração ou o Amor-Sabedoria brilhem no nosso viver, falare ser. 
Algo tão necessário nos nossos dias de 2020, em que seja a crueldade dos hábitos alimentares dos chineses sejam os laboratórios da guerra biológica chineses e americanos estão pondo tanto em causa o convívio ou o banquete puro, agape,  filosófico, justo e fraterno dos seres humanos.... 
Possam estes elos da Tradição Espiritual Portuguesa inspirar-nos, proteger-nos, fortificar-nos... Lux.
                        

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