quinta-feira, 19 de outubro de 2023

Nos 590 anos de Marsílio Ficino. Breve biografia e alguns ensinamentos das suas cartas.

Messer Marsilio Ficino é inegavelmente um mestre espiritual perene da Humanidade, pela sua vida e obra, em especial enquanto escritor de vários tratados de religião, filosofia, ciência oculta e saúde, e por ter sido o primeiro tradutor para o latim do Ocidente das obras completas em grego de Platão, Plotino e dos escritos de espiritualidade pagã também denominados herméticos.

 Filho do médico do regente de Florença, Cosmo de Médices, foi também médico dele, mas entrou na Religião como clérigo. Aos 23 anos, em 1459, tornou-se discípulo do notável  John Argyropoulos que ensinava então grego em Florença. A sua capacidade de aprender e aprofundar os conhecimentos era muito boa.

Ficino, Pico e Poliziano.

Ao ser encarregado por Cosme de Medici das traduções em 1462, levaria cerca de sete anos para as realizar, mas ao mesmo tempo ia escrevendo e traduzindo outros livros,e dialogando no aprazível e sábio meio florentino, tanto mais que Cosme o convidara a fundar uma Academia Platónica em Florença, oferecendo-lhe a vila ou casa apalaçada em Caregio, onde se realizariam as sessões ou encontros desse selecto círculo, a mais importante sendo a 9 de Novembro, dia do nascimento e da morte de Platão, e que Ficino realçava ter-se reatado após mil e duzentos anos da interrupção da celebração, a partir da morte de Porfírio (304, em Roma). Anote-se que até Portugal se estendeu tal comemoração, por iniciativa de José Vitorino de Pina Martins e minha, tendo sido realizada dois anos, na sua Biblioteca de Estudos Humanísticos, em Lisboa, nos finais dos anos noventa.

Ao juntar a melhor filosofia pagã e teologia cristã, bem como ao efectuar estudos médicos, e ao ser um místico, simbolista e ocultista, Marsilio Ficino tornou-se uma das pessoas com melhor realização espiritual da Divindade e da espiritualidade humana, nomeadamente através do seu conhecimento psico-somático e da sua constante religação à Unidade Divina, e  pode assim tornar-se um mestre tanto por livros, como por presença para muitos amigos que hauriram a sua sabedoria ao vivo ou por carta. Dos livros há que destacar sua obra principal, a Theologia Platonica; de immortalite animorum, escrita em 1469 e 1474, e publicada em 1482, e de que há hoje boas traduções francesa e inglesa. Nela tenta demonstrar ou provar que a alma intelectiva é imortal e indivisível, e que chegamos a ela pelo desenvolvimento das virtudes especulativas, as quais se baseiam no intelecto e sua claridade, e das virtudes morais (tais a prudência, a justiça, a coragem e a temperança) assentes na vontade e sua utilização-controle do apetite-desejo pela sintonização com a razão ou ainda pela atração para o Bem, o qual é em si e na sua fonte a Divindade...

Há algumas biografias boas, tanto modernas, como a de Raymond Marcel, Paris, 1958, ou antigas como a de Giovanni de Corsi (1472-1547), publicada em 1560. Ora Giovani Corsi foi discípulo de Francisco Cattani da Diaceto (1466-1522), o qual foi por sua vez um discípulo de Ficino, tendo em relação a ele aflorado um dos aspectos mais sagrados do magistério platónico e neo-platónico, e no fundo perene, a  possibilidade de osmose ou mesmo plena absorção anímica do mestre ou  guia, o qual faz de nosso anjo, já que este, estando nos planos espirituais, não é tão facilmente visto, acolhido ou escutado.  Disse-o no prefácio do seu De Pulchro: "Tudo o que nós somos, se somos alguma coisa, devemo-lo a Ficino. Marsilio, portanto, como nosso daimon ou génio familiar, fala sobre o belo através da nossa boca, o que é conforme à Academia". E que deseja portanto "revelar de um modo apropriado tudo o que alma fecunda de Ficino fizera germinar na sua".

Outro traço característico da época que Giovanni Corsi nos relata é que Marsilio Ficino reunia-se e dialogava diariamente com um grupo de amigos, quais discípulos, tais como Giovanni Canaci, B. Ricasolani e B. Rucelais, além dos de outros grupos e os da Academia Platónica de Careggi, a qual mesmo, apesar do extraordinário valor dos seus complatonici, como Lorenzo de Medici, Angelo Poliziano, Cristoforo Landino, Pico della Mirandola, Francisco Bandino, Giovanni Cavalcanti, fora atacada por alguns mais invejosos ou irónicos, tal Luigi Pulci.
Anos mais tarde Corsi lamentar-se-á da queda da Florença considerando-a que, graças principalmente a Marsilio Ficino, ela fora como uma nova Atenas.
Ora quando Marsilio Ficino morre aos 66 anos, de cólicas, como afirma Corsi, deixa os seus livros, cartas (por ele já preparadas para a  edição desde 1470)  e a propriedade de Careggi ao seu afilhado e  filho do seu irmão Querubino,  e será ele o editor das cartas, em 1495, as quais, tais como as nossas de Antero de Quental, se tornarão a  principal fonte para o vermos, sentirmos, acolhermos enquanto pessoa genial dialogante e íntima, convivial, ensinante e exaltante, mas também sofrendo e transparecendo as vicissitudes da vida. 

Busto de Marsilio Ficino, por Andreia Ferruci, de 1521, na catedral de S. Maria del Fiore, Florença,

Nessa correspondência como mestre espiritual Marsilio Ficino derrama muito amor e sabedoria para a  maioria dos seus correspondentes, numa maior escala amatória que, por exemplo, Erasmo, que contudo escreveu mais cartas, cerca de 2.000  em várias usando as mesmas expressões de amor empregadas por Ficino para os seus amigos e que para algumas pessoas seriam estranhas, mas que eram naturais em almas de grande amor e sabedoria...

Temos ao longo dos anos escrito e publicado sobre Marsilio Ficino e a sua vida e obra, com tradução de excertos e cartas. Nestas comemorações do seus 590 anos de nascimento,  partilharemos alguns ensinamentos espirituais a partir da sua correspondência epistolar em latim, conforme  a edição parisiense de 1641, e a tradução inglesa de 1988:

I - Sobre o valor do silêncio, da concentração e interiorização das energias, tão necessários nos tempos actuais dos telemóveis e das redes sociais, dos encontros e congressos, dirá numa carta a Antonio Hyuano, aludindo ao carácter ígneo do amor e da palavra eficaz :

«Aprendi a dizer com brevidade, mas não aprendi a amar brevemente; quanto o nosso sermo (verbo-palavra) é apertado, tanto mais o afecto é amplo. Quanto a chama é menos espargida, frequentemente preserva-se mais ardentemente».

II - Numa carta a Giovanni Cavalcanti aludirá à necessidade de sermos coerentes, íntegros e não fingidos, hipócritas, superficiais:

«Nunca procuro persuadir os outros com o que não estou eu próprio já antes persuadido. É dever do sacerdote (ou pessoa religiosa) nada dizer que não seja considerado como conduzindo  à piedade. De igual modo a profissão do filósofo é agir tal e qual diz, falar como pensa e sentir-compreender tanto o sentir como a mente.»

III - Acerca da ligação à Divindade, e à estabilidade na Unidade, escreveu com grande sabedoria na carta intitulada Nullum in malis refugium est, nisi ad summum bonum, Nenhum refugio há nos males a não ser o sumo bem.

«Talvez seja útil, se queremos alcançar o que procuramos, fugirmos  para o que nunca foge para parte alguma, que está presente em toda a parte em cada coisa singular? Então que não nos movamos para toda a parte, nem sejamos distraídos por muitas coisas, mas permaneçamos quanto possamos na Unidade, já que nos encontramos na unidade eterna e na eternidade una, não através do movimento e da multiplicidade, mas por estarmos parados e em união. (...)

Se Deus é o próprio bem, amemos a sua luz do bem, e seu amor da luz do bem, ó amigos; peço-vos que  amemos  antes de tudo o mais o bem luminoso que é tanto luz como benignidade. Pois então não amaremos apenas o nosso Deus, pois fruiremos amando-o, pois Deus em si mesmo é Amor, o amor em si é Deus.

Portanto primeiro e antes que tudo vamos preservar nele, sem cujo calor nada se mantém quente. Para que possamos refulgir na sua benigna luz,  sem cujo esplendor nada brilha. 

Vinde, amigos. Assentemos no que nunca retrocede e permaneçamos. Sirvamos o Senhor único de todos, que não serve ninguém, para que não sirvamos o que quer que seja, mas tudo dominemos. Fruamos, gozemos nele se podermos, e nós podemos se nós queremos, pois através da vontade há o fruir e o fruir está na vontade. Deliciemo-nos, ou alegremo-nos, digo eu,  naquilo só que enche o infinito; só então seremos completamente enchidos, só então poderemos alegrar-nos ou rejubilarmos completa e verdadeiramente. Pois onde o bem abunda, sem defeito, aí a delícia é experimentada sem dor, e em toda a parte sente-se a alegria até à sua plenitude».

[Ainda acrescentarei um pouco.... Acrescentos foram mais no interior do texto]

De Bô Yin Râ.   Lux in tenebris...

quarta-feira, 18 de outubro de 2023

George Ohsawa, Afonso Cautela e os ensinamentos da Filosofia e Medicina do Extremo Oriente, a Macrobiótica. Nos 133 anos do nascimento de George Oshawa.

                                 

 Em 1977 o tão pioneiro poeta, jornalista, ecologista e ensaísta Afonso Cautela publicava nos seus cadernos policopiados da Frente Ecológica, jornal de vanguarda, descolonização cultural, macrobiótica zen, bioagricultura, tecnologias leves, luta anti-nuclear, parto sem dor, revolução artesanal, agro-comunas/sociedade paralela, energias infinitas e não poluentes, reconversão de consumos, alternativas à medicina, um número de 36 páginas intitulado A Cura pela Energia, 55 Indicações de base, que representava a sua compreensão dos processos de vida saudável e de cura,  baseando-se nos ensinamentos da Filosofia e Medicina tradicional do Extremo Oriente, conforme George Ohsawa ensinara e divulgara no Ocidente e que tinham sido bem acolhidos em alguns países e que ele vivenciava há uns anos.

                                 
Quem fora George Ohsawa de quem celebramos hoje 18 de Outubro de 2023, os 133 anos de nascimento?
Nascera como Nyoiti Sakurazawa, em 1893, em Kyoto, de uma família de samurais empobrecida, já que o Ohsawa veio do francês,
Oh ça va..., com que tinha de responder à pergunta, Como está?  Aderira ao movimento Shokuiku, Educação alimentar, fundado  pelo genial médico Ishizuka Sagen, (1850-1909) e que atingira grande sucesso (no pico, 100 consultas por dia) pelos seus tratamentos pelo equilíbrio alimentar do Yin e Yang, consignados na obra Uma teoria química da nutrição na Saúde e Longevidade.
Nyoiti S
akurazawa aprende com um seu discípulo, Manabu Nishibata e, vindo para o Ocidente, transmitirá esta filosofia do equilíbrio do Yin-Yang, negativo e positivo, feminino e masculino, noite e dia, e sobretudo do conteúdo do potássio (yin) e sódio (yang) no alimentos, iniciando no Ocidente o método macrobiótico (grande vida)  de alimentação, como disciplina harmonizadora do corpo e alma, recomendando o uso de cereais, verduras, leguminosas e algas, e a cautela com as proteínas animais, o açúcar e o excesso de Yin, ou seja de alimentos com mais teor de potássio.  Os alimentos mais recomendados e utilizados salutarmente, além dos cereais, eram miso, daikon e umesboshi, ainda hoje fazendo parte da dieta nipónica. Regressado ao Japão em 1931, vai aprofundando os seus estudos e análises das pessoas, doenças, sociedades, como filósofo e educador pacifista e quando anos mais tarde prevê a derrota do Japão, é preso, condenado à morte e foi por pouco que escapou e só após depois da rendição nipónica é que foi libertado, consagrando-se de novo aos seus estudos, publicações e ensinamentos da aplicação do Princípio Único do Yin e do Yang da filosofia Taoísta. A sua visão do mundo e dos seus fenómenos, bastante simplificadora e revolucionária face aos conhecimentos e poderes instituídos, embora em certos aspectos datada ou limitada, em muitos outros continua a ser muito rica de um discernimento directo e profundo da vida e da mente humana. Publicou, além de quatro revistas, mais de duzentas obras em japonês, inclusive de história, biografias e traduções (Alexis Carrel, e Northrop's, The meeting of East and West), e vinte delas em francês, já que esteve nos anos 20-30 em Paris, editadas pela reputada Vrin, em 1929 a primeira Le Principe Unique de la Philosophie et de la Science d'Extreme Orient, mas também dadas à luz noutras editoras  francesas e belgas, país este onde teve muitos amigos e centros de tal modo que a fábrica de alimentos macrobióticos, que teve o nome da sua mulher Lima, ali nascerá em Gand, e ainda hoje é uma referência da qualidade biológica dos produtos, tendo-a eu visitado em 1982 e nela bem dialogado. A partir de 1957, George Oshawa viaja por todo mundo, ensinando, dialogando e está mesmo na floresta africana cerca de um ano com Albert Schweitzer (1875-1965), o filósofo e místico em acção abnegada pelos leprosos. Em 1961 saiu a sua obra mais popular, a mais prática e condensada, O Zen e a Macrobiótica, que foi traduzida para numerosas línguas. Mas nela, após as muitas páginas de explicação da filosofia do Extremo Oriente e de salutares receitas de bons cozinhados e de ideias práticas quanto ao uso e conservação dos alimentos, termina com um corajoso capítulo intitulado Certificado pro-forma do óbito do império mundial da dinastia americana do ouro,   algo que estamos a observar hoje um começo, com o crescimento do BRICS e a diminuição do papel e valor do dólar infinito (impresso ilimitadamente, e logo injusta e corruptamente)  no mundo. Será em 1966, de um ataque de coração, que se evolará da Terra.

Ora em Portugal desde os meados dos anos 60 havia alguns núcleos, alimentados por publicações vindas de França e do Brasil  e assim em 1969 saía a primeiro número de uma revista do Centro Ignoramus de Macrobiótica Zen, sediada na R. da Emenda, 110, 2º, Lisboa, e que era orientado por Fernando Mesquita e José Galambas. Nela funcionava também o restaurante, a Colmeia, que a breve trecho passou a ser dirigido por Abel Trancoso e depois apoiado pelo calmo e sábio  João Ribeiro. Provavelmente foi pela Colmeia que Afonso Cautela teve conhecimento da Macrobiótica, tal como eu e muitas outras pessoas, ainda que no Norte houvesse também um núcleo que teve como dinamizadores Augusto Coutinho e outros donde surgiriam os centros e restaurantes Pirâmide e mais tarde o Suribachi, este ainda hoje vivo, no Porto. A partir de 1975, um discípulo de Ohsawa, Michio Kushi, sediado nos USA, passará a vir a Portugal para seminários e consultas, divulgando o seu aprofundamento da Macrobiótica através da edições da Cooperativa Unimave e da Trigrama, onde ainda trabalhei, fundada por Gomes Ribeiro, um do co-fundadores do Suribachi, com Maria Arminda  e Amândio.

Contracapa de uma publicação da Trigrama sobre a Macrobiótica

 Dessa obra de Afonso Cautela A Cura pela Energia. 55 Indicações de Base, vamos então transcrever algumas partes em homenagem aos 133 anos de George Ohsawa e a Afonso Cautela:

 As 55 indicações de base são antecedidas de duas páginas nas quais Afonso Cautela expõe a sua compreensão da cura pelo equilíbrio da polaridade yin e yang da força energia cósmica  aplicado a cada ser ou doente que «é um ponto da espiral, o micro do macrocosmos», «um elo da grande corrente corrente universal, ininterrupta e infinita». A ideia base é que «todas as doenças são curáveis: e a maior ou menor rapidez na cura depende do método ou regime alimentar seguido», e assim após as 55 indicações de base podemos ver os três regimes sugeridos (as famosas dietas nº5 (50% de cereais, 30% legumes frescos, 10% leguminosas, 10% algas e saladas), nº6 (75% cereais) e nº7 de Ohsawa), conforme a  proporção de cereais, legumes, leguminosas e algas.

                             

                                                 55 Indicações

«1 - Cada pessoa deve ter uma terapêutica especial. "Não há doenças, há doentes". (Hipócrates). Mas o que aqui se indica são generalidades, que podem servir a todo e qualquer caso, todo e qualquer doente, como medida imediata de prevenção, defesa, controle e terapêutica.
2 - Do ponto de vista racional (terapêutica causal), o que importa é deixar o organismo reagir por si, porque o o organismo" – Hipócrates – "é que se cura a si mesmo". Se assim foi e assim será, a única atitude inteligente quando a doença ataca, não é atacar ainda mais o organismo com medicamentos, deixa-lo exausto com alimentos complicados e pesados, mas libertá-lo de todos esses encargos suplementares para o deixar com forças de reagir por si.
6 – Para começar,
o melhor de tudo é um pequeno jejum. Ao contrário do que afirmam os preconceitos de costumes retrógrados, o doente não deve ser super-alimentado. É exactamente o contrário. Se der descanso digestivo ao seu corpo, este ficará disponível para colocar todas as energias e reservas no "combate à doença".

25 - A MASTIGAÇÃO é um segredo base a que a frivolidade ocidental não liga importância mas que se encontra na raiz das grandes alterações possíveis através da Macrobiótica Zen. 
Enquanto o doente não se convencer da importância da MASTIGAÇÃO na sua cura, a eficácia do regime encontra-se grandemente comprometida.
Ao insistir na MASTIGAÇÃO (30 a 50 vezes cada garfada) a macrobiótica deveria ao mesmo tempo frisar a ENSALIVAÇÃO. De facto, a importância desta primordial operação alimentar, é dupla: primeiro, é com uma boa mastigação que se assegura uma boa digestão, uma assimilação completa do cereal e o seu máximo aproveitamento quer nutritivo quer terapêutico; segundo, uma salivação abundante (a produção de saliva, assim como o PALADAR, também se educa!) irá fornecer ao processo digestivo a dose de ptialina necessária para se efectuar o desdobramento das proteínas contidas no cereal e nos restantes alimentos.
26 - Cereais mais citados no livro de Ohsawa: arroz, trigo sarraceno,, aveia, centeio, milho [míudo, ou millet].
39 - Tal como preconiza Oshawa, o Jejum é sempre útil, em qualquer doença e mesmo que não haja doença: é um repouso, uma pausa do organismo que o habilita a recobrar forças e resistência às agressões do meio ambiente, à contaminação do habitat. 
Mas fazer jejum, não é, para Ohsawa, passar fome. 
O jejum é para ele uma forma de fazer recuar a doença e ajuda acurar outras.
Durante o jejum convém não despender esforços intelectuais nem físicos. Todas as energias do corpo, normalmente utilizadas no trabalho da digestão, se concentram para fazer frente à doença. Além disso, o jejum é um princípio de desintoxicação.
Mas
a grandes descoberta de Ohsawa é que o doente poderá fazer o jejum continuando em actividade, se a sua vida lhe não permitir que seja de outra maneira. Ideal seria que descansasse, física e intelectualmente. Mas senão conseguir esse ideal, nem por isso o jejum deixará de operar no processo de retroagir a doença.»
 
Como último ensinamento-testamento, nesta homenagem e comunhão com George Oshawa e Afonso Cautela, leiamos as suas 52 e 53 indicações de base, e sigamos ou aplicamos as que nos dizem mais:
           52 - Conservar a Energia: Princípio único de toda a cura.
 «Na cura pelo
Princípio Único [da Ordem do Universo e que é o do equilibrar o Yin e o Yang, negativo e positivo] têm a máxima importância os mínimos pormenores. Seja qual for o caso, recomenda-se aos doentes: 
- Que use pente de madeira. - Que use talheres de madeira. - Que não coma alimentos frigorificados (o frigorífico desmagnetiza). - Que não cozinhe alimentos em vasilhas de alumínio ou barro vidrado (barro não vidrado não tem inconvenientes). - Que só coma alimentos biológicos (com carga energética). - Que ensalive longamente e mastigue o maior número possível de vezes cada alimento que leve à boca. - Que não utilize farinhas (mesmo integrais) pois nas farinhas o grão já perdeu toda a concentração energética tendo-se pulverizado até ao infinito. - Que não perca a esperança na cura, porque se é da Energia Eterna e do Infinito que tudo provém e para onde tudo vai, se é do Princípio Único ou lei que tudo depende, a fé nesse princípio e nessa energia pode curar, pode mesmo mudar o destino de uma pessoa.»  
               53  - Leitura Ecológica da doença e seus sintomas
Saúde e doença não são fenómenos isolados, esporádicos, de superfície: radicam na mais profunda realidade do homem e do meio ou habitat que o cerca: urbano, físico, climático, histórico, cultural, etc.
Se todas as doenças são de ambiente, o conceito de intoxicação estará na primeira fila dos que importa estudar.
Entre os tóxicos alimentares, basta citar: mariscos, carne, peixe, molhos, frituras, bebidas alcoólicas, levedura prensada, alimentos fermentados, corantes, enlatados, conservas, etc.
Entre os tóxicos não alimentares, basta citar: tabaco, fármacos, estupefacientes, água e ar poluídos, adubos, pesticidas, etc.
Perante o número de tóxicos que cercam o consumidor e de que ele fez regular o consumo, não é difícil concluir a importância que o estudo ensaístico de Medicina Ecológica deverá atribuir aos métodos e técnicas de desintoxicação: monodieta, jejum, banhos de sudação, saunas, massagem, marcha, yoga, etc. 
Se a maior parte das doenças são doenças do Ambiente, como aqui se sustenta, compreende-se a importância de estudar ensaisticamente a desnutrição por insuficiência alimentar tanto como desnutrição por alimentos desvitalizados: açúcar refinado, cereais refinados, óleos refinados, sal refinado, arroz descorticado, etc.; e de que forma a fome, as avitaminoses e todas as doenças de carência tanto com as indústrias alimentares estão ao serviço da exploração do homem pelo homem.
Uma vez que a esta concepção causal e ecológica da Doença e ao papel defensivo do sintoma no equilíbrio orgânico, se opõem os erros e crimes da medicina sintomática (transferência de sintomas e transferência de doença aguda para doença crónica), parece ao autor importante prosseguir o estudo ensaístico das duas correntes do pensamento médico; a sintomática, causal ou prospectiva [holistica]: e a medicina sintomática, curativa e medicamentosa (plástica e reconstrutiva), na medicina física e de reabilitação, na medicina de reanimação, na medicina das vacinas (dita preventiva), etc.»
  Bons discernimentos .....