quarta-feira, 19 de fevereiro de 2020

Acerca do Graal, e da Luz e Amor espiritual. Da sua demanda. 1ª parte.

Para recebermos a Luz espiritual e divina é  necessário estarmos livres ou desprendidos o mais possível de imagens e preocupações, desejos e pensamentos.
Neste sentido da unificação interior do nosso ser, seja na receptividade seja já na comunhão espiritual e divina, surgiu em ensinamentos, histórias e lendas (em especial a partir da Idade Média, na Europa) a taça, o vaso ou mesmo o prato do santo Graal, que manifesta a realização espiritual e axial e sobre o qual desce a Luz, ou que contém em si a Luz, que clarifica, plenifica e harmoniza o que a rodeia...
Este vaso ou taça descobre-se ou surge individualmente numa demanda espiritual na vida, num certo percurso árduo, com esforços e dores, provações e tentações pelas quais é manifestada a força da presença interior espiritual unificada  e  o domínio ou não submissão ao que se tipificou como o mundo, a carne e o diabo, ou seja, as dependências, vícios e orgulhos egóicos, vencidos pela nossa vontade unificadora, o coração vivo e a ligação subtil superior...
O tesouro da água viva ou do sangue espiritual do coração não deve ser muito afectado pelo exterior, pois face aos invasores ou atacantes a irradiação ou coragem do coração deve prevalecer, de modo a que o ser humano não perca o brotar e derramar do fogo do amor.
Se nos enchemos demasiado do exterior, se nos envolvemos muito com o que nos rodeia pessoal, nacional e internacionalmente não conseguiremos tão facilmente o silêncio e a meditação interior, embora certamente a maior parte dos seres tenha de relacionar-se com justiça e coragem e, portanto, psíquica ou mesmo fisicamente lutar contra as forças opressivas e destrutivas que manipulam e regem ainda tanto os grupos e sociedade. E, assim, na sua interioridade, saber coordená-las, silenciá-las e sublimá-las, com persistência e paciência, nas suas tentativas ou práticas de meditação, oração e contemplação, pelas quais o seu olho espiritual se vai abrindo.
A busca do silêncio e paz profunda pode então ser vista como um diálogo incessante de clarificação, harmonização e realização espiritual interior, e como a abertura à corrente espiritual e ao corpo místico da humanidade, a walayah dos amigos de Deus, os mestres e santos, espíritos celestiais, Kami, Deuses ou faces da Divindade.
Possamos então nós receber e manifestar a corrente espiritual divina grálica...

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2020

As Quadras ou Cantigas (2ª p.) de Antero de Quental, nas "Primaveras Românticas". Com vídeo.

Segunda e última parte da leitura comentada (em vídeo, no final) das quadras de À Guitarra, escritas em 1864, e publicadas no jornal o Século XIX, de Penafiel, em 7.XII.1864, e inseridas nas Cantigas, das Primaveras Românticas, de Antero de Quental, 1872, antecedida pela transcrição de algumas delas:
                            

II
«Guitarra, minha guitarra,
Quem as cordas te estalou?
Acabe-se esta cantiga
Aonde o amor se acabou!
III
Lindas águas do Mondego,
Por cima olivais de monte!
Quando as águas vão crescidas
Ninguém passa além do ponto. 

Ó rio, rio da vida,
Quem te fora atravessar!
Vais tão cheio de tristezas...
Ninguém te pode passar!

Mas dize tu, ó Mondego.
Pois todos levam seu fado,
Tu que foges e eu que fico
Qual de vós vai mais pesado? 

Tu, ao som dos teus salgueiros
Levas as tuas areias...
Eu ao som dos meus desgostos
Levo estas negras ideias... 

Debaixo do arco grande,
Onde a água faz remanso,
Tem paz qualquer triste
Que ande à busca de descanso.

O luar bate no rio;
Tem um mágico fulgor...
Não há assim véu de noiva
Nem há mortalha melhor!
(...)
Lindas areias do rio!
Uma trás d'outra a fugir
Vão direitas dar ao mar...
Ah quem  pudera dormir
(...)
Lindas águas do Mondego,
E os salgueiros a cantar!
Quando a cheia é de tristezas
Ninguém a pode passar!»

Saltamos entretanto várias quadras e concluímos com a última, embora na gravação tenham sido lidas todas...
VI
                               «Guitarra, minha guitarra,
                                  Já que a corda te estalou
                                  Pode acabar a cantiga
                                  Aonde o amor acabou!»
 
Segue-se a leitura comentada da À Guitarra, algo longa mas com alguns comentários espirituais bons....
                      

As Quadras ou Cantigas (1ª p.) de Antero de Quental, nas juvenis "Primaveras Românticas". Com gravação delas.

Primaveras Românticas, Versos dos vinte anos (1861-1864) é o livro das composições líricas de Antero de Quental, criadas entre os 19 e os 23 anos, e por ele dadas à luz primeiro num pequeno livro, Beatrice, 1863, e em publicações periódicas de Coimbra  e de Penafiel, sendo finalmente recolhidas sob este título já só em 1872, quando estava a chegar aos seus 30 anos, com Duas Palavras prefaciais onde afirma «... não me envergonho de ter sido moço. Ter sido moço é ter sido ignorante, mas inocente./ A luz intensa e salutarmente cruel da realidade dissipa mais tarde as névoas doiradas da fantasiadora ignorância juvenil. Mas a inocência, a inteireza daquele indomato amore com que abraçamos as quimeras falazes dum coração enlouquecido pelo muito desejar, essa inocência é a justificação sagrada daquelas ilusões, o que as torna respeitáveis...»
 As Duas Palavras prefaciais concluem assim, quando Antero de Quental estava na sua fase mais revolucionária (as Odes Modernas, que a iniciaram, tinham saído já em 1865)  mas não desdenhava do que, quinze anos depois, em 1887, na carta autobiográfica a Wilhelm Storck considerará "poesias de amor e fantasia" mas também "du Heine du deuxième qualité":«Depois, desse passado de ingénua e quase sublime ilusão, há ainda um ensino prático, imediato, a extrair para a vida real, para a vida real, para a vida da acção e da justiça. Essas ilusões como que nos estão dizendo de contínuo, na sua linguagem misteriosa: «Fostes crianças: sois já homens. Pois sede agora homens tão lealmemte, tão completa e resolutamente como soubestes ser crianças. Ponde nas acções fortes a alma, o ardor intrépido que pusestes nos sentimentos apaixonados... e não teremos existido debalde».
Se isto é assim, encontrarão ainda os espíritos justos alguma utilidade moral nestes versos de rapaz.»
A obra contém a Beatrice, Peppa, Idílio Sonhado, Maria, Cantigas e, finalmente, Poesias Diversas. Ora foram as Cantigas, que estão divididas em três partes, intituladas À Guitarra, Ao Luar e Limoeiro Verde, contendo cada uma várias quadras, que escolhemos para ler e comentar...
Lemos e comentamos em duas gravações as quadras da À Guitarra, publicadas inicialmente em Penafiel, em Dezembro de 1864 no jornal O Século  XIX, fundado pelo pai de Joaquim de Araújo, Rodrigo Teles de Menezes e Germano Vieira de Meireles, e transcrevemo-las aqui, tanto mais que elas não estavam ainda disponíveis digitalmente, a não ser num Pdf e nos extractos que a  Amazon mostra nos resultados do Google, numa açambarcadora propaganda opressiva de qualquer concorrência, mesmo que apenas divulgativa.
 I
«Três cordas têm a guitarra
Uma d'ouro, outra de prata...
A terceira que é de ferro,
Todos lhe chamam ingrata.

Ninguém faça ramalhetes
Com flores que hão-de murchar...
Ninguém tenha cordas d'ouro
Se não as quer ver estalar.

Aprendem todos comigo
O que pode acontecer
A quem canta os seus amores
Num cabelo de mulher...
Das três cordas da guitarra
Só a terceira dá ais...
Bastou-me um amor na vida,
Um só amor e não mais!
Quantas folhas tem a rosa?
Quantos raios tem o sol?
De quantas ervas do monte
Faz o ninho o rouxinol?
Quantas ondas d'água amarga
De tantas que andam no mar,
Quantas ondas são precisas
Para um homem se afogar? 

Dizei-me, ó rosas do monte,
E ondas que andais a fugir,
Quanto amores se querem
Para um peito se partir?

Não sei quantos peitos tenho,
Nem já quantos corações...
Mas não cabem dentro deles
Minhas grandes aflições!

Quem tem vida para isto
Mais valia não a ter!
Palavras leva-as o vento...
Quem as podera esquecer!

Das três cordas da guitarra
Uma chora, outra dá ais...
Bastou-me um amor na vida,
Um só amor e não mais!» 
 
Segue-se a leitura, comentada. Numa 2ª gravação foram lidas e comentadas as restantes quadras d' À Guitarra", também neste dia, 17.II.2020.
                      

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2020

Do Amor aos seres humanos e aos celestiais, o Arcanjo de Portugal. O Dia de S. Valentino.

     Para além do amor horizontal aos seres humanos e aos animais, à natureza e às coisas, a ligação ou comunhão vertical e interna com os Anjos, santos e mestres - que se pode chamar também comunhão dos santos, corpo místico da Humanidade, Igreja triunfante, Satsanga, Sanga, Awali - é certamente fundamental na harmonia bem orientada  da humanidade, dos países, de cada um de nós...
Ao contrário da comunicação entre os seres humanos, que, pelas palavras, o abraço, o telefonema, o e-mail, proporciona fácil e reciprocamente trocas energética do que queremos ou precisamos, a comunicação com os Anjos  é difícil de se alcançar pois implica merecermos conseguir sintonizar com tais níveis subtis e seres invisíveis. 
Poucas pessoas meditam ou rezam  ao seu Anjo da Guarda ou mesmo ao Arcanjo de Portugal pelo que muito raramente obtêm alguma vivência interior, pois estão mais num plano de religiosidade e sentimentalidade e não tanto de espiritualidade, pouco conscientes ainda da sua identidade espiritual, e mais identificados às necessidade corporais e  à personalidade ou à alma mutável e, embora com mais ou menos fé nas suas crenças, em geral pouca estabilidade e silêncio alcançam nas suas mentes para conseguirem sentir ou ver interiormente o Anjo.
Não há assim um centro, um auto-conhecimento da centelha espiritual em nós, e  o corpo espiritual não é consciencializado nem desenvolvido, os sentidos espirituais pouco estão despertos ou activos e os níveis mais instintivos predominam ainda. Ora para conhecermos, vermos ou termos a certeza da existência dos Anjos, o olho espiritual tem de funcionar, a luz subtil tem de circular, e a nossa vida deve permitir que tal graça possa descer...
  É necessário praticar-se a oração, a meditação, a contemplação, além da vida coerente, sóbria, ética, harmoniosa, para que, através de concentrações que diminuam a agitação dos pensamentos e foquem ou orientem  as forças da alma para os níveis e seres subtis, com amor e persistência, tal acesso aos planos espirituais possa acontecer...
Além do amor aos pais, aos amigos, à amada ou amado, aos próximos, também o amor ao Anjo da Guarda, ao Arcanjo de cada país, ao mestre de cada um, à Divindade nossa são fundamentais de se desenvolver, pois não deixam diminuir ou apagar a chama do Amor em nós, e se conseguirmos perseverar nas tentativas de recolhimento, sintonização e comunhão com eles, obteremos ou  desenvolveremos vidas mais harmoniosas, justas, criativas, perenizantes...
Quanto ao Arcanjo de Portugal, que não é um anjo nem o arcanjo S. Miguel, como alguns queriam errada ou dolosamente, e que as pessoas rezam e invocam, ou que  evocam para salvar o país, devemos lembrar-nos que temos de merecer  pessoal e interiormente tal inspiração ou bênção, o que implica aspiração perseverante nossa (e a dispersão actual  da vida, e a opressão dos media, diminui-a), e simultaneamente trabalharmos para que tais bênçãos ou presenças e qualidades, tal a serenidade, a subtileza, a gravidade, estejam mais vivas em nós e logo em Portugal ou no meio ambiental em que vivemos.
A harmonização externa é na realidade um trabalho hercúleo pois sabemos bem como a manipulação e a alienação tanto política e financeira, como mediática, médica,  cultural e  psico-espiritual é grande e, espalhada pelos meios de informação e redes sociais, arrebata, manipula e aliena a maioria. 

Assim orarmos, meditamos e contemplarmos o Anjo da Guarda, o Arcanjo do nosso país, e a Divindade é um trabalho simples, directo e fundamental seja para a "salvação" ou salutificação ou harmonização individual, como para a nacional e mundial...
Possamos nós de quando em quando intensificar o amor, a atracção unitiva com tais seres elevados, de modo a que as suas energias e consciências mais luminosas e expandidas estejam mais activas em nós e entre nós...
 Que o dia e a noite de S. Valentino  alcancem ou toquem amorosamente não só os seres mais amados na Terra, tal o amado ou a amada ou as pessoas mais queridas,  como também os dos planos subtis e espirituais, mormente os mestres e santos e o Arcanjo de Portugal, dispondo-nos, ao contrário da maior parte dos políticos e gestores, a trabalharmos mais abnegadamente e luminosamente pelo bem, por Portugal, pela Humanidade ligada ao Amor e à sua Fonte Divina...

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2020

Joaquim Leitão, "A Mulher e os Livros": das finas mãos das monjas às bibliotecas vivas...

Joaquim Leitão (Porto, 1875 - Lisboa, 1956), formado em medicina, dedicou-se ao jornalismo, à escrita, à bibliografia, exercendo cargos administrativos e públicos importantes. Deixou vasta obra, nela se destacando, como tradutor, uma dúzia de livros de Tolstoi vertidos do francês, como historiador, os estudos sobre o palácio de S. Bento, a revolução de 5 de Outubro e as revoltas monárquicas, e como escritor vários títulos, alguns regionalistas. 
 
Este pequeno opúsculo, pela sua curiosidade e pelo amor aos livros e bibliotecas foi fotografado e partilhado dispensando grandes comentários pela sua sensibilidade, cultura e  amor tanto à mulher como aos livros, com os quais fez de certo modo a sua vida. 
Quanto à sua mulher, D. Amélia de Abreu de Lima Tavares Cardoso Leitão, a quem dedica a obra, embora não leiamos  elogios nem a ela nem às musas, observamos a esperança que Joaquim Leitão tinha nela e suas amigas de virem a ser impulsionadoras das bibliotecas populares, sonho que acaba por ser o tema principal do opúsculo, exceptuando a parte inicial em que elogia com grande sensibilidade e conhecimento as monjas ou sorores que iluminaram os códices antigos, ou os livros religiosos, das suas congregações e conventos.
Ressalve-se o ter sido escrito na época do Estado Novo, e logo e ter na parte final o preço do aprobatur expresso na fé na raça, no regime da época e nos alfacinhas... 
Mas como tudo passa e a luta pela liberdade, a cultura, o amor e a beleza continua, leiamos Joaquim Leitão no seu elogio das artes caligráficas femininas, tão necessárias face à tecnologia digital, e elogio das bibliotecas populares, hoje de facto, a não serem acompanhadas de interactividade presencial, dialogante e até museológica referida, e portanto já ultrapassadas pelas bibliotecas municipais, em geral bem equipadas e com a biblioteca universal em rede digital,  e que são ainda peregrinadas pelas cultoras e cultores das belas letras embora não de muitos estudantes de vilas descentralizadas e sem elas... 
Já quanto à cruzada laica pela estimulação da leitura, advogada por Joaquim Leitão na linha de Guarino, sem dúvida que será sempre necessária, face a tanta absorção do templo livre pela tão manipulada e alienante televisão...
Ler na receptividade pura e lúcida, escrever infundindo a luz, a verdade e o amor...

 











domingo, 2 de fevereiro de 2020

Antero de Quental: da Filosofia e do Budismo ao suicídio e à realização espiritual e Divina.

Quando equacionamos as vastas leituras, reflexões e diálogos a que Antero de Quental (1842-1891) se consagrou, desde jovem, em especial Michelet, Proudhon, Hegel, Kant, Hartman, entre muitos outros, somos levados a pensar que talvez tenha valorizado demais a busca filosófica, dentro de conceitos e doutrinas, como o meio principal para a compreensão do ser humano e dos mistérios da vida, em vez de a tentar (ou pelo menos culminar) pela meditação, a intuição e a comunhão, já entrando numa dimensão não apenas racional e objectiva mas religiosa e sobretudo espiritual.
Antero de Quental constantemente surge-nos como alguém que ficou num "no man's land", numa terra de ninguém, num umbral entre a terra e o céu, entre a vida e a morte, a realidade psico-física e o absoluto ou o divino, com quem não conseguiu estabelecer a relação interior ou vivida de amor e conhecimento, em parte também pela doença psico-somática que o enfraqueceu...
Toda a sua afectividade natural, tão pujante na adolescência para a mulher, idealizada mesmo como Beatrice de Dante, e depois para a humanidade livre, com todas as suas aspirações de justiça e de revolução, expressa em belos e poderosos poemas começou a enfraquecer, a esfumar-se, conseguindo-a sublimar contudo nos imortais Sonetos, que retratam os caminhos filosóficos de luta entre a aspiração e a dúvida, a vida e a morte, o fatalismo e a liberdade, o deus vingativo e o deus amoroso, o vazio e o amor, rumo a uma luz e unidade  apenas levemente entrevista.
Morta a fase poética, desiludido da política, restou-lhe a filosófica, que sempre tivera mas pouco realizara por escrito apesar de vários programas ou projectos, que consegue todavia no último ano da sua vida culminar ou cumprir no seu testamento As Tendências gerais da Filosofia na segunda metade do século XIX, publicado em três números da revista Portugal
Certamente que restava a grande fraternidade idealista com vários amigos, com maravilhosas ou sábias cartas enviadas, e o amor para a família e as duas crianças adoptadas.
Mas isso não era suficiente e o seu coração foi cada vez diminuindo na irradiação equilibrante necessária face aos problemas da saúde nervosa e ao isolamento ambiental profissional, social e de missão.
 Uns meses antes de morrer ainda respondeu presente a um apelo estudantil da invicta urbe portuense para presidir a uma causa nacional, na efémera Liga Patriótica do Norte, contra o imperialismo inglês, mas aí viu de novo surgir em si a amarga desilusão e partiu do continente já sem desejos nem esperanças, como nos narrou Guilherme de Vasconcellos Abreu no seu contributo para o In Memoriam, a propósito de um sutra sânscrito do Hitopadexa que discutiram:
«Tudo estudou, aprendeu tudo e tudo executou, quem voltou as costas à esperança e se ampara descansado em nada esperar.»
Antero ficou mais sombrio depois de lermos este aforismo sanscrítico, e por vezes interrompia-me dizendo:
"-É exacto!... Não tinha consciência deste facto!"
Digo interrompia-me porque ele pouco falava, queria-me ouvir acerca do panteísmo hindu, acerca do pessimismo, do nirvana.»
Certamente se Antero de Quental tivesse estudado mais a tradição vedântica, em especial das Upanishads e na linha dwaita, ou seja, a que aprofunda a individualidade humana e a sua capacidade de uma relação pessoal com a Divindade, ter-se-ia iluminado, e vivido, mais...
Antero de Quental podia ou deveria ter aprofundado  a realização espiritual pelo coração, pelo amor, para com a Fonte, tanto dentro de si como no mundo espiritual ou mesmo no Absoluto, por uma busca e consciencialização do espírito e da Divindade.
Por múltiplas razões, e embora Antero tivesse raízes familiares religiosas e sensibilidade mística, e tivesse até lido os místicos alemães medievais, como refere mais de uma vez (a theologia germanica), esse cristianismo porque demasiado pietista ou devocional e excessivamente dependente de Jesus não lhe podia servir, seja como estudante de Coimbra, ou apóstolo de um socialismo idealista, ou já depois tão aberto ao ecletismo que o caracterizava e mesmo ao panpsiquismo, de que vimos uma alusão de Vasconcellos Abreu e de que a sua correspondência por vezes fala, tal como com Carlos Cirilo Machado...
Por outro lado o pessimismo e sobretudo o budismo, se por um lado o desapegavam do egoísmo e o tornavam mais moral  e ético, por outro lado, com as suas limitações de realização amorosa, espiritual e divinal, acabaram ainda por enfaixar mais Antero em liamas e numa linha de renúncia, de perda do eu e de desesperança. 
E assim o caminho espiritual iniciático interior que se baseia muito na meditação e contemplação, na consciencialização do espírito e na religação amorosa a Deus não foi suficientemente discernido como fundamental e realizável por Antero de Quental.
Quando o corpo enfraqueceu demais e a inserção positiva na sociedade, na sua missão de vate ou pensador se esfumara, as amizades de uns poucos de amigos distantes não chegaram para deixar de sentir-se demasiado desiludido do seu tempo e sociedade, sobretudo, quando regressado no fim de tudo à sua ilha dos Açores, as duas jovens adoptivas foram retiradas da sua tutela e teria de regressar para Lisboa envelhecido e quase sem nada nem ninguém...
Para o peregrino que sempre fora, as amarras quase estavam cortadas e o balão da sua alma balançava-se aos ventos atlânticos, sob o capacete algo opressivo da atmosfera coberta pelo que Antero, provavelmente após uma certa luta interior, se faria bem se faria mal, cortou as amarras da sua âncora e partiu samuraicamente, simultaneamente desesperançado e sob a Esperança...
Escrito na noite de 02.02.2020, após uma ida ao jardim da Estrela onde uma estátua o comemora...
Luz e Amor para ele, rumo à Divindade, no corpo místico da Tradição Espiritual Portuguesa...

2-2-2020, (ou 02022020), um dia e um mês de mais Amor Divino e Unidade.

                      
O dia 2 do 2 de 2020 (ou 02022020, cf. P.s.) é certamente um dia belo para se trabalhar o Amor, a energia que subjaz a manifestação e que gera a atracção e repulsão entre as partículas, os elementos, os seres e os mundos e logo proporciona a coesão, a unidade, a fecundidade, a Vida, o Cosmos ordenado e belo.
É um dia que deve ser bem comemorado seja com meditações, orações, cogitações, escritas e projectos, seja com diálogo e, se possível, com comunhão amorosa, fortificando-se e irradiando-se a energia do Amor na Terra, que tanto necessita dela pelas pragas do terrorismo, do imperialismo norte-americano mais aliados e da oligarquia financeira mundial que domina e manipula  grandes sectores das sociedades, nomeadamente a banca, os meios de informação e distracção, as indústrias dos armamentos e as grande corporações, enganando, explorando, oprimindo ou mesmo matando tantos seres humanos, como vemos em particular no Médio Oriente e na América Latina...
 Como já escrevera ao início da manhã,  acompanhado de duas imagens, caracterizáramos o dia e o mês assim: 
"Que o seu dia e mês seja mais plena e luminosamente a dois: com a sua alma afim ou mesmo gémea, ou ainda com o seu mestre ou o seu Anjo. Ou mesmo o seu Deus...
Logo, medite mais, aprofunde tal relação e, acima de todas as falsidades e injustiças, alienações e violência, viva mais o Amor e a Terra Lúcida... 

Lux, Amor, Spiritus, Theos!"
 Aprofundar o Amor é reconhecer a sua primordialidade cósmica, é sentir e ver como ele é da mais íntima essencialidade divina e como  se derrama dos sucessivos Sóis macrocósmicos até chegarmos ao sol interior de cada um de nós, em alguns completamente apagado pelas trevas da mentira, da maldade e violência, noutros brilhante, irradiante, como amor, solidariedade, compaixão, caridade, empatia, aspiração ao bem, luta pela verdade e a justiça. A isto somos chamados....
Uma das imagens, a pintura de Bô Yin Râ, Emanação, extraída da série incluída no seu valioso livro Mundos, Welten, mostra no plano espiritual a irradiação Divina amorosa e é. tal como toda a sua obra pictográfica e escrita, digna da nossa melhor atenção, estudo e contemplação.
 A outra imagem, pintura religiosa do séc. XVIII, da escola conventual carmelita de Beja, pouco conhecida e muito bela e amorosa, lembra-nos que não estamos sós nem limitados ao plano físico sensorial, mas que os mundos subtis e espirituais existem e neles se encontram seres com quem o Amor pode ser desenvolvido e trabalhado, recebido, concentrado e irradiado, dos antepassados aos espíritos celestiais.
Assim que o nosso Anjo da Guarda possa ser mais invocado ou consciencializado na oração, na meditação e na acção e nos estabilize mais no Amor e na abertura e ligação Divina. 
Que o Arcanjo de Portugal possa ser mais bem invocado e saudado, merecido e partilhado.
Arcanjo de Portugal, que não é o Arcanjo Miguel, como alguns quiseram por razões diversas, tal como também não é verdadeira a relação de um anjo para cada dia do ano, que regeria ou acompanharia as pessoas nascidas nesse dia, sendo patranhices os nomes dados por sucessivas gerações de mistificadores, dos quais alguns dos últimos foram Haziel, Monica Buonfiglio, Sylvia Browne e Doreen Virtue, com os seus livros de banha de cobra angélica, nomes que as pessoas repetiam como decretos quase que forçando os Anjos, ao estilo do que fazem alguns com mestres Ascensos, que falam tu cá tu lá com qualquer auto-iludida ou intrujona, o que tem constituído outra praga recente da Nova Era, esta também tão mistificada, com as suas grandes mudanças e entradas em altas dimensões sucessivamente adiadas.
 O que está também relacionado com as quase sempre falíveis projecções e previsões astrológicas, em que mesmo minúsculos planetas descobertos não há muito, Quíron (não confundir com as invenções de canalizações de Kryon), já têm livros e doutrinas dos seus efeitos nos humanos e nas sociedades, sem que haja  o mínimo de objectividade estatística científica, ou de visão espiritual mais desperta ou profunda.  
 Sabermos despertar ou redescobrir o Amor com outros seres (nomeadamente fazendo das dualidades, unidade), com a natureza e com as pessoas com quem o Amor circula ou perpassa mais particularmente, é então fundamental, e não devemos, apesar de desilusões, deixar tanto de receber do alto Graal o fogo do Amor como de o manter, partilhar e irradiar.
                                    
A frase do mestre Jesus "onde dois ou três se reúnem em meu nome [ou na vibração amorosa, na presença do amor espiritual], eu estarei presente", será então sempre um incentivo paradigmático, apesar de todo mal e violência opressiva, a sentirmos e comungarmos a continuidade dos Mestres e dos cavaleiros ou poetas do Amor na Terra, ou seja da Tradição Perene, numa inserção no Campo unificado de energia informação consciência em que todos temos o nosso ser, e que a ciência moderna vai confirmando e que proporciona ou desabrocha portanto nos seus níveis mais elevados na comunhão no corpo místico da humanidade mais espiritual, denominada seja Igreja mística, Satsanga ou Awliyāyi Khudā.
Possa então este dia e este mês, ver realizarem-se mais uniões e projectos amorosos, mais consciencializações do Amor, que ajudem a melhoria da Humanidade e da nossa Terra.
                             
P.S. Importante: Via Joaquim Marreiros, e da autoria de Ieda Alcantara: " 02022020 . Palíndromo cuja soma é 8, símbolo do infinito e da prosperidade." Certamente, dentro da subjectividade das numerologias.....
Lemniscata da ligação infinita entre os mundos, o oito deitado ou dois corações espirituais plenamente sintonizados...