segunda-feira, 15 de junho de 2020

Invocação da Sabedoria, Hagia Sophia, Eterno Feminino, em nós e no Graal do coração.

A invocação e culto do aspecto Feminino da Divindade é realizada pouco conscientemente, fazendo-se mais pelas derivações de Maria em tantas Nossas Senhoras e pela Santas no Cristianismo, por Fátima e sua descendência feminina no Islão e pelas várias Deusas dos panteões de outras religiões, das quais destacaremos a Grande Deusa, Ísis, Demeter, Vénus, Amaterasu, Kwan Yin, Radha, Kali, Shakti Devi e Iemanjá.
Sentiu-se e intuiu-se, e foi ensinado pelos sábios mais clarividentes, tal aspecto sob diferentes designações, entidades e qualidades, tais como, para alem das já nomeadas, o Eterno Feminino, o Espírito Santo, a Fecundidade, a Maternidade, a Preservadora, a Fertilizadora, o Amor, a Sabedoria, o Espírito Santo, a Beleza, e ainda como tipos arquétipos de mulheres tais como a sacerdotisa, a mãe, a amante e amada, a curadora, a ensinante, etc.
Todavia, a sua adoração e invocação pode e deve ser feita interiormente e sem estarmos condicionados por imagens corporais, fatalmente limitadoras da grandeza e subtileza  imensa do Espírito feminino, fundamental para a Unidade Divina Primordial se poder manifestar seja no Cosmos seja agora em nós, ajudando-nos no caminho da Unidade...
                                    
Ao longo dos anos dediquei-lhe algumas, não muitas, meditações, cantos, orações, poemas, invocações. Eis uma, com a quadra final, e uma sugestão musical, acrescentadas hoje:
                              
                                        «Ó Sabedoria,
Mãe dos Deuses
Cimo da Minha Alma
Amor Infindável,
Eu invoco-te.

E Tu respondes rapidamente:
- Estou sempre contigo.
Uns chamam-me Anjo da Guarda,
Outros Espírito Santo
ou ainda a Santa Sophia.

Manifesto-me em tudo isto e para além
de toda a manifestação
Sou a mulher na Divindade Absoluta.

Ama-me que eu te amarei,
Chama-me que eu te elevarei
Concentra-te intensamente
e nascerei em ti como Amor.
Medita calmamente
e banhar-te-ei de luz e paz azul
do meu manto compassivo cósmico.

Ó peregrino, escuta-me:
Envoltos nas trevas dos mundos,
identificados com os corpos animais
poucos seres humanos me procuram.
E contudo eu desvendo-me a todos
os que aspiram à mais alta Luz.

   
Virei sobre os vossos esforços
e cobrir-vos-ei de chamas.
Brotarei dentro de vós
como o Sol Divino do Amor.

Ouve-me, ó peregrino:
Entre as principais energias divinas
Eu sou a Sensibilidade
Omnipresente nos mundos.
E posso ser na tua Consciência em ti. 

Não me personalizes numa bela mulher
ou num anjo todo poderoso.
Antes venera-me, respeita-me em ti,
como a tua alma feminina divina,
E crescerás na pureza, lucidez e harmonia.

Procura-me no teu peito ardentemente,
Bem dentro do teu coração espiritual,
Então sentir-me-ás verdadeiramente
como o fogo do amor do  santo Graal. 

                

sábado, 13 de junho de 2020

Dia de S. Antonio, em tempo de "pandemia", com imagens e orações tradicionais e espirituais.

 Sem que as habituais festividades religiosas, artísticas, musicais, conviviais e gastronómicas do tradicional dia de S. António se possam realizar (embora interiormente alguns devotos o invoquem e festejem), devido às medidas de contenção face a possíveis afectações pelo vírus corona, resolvemos partilhar um  pequeno altar popular, tradicional e espiritual, com imagens, destacando-se a pintura de Maria de Fátima Silva, da Ericeira (com os pés do húmus e da humildade e a veste branca e a criança da pureza do coração e da visão, mais o verde da esperança do manjerico biológico), e livros e orações, no caso a mais famosa de S. António, retirada do seu evangelho piedoso, os Cultos de Devoção e Obséquios..., em nova impressão, acrescentando uma prece escrita por mim, directamente para a folha rosa fotografada, há minutos desta manhã antoniana.
Possam S. António e, acrescentemos, Fernando António Pessoa, nascido neste dia, bem como outros seres especiais das tradições que mais cultivamos, e os seres representados na última fotografia, estar bem activos e luminosos enquanto espíritos mais ou menos despertos nos mundos espirituais e assim mais vizinhos ou internos das correntes e bênçãos da Divindade,  inspirarem-nos ou fortificarem-nos conforme as necessidades e merecimentos de cada um.
 
Altar mural pessoal com representações de S. António e o menino ou o espírito íntimo, de Maria de Fátima Silva; caligrafia persa de poema de Hafiz; o humanista e defensor dos direitos humanos e grande amigo de Erasmo, o cronista Damião de Goes; pintura do meu bisavô materno Higino da Costa Paulino; Erasmo de Roterdão (de quem publiquei  o seu Modo de Orar a Deus); Egas Moniz (fiel do Amor, dos cavaleiros de Entre-Douro e Minho e um dos fundadores de Portugal, aio mesmo de D. Afonso Henriques); fotografia minha de criança; espiga de milho e terços internacionais; gravura do Arcanjo de Portugal (que não é S. Miguel, e que deveríamos sintonizar mais frequentemente com ele e o nosso Anjo): e prato mandala iraniano oferecido por Farnoush Fadayan Motlagh, discípula do mestre sufi Dr. Tabande, da linhagem de Nur Ali Shah e com quem eu dialoguei, estando no youtube a nossa conversa espiritual. Possam as melhores correntes de Luz e de Amor divinos passarem por estes seres até nós. Om, Amen, Hum,

quarta-feira, 10 de junho de 2020

O trânsito extático de Maria Madalena, em 22.VII. Pintado em 1664 por Josefa de Óbidos.


                               
É ainda hoje uma história mal conhecida e contada a de Maria Madalena, discípula de Jesus, ou seja, sabe-se pouco e incertamente (embora nas últimas décadas uma imaginação frondosa tenha-se desenvolvido), e cedo foi sujeitada ou resumida, nas referências dos primeiros padres da Igreja, biografias, sermões e na arte, a duas caracterizações principais: Madalena, a Pecadora, e Madalena, a Penitente...
As fontes evangélicas eram escassas: Marcos, 16, 9-11,  Lucas 8, 2-3 e João 20, 1-2, 11-18. 
A caracterização rápida na descrição da ressurreição no evangelho segundo S. Marcos,  de Jesus ter expulso dela sete demónios deveria até corresponder mais a problemas psíquicos de que à má vida sexual da futura penitente, que depois de tal cura passou a fazer parte da comunidade de Jesus e estaria presente na crucificação e morte na Golgota, vindo ainda a  testemunhar a legendária ressurreição, quando se preparava para o ir ungir. 
A essa caracterização algo masculina ou brusca de S. Marcos, vem  depois a transmitida por S. João, o discípulo mais amado (sem falarmos talvez na discípula Madalene), que valoriza ser ela o 1º ser que o viu e que tentando-lhe tocar recebeu a tão citada resposta,  "não me toques", noli me tangere, pois Jesus dirigir-se-ia para o Pai em primeiro lugar, tema que aliás também veio a ser bastante cultivado artisticamente.
Houve outras Marias com quem foi confundida: a dita pecadora que vem beijar-lhe e lavar-lhe os pés no banquete dum fariseu, o qual queixando-se a Jesus da sua má vida, recebeu o poderoso ensinamento: «Perdoados lhe são os seus pecados, que são muitos, porque ela muito amou», tal como nos relata Lucas, VII,  e Maria de Betâmia, a mais amorosa e mística, que ungiu com o dispendioso nardo os pés de Jesus pouco antes da Paixão, em cena descrita por  João em XII, 1-8.
Será  um dos primeiros padres da Igreja, Tertuliano, que as confundirá numa, nisso seguindo-o o papa Gregório o Grande, e em seguida a generalidade da Igreja Católica.  
 Já outros padres da Igreja mais sábios como Orígenes e depois toda a Igreja Ortodoxa, distinguem-nas bem, sendo festejada a 22 de Julho e tendo sido ao longo dos séculos patrona de muitos ascetas e conventos, onde as suas representações em estátuas ou pinturas serviam de algum modo para que a sexualidade masculina tivesse alguma imagem da doçura do amor em que se sublimasse, tal como podemos ver no Convento da Arrábida.
Contudo, pesem as vicissitudes da sua vida misteriosa tanto nos seus possíveis prazeres como nos sofrimentos, chegaram-nos ecos de que ela seria a discípula preferida ou mais próxima de Jesus, invejada ou menosprezada por alguns. Estão neste caso dois dos evangelhos gnósticos encontrados em Nag Hammadi. Nas últimas décadas, contudo, ampliou-se e exagerou-se tal eco e, infundadamente, são às centenas os livros que fazem de Maria Madalena, a mulher de Jesus, gerando-se uma descendência feminina que teria vindo para a Europa. Sem entramos nestas mistificações, convenhamos  que era um ser de muito afecto e que terá sido orientada pelo mestre Jesus para realizações mais espirituais divinas de tal amor. 
Quanto à sombra dos pecados que a perseguiria e quanto às ásperas penitências a que se obrigaria ou se castigaria, há campo aberto para todos, desde os mais moralistas e ascetas aos mais místicos do amor ou mesmo libertinos... 
São milhares as imagens artísticas de Maria Madalena, desde a pintura e a gravura às esculturas nos mais diversos materiais, devendo-se relembrar a sua inclusão ou participação nas famosas esculturas do Menino Jesus Bom pastor, belas peças em marfim indo-portuguesas desde o séc. XVII.
Entre a nossa criatividade artística devocional a pintura de Maria Madalena, de 1664, pela Josefa de Óbidos (1630-1684), filha de um pintor português de Óbidos e que sabia do amor versus penitência pelas suas estadias em conventos e igrejas, tendo gerado cerca de 150 pinturas, dá-nos até uma possibilidade de leitura diferente da rotineira  caracterização dualista pecadora-penitente agarrada a uma caveira ou a uma cruz que contemplaria e à qual oraria, arrependendo-se do que fizera.
                            
Vemos então em vez disso Maria Madalena como sacerdotisa do Amor, paramentada ou vestida como tal, semi-desnuda e de cor de rosa, a cruz como eixo e coluna do mundo, coroada de flores e de longos cabelos soltos, em êxtase (pois trata-se do seu rapto final aos céus), com a auréola do espírito, ou de iluminada e santificada, no momento que foi chamado também o beijo da morte, ou da realização da imortalidade pelo Amor, rodeada só de Anjos, os mensageiros da Luz e do Amor Divinos...
Não há tristeza nem choro nos Anjos e vemo-los claramente como elos da Luz dourada que vem do mundo Divino e exercendo a sua missão de acompanhantes e transmutantes vibratórios do momento da morte.
O pulsar  do coração amoroso de Maria Madalena é ascultado muito subtilmente no pulso da mão direita por um Anjo, que parece estar realmente num esforço de sensibilidade para captar tal subtil sopro vital pulsante, enquanto que um outro grande Anjo, talvez o seu da Guarda, apoia o seu pescoço semi-tombado com uma mão, enquanto que com a outra  deposita ou segura uma vela que passa  pelos dedos de Maria Madalena que, já lassos ou abandonados, não mantêm a verticalidade da chama.
Será que o Anjo da Guarda está a pôr ou a fortalecer a vela, ou luz da fé e da esperança de Madalena nesse trânsito sempre difícil, ou significa que ele está a receber ou a orientar esse lume espiritual que se exala dela e que será atraído por um caminho aberto para o Céu, ou nível do mundo espiritual a que terá acesso, pelos cantos e movimentos coloridos e emotivos dos anjos e anjinhos?
Eis uma belíssima pintura propícia à contemplação harmonizadora e iluminante, ou mesmo à prática da arte de bem morrer, tão valorizada por místicos e humanistas (como Erasmo), ou não tivessem dito os antigos gregos na Antologia Palatina e depois entre nós, em poesias, Antero de Quental, Joaquim de Araújo e Fernando Pessoa (este interrogando-se também em prosa), "Morrer é ser iniciado"?
Saibamos pois morrer em vida e iniciados no Amor renascer espiritualmente...
Anote-se, para concluirmos oiro sobre azul, que Josefa de Óbidos realizou, tal como Maria Madalena, o seu trânsito ou êxtase final no mesmo dia do ano,  22 de Julho, em que ambas se celebram, podendo-se assim imaginar que ela também se representou a si mesma, em alguma proporção sibílica ou clarividente, nesta pintura tão sagrada e comungante...

Mandalas pessoais, desenhadas durante um Congresso em 2009.

Desenhar mandalas espontaneamente é um acto introdutor de dinâmicas de contacto com o não-consciente e que servem até para face a um confronto externo que nos afecta reagirmos com forças interiores nossas que se exprimem nesses desenhos, trazendo ao de cima símbolos, diagramas, energias, mensagens que protegem a nossa aura e ser desse impacto a que estamos sujeitos por ter de ouvir alguém, aproveitando até a ocasião para se utilizarem ou transmutarem algumas energias que estejam em maior vibração...
Nesta mandala o mantra ocidental ou som de oração IAO (repita-o e sinta-o interiormente ligando o céu e a terra...) foi tecido ou discernido numa estrela de oito pontas, em baixo com seres abertos e aspirando, quais aves voadoras e elevantes para o espírito estrela...


A nossa capacidade de vermos e sentirmos a dimensão de profundidade num desenho ou pintura estimula ou está em sintonia com o ver subtil e portanto com o olho espiritual, que todos deveremos desenvolver como um sentido essencial do nosso corpo espiritual ou de glória.... 
Isto pode realizar-se em qualquer desenho simples, ou numa flor, ou no contemplar do céu e do horizonte, ou sobretudo no de pinturas realizadas por quem já via ou vê com o olho espiritual e deixa sinais e linhas de força na sua obra...

terça-feira, 9 de junho de 2020

O espírito no oceano do Amor: Antero de Quental, o Infante Santo, D. Sebastião, Camilo, F. Pessoa e nós.

«O Amor é um oceano de luz, ou a sua Luz. 

Antero de Quental matou-se na terra em que nascera, Ponte Delgada, S. Miguel, "a ilha" como ele lhe chamava, encostado ou junto a um muro, num banco do  largo de S. Francisco, ao anoitecer, sozinho. Sentir-se-ia o seu ego fechado ao imenso oceano e quis entrar nele à força? E porquê?
Por desespero da doença, por erros cometidos, por impaciência, por destemor guerreiro de quem sempre vira na morte uma libertadora, para apor o selo de mártir no final da sua vida?
Poderemos admitir que tal acto serviu bastante para ele se tornar conhecido como o Santo Antero ou já o demonstrara em muitas circunstâncias da sua vida genial mas atribulada?
 Serão essas provações de seres excepcionais o leitmotive do Infante Santo D. Fernando, do rei D. Sebastião, de Camilo Castelo Branco, de Fernando Pessoa, uns mais outros menos conhecedores do Espírito mas todos sacrificadores ou sacrificados ao espírito da época?
É se é só no Espírito que Deus pode ser conhecido, aproximaram-se eles nas suas mortes da Fonte Primordial, ou o descanso e bom porto a que pensavam chegar não se lhes desvendaria assim tão facilmente?»
Tendo escrito isto (agora transcrito com acrescentos) há bastante tempo, sem conhecer muito de Antero de Quental, e agora bem mais estudioso da sua vida e obra,  terei de admitir que embora em jovem ele estivesse muito aberto  ao oceano do Amor, manifestando-o  forte e livremente, depois, por uma série de desventuras, desilusões e doença, acabou por ficar nas margens ou orlas dele, embora especulando bem, amando seus amigos e próximos, tentando especular e intuir mais a grande unidade oceânica de consciência, energia e ideia, sem contudo conseguir sentir-se nela plenamente em Amor e com ligação à Divindade, Absoluto ou Fonte primordial.
Ora para além da doença que tanto fatigou e abalou o seu sistema nervoso, levando-o a desistir de viver mais na Terra, quando tinha apenas 49 anos, embora estes tivessem sido bastantes vivenciados e marcados no seu corpo e alma, também alguns erros de percurso, de valorização de estudos, escritas e opções filosóficas e religiosas  acabaram por o impedir de se abrir suficientemente ao mundo espiritual e divino e nisto nos estimulando ou obrigando mesmo a constantemente pormos em causa a nossa verticalidade e empenho na mais alta realização espiritual que nos é possível
Pensaria Antero de Quental que como alma sobreviveria à morte física e que tal acto de suicídio não era condenável pela justiça cósmica e divina, ou não acreditaria ou valorizaria ele muito uma sobrevivência individual sob que forma fosse, embora alguns dos seus últimos melhores sonetos sejam exactamente os que falam sentidamente de uma comunhão com os mortos?
Santo Antero, peregrino da justiça e da liberdade, santo  por ser bondoso, pesquisador da verdade, sóbrio no viver, estóico no sofrer e disseminando a ética e a sabedoria, a bondade e o amor nas suas relações, diálogos e cartas?

Santo por se ter entregue à sua missão, ao swadharma, ao seu impulso de dever interior, moral, ético, algo sacrificial, fazendo sagrada a sua via dolorosa, tal como os outros seres, todos sofridos e ora santificados ora mitificados pela história e o povo?
Quem conheceu ou vivenciou mais o Espírito dos cinco, por amor, conhecimento ou visão? 
O Infante Santo D. Fernando pela sua interioridade cristã e dura e longa vivência de 16 anos de provação sofrida? 
Antero de Quental, na sua juventude vivendo corajosamente a imensa força do amor e da sede de justiça, liberdade e verdade, e na sua maturidade procurando-a estóica e  filosoficamente? 
Camilo Castelo Branco, na sua criatividade amorosa de investigador, polemista e romancista genial  mas destroçado pelas desgraças familiares e a cegueira?
Fernando Pessoa, na sua demanda solitária sociológica e, patriótica, poética e gnóstica, tão estudioso da criatividade poética, dos mecanismos do génio, dos meandros do ocultismo e do esoterismo?
Bem difícil de compararmos e julgarmos, tanto mais que não é tão evidente o meio de aferirmos comparativamente tal realização em cada um deles, embora possamos pensar que avançou mais lucidamente, mais desperto na vida post-mortem, e rapidamente se internou nos mundos espirituais,  quem  estaria mais identificado ao espírito ou porventura ligado ao seu mestre ou santo, anjo ou Deus.
 Todavia, podemos considerar ainda que as orações que lhes foram enviadas depois das suas mortes os terão ajudado a religarem-se ao espírito e avançarem para o divino. E aí talvez as preces, missas e rituais dos cavaleiros e religiosos da ordem de Santiago, de que D. Fernando, o Infante Santo, era mestre, tenham sido  poderosas no impulso para a alma desincarnada se auto-consciencializar, iluminar e avançar no mundo espiritual. E talvez sendo também ele no fundo quem se tenha  mais sacrificado e santificado, voluntária e involuntariamente, na longa provação mortífera que lhe coube como fava no bolo-rei da Ínclita geração.
 Fernando Pessoa, que no fim da vida bastante desiludido afectiva e socialmente se estava a alcoolizar, embora muito conhecedor das mais importantes doutrinas espirituais, e Antero de Quental, a desanimar-se do meio nacional e insular, rumo ao suicida, embora ambos carregados de valiosos poemas, quão melhores estariam que o jovem ambicioso, e algo fanatizado no império da conquista, D. Sebastião que, tombando na força da juventude em Alcácer Quibir, sem confirmação absoluta de tal, logo muito rezado, foi erguido miticamente a encoberto salvador que virá, algo que Fernando Pessoa tanto exaltará e cultivará depois, inserindo-se ele próprio na Mensagem nessa linha ou veia, pelo menos como profeta dela? Mistério...
Agora, hoje, se conseguem eles ou não movimentarem-se bem à vontade no grande oceano da Anima Mundi, na autoconsciência de espíritos luminosos, de cavaleiros do Amor, quem sabe até inspirando-nos, é uma questão que cada um de nós poderá sentir ou intuir seja na meditação das suas vidas e obras, seja na nossa capacidade de (inspirados por eles ou outros), nos erguermos acima das circunstâncias ambientais que tanto  dispersam, desanimam ou vitimam e cumprirmos as nossas missões libertadoras e iluminadoras...
 No fundo, embora a linha do horizonte do mar marque um umbral oceânico, será sempre no mar do nosso sentir e do ver no nosso interior que a Luz e o Amor do Espírito e da Divindade deverão ser descobertos e recebidos, cultivados e vividos e daí partilhados...

domingo, 7 de junho de 2020

Bernardo Moreira de Sá, biografia por Higino da Costa Paulino e uma carta de Antero de Quental e uma dedicatória de António Arroyo..

                                 
Bernardo Moreira de Sá (1853-1924) foi um notável violinista, maestro, professor e conferencista, nascido em Guimarães e, destacando-se precocemente no meio artístico nacional, mereceu uma biografia de outro artista, Higino da Costa Paulino, meu bisavô materno, publicada na revista que dirigia com Josefine Amann, A Gazeta Musical, no nº 21, de 15.XII.1884. Com a ajuda da arquitecta Maria Antónia Bacelar Antunes, amiga portuense investigadora e que conhecendo a importância de Moreira de Sá na urbe invicta se prontificou a dactilografá-la, podemos hoje oferecê-la.

Acrescentámos, cruzando almas amigas e que certamente se conheceram, a carta enviada por Antero de Quental em 1888 a Bernardo Moreira de Sá, na qual testemunha o valor da  espontaneidade e graça na obra verdadeiramente criativa de um artista, carta onde repete a constatação que a musa poética o deixou de inspirar, tendo parado de versejar, o que aconteceu na realidade a partir de 1886, pois nos últimos anos da sua vida dedicou-se  a publicar os seus Sonetos e a redigir o seu Testamento Filosófico, como bem lhe chamou Sant'Anna Dionísio, o fiel discípulo directo de Leonardo Coimbra e indirecto de Antero de Quental, que a ambos  dedicou vários estudos e com quem muito dialoguei na urbe duriense.

Enquanto Higino da Costa Paulino se fixaria e criaria família (na fotografia) em Goa, Moreira de Sá viajaria pelo mundo tocando com celebridades como Pablo Casals, Viana da Mota e Harold Bauer e escrevendo e leccionando no Porto, onde fundou várias instituições musicais, algumas ainda  não existentes e mencionadas nesta biografia de Costa Paulino, que vale contudo pela profundidade e beleza psicológica, musical e de estilo revelados e com que nos eleva. 

 Oiçamos então a magnífica pintura que Higino da Costa Paulino, também pintor, esboçou de Bernardo Moreira de Sá, com 31 anos, e no fim leiamos o verbo magistral de Antero de Quental, pois é nas suas cartas que se encontra melhor o seu génio humano e espiritual.

Sugestão musical: Beethoven, sonata à luz da Lua, por Anastasia Huppmann: https://youtu.be/-VmQNKaOeEw

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«Ami, cache ta vie et repands ton esprit, dizia Victor Hugo a um poeta. Tal conselho, porém, apenas encontra seguidores exactamente nesses que trabalham pelo amor do trabalho, que lutam por uma ideia pela própria ideia, sem ao seu esforço generoso misturarem um vislumbre sequer de interesse pessoal.
Bernardo Moreira de Sá é um desses raros trabalhadores. Vive um pouco ignorado, envolto na penumbra sem aspirações sociais que lhe roubariam o sossego; mas o seu espírito infatigável espalha-se no campo da arte e da literatura, concebe, empreende e realiza, sempre cheio de uma vitalidade, que raro se encontra naqueles que ostentam à luz das glórias mundanas o seu talento inútil.
As dificuldades de uma empresa qualquer não o desalentam; o ardor e convicção com que empreende a luta, mostram-no, como que animado, às vezes, do extraordinário vigor de um apostolado.
E verdadeiro apóstolo é ele, na verdade; apóstolo fervoroso do belo que cultiva numa das suas mais insinuantes manifestações: a arte musical.
O seu espírito eleva-se para o mundo da arte, como o poeta para o mundo risonho da fantasia; é como se ali nascesse, e ali encontrasse um ideal de venturas, ou o fim da própria existência. Hoje para ele a música não é um modus vivendi, que o seu espírito oscila e se reparte entre as lidas do professor e do literato, a música alimenta-lhe a força de uma paixão, duma atracção irresistível a denunciarem uma alma essencialmente artística, que não se satisfazendo com as desarmonias do mundo, busca no mundo das harmonias alguma coisa elevada e pura onde se ache bem e feliz.
Aquela organização privilegiada para a arte não é evidentemente um produto do meio em que viveu, nem representa nele a continuação das tradições artísticas de uma família; é uma natureza que nos aparece assim, formada, uma vocação decidida, patenteando-se logo no alvorecer da existência, como que a marcar a senda gloriosa por onde tem de decorrer. Em outro país, num outro meio, essa vocação teria sido cuidadosamente aproveitada e guiada nos seus primeiros passos; ter-se-ia robustecido e assinalado bem cedo no convívio dos grandes artistas, sob a direcção benéfica dos grandes mestres. Infelizmente para ele nasceu em Portugal, e, ainda para mais, sem uma dessas fortunas sólidas que suprem todas as deficiências de um país. A sua juventude foi, por isso, uma longa peregrinação, desde Guimarães, sua terra natal, até ao Algarve, através de um meio rude e incapaz de desenvolver aptidões artísticas, mas onde seu pai, magistrado distinto, era obrigado a estabelecer-se por algum tempo, sujeito como estava, ao esforçado cosmopolitismo da magistratura. 

Afinal acabou por se fixar no Porto, que em questão de arte, não sendo o mais esterilizador do país, não é dos mais avançados da Europa. A educação musical que recebeu na infância, boa ou má, serviu-lhe ainda assim para se infundir mais tarde naquela região luminosa, embora para tantos ainda obscura, onde, desde Gluck a Wagner, se tem ido acumulando todas as sublimes belezas da arte de hoje.
As quatro cordas do seu violino, vibradas pela mão débil de criança, começaram por certo por lhe levar o espírito nas ondas sonoras, através da arte italiana, espécie de porta, cujos umbrais, caprichosamente rendilhados, todos os artistas meridionais têm de transpor nos êxtases dum cantabile, ou no entusiasmo frenético de um thema com variações; mas acabaram por levá-lo até ao mundo onde viveram os espíritos de Mozart, Mendelssohn e Beethoven, tríade sublime, no seio da qual o verdadeiro artista é tão feliz em viver um momento, como o piedoso hindu uma eternidade no seio do grande Brahma!
Foi assim que a vocação musical de Moreira de Sá se aperfeiçoou e se robusteceu, e que ele adquiriu esse gosto apurado, e finíssimo critério, que tanto o distinguem actualmente. Do estudo perseverante e da observação nasceu o artista correcto que Lisboa teve ocasião de apreciar no esplêndido concerto de Mendelssohn e em outras composições, e que o Porto constantemente admira. E um produto do seu trabalho; porque, se se deve aos mestres alguns daqueles velhos triunfos da criança que se apresenta em público, executando com perícia e um talento precoce, qualquer fantasia italiana, a si, exclusivamente a si, deve ele agora a justeza, valentia e primor com que ataca e interpreta as mais difíceis composições das músicas alemãs.
Muito novo ainda reuniu-se no Porto, a um grupo desses amadores de música clássica que cultivavam as composições de Haydn e Mozart muito às ocultas, como se fossem doutrinas revolucionárias e heterodoxas em país ultra-católico, celebrando as suas sessões, apenas para um pequeno número de correlegionários sinceros, talvez para não serem acoimados de ímpios pelo que então ainda choravam a dirotte lagrime nos arrancos do Trovador ou dos Due Foscari.
Daquele centro de conspiradores contra o domínio exclusivo da melodia sensual e lânguida das composições italianas, nasceu mais tarde a sociedade dos quartetos, uma verdadeira demolidora de crenças e opiniões, que nos metia no crisol de um andante de Mozart, para depois entrarmos com a alma purificada num adagio de Beethoven, espécie de templo majestoso, onde o espírito se sente dominado por uma fascinação indizível, possuído pelo que quer que seja de sobrenatural ou divino!
Moreira de Sá era então o segundo violino da benemérita sociedade, mas indubitavelmente naquela plêiade de artistas ilustres, o mais entusiasta, o mais cheio de abnegação e de um espírito de proselitismo, que procura conquistar pela revelação completa de todas as belezas contidas numa criação genial, e por tal forma que é considerado, como um dos mais resolutos e inteligentes propagadores da música clássica entre nós. O arco manejado magistralmente, e a pena habilíssima do escritor vão realizando a árdua tarefa de devastar os entranhados preconceitos contra a música alemã; a execução conscienciosa do trecho e a sua critica apurada, unem-se para lhe porem em relevo toda a formosura. Nisto é Moreira de Sá auxiliado por uma verdadeira intuição musical. As suas faculdades estéticas adquiriram tal delicadeza e perfeição, que ele adivinha por assim dizer, toda a beleza e sublimidade duma dessas concepções que a muitos parecem vazias de sentimento, faltas de inspiração, de verdade ou de plano. Foi o que sucedeu com a música de Wagner.
Quando em Portugal apenas havia, talvez, notícia da existência daquele ousado inovador, como lhe chama Lavoix, daquele imortal criador do drama lírico moderno, já ele era um wagneriano enrajé, pronto a lutar pela música do futuro, e cheio de sincero entusiasmo pelo seu desenvolvimento.
Hoje, porém, graças à dedicação das sociedades de quartetos e de música de câmara, e à poderosa iniciativa de Moreira de Sá, as composições clássicas são justas e devidamente apreciadas. Os modernos trabalhos dos compositores alemães, russos, suecos, e de todos que seguem as belas tradições de Beethoven, Mendelsson, Chopin e outros, não existem já para nós apenas na noticia de algum jornal estrangeiro; têm sido auxiliados e saudados com entusiasmo nas obras mais notáveis de Brahms, Rubinstein, Grieg e tantos outros, que vão enriquecendo a arte moderna com verdadeiros primores.
Um outro modo de iniciação da boa música, e ao mesmo tempo um valente impulso na generalização e levantamento do gosto pela arte, empreendeu-o Moreira de Sá heroicamente, organizando o Orfeão Portuense, o único que existe em Portugal. É triste chamar-lhe o único, mas é verdade, porque outro não existe no nosso país! Contra as dificuldades que sempre surgem em instituições desta ordem, contra o indiferentismo, que passado o primeiro momento de entusiasmo, vem sempre matar os mais alevantados empreendimentos, aí está bem patente a vontade inquebrantável dum homem decidido, lutando porfiadamente por uma ideia nobilíssima, procurando mostrar às outras nações, que não nos conservamos de todo estranhos ao movimento artístico nelas realizado.
Moreira de Sá não é apenas um espírito de artista, animado pelo santo entusiasmo de propagar a sua arte predilecta, teve a par da educação musical uma educação literária e científica, amplamente demonstrada em vários trabalhos apreciáveis.
Trabalhador tão modesto como incansável, dotado de um carácter honestíssimo, de uma alma verdadeiramente pura, que converte em amigos sinceros todos os que o rodeiam, não consome a sua vida de constante labutação mirando a honrarias, a distinções oficiais, ao reconhecimento sequer dos seus concidadãos. Nada disso se dá com o seu génio despretensioso, trabalha pelas almas… de Beethoven e Mozart, talvez, e parece perfeitamente recompensado dos seus esforços, mandando-lhes para lá alguns centenares de admiradores genuínos.»

                                                                    * ~~~*

Depois deste magnífico parágrafo final, no qual Higino da Costa Paulino, refere o corpo místico da humanidade, ou a comunhão dos santos, sábios, artistas e heróis, dum modo muito peculiar: Moreira de Sá trabalhando pelas almas de Beethoven e de Mozart, ao dar a conhecer e ouvir as suas obras e portanto remetendo energias e almas admiradoras para eles, vejamos, através de uma fotografia de uma página do número de 15.XI.1905 do mensário A Revista, de Joaquim de Araújo, grande amigo de Antero, a carta que este, onze anos mais velho que Moreira de Sá, lhe dirige com tanta humildade e sinceridade acerca da sua musa e graça criadora, bem como do engenho, saudando "um homem tão inteligente e tão consciencioso artista", a quem "beijo as mãos", pelas palavras que lhe dirigiu e por "tudo", um tudo de infinita gratidão artística à Divindade...

   Transcrevamo-la para facilitar a leitura:

«A carta de V. Ex.ª, deixa-me penhoradíssimo, e preciso de uma certa força para resistir a um desejo expresso por maneira tão honrosa para mim.

Mas vai em três anos que deixei de fazer versos.

 A um homem tão inteligente e tão consciencioso artista, como V. Ex.ª, posso dar a verdadeira razão deste facto, porque sei que a compreenderá, aprovando o meu modo de proceder. Eu entendo que o artista e o poeta devem cessar de produzir desde o momento em que sintam enfraquecida ou perturbada na sua harmonia íntima e espontânea a faculdade criadora. É um sacrifício que lhes impõe a probidade estética, se assim posso dizer. Ora vai em 3 anos que este é o meu caso. Possuindo um processo e conhecendo os segredos da arte poética, podia, como tantos outros, continuar a fazer versos mecanicamente. Achei mais honrosa a solução contrária. Achei-a até mais prudente, porque a vontade e o processo não podem suprir a graça, quero dizer, a espontaneidade criadora, sem a qual as obras mais bem feitas não passam de sepulcros caiados.

Deixei-me pois de versejar, e cuido ter feito bem.

Entrei nestas explicações, até certo ponto íntimas, porque às expressões de V. Exc.ª, tão honrosas para mim, pensei não poder responder dignamente senão com a mais completa franqueza. Por elas e por tudo beijo as mãos a V. Ex.ª, de quem sou, com a maior consideração, 

Criado muito obrigado,

                          Anthero de Quental».

 

Acrescente-se entretanto  o início da sentida e valiosa dedicatória que Bernardo Moreira de Sá e a sua acção em Portugal receberam de António Arroyo no seu livrinho Parisina, Poema symphonico (segundo Byron) de Leopoldo Miguéz. Esboço crítico. Porto, 1896: «Meu caro Bernardo. Deixa-me pôr o teu nome no topo deste curto estudo de crítica; ele provém do movimento musical devido à tua vigorosa iniciativa, movimento que tem tornado conhecidas do público portuense as obras orquestrais de Mozart, de Beethoven, de Wagner, de Saint-Saëns, de Grieg, de todos os grandes compositores enfim. Eu desejara vê-lo fecundado pelo auxílio de todos os que pensam e sentem nesta malfadada terra; desejara ver nascer um dele um instituto que tu dirigisses com as tuas formosas qualidades de artista, de sábio e de professor, aliadas à maior tenacidade e a um ideal de vida que há muitos anos vejo sempre o mesmo no fundo e maior, cada vez mais completo e mais largo em dimensões. Venho por isso pôr  minha pedra nos fundamentos do edifício, embora tosca de forma, cheia de lezins e mal argumentada. Mas o filosófico pilriteiro já legislou para estes casos: "Cada qual dá o que tem, Consoante a sua pessoa". A obra de Miguéz, que tu acabas de nos revelar e tantas noites dum trabalho cruel te custou, foi executada de um modo notável, mercê dos teus esforços e do entusiasmo que soubeste inspirar aos artistas da orquestra, aos amadores como aos profissionais; eles sentem por ti a veneração e o carinhoso afecto que a bondade inteligente acaba por sempre por impor aos mais difíceis de convencer. (...)» 

«On se lasse de tout, excepté de comprendre...»

Porto, 17 d'Abril de 1896.     

A. Arroyo.»

 

Anote-se que António Arroio (1856-1934; e a vinheta final deste artigo é do seu livro) publicou em 1901 a narrativa algo fantasiosa da Viagem de Antero de Quental à América de Norte, onde a desilusão lúcida dele com a civilização capitalista norte-americana é evidente e profética, e que Joaquim de Negrão, o dono da embarcação e organizador da atribulada viagem e em que Antero calhou entrar, narrara a Bulhão Pato, e este publicara no I volume das suas Memórias. Em 1917 António Arroio publicará Singularidades da Minha Terra (na Arte e na Mística), num in-4º de 347 páginas e onde, após narrar belamente suas viagens ao norte, ao Sameiro, a Camilo Castelo branco, num dos capítulos, intitulado Em S. Carlos, aborda bastante a música, a mística e Beethoven, Berlioz, Wagner  e Massenet.

sábado, 6 de junho de 2020

Poesia Espiritual: da Natureza a Deus, do Universo ao Cosmos, a essência do Caminho espiritual.

 
Passeios à natureza e ao mar,
fontes de Divindade sem par.
Encontrar lá sua força imensa,
que incarna em nós intensa.

- Sou o Amor infinito e divino
capaz de suportar todas as penas
com a alegria da eternidade viva,
o júbilo determinado no íntimo.

Saibamos dar as mãos e ajudar,
pouco querendo aproveitar,
Deus é a grande alegria do doar
  e o nosso melhor prazer, ensinar.

Pelo pensamento e sentimento,
palavra justa e vivo exemplo
se constroem os lanços do Templo
onde Tu habitas, ó Deus imenso,
espírito inefável que em mim brilha
como luz e calor em sábio ardor.

Enfim, cada dia arrancar da minha inércia
o canto de rouxinol, o esforço de cavador.
Graças muitas dar pela graça recebida
de compreender Deus e seu desígnio
de fazermos do universo um Cosmos.

Sonhou Pascoaes o Regresso ao Paraíso,
outros a realização do Plano divino,
a Comunhão dos Anjos, mestres e humanos,
o santo Graal do fogo do amor unitivo
ardendo em todos os fraternos viventes.

Só sei que pouco ou nada sei
e que sou apenas uma centelha de ti,
mas aspiro: -Vem nascer em mim!

Poema escrito já há uns anos e reconstruído ou aperfeiçoado em 6-VI-2020, ilustrado comd uas Pinturas de Bô Yin Râ.
Poetizar a participação e comunhão da Humanidade e Divindade no Cosmos... Aum...