domingo, 4 de julho de 2021

Kurozumi Munetada, um mestre do Shinto. Vida e ensinamentos, com poemas lidos em japonês e português.

                                                                

Uma das doutrinas espirituais presente nas tradições religiosas e esotéricas é a do ser humano subtil verdadeiro ser uma centelha,  fragmento ou  partícula da Divindade, presentemente dentro de um corpo  animal humano ou humanizado. Emitidos, gerados, criados ou emanados por Ela, Sol Central Primordial, a nossa missão principal é a de reconquistarmos tal Consciência, a de quem somos, e  religar-nos  à  Fonte Divina, vivendo justa, sábia e amorosa e corajosamente pelo Bem, o Bom e a Verdade,

Quem mais desenvolveu estes caminhos interiores de religação foram ao longo dos séculos os shamans, os iniciados, místicos e mestres, em particular indianos, mas também, entre outros, cristãos, islâmicos, persas e  nipónicos, 
  tal Kurozumi Munetada, sacerdote do Shinto, de quem vamos acercar-nos, e nomeadamente da sua vivência forte da unidade do ser humano com a Divindade, Shin Jin Ittai Setsu.

Nascido em Bizen no kani, em Kami-Nakano, perto da acastelada Okayama, do clã Ikeda, em 22-XII-1780, de uma família há mais de quinhentos anos de samurais e sacerdotes shintoístas, considerada mesmo descendente de Ame-no-Koyane-no-Mikoto, seu pai sendo um sacerdote (negi) no santuário de Imamuragū, desde cedo entrou numa forte demanda espiritual que o levou mesmo aos 19 anos a assumir com persistência querer ser uma incarnação viva de Deus, um ikigami, umkami vivo, algo que na tradição Shinto se denomina ainda Iki nagara ni shite Kami, e que nasce do princípio já mencionado da unidade dos Kami e seres humanos. Ora para isso, como ele explicou, teria de evitar tudo o que o seu coração sentisse como errado, o que ele tentou sempre ao longo da sua vida, recorrendo até algumas vezes à adivinhação com o I Ching, mas sobretudo seguindo ou obedecendo a cinco juramentos que se tornarão basilares na sua vida e na dos seus discípulos: manter-se sempre com fé, não se convencer de ser mais do que os outros, não aumentar o mal no seu coração ao ver o mal nos outros, trabalhar sem preguiça pela sua família, seguir sempre o caminho da Sinceridade.

Por volta de 1806 casou por amor com Yuko que, pertencendo ao  Budismo Shingon (a escola mais esotérica, muito baseada no tantrismo, com seus rituais, mandalas e mantras) teve de declarar por escrito que desejava identificar-se com o Shinto que o seu marido prosseguia e aprofundava. Em 1810, o seu pai atingiu os 70 anos de idade e retirou-se e Kurozumi Munetada, então chamando-se ainda Yugenji, tornou-se o sacerdote do santuário onde se cultuavam ancestralmente três kamis, um deles Amaterasu, a divindade solar.

                                        

 Dois anos depois, quando entrara nos 30 e por ter um amor filial fortíssimo, a súbita morte em poucos dias dos pais por disenteria, prostrou-o numa longa crise de desânimo e doença, a insidiosa tuberculose, fazendo-o até desejar a morte, a fim de acompanhar os pais. Mas subitamente, quando pensava que estava mesmo para morrer , realizou que o seu amor filial, destruindo-o, estava a enviá-lo na direcção errada, pois tal via certamente não agradaria aos pais nem aos antepassados, decidindo então antes frutificar a herança ancestral e cultivar um estado de alegria ou divina vitalidade (yo-ki), ou seja,  amor e gratidão por tudo. 

Será  a 22 de Dezembro, dia do solstício do Inverno, de 1814, que recebe a sua experiência iluminativa com a deusa ou kami Amaterasu, tendo tal acontecimento sido denominado  tenmei jikiju, a recepção directa da missão celestial, da qual se sentiu investido a partir de então. Sentira-se de facto completamente plenificado pela luz e calor de Amaterasu e de certo modo unirdo a Ela e, cheio de gratidão e alegria, sentiu-se  tornado  um kami vivo, um espírito divino consciencializado.

                                

Pouco depois começou a sua missão de ensinar o Caminho de Amaterasu o mi kami, surgindo por declaração escrito o seu 1º discípulo (shin-mon) em Fevereiro de 1815. Os sermões ou discursos (koshaku) sobre qualquer tema ou motivo que  surgisse e que lhe permitisse ser inspirado, as sessões de oração e invocação das forças e bênçãos solares (yo-ki) e dos kamis  e as práticas de cura, algo mágico-magnéticas, o majinai, realizavam-se em ritmos regulares, seja em sua casa ou onde o convidavam, com efeitos muitos grandes em pessoas com dúvidas ou doentes, neste caso por vezes curas de certo modo miraculosas, granjeando-lhe por isso dedicados ou mesmo directos (monji) discípulos.

Peregrinou a pé  e por transportes seis vezes até ao santuário mãe de Amaterasu e da família imperial em Ise, de algumas das vezes deixando diários, tendo passado por várias cidades, templos budistas e santuários Shinto, donde trouxe  conhecimentos que ajudaram a realizar sucessivas palestras (koshaku) sobre a deusa suprema Amaterasu e o seu santuário de Ise, contagiantes, pois foi cada vez mais sentindo-A como ikimono, presença viva em si. Em 1824 foi confirmado em Kyoto como sacerdote sucessor do seu pai, embora já o fosse há 10 anos, e recebeu o nome de Sakyo. Entre 1825 e 1828 realizou as Mil Noites de Recolhimento (Sanro), nas quais grande parte da vigília era consagrada aos noritos, orações.

Na realidade muita da sua actividade sacerdotal e de mestre, além dos discursos, diálogos e curas, foi orar, recitar ou realizar os ritos purificadores, tal O Harai Norito, para pessoas que lhe pediam. Por exemplo, pronunciou-o 7.160 vezes por Koya Kobai que bem precisava dele, pois escreveu no fim um poema: "Neste mundo regido eternamente pelos Deuses, raramente vemos um teste pior que este"

Dele se recolheram muitas histórias extraordinárias, tal como quando  se aproximou de um samurai que,  toldado do álcool, já ferira mais de uma dezena de pessoas e este instantaneamente recuperou a razão e parou, provavelmente sentindo em Munetada, um samurai também, a presença do mundo dos Kami. Noutra, quando atravessava a bacia de Kojima em 4 de Abril de 1846 e foi envolvido por uma tempestade que estava a pôr em risco a vida dos viajantes: Kurozumi Munetada compôs rápida e eficazmente um poema e lançou-o ao mar, que se acalmou: 

Nami-kaze wo ikade shizumen, Watatsu-Kami, Amatsu-Hi wo shiru hito no norishi ni. 

Ó Kami do Mar, como acalmarás o Vento e as Ondas? Quem viaja aqui conhece a Deusa Celestial do Sol."

A 1 de Janeiro de 1850 fez o seu último discurso  e a 6 começou a sentir-se doente, compondo então um poema: «A Lua foi-se, o Sol matinal percorre agora o horizonte oriental, E eu, sem dúvida, estou no começo do Caminho». Será todavia só a 7 de Abril de 1850 que o céu se cobrirá, ou seja, que deixará o corpo físico, o qual calcinado em cinzas será depositado no santuário ancestral, em Omoto, com a sua mulher Ikoto, que morrera dois anos antes. Deixou posteridade e muitos discípulos, na altura cerca de mil, e foi sacralizado como kami em 1856 pelas autoridades shinto de Kyoto com o título de Daimyojin. 

A família imperial veio também a testemunhar o seu apreço por várias vezes e formas ao seu ensinamento e grupo, o qual apoiou com bastante entusiasmo e forças o Imperador na sua luta em prol da unificação do Japão. Em 1885 estava finalizada a edificação de um santuário junto à sua casa final de Okayama, e que se tornou a sede do grupo.

Esta sede do grupo, com o decorrer da crescente urbanização do Japão e a consequente privação da vista  do Sol foi em 1974 trasladada solenemente para um novo local numa montanha, Shintozan, ainda que o antigo santuário continue onde se instalara (ou santuarizara) o espírito de  Kurozomi Munetada, considerado um kami humano,  cultuando-se nele ainda  Amaterasu o-mi kami e os Yao-Yorozu-no-kami, ou seja as mríades de Kami.

Dr. Ebina Danjo (1856-1937), pensador nipónico convertido ao cristianismo e missionário, descreveu assim Kurozime Munetada: «As origens das ideias de Munetada não se conseguem traçar [exagera pois lera os clássicos do Shinto Kojiki, Nihongi, Manyoshu, e alguns chineses como Yi Ching, Chuang Tseu, Lau Tzeu, deste tendo  até copiado manualmente o Tao Te Ching], contudo ele é um carácter enorme que fundou grandes coisas. Quando consideramos os seus escritos e poemas, ou examinamos as suas acções, torna-se claro que ele captou algo nos fundamentos do universo e não podemos duvidar que era um verdadeiro homem vivo (katsu jin). Durante a sua vida como líder religioso, sempre que subia ao estrado, as suas palavras fortes e verdadeiras resultavam do poder da deidade ou do espírito divino (kami) que o habitava.»
Já Charles Williams Hepner, nascido em 1887, o autor da obra incontornável e a quem muito devo, The Kurozumi sect of Shinto, Tokyo, 1935, ao contrário, constata influência das austeridades do Zen, do mistícismo do Shingon, do nacionalismo patriótico de Nichiren (1222-1282),  do Judo, além do Taoísmo e do Confucionismo. E aponta vários pensadores, teólogos e escolas do Shinto, que seriam provavelmente fontes das suas ideias, uma posição algo exagerada, pois certamente que semelhanças não querem dizer influências. Eis os nomes desses teorizadores  do Shinto: Ichijo Kaneyoshi, Yoshida Kanetomo, Hayashi Razan, Nakae Tojo, Yamazaki Ansai, Ishida Baigan, Nimomiya Sonto ku, Motoori Norinaga, Hirata Atsutane. Todavia, no fim da obra Charles W. Hepner, diminui tal dependência ao escrever que «as ideias deles são em certos pontos similares às de Kurozumi Munetada».

 Ora no ensinamento de Kurozumi Munetada que ele denominou o Caminho de Amaterasu o-mi- kami (Amaterasu-o-mi-kami no on michi) no qual o Sol  é visto como a própria Amaterasu, de facto tal como o principal teorizador do shinto Motoori Norinaga (1730-1801) por essa época também realçava, observa-se um aprofundamento pioneiro grande de tal realidade e identidade, pois a sua iluminação abrira-o a um contacto mais íntimo com tal face divina feminina, Amaterasu o mi kami, o que foi ainda fortificado com a ligação bem cultivada com o santuário principal de Ise, que muito amava, e de que um belo poema nos fala: 

Kami kaze ya Ise to koko to wa hedatsuredo,
Kokodo wa Miya no uchi ni sumu-ran

Ventos providenciais, sim mesmo que Ise esteja muito distante
O Coração mora dentro do Santuário.»

Em verdade,  tal relação solar divina com Amaterasu tanto se pode aprofundar e elevar, como ampliar e completar, pela nossa vida e virtudes. Por exemplo, uma das palavras chaves do ensinamento, Marukoto, significa "redondeza de mente e coração", e  tanto reflecte a imagem do Sol no céu como em nós, psicologicamente, pela redondeza ou unificação harmoniosa do que sentimos e pensamos, do coração e da cabeça, no fundo num corpo-orbe espiritual mais solar.
E com tal se relaciona outra qualidade muito valorizada, a
sinceridade, e honestidade, Makoto, que Munetono Kurozumi considerava a primeira virtude, pois só assim se obtém a transparência e a redondeza, e nos libertamos de mentira e da hipocrisia.
Outra palavra, geradora de melhores ligações ao divino, é Kokoro, que significa coração, mas também mente, alma, espírito e que para Munetada era fundamental aprofundar-se na sua dimensão interna e espiritual, já que por ela nos unimos ao mundo espiritual e à Divindade, pois Amaterasu o-mi-kami é o coração do 
Universo e enche-o de luz e de graça. 

Alguns dos poemas falam-nos inspirada e sutricamente desta realização interior, tal como podemos ouvir em outros cantos da Consciência Suprema, tal o indiano Astavakra Gita, que traduzi
e comentei há uns anos:

Kami Hotoke ono ga Kokoro mo sutete, Ame-Tsuchi no
Ta wo Inoru koso Aware narikeri.

 Estando os Kami e os Buddhas no teu coração
Que tristeza teres de orar noutra parte.


Ame-Tsuchi no Kokoro no ari ka tazunureba,
Ono ga Kokoro no Uchi zo arikeru.


Se inquirires acerca do coração do Céu e da Terra
Este coração existe sem dúvida dentro do teu.

Outro conceito importante no ensinamento de Munetada Kurozumi é o de Mu, que significa "não é", potencial, fundamento, invisível, espiritual, sem limites, Absoluto. Contrapõe-se ao que é, o material, relativo, fenomenal. Tal deve-nos fazer diminuir o egoísmo (ga), o apego e mesmo a concepção que se faz de Amaterasu o mikami pode ou deve sair de limitações antropomórficas e ser realizada como Sol e coração do Cosmos, ou digamos, como a etimologia indica, o Resplendor Celestial, ou ainda Honshin, o Espírito do Universo.

Jean Herbert (1897-1980), um dos grande conhecedores e escritores ocidentais do Shinto mais profundo, além do Hinduísmo, abordou e resumiu em duas páginas do seu valioso livro Aux Sources do Shinto o ensinamento do movimento de Kurozumi Munetada e delas citaremos o seguinte: «o Kurozumi-kyo, que se dá pela mais autêntica fé religiosa japonesa, ensina que "a origem de todas as vidas no Universo é Amaterasu-o-mi-kami, a Deusa Mãe, cujo espírito solar impregna o universo, dá nascimento a todas as coisas pela sua luz e calor», e transcreve alguma das frases do fundador, tal:  "como é maravilhoso pensar que entre Amaterasu e os seres humanos nenhum écran se interpõe". E que «o ser humano é divino. - Filhos, vós que fostes produzidos pela poderosa Deusa, não entristecei o coração do vosso Kami e Pai-Mãe.» 

Dirá ainda que o Kurozumi não se preocupa tanto com a vida do além pois a sua divisa é "Comunhão (iki-toshi), impregnada de vitalidade" e que «os seus membros inalam a vitalidade divina virando-se de manhã para o sol e dirigindo orações a Amaterasu o mi kami. Inalam o ar fresco como se estivessem a engolir o sol, que é o Espírito Divino de Deus. E assim chegarão a uma consciência mística da unidade com Amaterasu».

Charles William Epner, no seu incontornável livro The Kurozumi sect of Shinto, descreve mais detalhadamente a relação profunda obtida por Munetada com Amaterasu: «A notável experiência de 22 de Dezembro de 1814, quando ele sentiu o espírito do Sol (Go-Yo-Ki) encher o seu peito e vivificá-lo completamente, não foi só o começo da sua obra como fundador de uma seita de Shinto que tem o seu nome, mas foi também muito significativa no enriquecimento das suas ideias sobre a Divindade. Até então adorara o Sol Nascente; mas o seu Nippai (adoração do sol) tinha sido Yoshai, adoração à distância. Através desta experiência uma união mística, entre o Sol considerado como a manifestação de Amaterasu o-mi-kami e Muneteda foi realizada. A partir de então as virtudes divinas foram por ele consideradas imanentes, omnipresentes e salutíferas através dos raios de Luz (Komyo, ou Konsen) do Sol, do Calor (Ondan) na atmosfera, e através do Ar (Kuki) que respiramos. O Espírito do Sol (Go Yo Ki) é portanto Amaterasu O-mi-kami activa através da Luz, Calor e Ar.»

Para um ser tão ligado ao Sol, à sua Divindade e às suas energias era natural ensinar certas práticas aos seus discípulos e que, além das mais directamente relacionadas com a contemplação e a assimilação, houvesse também as de transmissão e cura. E assim desenvolveram-se as respirações energetizantes solares e a transmissão pelo sopro, pelas mãos, por fricções de mãos e no corpo, bem como ainda a recitação de orações, o uso de água consagrada ou "kamizada"(Shin sui) diante do santuário seja para ser depois bebida  seja projectada pelo curador, ora no corpo do paciente ora num papel com o seu nome, para além dos talismãs (Shin-pu). 

Havia algo de magia (majinai) no que se realizava ou acontecia e que se baseava na fé no poder de Amaterasu, que subjaz a todos os seres e que uns podem transmitir ou intensificar mais nos que mais necessitam. Para Charles William Epner, que assistiu a algumas sessões com bastante gente, sacerdotes, orações e cantos, verificar-se-ia o poder de sugestionabilidade e de hipnotismo, embora também acontecessem curas à distância.

De uma delas, pelo snr. Fukoda, narra  Kurozumi Munetada: «Quando eu rezei esforçadamente aos Kami do Céu e da Terra, muito misteriosamente ele ele melhorou e devido ao excesso de gratidão, compus o seguinte poema: 

Amaterasu-Kami no Mi-Kokoro Hito-Gokoro
Hitotsu mi nareba Iki-Doshi nari.

Quando o coração da Divina Amaterasu e o coração do ser Humano se tornam um, isto é sem dúvida a Vida Eterna.»

Para Munetada "a oração (Inori) significa subir ao Sol (Hi-nori) e para o verdadeiro Eu não há oração frustrada."

O Sol é Amaterasu-o-mi-kami e é identificada como Ame-Tsuchi (Céu-Terra), Kokoro (coração), Ten-do (Caminho do Céu), Mu (Não é) e assim orar é um metodo de autoconheciento e cultura, um acto de nos tornarmos um com Amaterasu.

                          

Mas claro, a vida quotidiana tem de ser bem vivenciada, sem apegos nem irritaçãoou, como dizia, Munetada: «A perfeição significa ser redondo como o Sol. Isto significa ser um com o augusto coração da Augusta e Divina Amaterasu. Fazer sofrer o coração da divina Amaterasu é Impureza (Kegare). Impureza significa secar o espírito ( Ki-hare). Por esta razão, uma pessoa irritar-se, e causar sofrimento aos seres e coisas é a maior impureza. 

Já a gratidão deve ser desenvolvida pois por ela tudo o que acontece é uma bênção: «Namigoto mo Ten-Chi to tomo ni tanoshimu. Makoto ni makoto ni Arigatai koyo bakari goza-soro. Alegra-te com o Céu e a Terra em Tudo. Em verdade, em verdade tudo é uma causa de gratidão.»

Acrescentemos alguns dos poemas "mântricos ou kotodamicos" de Kurozumi Munetada, que ecoam as suas realizações e unidade:

«Amaterasu - Kami to Hito to wa Hedate-naku
Sugu ni Kami zo to omo Ureshisa».

Oh, a alegria de pensar que a Deusa brilhante celestial e o ser humano são Um, não separado e ao mesmo tempo Divino.» 

Kane-gane moshi-age-soro tori, waga Hon-Shin wa Amaterasu ô Gami no Bun Shin nareba, Kokoro no Kami wo daiji ni tsukamatsuri-soraeba, kore so makoto no Kokoro nari.

 «Como já disse repetidamente, os nossos corações são partes da Divina Amaterasu; e se nós prestamos atenção ou obediência à Divindade do coração, isso é [ou nisso se manifesta] então o verdadeiro coração.»

 Katachi mo Ten-Chi no shizen to umi-tamo Katachi nareba, ware to muri ni sutsuru ni oyobi-mosazu, nanigoto mo Ten-chi to tomo ni tanoshimu.
«Se os nossos corpos são também corpos  nascidos
naturalmente do Céu e da Terra, não nos devemos abandonar não razoavelmente; mas em todas as coisas alegrar-nos com o Céu e a Terra.»

Ware-ware to omo wag Mi wa Ten no Ware/ Waga mono tote wa Ichi-butsu mo nashi
«Eu próprio que me chamo a mim mesmo, é o Eu Celestial/ Eu não ouso chamar a uma só coisa, minha.»

Shoshi Michi ni wa goza-naku,
Michi wa Hi-no Kami no On-Michini Goz-za-soro.

«O Caminho não é o meu, mas o Caminho da Divindade do Sol.»

Além da sua intensa e real ligação íntima a Amaterasu O mi kami, a divindade não só do Sol mas também intuída como a Deusa Mãe do Universo ou mesmo o Absoluto, Munetada Kurozima foi sempre um ser de amor,  sempre disponível para ouvir, orar ou curar quem quer lhe pedisse,  e nesse sentido, fundamentando-o, corre este  seu poema, antes de poder ouvir no vídeo alguns deles, em japonês aportuguesado:

Tachi-muko Hito no Kokoro wa Kagami nari.
Ono ga Sugata wo utsushite ya min.

O coração da pessoa diante de ti tem a forma de espelho.
Contempla reflectida nele a tua própria face.»

Concluamos esta pequena homenagem a Munetada Kurozumi: 
 
«Michi wa mitsuru nari. Amaterasu-O-mi-kami no Go-Bunshin no michite kakenu yo asobasaru-bekusoro.»
«O Caminho significa estar repleto. Como partes honrosas separadas de Amaterasu-O-mi-Kami, devemos encher-nos plenamente do seu espírito.»

                    

sexta-feira, 2 de julho de 2021

Nuvens trabalhadas subtilmente, angelicamente, teofanicamente... 2-VII-2021, 19.00, Lisboa. Com vídeo

O Céu aberto na Terra pelas nuvens que descem imaculadas e subtis, soprando mensagens que nos arrancam da horizontalidade e nos erguem à comunhão com os espíritos da natureza, devas, anjos e kamis que as modelam e avatarizam.

Súbitas teofanias que ocorrendo ao findar da semana como que a consagram e nos dizem: - Sim avança, apesar da covinagem e da americanagem destrutivas, o teu trabalho vale, e eis-nos aqui para comungar contigo, sob a luz e o calor solar, no belo céu azul, lisboeta ou outro...

Nuvens que vêm cheias de presenças e imagens simbólicas que nos atraem e nos fazem debruçar à janela e as saudar e amar. E as receber para dentro do nosso ser e sua vida terna...

Demos graças e continuemos a comungar com a Divindade Solar, o espaço azul infinito, e as belas imagens, formas, texturas, ventos, cartas, filmes, procissões, danças e seres subtis das nuvens...

Que haja melhor ligação, mais ecológica e agro-biológica, da Terra e do Céu, e que os ciclos naturais e suas gerações interdependentes, com as nuvens derramando a sua água misericordiosa e fluindo através das montanhas e vales,  rios e mares, alimentem, satisfaçam e inspirem amorosa e libertadoramente todos os eco-sistemas e seus seres, do insecto e peixe ao guarda-rios (do Mira, do Tejo, do Doro, do Guadiana e de outros) e à raposa, da família ao Anjo, sob as bênçãos dos mestres, dos Kamis e da Divindade....

E eis as imagens delas e deles... 

Muita saúde e sinceridade, coração e coragem, Luz e Amor!

                                    

                                   

                                
















                

quarta-feira, 30 de junho de 2021

Kahlil Gibran, and his speech on Love, in "The Prophet", with a brief spiritual hermeneutic.

    The lebanese writer and painter Kahlil Gibran (6.I.1887 - 10.V.1931) has given to the light of this world, and surely into the subtle worlds on 1923, already living in New York, his most famous and so beautiful work, The Prophet, delivering to posteriority a speech on love and wisdom, very quoted onwards, like us now, adding love to Love. We have transcribed it, and written some reflections in a certain spiritual hermeneutic, not so present usually, but without pretensions. You can also contemplate some - he left around seven hundred - of his so soft and spiritual paintings and drawings...

 After a very rich but short life on afections and love (specially with Mary Haskell), writings and drawings, and fighting for the independence of Syria and Lebanon from Otomam empire, in 1931, he left his body due a cyrrosis (like four years after Fernando Pessoa, another short-lived famous writer ) and his physical body was transfered for a Christian Maronite church and monastery, now Gibran Museum, in Bsharri, Lebanon, where he is still "pilgrimaged", as in his epitaph, written by himself, he summons us and himself, in a powerful call to awaken to our spiritual imortal entity:
'I am alive, like you. And I now stand beside you. Close your eyes and look around, you will see me in front of you'. Gibran"

Let us hear is perennial voice and logos: 

                                               ON LOVE

«Then said Almitra, speak to us of Love.

     And he raised his head and looked upon

the people, and there fell a stillness upon them, 

[As the Prophet's soul, so full of light and love, was envolving them, and by their deep reverence, love and expectations...]

 And with a great voice he said:

     When love beckons to you, follow him,

     Though his ways are hard and steep.

     And when his wings enfold you, yield to him,

     Though the sword hidden among his

pinions may wound you.

     And when he speaks to you believe in him,

     Though his voice may shatter your dreams,

as the north wind lays waste the garden.

 [Welcome with courage Love. Don't be afraid of the strivings or efforts that you may have to do  to maintain the fire of Love burning  strongly, as is the case when Love shines or beckons you through some one, or in a moment of your advancement in the spiritual path.] 


  
                                       For even as love crowns you so shall he

crucify you. Even as he is for your growth

so is he for your pruning.

     Even as he ascends to your height and

caresses your tenderest branches that quiver

in the sun,

     So shall he descend to your roots and

shake them in their clinging to the earth.

                                      

    Like sheaves of corn he gathers you unto himself.

     He threshes you to make you naked.

     He sifts you to free you from your husks.

     He grinds you to whiteness.

     He kneads you until you are pliant;

     And then he assigns you to his sacred

fire, that you may become sacred bread for

God’s sacred feast.

 [Purification is surely one of the aspects or effects of the fire of Love in us: - Love  make us better and so he has to cut  our defects, in order that our spirit, and so God's love, be shining more, or all the time, in us. Then we are in the mystical body of Mankind, a sacred food for others that you will inspire and intensify, knowing or unknowingly]

     All these things shall love do unto you

that you may know the secrets of your

heart, and in that knowledge become a

fragment of Life’s heart.

 [What are the secrets of the heart, we can ask Kahlil Gibran, as he doesn't say them. Are its preferences, its fears, or its spiritual secrets: the spirit, its forms or body, his capacities or powers, his past and present, and specially his subtle union with the Divine Source, the Primordial Fire of Love? Or  is there a call to be more aware of the heart's subtle life and intimate history?]

                                               

     But if in your fear you would seek only

love’s peace and love’s pleasure,

     Then it is better for you that you cover

your nakedness and pass out of love’s threshing-floor,

     Into the seasonless world where you

shall laugh, but not all of your laughter,

and weep, but not all of your tears.


          Love gives naught but itself and takes

naught but from itself.

[Don't fear the hardships of Love, as he is the pearl of the ocean, the elixir of Life, the Source. Love, we can say in a trinitarian way,  is God essence and in God, He permeates the cosmos as attraction and harmonization, He is in you, as your divine spark is more ignited or active by the sincerity and aspiration of unity of your heart and actions. So when you feel more Love, one of these aspect is vibrating more in you or with you. Sometimes you will feel  blessed by subtle currents or streams... Then you can say: I am being blessed by Love's current, and I shall avoid what bloks, or hides or covers Love and its kinship with the unified field or anima mundi.].

     Love possesses not nor would it be possessed;
For love is s
ufficient unto love.

 [Love doesn't need anything or anyone, and can not be captured, as it is the fire of the invencible Love burning, asking you to leave aside fears, pains and limitations and become embrased on this Divine Fire with the beloved one, or also with the Divine face loved by us, the ishta devata.]

          When you love you should not say,

“God is in my heart,” but rather, “I am

in the heart of God.”

 [We can say that there are two different ways of expressing the awareness of the presence of the Divine and of Love in us: either the living God within, either the feeling of being within God's heart, indeed rare and difficult if we mean the almost unaatainable  heart of the Divine being, but natural if the heart of God means love. I would say: I am feeling more the Love permeating all the Cosmos, and then also in the Heart and in all my being, specially when I am with the beloved ond. And, only in very rare cases, we can feel and see already the living God within, not just Love but his Being, or his personnal face for us, as for example is developed in the mystical tradition of the Ishta devata of the indian spirituals,

And think not you can direct the course

of love, for love, if it finds you worthy,

directs your course.

                                Love has no other desire but to fulfil itself.

But if you love and must needs have
desires, let these be your desires:
To melt and be like a running brook
that sings its melody to the night.
To know the pain of too much tenderness;
to be wounded by your own understanding of love;
And to bleed willingly and joyfully.
To wake at dawn with a winged heart

and give thanks for another day of loving;
To rest at the noon hour and medita
te love’s ecstasy;
To return home at eventide with gratitude;
And then to sleep with a prayer for the
beloved in your heart and a song of praise
upon your lips.»

[May the Divine Love be your inner Sun during all your day and labour, and when you return home from your work done with love,  embrace your loved ones, and pray and meditate with much gratitude and love  to the Divine and to your companion and more perennial friends.
May
we commune with Kahlil Gibran in God's Love, may we shine as prophets of Love, or Knights of Love, so famous in italian, portuguese and middle East traditions, in this so hard third decade of XXI century...]

domingo, 27 de junho de 2021

Oração para o despertar, ou matinal, de Bô Yin Râ. Em alemão, português e inglês. Do livro "Das Gebet", "A Oração".

 SO SOLLT IHR BETEN!
 

IN DER STUNDE DES
ERWACHENS

Heilige Heerschar!
Hüte heute
Meinen neuen Tag!
Hohe Hilfe helfe
Mir,
Dem Vertrauenden,
Tun meine Tat!

Rein ist mein Fühlen: –
Es bleibe rein!
Straff mein Denken: –
Es bleibe gestrafft!
Klar meine Rede: –
Sie bleibe klar!

Ich unterwerfe
Mein Denken
Der Liebe!

Ich unterwerfe
Meine Worte
Der Liebe!

Ich unterwerfe
Mein Handeln
Der Liebe!

              

                    
NA HORA DO DESPERTAR

Santa Guarda!
 Protegei hoje
o meu novo dia!

Sublime Ajuda, 
ajudai-me,
a confiar
No cumprir da minha tarefa!
 
Puros são os meus sentimentos: -
Que eles se mantenham puros! 

Firme é o meu pensamento: -
Que ele se mantenha firme!
 
Clara é a minha fala: -
Que ela se mantenha clara. 
 
Eu consagro
Os meus pensamentos!
Ao Amor!

Eu consagro
As minhas palavras
Ao Amor!
 
Eu consagro
Os meus actos
Ao Amor!
                                                    IN THE HOUR OF AWAKENING

 Holy heavenly hosts!
Protect today
My new day!

Higher Help help
me,
Who trusts,
To do my deed!

Pure is my feeling: –
May it remain pure!

Straight my thinking: –
May it remain straight!

Clear my speaking: –
May it remain clear!

I submit
My thinking
To love!

I submit
My words
To love!

I submit
My deeds
To love!

Esta oração foi extraída do livro A Oração, Das Gebet, publicado em 1922, por Bô Yin Râ, onde constitue, com 21 outras, a parte final, após as suas explicações quanto à arte de orar verdadeiramente, ou seja, eficazmente. Dele houve uma edição especial pela Richard Hummel Verlag, em Leipzig em 1927, So Sollt Ihr Betten!  Assim devemos orar, só com as 22 orações. Anote-se apenas que esta oração matinal se dirige aos Mestres da Luz Primordial, Urlich, que velam e apoiam os seres humanos no Caminho Espiritual, e simultaneamente ao Amor Primordial e Divino, ao qual consagramos todos os nossos pensamentos, sentimentos, palavras e acções. Que consigamos manter, renovar e fortificar tal ligação, entrega e comunhão.....

terça-feira, 22 de junho de 2021

Mais um atentado grave à liberdade do pensamento e da informação perpretado pelo U.S.A.

 Consumou-se hoje mais um grave crime contra a liberdade de pensamento e de informação cometido como não podia deixar de ser pelo governo dos Estados Unidos da América, responsável pela maior parte das perseguições de tais direitos essenciais, das quais as mais paradigmáticas são as de Edward Snowden refugiado na Rússia e Julian Assange a morrer há anos de estrangulamento prisional em Inglaterra.

                                     I once lived with Julian Assange — and he's making a big mistake |  TheArticle

O crime é este: o website da televisão iraniana Press. Tv acabou de ser interdito, bem como outros canais shiaa (Karbala TV, Al-Kawthar e Al-Masirah), apreendidos pelo pretenso defensor da democracia, USA, no fundo num acto cibernético de terrorismo, contra um  povo que teve recentemente uma eleição democrática e que apoiou por grande maioria as linhas de integridade que têm pautado a política nacional e internacional justa do Irão.

Se formos à pagina na web da Press Tv o que encontramos a partir de agora, e não sabemos por quanto tempo, é:

                            Image

Para muitas pessoas, milhões no mundo a Press. Tv era um dos poucos canais em línguas ocidentais, inglês e francês, que dava as notícias mundiais e mais particularmente do mundo shia e do golfo pérsico, não seguindo as directrizes e narrativas deformadas e manipuladoras do imperialismo anglo-saxónico, do wahabismo saudita e do zionismo israelita.

Por exemplo, no meu caso, sem ter nem ver televisão, só consultava dois websites quanto ao que se passava no mundo: a RT.com, russa e Press.tv, iraniana. Pois a partir de hoje deixo de receber algumas informações fidedignas do que se passa na Síria, Afeganistão, Iraque, Irão, Palestina, Líbano e países do Golfo Pérsico, embora o site russo também dê algumas.

Como compreender este abuso de poder, senão por uma linha agressiva da aliança USA-Israel contra o Irão, há muito tempo bloqueado por sanções iníquas que os governos norte-americanos lançaram?

                                         Prof Marcello Ferrada de Noli on Twitter: "#WARMONGERING basic statistics: #US  military bases surrounding #Iran, n= 43 (at least, and excluded US Navy  deployment). #Iran military bases surrounding #US, n= 0 #svpol…       

Quererá isto dizer que eles estão cada vez mais interessados em provocar à guerra o Irão, sabendo-o quase isolado na região e rodeado de dezenas de bases norte-americanas,  temendo que ele um dia possa produzir também armamento nuclear, tal como USA e Israel possuem em abundância na região, e sabendo que o Irão foi recentemente decapitado dos seus dois comandantes, Qassem Soleimani e Abu Madhi al-Muhandis (Luz e amor nas suas almas!)  que tinham derrotado a Al-Qaeda na região e fortificado a resistência ao eixo do mal israelo-americano-saudi, tão apoiado pela desgraçada da direcção da União Europeia?

                                                 

Estes questões só concederão a sua resposta nos próximos meses ou anos, mas deveremos calar-nos e submeter-nos a mais esta opressão do livre pensamento no séc. XXI, pois se já repudiável era a mensagem que o Sistema da Alta Finança Mundial e o Imperialismo USA tentam transmitir com a prisão de Julian Assange, ou seja, não levantem a voz contra os nossos crimes senão são presos, ou agora novo repúdio não deverá erguer-se contra os tentam impor a obrigatoriedade de só recebermos informação fornecida pela distorção dos medias arregimentados pelo sistema, e que basicamente fazem propaganda das ideologias, empresas e interesse norte-americanos e de uns poucos dos seus aliados ou coligados?

                                     These 10 companies control everything you buy | The Independent | The  Independent

Quem adivinharia no final do séc XX, que o século XXI seria cada vez mais o da opressão e da tirania? Haverá lugar para sonharmos com a emergência de líderes sábios, justos e libertadores, ou lutarmos por tal, nos modos criativos e educativos que nos desafiam? Ou teremos de reconhecer que estamos mesmo numa época exterior de trevas crescentes e só podemos é trabalhar na luz interior e no amor, apenas agindo localmente e pensando internacionalmente, caso do twitter, onde muitas vozes (tal Rania Khalek, Suribelle, Eva Karena Bartlett, Shahara Islam Fatema e @VanessaBeeley) protestam contra tal autoritarismo belicoso e sanguinário? 

 Pela tradição dos Cavaleiros do Amor, europeia, portuguesa, indiana e iraniana devemos lutar, pelos modos intuídos ou dharmicos, ainda que de preferência não violentos, em ahimsa...

       Oremos para que o Irão e os Shia no mundo saibam resistir a este ataque do eixo do mal e consigam vencer, inspirados pelos seus Imams e mestres, tal Ali :