sexta-feira, 26 de julho de 2019

"O Livro do Deus Vivo", de Bô Yin Râ. Cap. XXI. Fé, Talismã e Ídolo. Trad. de Pedro Teixeira da Mota,

                                                   
                            Cap. XXI. Fé, Talismã e Ídolo.
 
«Simples como o fundamento Primordial são os últimos segredos da Natureza.
Não dissocies pela arbitrariedade dos teus pensamentos, o que germina da mesma raiz, e descobrirás em toda a parte as mesmas leis...
Ensinaram-te  porém a edificar um segundo mundo, um mundo sem fundamento nem causa primordial, e a essa edificação do não existente a partir do Nada chamaram os teus instrutores:- "Fé".--
Não é deste tipo de "fé" que devo conversar aqui, quando te falo da Fé!-
Esta não é a fé necessária à felicidade da tua alma!--
Queremos  abrir antes a tua sensibilidade para uma força eterna, que vive em ti, e que,  incessantemente em movimento vivo, constantemente criadora, reúne as Forças da tua Vontade na acção formada.-
A Fé é  força criativa no Espírito!
A Fé modela a forma, através da qual se define a acção da tua vontade!
A Fé é a forma de acção da Vontade!
Não podes verdadeiramente querer, sem acreditar,- pois uma vontade informe é uma força diluída e como tal desperdiça-se sem efeito.--
A partir do instante porém em que, pela tua Fé, conferes uma forma precisa à tua vontade, ela tornar-se-á uma força poderosa, capaz de transformar de tal modo os elos, aparentemente ligados solidamente, da corrente do devir exterior, que estes se podem moldar como a cera segundo a forma da tua Fé...
A tua alma suspira, enquanto não consegues ter fé, e na necessidade é capaz de te desviar para a superstição!--
A "Vida" da tua alma é Vontade, e toda a Vontade deseja ganhar a sua forma precisa na qual possa chegar a ter efeito.--
Quando sentires pela primeira vez, o que a “Fé” realmente é, então poderás verdadeiramente acreditar...
A tua Fé é o modelo, segundo o qual adquire forma o minério fundido do teu destino.-
A tua Fé precisa de liberdade absoluta!
Tu próprio és a norma da tua Fé!---
A tua Fé forma  para ti numa imagem o teu Deus, tal como ela formou os vossos Deuses...
Informe é a Divindade no seu Ser insondável...
Só formada é que ela se torna para ti sondável!--
Só se te revela a ti na tua forma! 
Por isso não podes mostrar o teu Deus ao teu irmão, pois ele não pode contemplar o teu Deus na eternidade ...
Ele vê a mesma Divindade, mas formada à sua imagem...
Acreditas ainda poder conduzir o teu irmão para o teu Deus mas, se ele se deixasse seduzir, tornar-se-ia um adorador de "imagem", e alienar-se-ia do seu Deus.---
O Um manifesta-se em infinitas desvendações e ai dos que O querem negar mesmo que seja numa só das Suas formas!
No mesmo piscar de olhos, em que descobrires impudicamente a outro ser a tua imagem íntima do teu Deus, terás perdido o teu Deus!-
Não acredites que, entre os milhares que se agrupam à volta de um nome de Deus em altos louvores, haja sequer dois crentes sinceros que acreditem do mesmo modo nesse Nome!-- 
A própria Fé pode contudo, servir-se de qualquer dos nomes de Deus - ou do Diabo...
O poder formador da Fé, que determina a tua vontade, é a única causa de toda a acção "mágica".
Magia "branca" e a magia "negra" enraizam-se no mesmo poder!
Tal como a força natural, que o relâmpago te anuncia, se torna utilizável para o Homem, se ele a souber cativar na forma, - ao poder ser retida e conservada em metais e recipientes, - assim também se deixa o poder da Vontade, que encontrou a sua forma através da Fé, aprisionar em objectos da matéria...
Em todos os cultos e em todos os povos encontras a mesma crença em objectos "consagrados", que têm em si forças elevadas.
Escarneces dessa crença e chamas-lhe "superstição".
Se queres atingir unicamente as fábulas que serpenteiam como trepadeiras em volta de tais coisas, tens toda a razão, - mas guarda-te de menosprezares a Realidade que está aqui velada!---
Qualquer objecto que tenhas “carregado”, pela tua vontade, claramente formada pela Fé, é um "Talismã", e já experimentaste frequentemente a acção de tais "talismãs", mesmo que nunca tenhas tido consciência da causa da sua acção e que nem em sonhos te tenhas apercebido que tu próprio te rodeaste de "talismãs"...
 O objecto é certamente apenas o portador e guardião de uma força livre em si,- agora cativa nele.---
Ele próprio não a possui!
A tua Fé formou a tua força de vontade e dirigiu-a, a maior parte das vezes sem um conhecimento racional, para esse "portador", que agora a guarda até que ela se esgote.---
Então a tua nova Fé  “recarrega”  o  "talismã", mesmo quando não o tenhas considerado como tal...
Qualquer objecto que uses para  dar bom resultado nisto ou naquilo, sem que ele seja absolutamente necessário para a tua acção, - é um "talismã", mesmo quando tu como um "esclarecido" troças da "superstição" ao ouvires falar de pessoas que se servem desses objectos plenamente conscientes, certas da sua eficácia constante.--
Tu -   és apenas "descuidado", - mas eles "sabem"! 
Semelhante a tal são as imagens dos Deuses!
O fetiche na cabana de um ser da selva, tal como a sublime imagem do culto de Atena.-
A estátua do santo na grandiosa catedral, tal como também a "imagem milagrosa" da capela antiga do mosteiro.-
Todas elas são "suportes" de forças de vontade concentradas de inúmeras pessoas, que através da Fé deram forma à sua vontade e a souberam impregnar nessas esculturas, - ou mesmo em pobres restos materiais provenientes, real ou apenas supostamente, de um  "santo" homem.---
É a Fé dos que rezam diante dessas coisas que "solta" as forças nelas reunidas.-
Por isso ninguém pode soltar essas forças, se não acreditar nelas,- pois só a Fé cria a elevada tensão das tuas correntes de vontade, que obriga essas forças da vontade, acumuladas e claramente formadas através da Fé, a fluir para a tua vontade e unidas a ela a agirem segundo a tua aspiração.---
Nós não queremos todavia influenciar-te a utilizares os "talismãs" de todos os cultos.
Também não queremos sugerir que devas comprovar em ti próprio as elevadas forças das imagens divinas ou "milagrosas", - embora devas manter essas coisas livres da tua troça, se queres conhecer em verdade a Lei, a que elas devem a veneração.-
Deves reconhecer apenas essa "Lei", e o que ela te oferece de possibilidades, se queres aprender a torná-las úteis na tua vida.--
Não estarás sempre com a mesma força de Vontade, - mas, se em tempos de maior vigor criares conservadores das tuas forças, então nos tempos de fraqueza viverás em ti verdadeiros "milagres"...
Qualquer objecto, que gostes de usar, ou que  te rodeia diariamente, poderá tornar-se o portador e o amplificador das tuas forças da Vontade, e poderás então, em momentos que não te sintas à tua altura, "accionar" desse conservador por ti criado as forças que nesses momentos precisas...
Servem idealmente, contudo, para conservadores ou guardiões as coisas de maior beleza !---
O que já deve a sua existência a uma elevada força de formação, será o que melhor conterá para ti a força formada em si.--
Rodeia-te de tais objectos de modo aque, diariamente em horas de maior elevação, possas encher e saturar com o tipo de força formada pela vontade, que necessitarás em horas de fraqueza!
Leva  sempre  esses objectos  contigo, para onde quer que vás!-
Acredita que podes transmitir a tua melhor força a essas coisas, e que as receberás de novo, logo que  necessitares delas!
Verdadeiramente,- esta fé não é nenhuma "superstição"!
Ainda não presentes, quão "reais" são as forças da tua vontade, e quanto poder tens nas mãos, quando aprenderes a "formar" a tua vontade através da Fé!-- 
Não destruas porém a tua Fé com reflexões vãs: - tal como o modo de  a “explicar psicologicamente"?!-
Se alguém te vier falar de "auto-sugestão", não te deixes confundir!
Com tais palavras nada é "explicado"!
Apenas se usa uma  palavra nova, mas com tal não se pode tornar compreensível a actividade que assenta em  forças superiores.--
A Natureza age de acordo com a sua estruturação [art] e não espera que tudo possas "explicar" a sua acção.---
Como  nós vemos as coisas, aprendes nestas minhas palavras.
Se partilhamos a verdade, só poderás certificar-te quando quiseres empreender a prova.---»

"O Livro do Deus Vivo", de Bô Yin Râ. Cap. XX. No Oriente reside a Luz.

                      Cap. XX. No Oriente reside a Luz.
 
«Só poucas pessoas do "Ocidente" pressentem a Verdade, quando ouvem acerca dos "Homens sábios do Oriente", de cuja Tradição antiga se fala em discretos círculos de nobres buscadores da Verdade, - e entre os que pressentem do que se trata,  são ainda demasiado poucos os que conseguem abster-se de representações disparatadas, quando tentam dar uma forma imaginal ao seu "pressentimento".--
No Oriente, no coração da Ásia, a lâmina do pensamento foi afiada ao máximo.
Mas foi aí que já há milénios existiam os Grandes, que acima de todo o pensamento encontraram o Caminho claro para a Verdade, a Verdade que não é outra que a Realidade absoluta, e que nada tem a ver com as imagens de conhecimento mentais nas quais normalmente se crê ter aquilo a que se chama a "Verdade". 
Sob orientação superior encontraram esses primeiros "Irmãos da Terra"  o Caminho e a meta...
Desde então eles e os seus sucessores instruem os que procuram, os que para tal fim foram considerados “maduros”, no espírito através do espírito.
Cercaram o seu cenáculo com a "muralha protectora sagrada do silêncio", e só encontra "acesso" a eles, quem reconhecem como  "maduro" no espírito, para se tornar um conhecedor no espírito.
Sabem que a sua dádiva só é útil para os que têm perto de si o fim dos seus esforços no Caminho.-
Mas a todos enviam do seu Centro instrutores auxiliares, e em todos os tempos os enviaram...
No Ocidente, como no Oriente, sempre houve estes "Irmãos actuantes".
Por nenhum sinal exterior são os membros da elevada Associação identificados.
Só eles reconhecem sozinhos, quem lhes pertence.-
A sua essência espiritual está profundamente oculta aos olhos dos humanos.
Nenhum dos que se fala aqui jamais tentará agrupar uma comunidade à sua volta.
Nunca nenhum fundou ou "fomentou" semelhante comunidade!
O que como "comunidade" surgiu no mundo e se baseou na voz dos "Irmãos da Terra" ou até na dos seus sublimes "Pais" na Luz, foi sempre só obra de almas ainda imaturas, que, através dos sentidos interiores  prematuramente desenvolvidos, se tornaram capazes, como espiões que escutam pela fechadura da porta, de ouvir algo do círculo do íntimo "Oriente", e sem que lhes tivessem sido dados os poderes, para que, além disso, pudessem  interpretar correctamente o que escutaram.-
Só muito raramente  algum dos Irmãos apareceu em pessoa e professando claramente o seu carácter diante dos seus semelhantes no tumulto do mundo exterior, e para cada um que assim agiu esse passo tornou-se um amargo sacrifício...
Onde tais sacrifícios não são absolutamente necessários, devem-se evitar.
Daí o recolhimento, a partir do qual os "sábios Homens do Oriente" agem!--
Daí a discrição que envolve cada membro deste Círculo, desde que a sua missão não lhe imponha a obrigação, seja em transcrições simbólicas, seja em palavras mais claras, de confessra a sua natureza espiritual, a qual na verdade também não se deixa facilmente confessar...
A sublime Comunidade dos Irradiantes da Luz,  pela antiquíssima tradição  d discretos procuradores da Verdade como os " homens sábios do Oriente", está ligada apenas por lei espiritual.
Os seus membros não conhecem votos de ascese nem juramentos de "ordens".
O desenvolvimento das forças espirituais não depende de semelhantes coisas.
Mas o que é requerido pela "Lei", à qual estes poderes obedecem, vai muito mais longe do que a mais dura ascese, ou do que a mais rigorosa vida de penitência...
Terá que se renunciar a muitas representações, que de facto baseando-se em premissas exactas só se referem todavia aos poderes inferiores do ser humano, quando se quiser saber o que é na verdade um "Iniciado" desta União.-
Quem, no entanto, for verdadeiramente um deles, reconhecer-vos-á, imperturbável face às vossas representações erróneas.
O seu "ensinamento" também não será escutado pelo vosso ouvido exterior, - mesmo quando o podeis conhecer "pessoalmente".-
As declarações, que um ser unido ao espírito possa eventualmente fazer no idioma da sua terra, não constituem o seu "ensinamento"...
Elas deverão apenas servir-vos de "indicação" para vos permitir reencontrá-lo, ou quem é do seu género, em vós mesmos: - no vosso mais íntimo.
Também as suas palavras exteriores querem contudo ser "sentidas" e não explicadas, nem desfiadas pelo pensamento!
Quando conseguirdes tornar-vos um dos seus "discípulos", então é no vosso próprio coração que ele vos "falará"...
Nunca tentará porém enevoar os vossos sentidos com sedutores êxtases sufocantes - mas pelo contrário ao lado dos vossos sentidos terrenos ele abrir-vos-á novos sentidos espirituais.
Começareis por apreender ao princípio o seu "ensinamento" sem saber se é o amigo e guia da vossa alma, ou se sois vós próprios, quem em vós "fala".--
Contudo, um sentir consciente, puro e novo, que acompanha o seu "ensinamento", dir-vos-á em breve, o que com voz “sagrada” em vós "é dito":- através do gerar imediato duma clareza interior,- sem palavras da linguagem da boca.
Esta percepção, frequentemente imprevista de todo, completamente inesperada de uma límpida iluminação das coisas espirituais, - cujo brilho vai tão além daquilo que o pensamento lógico habitualmente nos traz como "clareza" - poderá ser-vos crescentemente um sinal certo, de que um verdadeiro "ensinamento" espiritual se gera em vós...
O "ensinamento" espiritual não é "vontade de convencer", mas sim um clarificar imediato acerca do que antes jazia na obscuridade.---
 Um irmão humano "fala" assim em vós que já não tem de enviar as ondas sonoras do ar ao ouvido do corpo, quando ele quer, "ensinando", alcançar corações sensíveis e abertos, que confiam nele...
Talvez de início não possais ainda "compreender" tudo o que desta forma se gera em vós, pois é bem possível reconhecer-se algo com absoluta clareza, sem ser-se capaz de pensar racionalmente  o que foi reconhecido.-
Permanecei calmo em tal caso e não tornais confusa a clareza!
Aprendei sobretudo a distinguir a voz que em vós "fala " das "vozes" falsas da vossa agitada fantasia!-
Permanecei sóbrios e calmos, como se tratasse de observar em vós o que já há muito conhecíeis!
A voz do "instrutor" é no início da "orientação" tão silenciosa, como um pensamento extremamente delicado, como um sentir quase imperceptível.
Mas o guia no espírito não profere uma única "palavra" na sua "linguagem" espiritual, sem que daí não provenha um preciso e distinto "sentimento" de certeza, que, embora difícil de descrever, é com toda a segurança reconhecido imediatamente pelos que o experimentaram, ainda que uma única vez...
Nenhum "pensamento" próprio, e por mais qualidade que tenha, não pode causar nunca esta "sensação", gerada pelo espírito, na qual e através da qual age o mestre espiritual...
Quanto mais crescer a certeza, com a qual aprendeis a distinguir a sua "voz" de tudo o que não é da sua essência, com tanta mais clareza ela poderá "falar" em vós.
Chegará então um dia a "grande Hora", em que a vossa última dúvida, por mais ténue que seja, deixar-vos-á!
Não vos impacienteis porém se não conseguis alcançar  desde já em vós a primeira das metas!
Não sabeis, se já estás  suficientemente "maduro", para receberes o "ensinamento" com proveito, e nisto o "instrutor" assume sozinho a responsabilidade por tudo o que dá...
 A uns a certeza chegará mais cedo, a outros mais tarde, mas chegará certamente quando confiares calmamente no "mestre" espiritual!
Lembra-te também que a verdadeira "sabedoria": - é conhecimento da Realidade, e que os verdadeiros mestres da sabedoria só servem a Realidade, quando ensinam, - a Realidade, que não é o mais complicado do Ser mas o que é em si o mais simples de tudo!---
Existem forças do pensamento, que tentam incessantemente enganar, porque elas próprias vivem só da ilusão...
O professor espiritual está bem longe de tais regiões!
Nunca vos testemunhará  senão das coisas do espírito, das coisas da alma, das coisas da eternidade...
Conhecerás através dele quem és e o que  é o ser humano "em si", - na Realidade, -  no que significa no Cosmos!
Vós tornai-vos, quando confiais em quem em vós vos "ensina", tão seguros como ele próprio está seguro!
A sua própria certeza ele, o certo, te transmitirá.---
Não deves,  porém, nunca levantar questões interiores, antes de chegar "a grande hora da certeza".
Se porém o fizerdes, sucumbireis certamente a forças enganadoras do pensamento.--
Não faças também uma imagem do aspecto e do tipo de pessoa em que o teu professor espiritual possa viver aqui na Terra e, quando conheceres alguém de quem sabes:- aqui está um unido ao Espírito, acautela-te de acreditar logo que só esse que conheces unido ao espírito, seja também o vosso instrutor espiritual!--
Não precisas de saber quem é que, do círculo dos Irradiantes da Luz Primordial, vos ensina espiritualmente, e os que o sabem não o dirão...
Dominai a vossa fantasia, para que ela não vos conduza com os olhos vigilantes por andadeiras de sonhos lunáticos!--
A vida exterior humana do instrutor espiritual só  a ele diz respeito, e ele não quer que se confunda o espírito, no qual age, com a sua confinada manifestação terrena.-
Não quer que os seus "alunos" prestem honras à sua "personalidade", as quais apenas são devidas ao poder espiritual, a partir da qual ele opera.--
Ele  "ensina" a "sabedoria", que o ser humano denomina "verdade", e que em realidade se desvenda ao "aluno"...
Ele "ensina" somente no espírito,- através do poder do espírito.
Pelo que cada um, dos que  desse modo estão autorizados  a ensinar está simultaneamente consciente e sentindo-o muito, de que somente a imperfeição caracteriza a obra de descrição do Real Eterno pelo ser humano terreno, - e cada Resplandecente na Luz primordial "queimará" imediatamente,  as honras que possam ser prestadas à sua personalidade terrena, no altar eterno que serve como um dos sacerdotes nomeados.--»

"O Livro do Deus Vivo", de Bô Yin Râ. Cap. XIX. Da Vida Eterna.

          O Livro do Deus VivoCap. XIX - Da Vida Eterna.
 
«Eu quero aqui  pronunciar-me sobre a "Luz" viva: - a eternamente indestrutível "Vida" , que flui através de toda Humanidade!
Quero mostrar-vos a Luz dos Corações, que em vós vive e vos pode iluminar!--
Todos vós, que desejastes compreender o sentido da Vida,   já sois há muito
"buscadores" no caminho que conduz ao erro.-
Deveis tornar-vos "descobridores", se confiardes nas palavras de alguém que "encontrou"!-
Vós sois reis, que não conhecem o vosso reino! --
Em vós próprios encontra-se esse "Reino", e os vossos olhos  sempre em vão
tentarão avistá-lo, quando o procurais no exterior!-- 
Perguntais sem resposta, e contudo perguntais sempre ainda: - "Onde está a terra, que nos foi prometida?!"
"Estaremos nós a finar-nos, quando  aqui se chega  ao fim, ou poderá depois desse fim o nosso próprio ser viver mais?!-"
Vede: - os que, antes de vós, assim perguntaram, estão em vós, no vosso "reino" interior, e poderão dar-vos de lá a resposta, se não vos tivésseis tornado surdos pelo ruído do mundo exterior.--- 
 
A vossa própria alma é o "Reino dos Espíritos", que viverão eternamente convosco e em vós!--- 
 
Em vós próprios abrangeis o Infinito... 
 
Em vós próprios vive, o que foi, é, e será... 
 
“Omnipresente” é o vosso Ser, - mas o vosso ser está ainda confinado à “ex-istência", e só ao presente, onde esperais a vinda do que nunca chegará!-- 
 
Ainda acreditais que o Reino da Paz é uma terra distante na vastidão das estrelas, e entretanto ele vive em vós e vós nele...
 
Todo o que alcançou este reino dentro de si, é para toda a eternidade "Rei" deste reino!--
Tal como encontrareis ali todo o ser humano na sua vida espiritual eterna, assim vós próprios sereis ali encontrados por todos os que alcançaram em si este reino.
É um Reino único dos Espíritos, mas a cada um dos inúmeros que o encontraram em si mesmo "pertence" este reino como posse inteira, - cada um é "Rei" incontestável desse reino, e o seu reino é "Eternidade",- não de outro modo, senão como se, entre todos os inúmeros, fosse o único "Rei" do reino, que cada um só possui como "o Reino" da sua alma...
 
Não podes alcançar o reino dos Espíritos, fora de ti próprio!-
Só em ti ele te é alcançável.--
Se queres procurar no "exterior", terás que cair na ilusão, pois tudo o que se pode encontrar fora do mundo eterno do mais íntimo do "Eu", é só - “imagem” efémera: - vivência temporária, - tal como a experiência desta vida terrena limitada pela morte...
Aí, onde a alma está consigo mesma, unida no "Eu" e conduzida por ele, encontra-se o "Reino", que perdura eternamente.--
Aí não há mais qualquer ilusão!
Apenas aí se possui a Eternidade!-
O vosso "Eu" só é o possuidor ilimitado deste "Reino"!--- 
 
Inúmeros são os "Reis" desse reino e, cada um que se tornou " Rei do Reino", está em si unido com todos os outros que merecidamente  aí trazem as suas coroas, o único que em todos reina...
Não um ao lado do outro, mas sim um com o outro, e em cada um vivem todos os que aí vivem eternamente!
Assim,  como vós aqui na Terra dizes de uma pessoa, que ela "vive" a sua vida, quando, bem ou mal, a desfruta activamente, - assim também aqui todo o "viver" é um agir, e a "vida" não é apenas a denominação de um estado do ser.-- 
 
Aqui é “Vida”: - a “Luz”, da qual o Espírito brilha, - da qual ele "vive"!---
 
Vós próprios estais "entretecidos" no mundo eterno dos Espíritos, e através de vós flui a "Vida" de todos os espíritos eternos, sem que o sabeis!--- 
Ainda vos sentis no vosso "Eu", - como se vos descobrísseis por enquanto apenas como imagem espelhada nos vossos “reflexos cerebrais”, - como um "ser individual" sem ligação.-
O que é "Vivo", porém, está sempre unido com toda a vida!
Não existe na Terra nada, nem em todo o Universo, nem no Espírito, que possa ter a sua "vida", que seja capaz de viver, - apenas para si próprio!--
Cada "ser individual" é em última instância verdadeiramente o Ser total!-- 
 
Mesmo quando não está dotado do conhecimento necessário para o saber!-
Um Ser Individual só consegue encontrar a sua "libertação" [Erlösung], quando se vivencia no Ser Universal, liberto de todos os outros "Ser individual". 
 
Portanto a "libertação" só vos acontecerá, quando vós no vosso "Eu"; - no "Eu" que vos deve permanecer eternamente obtido, - aprenderdes a sentir, que o "Eu" total só se dá a vós neste vosso "Eu", - dá-se a si mesmo a vós eternamente:- unido a si mesmo! 
 
Em vós: - no "Eu" da eternidade, - está toda a "Vida", e nesta Vida unicamente encontrareis os verdadeiros "Eternos" - os eternamente Vivos!---
Já os teríeis encontrado há muito tempo se, na vossa obstinação e ilusão, não os tivésseis sempre procurado onde eles jamais podem ser encontrados! 
Em vão tentais penetrar os reinos invisíveis deste mundo exterior!-
Mais depressa um dos que vivem na Eternidade poderia "aparecer-vos" na visibilidade, na clara luz solar, do que encontrar-se convosco no mundo invisível físico...
No que  em vós próprios é "eterno" devereis saber submergir-vos, se quereis unir-vos conscientemente com os que estão já na Vida eterna!---»

"O Livro do Deus Vivo", de Bô Yin Râ. Cap. XVIII. O Caminho da Realização.

                      
                       Cap. XVIII. O Caminho da Realização.
 
«Escolhe tu, ó ser na demanda,  logo  para os teus primeiros passos  o caminho da verdadeira Luz, senão poderás facilmente um dia deixares-te aliciar  a trilhares  a senda má da serpente reluzente, quando chegares à base da "Grande Montanha", onde também se poderá vir por sendas furtivas, em vez do Caminho que os Irradiantes da Luz Primordial estabeleceram através do deserto.--
Podes escolher esta senda da Luz verdadeira logo de início, se souberes afastar todos os "desejos" inferiores da tua grande e pura Vontade. -
Saberás todavia escolher a "nobre Senda da Sabedoria", que te deverá conduzir aos cumes cristalinos, quando, carregado de “desejos”, no fim do caminho através do deserto, vires diante de ti os abruptos e altos penhascos e então, ofegante, espreitares através deles o fim último??-
Sabe que então a Luz da Verdade aparecer-te-á diante dos olhos da tua alma apenas como um clarão distante através do nevoeiro, e que a senda elevada que te levará à Luz parecer-te-á "interminável"!
Logo ali ao lado porém a "senda do erro" conduz a uma luz cintilante,  reluzente, extremamente próxima.
Esta "luz" todavia é o brilho enganador da "serpente", cujo corpo, - reluzindo em muitas cores, - cinge o globo terrestre...
Ai de ti se ficas à sua mercê!
Ela atrair-te-á com as palpitações sedutoras e ininterruptas das escamas reluzentes da sua cabeça, e se tu, desejoso de saber, tiveres-te aproximado o suficiente dos seus domínios, engolir-te-a como a sua presa.--- 
 
Consegues tu, meu amigo, pressentir a verdade, que aqui, dissimulada como símbolo, quer aproximar-se de ti?!
Bem-aventurado sejas, se aprenderes a "interpretar" verdadeiramente os símbolos!
Eles dir-te-ão coisas profundas!
Coisas, que de outro modo teriam que permanecer na sua maior parte indizíveis!
Coisas, que nunca se mostrariam na sua nudez!--
Eu quero todavia tentar chegar aqui também àqueles para quem os símbolos ainda são "obscuros".
Ouve assim outras palavras, mas sabe que significam a mesma verdade!
Quando tu, ó ser à procura, sentires em ti pela primeira vez  o impulso de ergueres os véus sob os quais pressentes a Verdade, então terás sempre por perto um "Guia" daquele Mundo da Luz, que virá a ser a tua Pátria eterna.
Sentirás a proximidade deste guia, sem saberes bem o que move o teu sentimento..
Involuntariamente seguirás o guia.-
Estás então na "Senda", que conduz através do "deserto".
O "deserto" formou-se porém de grãos de areia, produzidos pelo pseudo-conhecimento exterior dos cérebros humanos terrenos.--
Milénios criaram-no!
Através deste "deserto" grandes mestres, - peritos construtores de caminhos, - construíram um passadiço sólido, onde é possível caminhar com segurança...
A toda a volta amontoam-se as sempre mutáveis dunas de areia do conhecimento cerebral exterior: - modificando-se incessantemente nas suas linhas, - terreno inseguro para os pés de quem as trilha...
A senda, porém, no passadiço, que os "Irradiantes" da alma construíram, - é rocha.-
Sentes certeza!
  Corajosamente avanças..
Terás de caminhar pacientemente durante muito tempo, até chegares ao ponto crucial onde o caminho de rocha, que passa através da areia do "deserto", atinge a "Grande Montanha" e chega ao fim...
Agora tens de decidir-te, pois diante de ti abrem-se duas sendas, que ao princípio não saberás distinguir.
Ora quererás confiar-te a uma, ora à outra.-
Uma contudo conduz aos cumes, e a outra - aos desfiladeiros abismais e às fendas ocultas das montanhas...
  Tu é que decides, para onde queres seguir!
Mas certamente saberás logo distinguir a senda que conduz aos cumes da que leva aos abismos, se os teus pés já estiverem acostumados a sentir debaixo deles a "rocha" sólida, pois a senda para o submundo é escorregadia e fatigante para os pés...
Já no caminho sobre o paredão de rocha, coisas invisíveis tentarão provar-te a sua existência.
Mas aí não consegues ainda distinguir quem dirige as forças, cuja acção observas.-
Ainda acreditas  que por detrás de todas as forças invisíveis está a mesma vontade.--
Sabe porém, que os reinos inferiores do invisível também têm  guias inferiores!
Sabe que o mar e a terra não estão tão nitidamente separados um do outro, como as forças inferiores imperceptíveis aos nossos sentidos terrestres e incompreensíveis, que trabalham de modo formador e destruidor no "mundo da matéria" estão das elevadas potências do Espírito conhecedoras na mais elevada Luz!
Os guias nos reinos invisíveis inferiores são os mais temíveis inimigos da tua alma.
Não porque a sua vontade queira fazer mal à tua alma, como a vontade imbuída de ódio dos condenados ao aniquilamento, que eram outrora Homens terrenos dotados do mais elevado conhecimento e que sucumbiram de novo à "queda" nas trevas,- mas apenas por causa das forças da atracção, às quais dificilmente resistirás, se não fores eficazmente isolado pelas altas potências espirituais.--
Se vieres a aventurar-te em domínios sob a influência dos guias inferiores, então se verá quem és.-
Se procurares só a claridade mais elevada e eterna, então o guia, que é afinal um regente das forças mais elevadas do Espírito, poderá isolar-te protegido.
Sob tal guarda, saberás  então escolher também com certeza a senda que te conduzirá ao mais puro conhecimento da Luz.
Chegarás então à Vida na Luz eterna dos cumes elevados do Espírito.--
Mas se para ti tratavam-se apenas de artes inferiores, - se só querias explorar o "oculto" para pores novas forças ao serviço dos teus desejos, então escaparás sem te aperceberes da mão do guia...
Abandonado às tuas fracas forças, tornar-te-ás uma vítima das forças de atracção, que em ti se exercem a partir dos domínios dos guias inferiores nos obscuros abismos do perpétuo nascimento da matéria.-
Adquirirás – talvez - "poderes ocultos", sobretudo se souberes praticar uma severa abstinência sexual e viveres só de vegetais, mas ai de ti e de todos os que caírem em teu poder, - se obtiveres semelhantes poderes!--
Esses guias inferiores são os "criadores das bases", e os destruidores de tudo o que quer erguer-se livremente acima das fundações que eles consolidam.
Não presumas que te possam ensinar os segredos da criação, como o esperam tantos insensatos "aprendizes de feiticeiro"!--
Eles apenas apoderar-se-ão avidamente da tua vontade, pois todos os poderes do cosmos invisível precisam de agentes humanos, quando querem agir em centros volitivos encarnados humanamente, -- e só lhes servirás de agente de destruição, mesmo quando pensas estar a construir.
Os guias superiores não podem alcançar com a sua influência a alma do ser humano terreno, tal como os guias inferiores, enquanto as unidades da vontade do ser humano encarnado  não construirem a "ponte" com com tal propósito... 
 AQUIIIII
Talvez pressintas aqui o que quer dizer o ensinamento do "Filho de Deus", que teve de "tornar-se Homem", para poder "libertar" os seus irmãos humanos?!---
O modo de acção das forças espirituais - seja ele desencadeado e determinado, na sua natureza, pelos guias invisíveis superiores ou os inferiores - não conhece qualquer obstáculo de tempo e de espaço.
Ainda hoje actuam no mundo anímico do ser humano terreno forças  desencadeadas e determinadas outrora tanto por guias superiores, como por inferiores, ainda que essas forças há muitas centenas ou  mesmo milhares de anos, encontraram o caminho para os corações - através de um agente humano...
E onde quer que ele viva ou tenha vivido: - o poder espiritual, que através dele chegou à acção, alcançará todos os que vibram na mesma frequência de onda, ainda que os que apresentem semelhante predisposição vivam do outro lado do globo, ou que venham  a nascer numa geração futura...
Mas enquanto que uma característica segura da orientação espiritual superior é o facto dos poderes do Espírito despertos por esta orientação só actuarem mediante a mais cuidadosa preservação da liberdade humana, - como também aperfeiçoarem o Homem terreno, que lhes serve de "ponte", tornando-o livre senhor das forças, que através dele agem, - assim se podem reconhecer sempre os guias inferiores pelo facto de que tudo o que age através deles procura amarrar os que sucumbem à sua influência, e que assim se torna um escravo destes guias inferiores, mesmo que estes o mantenham na ilusão de que é "senhor" dos poderes por eles despertos...
O fim dos que lhes servem de "ponte" é a "dissolução" na noite dolorosa!-
Mas as "pontes" dos guias superiores do Espírito constituem uma eterna e régia Comunidade da Luz no Espírito, pois em cada um deles foi acesa uma "estrela", que, formada da mais pura força luminosa do Espírito, ilumina eternamente as almas dos seres humanos na Terra...
Uma doutrina vaidosa e refinada, que te quer fazer crer que o ser humano se desenvolve cada vez mais elevadamente ao longo de inúmeras vidas terrenas, saberá também dizer-te que as "pontes", que se constroem a si mesmas, para que os guias superiores do Espírito cheguem através delas ao ser humano na terra, não são outra coisa senão Homens que já vivenciaram inúmeras vezes a vida terrena, só que  chegaram agora à mais elevada meta da sua evolução, à qual também qualquer outro ser humano Terra terá um dia de alcançar.
Não creias nessas  palavras tolas!
Podes tornar-te facilmente uma vítima  da ilusão, - e do imaginado "futuro mestre " tornar-te-ias no mais pobre e ludibriado escravo da sua vaidade!--
Não  foi imposto a cada  ser thumano  o fardo, que só deverão carregar os poucos que, outrora, logo após a sua queda da mais elevada Luz, cheios de compaixão pelos companheiros de queda, ofereceram-se para se tornarem colaboradores dos mais elevados guias do Espírito, como - "pontes" e simultaneamente construtores de pontes, - ao serviço do Amor eterno...
Só poderá passar a provação de "Mestre"  quem já foi  mestre na construção de pontes no mundo espiritual, e muito antes da sua encarnação no corpo do animal humano...
Só saberá se é uma "ponte" e mestre na construção de pontes no dia em que lhe for permitido, enquanto Homem da Terra, aproximar-se da resplandecente Comunidade dos seus Irmãos espirituais - como alguém que também passou a sua "prova de mestre" aqui na Terra.---
Então o "Filho" dos elevados “Pais” espirituais, torna-se para eles um "Irmão" espiritual,  como um Resplandecente da Luz Primordial...
Mas qualquer ser humano terreno, seja ele qual for, pode-se tornar "resplandecente" na Luz Espiritual, na Liberdade eterna, - mesmo que só receba a sua luz como um planeta orbitando o sSol.
No reino da Luz ninguém "inveja" a esfera de acção do ser próximo, a qual lhe foi confiado pelo único e eterno "Mestre" de todas as "mestrias"...
Cada ser, chegado a este Reino, é uma pessoa perfeita, livre em si mesma, - e cada uma sabe que só pode atingir a perfeição na sua natureza intrínseca.--- 
 
É apenas o resultado do desconhecimento da tua natureza na terra, o que te faz esforçares-te por uma forma de perfeição espiritual que não é suportada interiormente pela tua individualidade...
De que te servirá atingires um tipo de perfeição, que deveria permanecer reservado para outro ser?!-
Mesmo que encontrasses a forma mais elevada de perfeição que um ser na Terra pode alcançar, se ela não fosse a tua, tinhas-te inutilmente esforçado por te realizares...
Só completando aquilo que só a ti te é dado: - só como realizado de ti próprio, alcançarás  um dia àquela Luz eterna, da qual deverás resplandecer eternamente!---»

"O Livro do Deus Vivo", de Bô Yin Râ. Cap. XVII. Do Espírito.

                                    Cap. XVII.  Do Espírito.
 
«Vives num mundo no qual o "espiritual": - é  trabalho mental.
O que este mundo designa como "Espírito" é conceito e pensamento, - ou até mesmo:- a virtuosidade, através de pensamentos rapidamente encontrados, de juntar-se o distante em encadeamentos surpreendentes.-
Mas para o "Espírito", que como realidade substancial brilha através do mundo, tudo o que as pessoas dos nossos dias designam por "espírito", - é apenas um  mero instrumento terreno, demasiado terreno de reconhecimento...
O mundo em que viveis, só conhece ainda o "instrumento", e crê ter nele a "obra".--
Assim o "espírito do mundo"  ofuscou os vossos “olhos da alma”!
Torna-se difícil oferecer-lhe ainda resistência, agora que  ele vos domina e conduz aonde quer!--
 
O Espírito, que vive consciente de si mesmo na sua própria Luz, não é  algo flutuante nem o que se deixa sentir apenas pela crença piedosa.
Não é só tão "real", tal como uma árvore, uma pedra, uma montanha, - um relâmpago que irrompe de uma nuvem, mas pelo contrário é só nele que a nossa terrena concepção da "Realidade" pode apreender a  contraparte perfeita dela, que terrenamente não pode ser encontrada.
 
Se já nenhuma coisa da Realidade relativa é modificada em si pela ideia que o cérebro humano faz dela,- como quereis  imaginar que a Realidade Absoluta possa transformar-se segundo a vossa ilusão!?!
As imagens concebidas pela vossa imaginação não afectam sequer a mais ínfima coisa terrena no fundamento da sua essência, e assim também o Espírito da eternidade não se deixa afectar por aquilo a que desejardes denominar "espírito", enquanto não poderdes ainda compreender em vós o seu ser substancial...
Talvez hoje e agora neste momento crês compreender a Verdade das minhas palavras, - mas já amanhã o "espírito" deste Mundo voltará a iludir-vos. -
Quereis hoje escapar-lhe, para procurar o verdadeiro "espírito", mas receio, - que amanhã sereis de novo enganados pelo "espírito" do cérebro.--
Hoje acreditas pressentir já algo da existência do Espírito substancial, - mas amanhã serás de novo atacado pelo desalento e a dúvida, e desistirás do esforço de procurar o que hoje acreditavas estar já ao teu alcance.-
Foi  sempre assim que agiste quando alguém vos falou do Espírito, alguém autorizado a falar do Espírito, que irradia através do todo, pois vivia-o, e podia testemunhá-lo baseado na sua própria experiência.-
Mas haverá talvez entre vós alguns  preparados a sério para utilizar todas as suas forças, a fim de alcançar um dia a Realidade de que falo, na sua simplicidade indizivelmente sublime e grandiosa?!-
A esses quero dirigir-me, pois só a eles podem as minhas palavras serem úteis. -
A vós, que estais decididos a não dar doravante mais ao "espírito" dos cérebros senão o que é seu, de modo a que ele não vos possa enganar no conhecimento do espírito eterno e essencial, - a vós digo-vos uma vez mais, de modo a que o martelais no vosso coração: 
 
O Espírito não é algo imaginário!
O Espírito não é a força do pensamento!
O Espírito é a luz viva e substancial, existindo de si próprio!
Todas as imensidões estão cheias deste Espírito e tudo vive dele, mas o ser humano terreno não o pode encontrar em parte alguma, a não ser:- em si mesmo.---
Em vós mesmos ele é e vive, consciente de si próprio, tal como ele consciente de si próprio irradia através de tudo no infindável todo!
Ele não está só nos vossos cérebros, ou apenas nos vossos "corações"!
O corpo do ser humano terreno é, na verdade, de natureza animal, mas essa animalidade esconde secretamente em si um organismo espiritual...
Vós próprios sois "Templos" do espírito, e em cada um dos vossos membros, tal como em cada um dos órgãos internos, ergue ele um santuário sagrado de invisível Altar...
Antes, portanto, de vos sentirdes a vós próprios em todo o vosso corpo, dos pés à cabeça, nunca podereis sentir o Espírito, nem podereis unir-vos ao vosso Deus!- 
 
Este sentir-se a si mesmo através de todo o corpo, que em si contém um santuário do espírito, terá que ser a tua tarefa principal, e ela está  já incluída em tudo o que até agora tinha para vos dizer, mesmo quando foi dito de modo diferente.--
Quero agora falar disso em especial!
Deveis buscar tornar-vos conscientes, não só no cérebro, - não só no "coração"!
A consciência vive em vós do mais íntimo ao mais exterior do vosso corpo - sim, vive mesmo em cada uma das suas células, - só que não está ainda unida à vossa auto-consciência... 

Mas quando  quiserdes, e permanecerdes firmes no vosso esforço, podereis, pouco a pouco, ir encontrando em cada parte do corpo terreno a sua própria consciência e uni-la à vossa consciência de Eu, de modo a não ser mais já - só na cabeça, e, dentro dela, só no cérebro, que sabereis um pouco de vós.---
Tende cuidado porém, de estimular e de excitar os vossos nervos,- pois este tipo de "consciência" de todo o vosso corpo já o conheceis bem demais desde há muito tempo!-
Quem não se torna, a cada passo em frente no Caminho, mais calmo e claro na alma, não vai no Caminho certo!--
Se quereis chegar à meta, tereis que aspirar, na calma completa do corpo e da alma, dos nervos e dos pensamentos, - a sentir-vos em cada átomo do vosso corpo na vossa natureza anímica, como "alma" desse átomo, para vos poderdes unir à força anímica primordial, que nele e com ele vos é dada ...
Não há nenhuns “exercícios" estranhos a executarem-se e  nenhum esforço violento é aqui necessário, ou mesmo útil!
A sensação calma através de todo o corpo, tão frequentemente quanto te apetecer e o teu tempo o permita, e entregares-te sem seres perturbado a tal sensação, trazer-te-á após semanas ou meses os primeiros frutos.
Mas não te esqueças que deves aprender a sentir-te só a ti próprio em cada membro do corpo, e não a cada membro enquanto tal!--
Quando conseguires “sentires-te” a ti próprio por dentro e por fora, de baixo a cima, então espantar-te-ás, e  com gratidão e imensa alegria sentirás em ti como esta vida terrena é, e que até hoje te parecia ainda tão "imperfeita" ...
Todo o vosso corpo experimentará uma renovação nunca imaginada.
Aos que faltam membros do seu corpo, que saibam que cada membro existe na substância espiritual, mesmo que nunca tenha existido exteriormente, - e que do mesmo modo cada membro permanece na sua forma espiritual, mesmo quando foi separado exteriormente do corpo.
No "corpo" espiritual não há qualquer mutilação!
No "corpo" espiritual cada Espírito humano é o ponto de convergência de toda a Beleza que ele é capaz de conferir à sua "Alma", na qual "vivencia" o corpo espiritual, - e os que são capazes de "ver" no Espírito, vislumbram nele apenas o que ganhou forma através das forças anímicas, e não qualquer defeito da manifestação física e visível, em consequência de influências materiais...
Se chegaste a este ponto, e te sentires a ti próprio em todo o teu corpo como um todo, então também saberás honrar verdadeiramente o corpo como o exterior do "templo", que oculto a todos os sentidos exteriores encerra em si o  mistério sagrado da vida espiritual, que só o espírito humano no seu retorno à Luz da qual outrora se separou, pode atingir e viver...
Mas agora terá que se ver se a alma já atingiu aquela maturidade que permitirá ao irmão espiritualmente "mais velho", que a observa, servir-lhe de guia e de mestre.-
Sem ele, dificilmente qualquer de vós alcançaria já durante a vida terrena a consciência de si no Espírito que abrange tudo, mesmo quando o "corpo" do Espírito fosse já sentido conscientemente no corpo terreno!
Nenhum dos teus esforços se perderá, mas o prémio de vitória de todos os esforços só te será concedido, quando terminares o alto caminho, que só podes encontrar sob orientação espiritual interior...
Contudo já muito estará ao teu alcance graças apenas à tua persistência.
Logo que tereis aprendido a sentir-vos no vosso corpo espiritual através de todo o vosso corpo terreno, começareis, sem que tal exija uma vontade especial, a "respirar" o Espírito em vós e em todo o Universo, - e  para muitos isso já foi uma tal felicidade, que se detiveram muito tempo nesse estado, reconhecendo que não estavam ainda prontos para experiências superiores...
Aceitai sem preocupação o que vos for concedido e confiai na lei do Espírito, que não conhece qualquer arbitrariedade e que trabalha sempre para o vosso melhor!
O caminho para o "Oriente mais íntimo" encontra-se diante de ti e acessível, e só a tua vontade desperta decidirá se sereis brevemente visto a percorrê-lo...
As terras do "Oriente mais íntimo" encerram, porém, muitas moradas, e a todo o que procura sinceramente será concedida a sua própria morada, - nunca a de um outro...
Aqui reinam leis do devir que  não  menos certas do que no mundo exterior.--
Também nenhum Irradiante da Luz primordial pode curvá-las!
Ele conhece  a natureza e eficácia delas, e todo o seu esforço é para guiar os seus contemporâneos na face da Terra, tal como também as gerações futuras, à felicidade deles – conduzi-los ao seu fim mais elevado. ---
Para isto serve a sua anunciação!
Para isto ajuda-o a Lei espiritual, a qual ele serve com todas as suas forças...
Ele opera a partir do espírito, que é o ser primordial, e é só da força do Espírito que ele age... 
 
Todavia, do Espírito eterno e substancial  configura-se "Deus",- como uma "destilação" do Espírito,- em cada ser humano que se esforça ardentemente em direcção ao seu Deus, e que espera com paciência o dia que o encontrará preparado para o seu Deus poder "gerar-se" nele. ---
Deus é Espírito, - todavia: - a mais elevada das auto-formações do Espírito! -
Formando-se a si próprio de si mesmo, o Espírito manifesta-se na forma mais elevada do Ser - como "Deus"! ---»