quinta-feira, 8 de maio de 2025

Um poema espiritual do coração.

                                                     

 Um poema espiritual do coração:

Esta busca da Verdade,
 esta aspiração do coração,
    este querer vencer e a Ti chegar,
levaram-me a p
artir pela Terra Lúcida,
que talho na in
tempérie do tempo e do espaço,
entre sonhos e meditações, no almejar do coração.

Chamo por Ti e por vós, Deus, mestres e anjo,
soprando por entre mil livros e manuscritos
onde derramei esta aspiração de comunhão
mais próxima com a Verdade e a Luz.

Tudo tem o seu momento certo, ó Pedro.
Congratulo-me com o teu labor:
tenta ser e avançar no fogo do
Amor,
persevera na interiorização e abnegação,
que entrarás mais no templo do Coração!

quarta-feira, 7 de maio de 2025

Erasmo e seus ensinamentos perenes. Breve revisitação na minha alma.

Erasmo num altar lisboeta

Erasmo, antropologicamente, vê o ser humano como trino: corpo animal, alma humana, espírito divino, e é no equilíbrio frutífero destes três que resulta o avanço ou não para o cumprimento da sua missão na vida e para o sumo bem, em geral, seja este alegria, amor, ligação a Deus, salvação.

O ser humano procura a felicidade, só que o corpo quere-a à sua maneira de instintos, a alma vai pelos afectos e paixões, a mente pensa e interroga racionalmente mas é o  discernimento provindo da centelha do espírito, obtido seja pela inteligência seja pela intuição  obtida na oração e meditação, que pode coordenar e orientar melhor os diversos níveis do ser.  Daqui a necessidade do constante estudo e trabalho com o auto-exame e com a inteligência para não sermos manipulados e enganados por tantos oportunistas e avençados, de modo a que a Sabedoria vá crescendo na nossa individuação, permitindo o discernir e implementar as respostas mais certas e frutíferas às inter-relações e desafios da vida.

O ser humano não nasce homem ou mulher, mas faz-se, cresce, desenvolve-se, nomeadamente em sensibilidade, capacidades, virtudes, luz interior. Subjacente à vida está então uma arte de vencer e harmonizar obstáculos e resistências, tendências e fraquezas.

 S. Inácio de Loiola dizia aos seus discípulos e primeiros jesuítas que não lessem Erasmo pois esfriava a fé. Mas a verdade é que Desidério Erasmo era uma pessoa tão culta, e sabia tanto da mensagem de Jesus  ou, como lhe chamava, da philosophia christi, bem como das heresias e diferenças de ideias ocorridas ao longo dos séculos do Cristianismo, que certamente quem o lesse aumentava a Razão ou Logos em si, pois ao ser confrontado com tantas versões naturalmente teria de exercitar o discernimento gerador duma gnose pessoal, tanto mais que lucidez racional erudita e em busca da verdade em Erasmo era tão grande que algo disso transmitia-se a quem o lia ou lê e estuda com amor ou mais perseverantemente. 

 Eu próprio, quando o leio ou medito, sinto subtilmente algo de comunhão com as forças lúcidas e desmistificantes do autor do Elogio da Loucura, dos Adágios e dos Colóquios. Ora o problema, e que já S. Inácio sentira,  é que dentro da Igreja e das suas narrativas, doutrinas e história  somos confrontados com tanta imaginação ou mesmo disparate, que podemos começar a pôr mesmo em causa o que até Erasmo ainda parecia admitir, mas que com o nosso racionalismo mais informado de cidadãos do século XXI, já não coarctados pela longa tradição unânime da Igreja, talvez por Erasmo ainda assim venerada em certos casos  demasiado, pomos mais naturalmente em causa. Não referirei porém agora esses aspectos e ficará para outro texto.

Na época a Teologia e a dogmática da Igreja controlavam na Europa a educação, a ciência, a razão, a política. Foi o Renascimento e a Reforma que deram os primeiros grandes golpes no monopólio do ensino e da visão do mundo, que deixou de ser a antiquíssima judaico-cristã, tão patriarcal e violenta, sobrecarregada dos  fanatismos de inquisidores e censores que se atreveram a matar génios como Giordano Bruno, Michael Servetus, Frei Valentim da Luz, ou a prender Pico della Mirandola e Damião de Goes, ou a censurar  milhares de outros.

Marsilio Ficino, Giovanni Pico della Mirandola e Angelo Poliziano, por Cossimo de Rosselli, igreja de S. Ambrósio, Florença

Erasmo foi muito atacado, sobretudo depois de se ter atrevido a publicar em 1515 uma nova tradução do Novo Testamento, por alguns dominicanos mais reacionários, tal o castelhano Zúñiga, e o cardeal Girolamo Aleandro, mas como a sua sabedoria e lucidez eram imensas e soube defender-se bem, tiveram de se calar, por ordens até papais, pois foi mesmo a Erasmo que os papas Leão X, Adriano VI e Clemente VIII se dirigiram com o pedido que enfrentasse Lutero e o desmascarasse. Erasmo esperou, pois havia aspectos da Reforma que eram válidos e necessários e só quando Lutero e os reformistas entraram em mais violência e opressão radical das formas cristãs de culto, é que em 1524 o contestou, e claro Lutero não gostou nada e replicou, e a polémica agitou a Cristandade, embora Erasmo tenha escrito sobretudo filosófica e eticamente no campo do livre-arbítrio que Lutero, numa dependência exagerada na fé no Deus das Escrituras como salvífica, considerava inexistente no ser humano, pois já estaria predestinada a sua salvação ou não apenas pela graça divina, de pouco ou nada contando a individualidade e a liberdade humana. 

Para Erasmo era diferente: cada ser humano tem se fazer, tem de se salvar pelos seus actos, pensamentos, sentimentos e esta salvação é a construção do templo divino ou dum graal receptivo no coração de cada um e onde o espírito divino deve descer e nos encher de luz, de amor, de sabedoria, que depois são partilhadas em comunidade,  em orações, em esforços e criações, e sobretudo no bom senso e no amor ao próximo, à família, à Humanidade, ao Bem comum.

Saibamos comungar e coadjuvar Erasmo e os outros que ergueram e encheram (ou erguem, e fazemos votos para que o novo papa Leão XIV seja um elo luminoso)  bem a taça do santo Graal das correntes do Amor e da Sabedoria Divinas e a derramaram e derramam pela Humanidade harmoniosa, livre e multipolar, hoje como outrora sempre ameaçada pelos que a querem controlar, manipular, infrahumanizar.  Lux Dei.

Sancte Erasme, ora pro nobis, ora cum nobis!

terça-feira, 6 de maio de 2025

Por entre o mundo da manifestação, o caminho da estrela...

                                                        

A relativização do que vai sucedendo no mundo político e social, tão egóico,  ilusório e transitório (Homo bulla est, foi um dos adágios mais desenvolvido por Erasmo), e em especial do que nos chega pelos tão manipuladores meios de comunicação, o sermos pouco afectados pelo que nos dizem e criticam, o desprendimento em relação ao que somos ou temos, a renúncia ao reconhecimento exterior e o culto da humildade e do silêncio serão  qualidades aparentemente negativas ou passivas da nossa dinâmica anímica. São porém bem necessárias e  formativas, pois obrigam-nos a superar as nossas fragilidades e  contradições e fortalecem assim os que procuram o auto-conhecimento e o aperfeiçoamento, em especial a um nível psico-espiritual, ou os que aspiram mesmo à religação íntima com o sagrado, com o Divino.

Somos todos consciência e energia, e esta manifesta-se nas vibrações das partículas e ondas de todos os fenómenos que nos constituem ou afectam,  pelo que devemos ter atenção ao que constantemente entra nos nossos cinco sentidos  ou mesmo o que subtilmente nos toca e influencia, para além do que geramos e emanamos através do que pensamos, sentimos, dizemos e fazemos. 

Só assim poderemos em momentos de maior transparência interna de auto-consciência e meditação sair dum estado agitado e de pouco auto-consciência para começarmos a sentir e a aperceber-nos das circulações energéticas e psíquicas e portanto do nosso estado maior ou menor de harmonia ou alinhamento psico-somático e espiritual, e consequentemente purificá-la trabalhá-la, elevá-la, iluminá-la, frutificá-la.

Na realidade, cada ser deve ser capaz de se interiorizar, elevar e comungar  seja com o seu sistema energético psico-somático, seja com o espírito, seja com um mestre  seja  com o seu Deus ou ainda com a grande amplidão oceânica ou ígnea da Divindade.

Tal é mais possível quando se consegue considerar e assumir o que se passa diariamente como  banhos vibratórios ou quanto muito ondulações mais fortes e impactantes mas se que desvanecerão  de novo, com mais ou menos trabalho, graças ao limpar, recolher e focar na  respiração transmutadora e na intensificação da chama do coração e alma para os tais níveis elevados do Ser  mencionados.

Gate, gate, paragate, parasamgate bodhi svaha, é a oração que exclamam os Budistas em relação ao ser que conseguiu passar para além de samsara, da agitação ilusória dos fenómenos e consegue entrar ou sentir-se na outra margem da existência, na espiritua ou divina e nela respira ou permanece vitorioso sobre si e sobre a dispersão mundana.

Na Cristandade, dizia um místico medieval dos mais profundos  Henrique Suso, que por vezes quando orava e meditava sentia-se nadar envolto por altas vagas na sua navegação entre o tempo e a eternidade divina mas noutras vezes permanecia na sua unidade interna e religação divina, e que tal subsistia mesmo quando activo, fizesse o que fizesse, pois via e sentia a diversidade  exterior na unidade divina...

No caminho da realização espiritual, no meio dos envolvimentos no mundo que nos competem na nossa missão profissional e familiar, devemos praticar então com regularidade a auto-consciência respiratória, energética e psíquica, realizarmos quem somos e abrir-nos às correntes dos Alto ou Divinas. 


Para alguns sábios somos uma centelha espiritual,  e que num corpo aberto em forma de estrela de cinco pontas, sobre duas pernas caminha e age, simbolizando elas, uma o desprendimento, a renúncia ou liberdade em relação às necessidades e instintividades, e a outra a do conhecimento, da gnose, do discernimento e acção justa. Quanto às duas pontas, das  mãos, por elas  ora recebemos com reverência e gratidão e ora damos com amor ou justiça. E no cimo da cabeça, na ponta da estrela, está a unificação irradiante, a resplandecência da consciência espiritual e o fio ou fios das ligações espirituais e divinas possíveis. 

Sabermos viver bem e realizar esta estrela de cinco pontas dupla, íntima e corporal, numa aura luminosa e corajosa, que não se deixe infrahumanizar nem amilhazar, mas antes se humanize fraternalmente e comungue mais e melhor com o sagrado da essência e existência humana e da Natureza, bem como da Divindade, eis a obra-prima que devemos esculpir em nós mesmos e emanar e partilhar com os outros.

segunda-feira, 5 de maio de 2025

Espera-te a tua Luz, poema espiritual. Com uma música harmonizadora de Bruno Gröening...

Dum bloco de notas bem antigo...

Sê bem vindo, meu filho,
donde vens tu triste?
Porque te encheste de futilidade
e de estranhas necessidades?

Agora o tempo é tarde,
sabe a um canto acre.
Recebe o teu dom e parte
porque a hora é de remate.

Os pássaros cantam nos ninhos
os galos acordam para o nascer.
Recebe a luz que vem dos moinhos
como o vento que te faz estremecer.

Enfim, que saibas atingir a tua perfeição
E consigas com Deus entrar em comunhão,
Sabedoria e amor que conhecerás na realização
de que Deus é tudo e tu apenas um irmão.

Vem, de mãos dadas
subiremos o monte da Luz
e receberemos as datas,
Vem, espera-te a tua Luz.

                       

sábado, 3 de maio de 2025

Encontros com mulheres velhas da serra da Freita e diálogos e reflexões perenes.

Texto base escrito num diário há já bastante tempo e agora mais reflexionado ou aprofundado.

   Porto, registo: «Domingo, fim do dia. Passeio a um sítio belo da serra da Freita [Arouca]. Caminhar ao sol sob árvores e sobre pedras, carqueja e regatos. Ao lado de bois e velhotas que os guardam ou pensam (dão o penso). Quando  pergunto a uma delas onde está Deus, ela responde-me: “Deus está em toda a parte". Eu acolho a sua realização mas depois de acenar com a cabeça, contraponho a questão da justiça e do bem e do mal, e ela  concorda: "sim, Deus afasta-se algo dos maus". Mas é uma zona filosófica complexa e no dinamismo em que estamos peço-lhe que dê as suas bênçãos  à aluna mais jovem, a Maria João, e ela exclama: “Ai minha filha, liga-te a teus pais, tios, primas e a estes senhores, mas tem cautela”.  

Ao princípio não parece ter percebido bem a sacralidade e investidura do meu pedido respondendo com simples conselho de atenção-discernimento, mas depois começa a lançar uma autêntica ladainha. Parecia que o veio profético das mulheres, das mulheres de virtude em especial, vinha-lhe ao de cima, correndo à velocidade do regato, denso e gorgolhoso, como a água do inverno, ou o suor das ceifeiras nas searas escaldantes. 

Eram anos de luta, de pobreza, de sofrimento, de medos, de acossamento animal e da simbiose do humano com os bois e a grande natureza que escorriam agora subitamente por ela como águas de nascente abrindo caminho pelas pedras de granito toscas, da sua alma e do ambiente, e que as deixavam engrossar com as areias e o terriço do solo estrumado centenariamente pelos aquiescentes bois.

Contou então histórias com os seus olhos semi-fechados, um jeito qualquer ou gesto repetido  de tapar o pescoço, talvez um abcesso, talvez vítima  como outro pastor cego dum olho, do dardejar dos raios de sol nos penedos e nas neves ou geadas. Seres dolorosos, seres doridos. E eu e os alunos e alunas do Yoga a passearmos, a harmonizar-nos, a elevar-nos, e eu a sentir o bolso vazio sem saber onde deixara a carteira (ficara no carro), mas a avançar desprendido de cartões do Multibanco e do bilhete de Identidade, porém sem dinheiro para com ela compartilhar na fraternidade humana e na gratidão pela sua vida e ser.

Ai as populações velhotas das montanhas e serranias. Gente ainda analfabeta mas com corações tão grandes. Contou histórias, tal como quando tinham aberto a cabecinha dum à sachada por discussões de águas e regas. "- Ai", diz ela, "que não me tocou no corpo, mas dói-me". 

Que modo simples mas tocante de manifestar a sua alma aberta, empática, em osmose profunda e supra-egóica com os seres que a rodeiam. E eu a pensar depois que vamos por aí quase todos considerando-nos independentes e isolados do que se passa com os outros [ou algures na Palestina e noutros locais mais intensamente] e a rir-nos dos que denominamos como simples, loucos ou atrasados e que no povo e neste Porto e Norte são em geral apenas seres  mais fortes nas feições telúricas, sinceras, directas, sofridas, sem máscaras ou disfarces.

 Esta comunhão com os elementos da Natureza, a lavoura e os animais, tão absorvente que era há cem anos, tende hoje a desaparecer quase por completo, e os saberes tradicionais que existiam desvanecem-se (ainda que provérbios, mezinhas e devoções ainda subsistam) diante um conhecimento geral, já com mais bases científicas mas sobretudo de fontes mediáticas manipuladoras, perdendo-se assim tanto o enraizamento com a natureza, tão saudável psico-somáticamente,  como tradições e intuições populares.

Comparemos de modo muito geral as populações, ou mesmo as velhotas de então e as da agora e veremos logo que nestas há muito mais conhecimentos e capacidades de utilização de instrumentos e tecnologias novas e a luta pela sobrevivência tornou-se menos dura e absorvente. Mas as qualidades anímicas melhoraram assim tanto, ou  a animalidade-instintividade ainda permanece forte, violentíssima até por vezes, por múltiplas razões [análises são bem necessárias], e as melhores qualidades do coração de sensibilidade, solidariedade e amor  podem até ter aumentado pouco ou mesmo em certos aspectos diminuído?

Cremos que apesar de tudo as populações, os portugueses melhoraram muito, pois grande parte desenvolveu mais os estudos, a cultura, a reflexão e o discernimento. Mas não estão elas também muito mais expostas as forças de mentira, de manipulação, de engano, de superficialização em bens de consumo inúteis ou daninhos, e nos canais de informação e suas tascas forças e amilhazados?

Na balanço final, seja das virtudes desenvolvidas (tal a paciência, a determinação, a coragem, a fé, o estoicismo), seja na pesagem e julgamento dos actos da vida, quais estarão melhores animicamente nessa hora da morte e logo destino de viagem posterior?

Quem está mais ligado com o coração? E com a verdade, a sua verdade (swadharma) e logo sinceridade? Quem agiu mais solidariamente? Quem está com a aura mais luminosa e mais desperta como alma espiritual? Quem consegue ter mais ligação com os antepassados, o corpo místico da Igreja ou da Humanidade, ou ainda do campo unificado da Anima mundi e da Divindade no seu caminho ascensional?

Ganhou-se realmente mesmo mais conhecimento, visão, vivência e ligação com a Divindade hoje em dia, com tanto diálogo inter-religioso, esoterismo, auto-ajuda, constelações, astrologias, transpessoal, yogas ou aquela velhota estava mais aberta à Providência divina  quando via ou sentia Deus ou a força Divina (a shakti)  em toda a Natureza, em toda a parte?  Lux Amor Dei!

sexta-feira, 2 de maio de 2025

Poema de demanda e cavalaria espiritual.

Tantas vezes que Te invoquei,
 sem saber bem quem viria...

Cada meditação é uma peregrinação,
uma demanda das bênçãos do Alto.

Ora te chamo Espírito, ora Anjo,
ora Mestre, ora Deus, ora um Deus,

ora a Deusa, avé Maria, al-Zahra Fatima.

Assim medita e ora a vida misteriosa,
em que muitos vão tombando
e poucos se iluminando e unificando.

Põe a tua visão e meta no Alto
  e avança destemido e contente, ó Tu,
   se queres permanecer cavaleiro do Amor.