terça-feira, 14 de dezembro de 2021

"Ensaios espirituais": das incertezas e sonhos ao discernimento e à Luz, por Pedro Teixeira da Mota,

Texto do livro futuro Ensaios Espirituais, com três pinturas de Bô Yin Râ, do livro Welten, a 1ª intitulada Labirinto,  a 2ª Te Deum LaudamusA Ti, Deus, te louvamos, e a 3ª Emanação.

Por vezes, os afluxos de informações contraditórias e as incertezas e mudanças tornam-se tão constantes na vida das pessoas, tornada algo labiríntica, que quase perdemos a noção de continuidade, de estabilidade, de identidade própria, de eu, de individuação e de auto-realização espiritual.

Algumas escolas filosófico-religiosas antigas realçaram que tudo seria ou é fluxo impermanente, mesmo a individualidade, mas alguns seres resistiram a tal caracterização do que é  vivenciável, de certo modo desvalorizadora do eu, e conseguiram aprofundar com fidelidade valores, práticas, amizades e identidade,  chegando à hora da morte certos da sua indestrutibilidade consciencial. 

Também os que adoptaram ou agarraram-se a crenças religiosas de imortalidade, tais as do cristianismo, islão e mesmo até no budismo que nega o eu, criaram expectativas e sonhos de continuidade, paradísiaca até e, chegados à hora da morte, e passado o canal estreito, não ficaram perdidos nem totalmente adormecidos. Mas quem sabe ao certo as rotas e veredas que se patenteiam ou abrem às pessoas que conseguem ter a mobilidade subtil que lhes permite internarem-se no além e deixarem as praias e costas da terra física?

Para quem não é clarividente, e há pouquíssimas pessoas que o sejam com segurança, para quem não pratica com regularidade e algum fruto as meditações da Arte de Bem Morrer em vida, é de noite, no dormir, que as paisagens e interacções de alguns sonhos podem indicar, em geral de um modo subtil, enigmático, indirecto, em que níveis estamos e por que caminhos passaremos, ficando à nossa incerta adivinhação os planos subtis que mereceremos e onde mais ou menos tempo estacionaremos,

Os sonhos provocam a sensação ou tomada de consciência que a vida, embora tão evanescente, ligeira, ilusória, pois  ninguém conseguirá controlar todos os seus actos de dia ou os seus tão finos sonhos nocturnos, tem contudo uma ordem, razão ou inteligência que passa por nós, ou que em nós está incarnada, activa, manifestada, visível mesmo nessa actividade onírica da mente e da alma...

Tal controle pleno da vida relacional e dos sonhos é na realidade impossível, pesem as tentativas de sonho lúcido,  porque eles são tanto meras associações semi-automáticas de impressões e memórias, como também desenvolvimentos interiores da psique, livre da mente pessoal e social consciente na vigília, conseguindo viajar com a imaginação-consciência não apenas já limitada aos dados do quotidiano e  assim escapar às limitações, controles e opressões, que  mesmo no mundo astral existem, como que imitando ou replicando o que se passa de policiamentos ou repressões na Terra. Podemos dizer que ao haver mais controles exteriores sobre o exterior e  o interior das pessoas, ao haver mais violência e mercenários de forças e grupos opressivos, tal nos mundos subtis e nos sonhos pode repercutir-se. 

Mesmo as almas mais recolhidas em conventos, os ascetas, os eremitas e os yogis, dos que mais têm escapado ao longo da História dos laços e paixões do mundo,  viram por vezes os seus isolamentos  atravessados por estranhas visitações nocturnas, em certos casos as que eles menos desejariam ou esperariam, mas através desses confrontos desenvolveram a sua força de vontade, a que pode fazer exactamente diminuir tanto a impermanência do bem e do espírito como as ilusões, vaidades e opressões que os reis ou dirigentes foram e vão impingindo, obtendo ainda frequentemente a experiência de serem apoiados pelos seres e forças subtis que conseguem invocar, amar e merecer.

Cada ser porém será  sempre um mistério pois não só não nos conhecemos plenamente como também nunca saberemos o que vamos sonhar ou o que o dia de amanhã nos vai trazer ou proporcionar, por mais intuitivos que estejamos, por mais metódicos e regulares sejamos.

É claro que as pessoas com quem queremos ou aceitamos estarem mais próximas de nós, ou mais ligadas afectivamente, transmitem influências, originando encadeamentos de causas e consequências que tanto nos podem arrastar para uma impermanência ou uma infelicidade de valores e realizações, como para nos impulsionar para estágios de felicidade e iluminação, para referir os extremos, que se tocam mais vezes do que se pensa na medida em que este mundo da manifestação psico-física assenta na lei dos opostos e da complementaridade, a qual funciona tanto como lei de atracção e de Amor, como ainda de repulsão ou não Amor, já  estando fora desta polaridade natural o ódio, ao ser uma energia nociva psico-somaticamente,  proveniente dum ser, visível ou invisível, em desequilíbrio negativo, destrutivo, maléfico.

Um dos mais necessários requisitos no nossos dias será então a serenidade pois ela permite o desanuviamento, o discernimento, a lucidez e a ligação com o mundo interior e espiritual, e por isso não nos admiremos por os noticiários tentarem causar medo e apreensões para que as pessoas se percam e se tornem autómatos consumidores do que se lhe impinge mais ou menos sedutoramente.

Evitarmos tais lavagens cerebrais, evitar ou repelir a comunicação social, nomeadamente antes de adormecermos, é importante, não só para preservarmos alguma pureza de intimidade e um bom ambiente onírico, não só porque queiramos ver o que gostamos, numa vida mais ou menos de aperfeiçoamento ou de evolução, mas apenas porque não queremos ignorar o interior mais profundo e espiritual que nos desafia ou interpela, embora sem fecharmos os olhos às imperfeições e erros nossos e dos outros, os quais podem vir a fazer-nos despenhar pelas ravinas de desequilíbrios, doenças, vícios e assim entrarmos em certa impotência, angustia e desânimo, como em tanta gente se verifica, e que as leva a afundarem-se mais nas teias armadilhadas das televisões, consumismos e redes sociais.

Com uma regularidade perseverante deveremos então escapar da mediocridade horizontal e verticalizar a nossa consciência. Assim  foi prática dos iniciados dos mistérios e confrarias antigas concentrarem todas as suas forças em certos momentos orativos e meditativos, pondo  em movimento alinhado, sincronizado ou ressoante as suas antenas internas com as finas camadas do subtil éter por onde poderiam receber as inspirações ou confirmações adequadas provenientes de níveis superiores e supra-sensoriais e seus seres, em geral designados como guias, mestres, anjos, deuses e a Divindade, e: - "Louvada, sentida, acolhida e amada seja Ela em nós e em todos: - Viva Deus, todo poderoso."

Certamente não estamos a propor a demissão da assunção do ser humano como centro independente, mas apenas se aponta a necessidade e humildade de se reconhecer a relatividade das nossas capacidades actuais de conhecimento e execução, e aceitar e desejar as inspirações do alto, as ajudas de espíritos, santas, mestres, anjos e deuses, ou faces da Divindade.

Todos nós nos debatemos por vezes entre dúvidas e esperanças, nas bifurcações do Y pitagórica, ora de face erguida ora cabisbaixa, até podermos ir atingindo esse meio termo, que sempre se enalteceu e que poderíamos chamar de presença consciente, ”singramento do coração”,  abertura firme ao espírito,  e em que a ressonância do som, palavra e mantra, e a disposição de oração mais permanente, se pode efectivaram, mais ou menos conforme as necessidades e a nossa aspiração de libertação e união, e capacidade de por ela lutar...

Todavia a nossa vida é muitas vezes mais uma mistura de altos e baixos, de forças e fraquezas, de certezas e questões irresolúveis, de que a tal oração sem cessar, ou plena consciência permanente, pelo que em geral não estamos suficientemente alinhados e orientados para sabermos se os passos que estamos a dar serão os melhores quanto às direcções e resultados.

Caber-nos-á pois ter mais presente diariamente quais os estados conscienciais, os sítios ou os objectivos em que queremos estar ou atingir, e discriminar os meios mais apropriados e, logo, fazermos ou aplicarmos tais meios e demandas no Caminho, tanto mais que para muitos o sol da vida já vai alto e os resultados anímicos substanciais são escassos e demoram a formar-se...

Se é a sobrevivência, a saúde, o dinheiro, os prazeres, a família, a verdade ou Deus o que mais vale na vida, só cada um o poderá decidir por si. E nestas escolhas todos deveríamos ser originais, independentes, hereges ou heterodoxos, se não queremos continuar a estar vendidos, alienados, manipulados e escravizados.

Este despertar, perseverante, é certamente custoso, pois teremos de vencer hábitos e instintos, pressões sociais e gregárias, mas sempre foi dito que o caminho para o cimo da montanha, para o céu, para a luz e ao amor, é dificultoso, áspero, ad astra per aspera.

Saibamos pois criar, cultivar e comungar do fogo de aspiração ao amor, ao espírito e à Divindade e, como fiéis e cavaleiros e cavaleiras do Amor, vencer dinamicamente as preguiças e dispersões, e prudentemente as censuras, ameaças e estocadas.

É discernindo constantemente a verdade da mentira e meditando frequentemente, que conseguimos sonhar e viver melhor e, mais ligados às profundezas e altitudes interiores, unificar-nos animicamente e sentir a adoração grata à Divindade, nossa fonte primordial.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2021

Fragmentos de um livro de subidas às Montanhas. Com fotografias do Gerês transmontano.

                                                   

Não haverá muitas melhores maneiras de conhecer a alma das pedras e penedos, cristais e fragas, vales e montes do que subir a uma montanha, escalá-la com a força das mãos e dos pés, da alma e do espírito e encontrar os apoios imensos que ela nos dá para não cairmos e para chegarmos onde queremos parar e sentir, orar e contemplar, e a alma expandir...

Cumprido o esforço ascendente, ela pode oferecer-nos cadeirões, em 1ª fila, de gigantescos anfiteatros donde avistamos o horizonte imenso, qual mundo desdobrado aos nossos pés, abrindo-se por sucessivos planos ao infinito. Já outras vezes elas são ao longe catedrais naturais nos seus recortes e cumeadas permitindo-nos, frente ao sol nascente ou poente, filtrado por nuvens de efeitos sublimes, sentirmos a adoração à Divindade cósmica e intuirmos e participarmos no templo espiritual da  Humanidade. 

Outras vezes abrem-se e desvelam-se em recantos inesperados, frondosos e frescos do arvoredo ou abruptos e dilacerantes do matagal, solitários ou com aves e animais que nos encantam. Mas testam-nos, obrigando-nos ao esforço, à atenção plena, seja nas subidas como nas descidas, e em que um pé em falso, uma distracção pode significar queda e aflição.  Isto e muito mais nos oferecem com muito amor as pedras, as fragas grandiosas, os trilhos e caminhos das montanhas, tal por exemplo, das que conheço melhor, do Gerês, Marão, Estrela...  

Mas muito mais nos transmitem se damos tempo a que os ventos soprados por entre elas limpem os nossos ouvidos e olhos, por vezes pedindo-nos mesmo para tirarmos os óculos, se os levamos, limpando-nos os ouvidos e os olhos algo até molhados e, sentados, oremos, meditemos e contemplemos o tempo suficiente para recebermos intuições, das árvores e penedos, nuvens ou horizontes, anjos e espírito...


É natural suspeitar-se da maior acessibilidade da vida invisível nestes altos e cimos de montes rarefeitos, entrecortados com anfiteatros e clareiras revestidas de árvores centenárias e de erva bem verde, quem sabe se para danças das subtis fadas e sílfides, rodeadas de sisudos e acerados penedos, os quais mesmo assim vão-se derretendo em grãos de mica e quartzo, esboroando-se ao longo dos séculos, para constituírem com mais alguma matéria orgânica o solo, o nutriente do reino vegetal e sobre o qual o animal e o humano se erguerão, alimentando-se e gerando novas formas de vida, mais livres e ricas de movimentos, de expressão, de qualidades.

 Como faces mudas e quedas emergem do solo,  poderosas e estranhas, meio humanas meio espíritos da natureza, em figurações de índios dos Andes, anões, budas. Mas não são apenas força e poder o que a almas das penedos nos sugere e transmite por associações interiores. Muitas vezes é fragilidade, suavidade, ligeireza, tais as pedras bolideiras, ovais quase a balançarem nos cimos, parecendo bocas abertas ao infinito, ou ovos que ecoam o Caos primordial ou as explosões vulcânicas que as projectaram remotamente e agora docemente se deixaram amestrar por uma mão que nelas se pousa e as faz oscilar, e até com palavras ou orações tremer e irradiar.

                                  

Dos cultos e ritos que as pedras proporcionaram ou ainda providenciam todos adivinhamos pela riqueza infinita de práticas que as anfractuosidades, covinhas, orifícios, regos, inscrições e picos permitem, e nelas podemos até colocar alguma estatueta portátil, ou ver os alinhamentos e interacções do Sol e da Lua em harmonia com elas. Mas também podemos trabalhar os elementos, tal a água que sorvemos ou o óleo que se derramou, ou o fogo nelas ateado, em chama que crepita e se ergue para o alto, por vezes com  tomilho, rosmaninho ou alecrim encontrado junto aos trilhos, ou trazido com incenso de antemão.

Algumas destas fragas, difíceis de se escalar, são verdadeiros cavalos onde nos encavalitamos e ora observamos as maravilhas envolventes e descobrimos novas faces ou facetas que nos são presenteadas, ora pressentimos as correntes telúricas que passam por nós e nos fortificam, ou apenas comungamos gratos com o que sentimos de imenso,  infinito, eterno.

                                   
Por vezes intuímos nas fragas, ou em árvores, faces sorridentes de gnomos e anões, divertidos por verem um humano a sondar a alma das pedras, ou os animais que elas nos sugerem, no fundo a alma do mundo que as sustenta. E assim figuras míticas, psico-mórficas ou imaginadas surgem do ambiente e da memória colectiva, tal o gato da Alice nos país das Maravilhas, ou o Dragão, a Serpente, o Urso, o Cão, o Sapo, o Lagarto e, graças a essa nossa capacidade receptiva plástica que abre as portas, ou usa a chave da receptividade empática, podemos ir mais fundo na comunhão com a Natureza e a sua pluridimensionalidade de seres e informação.

Há  fragas ou pedras que são tão ricas de formas e funcionalidades e que se abrem em grutas convidativas a nelas se penetrar e até mesmo deitar, pedindo-nos: - "Deita-te aqui amigo". E aí estamos nós presenteados com uma cama de colchão de relativa suavidade, com erva e giestas à mistura, com vista directa para o céu e por vezes travesseiro de musgo. Quantos animais ou seres ali se protegeram, descansaram e refrescaram? Que conversas ou ritos aqui se travaram?

E tudo oferecido gratuitamente apenas com a condição do nosso corpo espiritual vibrar com o subtil das pedras e gruta e, de algum modo osmótico, conseguirmos intensificá-lo e concentrar-nos.

Mas as forças anímicas que realizamos nestas fragas ocas, nestas trocas calmas, nestas aberturas para o céu, nestas meditações, com guardiões esfíngicos rodeando o nosso corpo, ligando o céu e a terra, são sempre um mistério, mas querido, apreciado e assimilado ainda que semi-conscientemente...


Por vezes descobrimos nos penedos pedras viradas para o Sol nascente e a contemplá-lo diariamente há milénios: são as pedras contemplativas, algumas já só cabeças, o resto  desagregado para os solos férteis dos arredores e até, com as chuvadas, dos vales mais distantes, elas só mantendo ainda certa comunhão com as alturas, as nuvens, as estrelas cintilantes e cadentes e, quem sabe, com os Devas e espíritos celestiais e solares...

Em cada subida a um monte ou uma montanha, através sobretudo das esforços e conseguimentos,  esculpimos o nosso corpo espiritual e não o deixamos mais apenas potencial adormecido mas antes o dotamos de alturas e relevos, cores, profundidade e infinitude,  e o que foi sendo trilhado e vencido, sentido e assimilado fica no graal do coração e estará sempre pronto a arder e a iluminar-nos e impulsionar-nos....

                             

domingo, 12 de dezembro de 2021

Da meditação e do discernimento. O Y pitagórico e as escolhas e vias mais luminosas, agora e no além.

 É vital cada alma ir lendo e escrevendo, reflectindo e meditando, dialogando e tentando compreender-se melhor, tanto a essência ou espírito, com o seu projecto de vida, como o que cada um vai sendo e projectando, conhecendo e realizando no mundo, que pode não ser o que o seu espírito quereria ou devia, mas o que resulta face às características e limitações da sua educação, treino e pessoas que a afectam ou com quem se associa, nomeadamente nas interacções sociais,  frequentemente algo alienantes ou superficializantes...

Discernir a actividade justa ou a ser elegida prioritariamente pela sua criatividade e utilidade, beleza e valor, é algo que diariamente nos  desafia, entre a liberdade de escolhas que possamos desfrutar, com consequências importantes para nós e os outros, e até para além  desta vida. Infelizmente não estamos conscientes do que haveremos de encontrar e vivenciar no post-mortem, tanto mais que a Arte de Bem Morrer, por exemplo trabalhada pelos pitagóricos e Erasmo, não se pratica e escapa-nos portanto o que de mais necessário ou valioso  deveríamos realizar em vida física terrena...

                                     

"- Foste à Terra física, recebeste tantas energias e apoios no teu caminho, e o que realizaste em ti e levas contigo, e o que partilhaste ou transmitiste aos outros e deixas a frutificar?

 - Quantas vezes pensaste, meditaste e escreveste sobre o que és,  sabes,  podes, fazes e no que te deves aperfeiçoar para  melhorar o conhecimento e o amor, a justiça e a fraternidade na humanidade e no planeta?

Todavia, dispersamo-nos demasiado com as pessoas, as notícias, os filmes, o mundo, a internet, as redes sociais, os objectos, as roupas, as comidas e enfraquecemos o essencial:  a vida harmoniosa e criativa, a realização interna espiritual,  e a adoração e a religação à Fonte Divina. Ora são estas conexões  que nos dão forças e capacidades de melhorar o nosso alinhamento e discernimento e e diminuirmos ou vencermos assim ilusões e dúvidas, obstáculos e erros. 

Quando meditamos diariamente, tendo como base o querermos aprofundar os mistérios da vida e cumprir os desígnios mais elevados possíveis, gera-se uma  harmonização da aura, alma e espírito e uma elevação de ligação que nos permite obter como que "foto-radiografias" de nós próprios e até dos outros, e vislumbres do que devemos fazer ou ser.

As pessoas porém meditam pouco, desconhecem estas capacidades e utilidades orientadoras que os momentos de meditação nos proporcionam e deixam-se distrair e abafar por muita energia, matéria e informação, tanto artificial como desnecessária, e assim  não conseguem sentir bem ou deixar vir ao de cima o seu interior, a sua alma profunda, em cujo centro ou topo está o espírito imortal que somos e no qual e pelo qual nos fortificamos e o mistério da Divindade pode ser vislumbrado ou até algo sentido, amado e adorado.

Hoje em dia a maioria das pessoas não acredita ou não liga ao Ser Divino, ou então tem uma noção muito simples e passiva: a de se aceitar que existe algo, ou, vamos lá, Alguém, de superior a tudo, num acreditar  pouco frutífero e incapaz de se tornar o crer e o querer necessários para libertar-nos de falsas identificações e vencermos tendências e hábitos e assim criarmos momentos em que nos religamos mais ao espírito, ao mundo espiritual e os seus seres e à Divindade, e nos quais recebemos inspirações, bênçãos e graças, que se transmitem depois naturalmente aos outros e ao mundo...

Momentos de meditação, reflexão, escrita,  oração e  contemplação são então essenciais para que a nossa alma se exprima, se auto-conheça, se clarifique e tanto atraia energias luminosas como irradie as suas próprias, em ondas e círculos vastos ainda que subtis...

Claro que há sempre muitos mistérios na vida, desde os mais metafísicos e cósmicos, que a Humanidade ainda pouco discerne, até aos mais pessoais de erros e falhas que cometemos, sobre nós e sobre os outros, porque estivemos ou estamos distraídos e ignorantes, egoístas e oportunistas ou convencidos.,,

Face a tais mistérios da vida e dos caminhos de conhecimento e realização, muitos instrutores e escritores se ergueram, frequentemente mais iludindo e complicando, enchendo as cabeças dos seguidores de diagramas e cabalas, iniciações e portais, textos secretos e profecias,  mestres ascensos e pleidianos e as pessoas já não conseguem discernir que o caminho tem o seu Oriente ou Norte no interior de cada ser e é apenas a vida justa ou harmoniosa e o recolhimento psico-espiritual que o desvendam e nos vão despertando e intensificando os sentidos, a identidade espiritual e as ligações superiores...

Também frequentemente encontramos  hesitações quanto às veredas mais adequadas, os objectivos mais importantes,  os trabalhos, relacionamentos e responsabilidades a assumirmos, seja profissionais e  familiares ou de criação artística, literária e científica, seja de realização espiritual, ou ainda de dinamização e irradiação interactiva, abnegada e social...

Ora de tempos muito recuados, da Grécia clássica, mitos, histórias, ensinamentos e símbolos valiosos brotaram a propósito dos caminhos e escolhas certas e erradas, e dos primeiros encontramos nos Trabalhos e Dias de Hesíodo (750 a 650 a. C.), em algumas sequências de versos, tais as iniciadas no v. 212, ou no 287, que traduzimos a partir da tradução  francesa de E. Bergougnam e da portuguesa de Alessandro Rolim Moura:  «A miséria (ou prazer viciado) apanha-se facilmente e mesmo em abundância: o caminho é plano e está muito próximo. Mas no caminho da virtude os deuses imortais puseram o suor. Longa e escarpada é a vereda para ela, e ao princípio pedregosa; mas quando se chega ao cimo, torna-se então fácil, por  dificultosa que seja». 

Tal escolha entre o vício e a virtude, ou entre o que será bem e o que será mal, a partir dos ensinamentos pitagóricos, referidos em autores como Xenephon, Pérsio e outros,   foi simbolizado  na vigésima letra do alfabeto grego, o Y, denominado então como o Y de Pitágoras, o ípsilon (que se lê até mais upsilon), e ao longo dos séculos tal símbolo, referido por vezes também como o bivium, a dupla via, foi sendo comentado por alguns seres luminosos e conscientes da Filosofia Perene ou da Tradição espiritual perene e pitagórica. 

A dificuldade ou perigo das escolhas realizadas sem discernimento encontra-se em verdade em todas as tradições, em muitas histórias, cantos e contos, e foi realçada na civilização greco-latina não só em Hesíodo mas também nos míticos e simbólicos Trabalhos de Hércules, na escolha de Páris na Ilíada de Homero (tão representada na arte), na Eneida de Virgílio, ou ainda na Tábua de Cebes, havendo também referências claras no ensinamento de Jesus (e dos seus seguidores) ao caminho largo e o estreito, de facto no próprio Y assinalada, já que um dos braços o da esquerda é mais largo.

        Para alguns pitagóricos espirituais, essa subtil fraternidade ou irmandade de almas que vivas na Terra ou já nos planos espirituais tentam trazer mais harmonias cósmicas e divinas às pessoas, é valioso meditar com esta letra gráfica, a de uma linha vertical que se bifurca em duas levemente diferentes na espessura, com todas as associações que podem vir à consciência...

Assim, quando meditamos e contemplamos imaginalmente o Y do caminho ascendente e da escolha certa, não só estamos a galvanizar as nossas forças interiores para a mais alta realização possível, como estamos também a criar um vaso por onde as energias do alto se podem derramar em nós, por vezes sendo possível pressentirem-se as consequências ou karmas que virão no futuro, se assumirmos o avançar por um ou outro dos braços.

 A harmonia de vida do ser humano, tão necessária até para a subsistência dos eco-sistemas planetário, é uma luta diária, criativa e subtil que para ser bem realizada deve apoiar-se na ligação a seres e correntes de sabedoria que sulcam o Cosmos e os seus subcampos unificados de energia, consciência e informação, pelo que devemos estar bem atentos às pessoas, grupos, relacionamentos, ideias ou práticas que nos  atraem ou envolvem, sobretudo nos dias de hoje quando qualquer ser se erige ou arma em sacerdote ou mestre, curador ou sábio, líder ou iluminado e propagandeia, vende, manipula...

Que nas nossas reflexões e meditações o Y Pitagórico nos inspire a conseguirmos escolher a via direita ou correcta diariamente, qual bússola da verdade, outra expressão e imagem simbólica em uso nas almas peregrinas espirituais...

 E como referimos a existência ao longos dos séculos da fraternidade espiritual pitagórica, concluamos com alguns nomes portugueses a ela ligados através de um poema em latim consagrado ao Y, dado à luz e traduzido na Ortografia da língua portuguesa de João Franco Barreto, impressa pela primeira vez em 1671, e onde se podem ler adscritos a Virgílio (71 a 29 a. C., um neopitagórico pois manifesta certos aspectos da tradição e escreveu um discurso em nome do mestre de Samos, imaginando-o a partilhar a sua sabedoria), mas que serão obra de um tal Maxilimo. 

Alguns  anos mais tarde o sábio padre teatino Rafael  Bluteau (1638-1734, francês, mas sessenta e seis anos em Portugal), autor do tão volumoso quão valioso Vocabulário Português e Latino,  de novo transmitiu tal poema na sua Prosa Simbólica, de 1728, embora só na versão original latina, utilizando-o a propósito de Alvedrio, ou Arbítrio e comentando-o levemente, o que um dia comentaremos. 

 Será já no final do século XVIII que o impressor humanista Luís de Azevedo publica em 1795, em apêndice final, na primeira edição portuguesa dos Versos de Ouro, por Fernando Pessoa dactilografado, tal como publiquei e comentei em Moral, Regras de Vida e Condições de Iniciação, 1988, o poema latino e a tradução por João Franco Barreto (algo livre) e que hoje avança mais um passo nesta catena aurea de transmissões: 


"De Pitágoras parece
A letra em ramos partida,
Que os dois caminhos da vida
Aos olhos nos oferece.

A via da mão direita
É a da virtude, e tem
A entrada difícil, bem
Apertada, e muito estreita.

Mas no cume seu mais alto,
Que parece inacessível,
Acha descanso aprazível
O que vai de forças falto.



A via larga nos mostra
Caminho suave e brando,
Porém ao cabo chegando
Nos precipita, e nos prostra.
Quem pois por amor somente
Da virtude não temer
Trabalhos, poderá ser
Louvado, e honrado entre a gente;

Mas aquele, que seguir
A preguiça, e o inerte
Regalo, sem que o desperte
Louvores de outro ouvir,
Em quanto faz nesciamente,

Por que os trabalhos esquive,
Sempre torpe e triste vive,
E acaba mais tristemente. "

Como vemos esta letra Y dos pitagóricos no poema é significante da necessidade de sabermos optar pelo caminho estreito ou esforçado mas correcto e luminoso, o da virtude, da meditação, do trabalho, e não enveredarmos pela estrada larga dos prazeres, do egoísmo, da irresponsabilidade, do consumismo televisivo, da alienação, da confusão...

Inspiremo-nos pois mais no Y, que pode até ser usado como som de unificação e coluna interior, já I ou IU, e saibamos escolher ou determinar-nos dentro ou em sintonia com um dos lemas da Tradição espiritual portuguesa, Talan de bien fere ou Talent de bien faire, usado primeira vez entre nós por um dos irmãos da Ínclita geração, o Infante Dom Henrique, e que significa "tentando fazer o bem", ou ainda "fazer o Bem com talento"... 

Vibremos, estejamos, mais no Bem, no Amor e na Verdade ou nas suas veredas e montanhas, auras e criatividades...

Do livro em gestação, Ensaios Espirituais...  YYY... 

sábado, 11 de dezembro de 2021

Poemas do Amor e do Coração espiritual. Gerês transmontano, Verão de 2021.

  

 - Meu coração, porque suspiras tu?

Que desassossego é esse de estares sempre a ir à janela?

Ele escutou-me e calou-se como que envergonhado.

Mas, depois, replicou-me serenamente:

- Sofro da coita do amor,

Ardo por ninguém e alguém,

E assim busco no horizonte

Vulto ou ser conhecido ou amado.

- Não vês que a esta hora do dia ou da vida

Já é tarde demais para alguém chegar?

O coração refluiu sobre si e respondeu-me:

- Não sabes nada do sofrer do amar:

O coração que arde busca outro peito para inflamar.


- Mas se não te aparecer alguém, o que farás?

- Neste alto monte em que me encontro

Quatro ligações posso encetar: aspirar e meditar, invocar e criar.

E com tal me devo contentar e alegrar, ser e estar.


Dia 23-VII, pelas 21:58, Gerês Transmontano. Melhorado e partilhado às 0.00 de 12-12-2021.   Lux Dei!

Pintura russa antiga, parafraseada nos dias de hoje por Pedro Manuel Teixeira da Mota...

Estampas levemente antigas com pinturas de artistas russos, com legendas actuais, minhas. Faltará decifrar as autorias e legendas escritas no, para mim, praticamente desconhecido mas belo alfabeto russo, em que tantas obras primas foram escritas, enriquecendo tanto a Humanidade, rumo a uma maior unidade com a Divindade, fonte do bom, do belo, do justo e do verdadeiro...

Não chores. Libertaste-te dum companheiro que não seria o melhor para ti. Sê livre. Morre mas renasce!
 

        Neste retiro nas montanhas, lendo, meditando e contemplando, a minha alma não poderia deixar de pensar em ti e desejar que estejas bem e consigas vencer todos os obstáculos que nos separam e chegar até mim.

        I am geting better all the time. My heart is in a soft and hopeful mood. We shall meet. Stay strong!

                   Que as maiores adversidades não nos façam perder a fé mas antes, através delas, vençamos os medos e desânimos e manifestemos as melhores qualidades ou virtudes de fortaleza, ética e espiritualidade.

I shall cross all the dangers and troubles, pains and sufferings with strong will and  my inner heart open to the Divine and the Helpers...

                                               

Este nascer do sol tão suave e belo, esta maresia que adoça os meus pulmões, esta música que escorre dos meus dedos e coração são um hino à  existência natural e amorosa.

Eu tenho força, paciência e fé e tal, como dia amanhece e desponta, assim avançarei na luz e no amor, na plena consciência e maior unidade!

Love is being manifested all the time, even if wars are happening. Let us fight for the truth, justice, fraternity and Love, and we shall win in the eternity, like the Divine Sun is  shinning forever...

 Com a bela e tão valiosa Tradição russa, saibamos erguer-nos com a aurora do Sol físico e espiritual e, criativamente, perseverantemente, manifestar a Hagia Sophia, a Sabedoria Perene...

quinta-feira, 9 de dezembro de 2021

Aniversário do Infante Dom Pedro, das Sete Partidas, um heróico Fiel do Amor e do Dever, do Saber e do Ser.

É a 9 de Dezembro  que se cumprem os anos do Infante D. Pedro, o das Sete Partidas, nascido de D. João I e D. Filipa de Lencastre, em 1392, como segundo filho vivo, o 1º tendo sido D. Duarte. O corpo da sua empresa foi uma balança, com a divisa Désir, ou seja, sobre uma base de equilíbrio e justiça, flameja o desejo-aspiração-amor do Amor e do Bem, entre ramos do áspero carvalho, uma das árvores mais características de Portugal, resistente, forte. Fernando Pessoa cantou-o ou celebrou-o na Mensagem, com grande mestria ética, quase que numa Oração da dignidade humana, íntegra, heróica:

«Claro no pensar, e claro no sentir,
E claro no querer;
Indiferente ao que há em conseguir
Que seja só obter;
Dúplice dono, sem me dividir,
De dever e de ser».

Não me podia a Sorte dar guarida
Por não ser eu dos seus.
Assim vivi, assim morri, a vida,
Calmo sob mudos céus,
Fiel à palavra dada e à ideia tida.
Tudo o mais é com Deus!»

Saibamos também nós, hoje, ser fiéis às ideias tidas e às palavras dadas...

Estudioso, culto, esforçado, e armado, cavaleiro em Ceuta em 1415 e depois da batalha nomeado Duque de Coimbra, ducado que bem geriu vários anos, casado com Isabel de Urgel de quem teve descendência, peregrino do conhecimento e do valor pela Europa de 1425 a 1428, foi contudo infausto no final da sua valiosa regência de Portugal, para a qual fora aclamado pelas cortes de 1438, ao ser morto em 20 de Maio de 1449, quando se dirigia para Lisboa, na batalha de Alfarrobeira, desproporcionada numericamente quanto às forças, pelas tropas do seu sobrinho, o rei D. Afonso V, de 15 anos de idade então, e do invejoso (já que era filho bastardo ou natural de D. João I) Afonso, 8º conde de Barcelos pelo seu casamento com a riquíssima filha de Nuno Álvares Pereira, e feito até por Dom Pedro 1º duque de Bragança, sem dúvida o principal culpado da morte trágica de tal príncipe, que ficou no campo da batalha três dias, antes de ser levado às escondidas para Alverca e depois Abrantes, até ser  sepultado na capela própria da família no mosteiro da Batalha em 1455, graças à desgraçada da sua filha Isabel, casada com o tão manipulado D. Afonso V. O próprio cronista real Rui de Pina dirá na Crónica de El-Rei D. Afonso V: «o juízo del-Rei por sua não madura idade e pelas falsas opiniões em que a criavam, andava de todo emnovoado». 

Foi uma governação benéfica aos portugueses e na qual ouviu e respeitou as vozes municipais, concluiu e publicou as Ordenações Afonsinas, impulsionou traduções, reformou a Universidade, fez mecenato das artes e apoiou o começo dos Descobrimentos, seja trazendo  de Veneza o Livro de Marco Polo e um mapa mundi, seja apoiando a descoberta de novas terras em vez das conquistas do norte de África, em tudo prudente, sábio e independente, tal como afirmou no conselho reunido para deliberar a ida falhada a Tânger: «O principal intento é servir a Deus; peço-vos por mercê que saibais como o deveis fazer, e não como quereis ou podeis». Tinha por isso também como empresa um rochedo atravessado por uma espada, empunhada por uma mão saindo das nuvens, símbolos da união da sua vontade, activa na matéria mais densa, com a vontade Divina, ou seja, da sua acção sob a intuição e comunhão com o Alto e o Divino, a tal ideia ou visão tida...

Deixou-nos o Livro da Virtuosa Benfeitoria, a arte de fazer e viver o bem firmemente, em grande parte uma tradução de Cícero (transcrita de manuscritos e dada à luz só em 1910 graças ao labor de Sampaio Bruno), e em cuja dedicatória belamente começada: «Vosso servidor por obrigação de sangue e de nação, e pura vontade; vossas mãos beijando humildemente, em mercê e bênção vossa me encomendo: Senhor muito nobre de grande alteza, porém que de bosques de muitos cuidados e de grandes rochas de feitos estranhos seja cercado o vosso coração», lembra a seu irmão e rei D. Duarte que«o sabedor de feitos alheios não tem em costume julgar de ligeiro (...) e assim as nossas vontades sempre fundemos em as perfeições mais altas e maiores das nobres virtudes».                                                                   

O Livro das Sete Partidas do Infante D. Pedro, já de um misterioso Gomes de Santo Estevão, não datado mas impresso em Sevilha provavelmente 1515, ou mesmo de antes pois há citações anteriores da sua existência, nomeadamente na Biblioteca de Cristóvão Colombo,  narra fantástica e simbolicamente a sua longa peregrinação-viagem com doze companheiros, na qual  passam pelas cortes sucessivas de Castela, Veneza, Turquia, Arménia, Babilónia, lugares santos da Palestina e  Egipto, e ainda peregrinam ao túmulo de S. Tomé,  ao convento de S. Catarina no Sinai, à terra das Amazonas para finalmente chegarem ao tão mirífico quão mitificado reino do Preste João, o qual, após algumas semanas de diálogos e visitas, entregará à despedida a D. Pedro uma carta de apelo à união dos reinos cristãos e bem mitificadora do seu reino e poder, para os seus irmãos de Hespanha, aonde os treze chegarão via Fez e Sevilha. Será um livro de imenso sucesso na Península Ibérica durante quatro séculos, embora a 1ª edição portuguesa seja apenas de 1602, como um  livrinho de cordel muito popular mas cheio de informações (muitas fantasiosas mas também com simbolismos) sobre o mundo, ao estilo  de relação de viagem e de cavalaria  de conhecimento e de devoção mas não de guerra, ou não fossem 12 companheiros ou discípulos e Dom Pedro, e  assim o próprio D. Quixote, de Miguel de Cervantes, paladino dos últimos Cavaleiros andantes, tal como entre nós foi Jorge Ferreira de Vasconcelos, nomeadamente no seu Memorial das Proezas da Segunda Távola Redonda, o citará, numa mensagem perene do  valor da viajem ou peregrinação livre e de sabedoria e fraternidade...
Nas últimas décadas muitos estudos  têm sido dedicados ao nobre infante D. Pedro, que preferiu morrer lutando com nobreza do que viver espezinhado e a maus seres subordinado, tendo sido publicadas as Actas do Congresso Comemorativo do 6º Centenário do Infante D. Pedro, 1992, in-4º de 550 páginas, com vinte e sete comunicações de reconhecidos historiadores, e entre muitas outras obras mencionaremos ainda as  de Lita Scarlatti, Artur Moreira de Sá,  Baquero Moreno, Júlio Gonçalves, Fernanda Durão Ferreira e Alfredo Pinheiro Marques, estes dois últimos autores com os valiosos e relativamente recentes, Gomes de Santo Estêvão e o Livro de D. Pedro, e  A Maldição da Memória. Do Infante Dom Pedro  e as  origens dos Descobrimentos Portugueses, a primeira bastante arriscada em algumas das suas propostas de identificação da narrativa das sete partidas...
                                        
 Na verdade, o Infante Dom Pedro das Sete Partidas, um cavaleiro ou fiel do Amor, é um dos mestres da grande Alma Portuguesa e da sua tradição espiritual. Que saibamos merecer ser por eles inspirados nestes tempos tão turvos ou, como outrora, emnevoados por fraquezas e ambições, ganâncias e manipulações, e por isso mesmo mais desafiantes e despertantes...

segunda-feira, 6 de dezembro de 2021

Bô Yin Râ. "Das Gebet", "Da Oração": Na escuridão profunda... Texto bilingue, tradução de Pedro Teixeira da Mota

                                              

 In Tiefer Finsternis                   Na Escuridão Profunda

 «Nich mehr betten,                                      Não mais rezar,

Nich mehr rufen, –    –                                 Não mais apelar,

Schreien…                                                   Bradar ...

Kann ich nur                                                Posso eu só

Um Licht!                                                    Pela Luz!


Verwirrt,                                                    Perturbado,

Verirrt,                                                        Perdido,

Vermag ich nicht                                         Eu não consigo

Mich noch                                                   Mais

Zurechtzufinden                                          Reencontrar-me

Im tiefen Dunkel                                         em funda obscuridade envolto.

um mich her.                                               .


Zerqualt,                                                       Atormentado,

Verängstet,                                                   Atemorizado,

Schreie ich: –                                               Grito eu:

Schreie                                                         Chamo

Um Licht!                                                    Pela Luz!


Lichte Liebende                                             Iluminados seres de amor

Last nicht allein                                             Não me deixem só

Mich in Marter                                              No martírio

Wilder Verzweiflung!                                    Da desolação tremenda!

Trostberaubt!                                                 Privado de consolação!

Selbst vom Scheine                                       Mesmo do brilho

Scheinbaren Trostes                                      Da aparente consolação

Langst verlassen!                                          Há muito abandonado!

 

O betet Ihr fur mich,                                      Ó,  orai  vós por mim,

Die Ihr                                                           Vós que

Im Lichte lebt, –                                            Na Luz viveis,

Denn ich – –                                                  Porque eu 

Kann nicht mehr                                            Não consigo mais

Beten!                                                            Orar!


Hört mich!                                                         Ouvi-me!

Erhoret                                                               Escutai

Meinen Schrei!                                                  O meu clamor!

Ich schreie zu Euch, –                                        Eu clamo por vós, – 

Schreie                                                               Grito

Aus meiner tiefen,                                             Das minhas profundezas,

Tiefen Not                                                         Profunda necessidade

Um Licht, –                                                       De Luz,

Auf das ich…                                                    A partir da qual eu...

Wieder…                                                           De novo...

Beten konne!! »                                                 Possa orar!!