domingo, 6 de maio de 2018

Uma Peregrinação Portuguesa ao Irão, 2013, (3º cap.), por Pedro Teixeira da Mota. Book City em Teerão.

3º Capítulo e dia: 27-IV-2013, fim de Sábado, já passando dez minutos da meia noite.
Dia activo: de manhã estive com a professora de língua árabe, Shokoh Hoseyni, amiga da Nasrin, viúva, sábia, lúcida, a vir dialogar e corrigir as traduções que tenho feito das histórias, ou ekaya, do livro Bustan, de Saadi…
                      
Depois de duas horas e tal de trabalho fomos para uma das dependências do Book City Institute, a livraria e instituto cultural, que existe em várias cidades e que tem em Teerão duas ou três dependências [afinal são 34…], sendo esta a dirigida por Mohammad Khani, muito amigo da Nasrin Faghi, sua colaboradora em palestras e eventos, os meus dois anfitriões.
 
Dei uma primeira vista de olhos na ampla livraria, com vários recantos e secções, bem fornecida de todos os povos e tempos, tal como a Rússia e Tolstoi...
                            
E comprei dois livros, uma Antologia de Poesia Persa e uma obra sobre fotografia, recente, composta de originais pensamentos ou máximas, bilingue, The art of Photography and the poetic aspect of Photo de Mohammad Pirhayati (Mones). Na secção de música, escuto e compro alguns Cds de música e poesia persa, com a ajuda da muito serena e simpática responsável, Sophie, também ela música.
 
 
 Nasrin, Khani e eu almoçámos no próprio gabinete dele, comida simples, vegetariana em especial para mim e à tarde  visitamos outro dos espaços Book City Institute, ainda maior que o de Khan, sendo recebidos pelo director que nos fez uma visita guiada, com diálogos interessantes sobre a cultura, os livros e a literatura no Irão, onde é muito grande ainda a leitura dos grandes poetas antigos, como Saadi, Hafiz, Rumi, havendo uma continuidade até aos nossos dias.
  Tem uma pequena secção museológica com alguns livros e revistas antigos, que examino com mais atenção e interesse, além das várias secções habituais de livros e uma papelaria com decorações originais e obras de arte e artesanato belas.

Comprei postais com caligrafias persas em relevo e dois conjuntos de pedrinhas, dentro de um pano e com a explicação do jogo tradicional em que são utilizadas, pensando em oferecer um à Margarida, filha e sucessora do livreiro antiquário Américo Marques, na rua do Alecrim lisboeta, amante de pedras como eu e que me pediu para trazer uma do Irão.
    
Nesta livraria central da Book City Institute, com boa afluência de pessoas, destaca-se à entrada do lado esquerdo um grande painel com cerca de 200 de fotografias de grandes escritores mundiais
e ao centro numa mesa para exposições temporárias está um busto do grande poeta Saadi com obras suas, exactamente um dos dois poetas de quem falarei numa ou duas universidades, sendo o outro Hafiz, com Rumi, constituindo o trio mais apreciado, embora outros grandes poetas e escritores se devam nomear, tais como Firdosi, Attar, Omar Khayam, Nezami, além dos mestres espirituais de envergadura perene, como Sohrawardi, Kobra, Ruzbehan, Nur Ali Shah...
À direita da entrada, numa prateleira ao alto da parede estão alguns bustos em gesso. Perguntam-me quem era um deles e eu avento a hipótese de ser o Henry Corbin, grande estudioso francês da tradição iraniana, tanto zoroástrica como islâmica, especialmente nos seus aspectos filosóficos e místicos e que tenho lido bastante… Grande riso e satisfação de Mohammad Khani, por ser o busto dele próprio, já que é o director do seu centro há já muitos anos e com sucesso. 
Dentro da livraria há um tipo de café ou casa de chá e para aí nos dirigimos no fim e conversamos, e bebemos chá de ervas ou café, com bolos.
 
 Ao findar do dia atravessamos uma parte grande de Teerão e passamos por uma escola secundária bem cheia. Há grande azáfama de viaturas e  seguimos para a montanha acima e atrás da zona em que estou, Vejaye, pois há nela um caminho pedestre amplo,
 
Há um horto e com loja de árvores bonsai de grande qualidade que nos faz deter mais demoradamente e com Khani, Nasrim e Marzieh, uma professora de literatura que se juntou a nós e fala fluentemente o inglês, admiramos os belos espécimes, que fotografo também. No exterior o horto tem belas árvores que devem gostar bem dos ares puros e elevados a que estão, talvez quase 1.500 metros de altitude.
Shokoh Hoseyni, a filha e uma amiga reúnem-se a nós e passeamos um pouco conversando e respirando os ares puros, tal como outras pessoas, umas em fatos de treino, outras vestidas normalmente, num belo ambiente de descontração.
   Há vários restaurantes, mas não vegetarianos e não me tento por nenhum. Comerei me casa fruta e frutos secos
Regressamos de camioneta para o parque onde ficou o automóvel e Marzieh  convidou-me para me sentar ao seu lado e viemos a conversar animadamente, com o seu namorado a vir ter connosco ao parque. Depois deixaram-me no espaço residencial onde me instalaram e trabalho na tradução do Bustan, de Saadi. 

sábado, 5 de maio de 2018

A galeria Verso Branco, do Fernando Sousa, expõe Maia Horta e Mariana Selva. Maio 2018

A Loja de Design, Atelier e Galeria de Arte  Verso Branco, do Fernando Sousa, na rua da Boavista, 132, quase a chegar ao Conde Barão, apresenta, desde a inauguração do dia 3 de Maio 2018, uma bela e por vezes bem arrojada exposição conjunta da Maia Horta e da Mariana Selva, sob as relações entre a mulher, no seu quotidiano, e a arte e a leitura, e assume  títulos ou questões sempre actuais, diremos mesmo perenes, o primeiro, Lar, doce lar, ou seja, só em casa é que podes (se não ligares a alienante televisão), estares à vontade, doce e fluindo, seja trabalhando ou dialogando, lendo ou amando, mas lutando para não ficares demasiado presa nas lides domésticas..
Já  Quando Morrer vou ser Famosa aponta à necessidade de maior valorização da mulher artista, apelando a que a vocação-profissão-missão possa ser  bem prosseguida mesmo casada ou trabalhando e que não se caia no caso tão frequente de tratarem-se mal as pessoas, ou as mulheres, não as sabendo receber e apoiar com condições de criatividade, amor e emulação em vida, pois melhor do que quando elas morrerem e serem então famosas, porque não entrarem na Felix Beatitudinem, no aqui e agora, da presente hora?
Eis algumas imagens da inauguração da exposição de pinturas, colagens, esculturas e instalações, aonde, apesar de amigo da Maia Horta e do Fernando, fui mais movido a contemplá-la por ser instado na hora pelo vizinho Jorge Pires, um peixe no mundo da Arte e que mora com a janela debruçada sobre a Verso Branco nesta zona de ruas estreitas e casas pombalinas ainda tão carregada das auras antigas lisboetas e portuárias.
Os reflexos das luzes impediram melhores fotografias e são poucas também porque não pensara  que iria contribuir para a perenização, com este registo, de alguns bons momentos no Verso Branco da arte e no coração das amizades, da beleza  e dos diálogos luminosos, como aconteceram.
Fragmentos de páginas,  frases,  ideias, em formas misteriosas na sua génese, causalidade e intencionalidade, pela subjectividade de cada leitura ou leitor... Da Mariana Selva..
Possuir a chave do coração, ou mesmo as chaves do céu, sempre foi uma utopia e talvez por isso a Mariana Selva mostra-nos que só as flores espontâneas e de cores intensas brotam do coração amoroso e livre e que são essas que valem...
São muito sugestivas e de bonança divina as frases de cartas escolhidas da mística católica Paula Frassinetti (1809-1882, italiana e já canonizada) pela Mariana Selva para,  em letra pequenina e difícil, testemunhar que afinal o Amor pode ser transmitido por palavras e letras, mas tem de ser pequenas, íntimas, coloridas, sentidas, divinas mesmo. Oiçamos uma ou duas das mais operativas: "Fazer bem e com alma o pouco que se pode". Ou ainda: "Esquecei o passado e abri o coração às maiores esperanças do futuro" ... 
Da Maia Horta, ambientes familiares, continuidade de gerações, celebrações do Amor e da Unidade que rega as flores das almas...  .
Da comunhão amorosa e logo da gestação e curadoria da família e como a artista tem depois de subir por uma escada se quer aproximar-se mais do Cé cristalino ou criativo, o Empíreo.  Da Maia Horta.
O livro espelho que nos torna mais lúcidos e nus na auto-consciência desvenda também as nossas forças e potencialidades. Da Maia Horta, e instalado no chão...
 Da atracção da beleza na aparência exterior e na profundidade da matriz interior..
                    
      
Criar as crianças para crescerem e nadarem no grande Oceano...
O  Hugo, filho do Fernando, com as crianças da Maia, confraternizam com uma cadela jovem mas de já grande humanização ou individuação, capaz de falar pelo uivo harmonioso e de controlar a sua imensa afectividade, exuberantemente manifestada com a chegada de uma amiga da dona...
Tendo como fundo a galeria, as obras e algumas pessoas, a Mariana dialoga, junto a uma das suas instalações, uma ampulheta de um tempo tanto bloqueado pelo peso das pequeninas coisas do quotidiano, como cantante se medido por subjectividades afectivas de objectos domésticos, conchas, botões...
Maia Horta, num tríptico fotográfico ascensional, junto a uma   obra de leitura em miniatura, e um busto seu.
A criatividade como uma obra paciente de olhar o futuro com o coração sempre ardente...
O sorriso que move as montanhas e abre as redomas e projecta na eternidade: "Vidas famosas" em miniatura, a de "Nefertiti"
Uma conjunção do auto-retrato de Maia e a instalação de Nefertiti, por Mariana.
Um texto que explica bem os objectivos dos títulos trabalhados, Lar doce lar, e Quando eu morrer serei famosa, nas obras e nas vidas das artistas e que se querem mais livres e independentes.
O Fernando Sousa dialogando, no seu tão belo quão original espaço de design e galeria. No andar de cima, o Manuel Furtado, da galeria Mute, dialoga.
A Mariana Selva, tendo chegado à conclusão que o Amor não se pode transmitir por palavras nem livros, fez algumas magias e sobretudo alquimias com os corações e os livros, alguns mesmo transmutados em cinzas e em frasquinhos  bem etiquetados...
Quanto aos corações se o livro tinha o título Ele era a Felicidade, e com o tempo tal encanto se torna demasiado pregado, também  o dedal das agulhas da lide domestica se pode tornar um coração demasiado anestesiado por tal forma de acupunctura.
 Discutimos o assunto cadente e perene, do Amor não se transmitir  pelas palavras, algo que discordo, tal como aliás a Maia Horta, já que pela arte e a literatura muito do Amor vivido ou intuído por alguns tem sido recebido e aprofundado por muitos outros. 
Mas certamente não há nada como o encontro do peito, do olhar, do coração, dos seres, livres e em Amor, em comunicação apofática, isto é, sem ou acima das palavras. 
A tal empatia e telepatia magnética, ou Unidade de consciência,  que todos deveríamos desenvolver e que já o Antero de Quental demandou como cavaleiro do Amor...

quarta-feira, 2 de maio de 2018

Uma Peregrinação Portuguesa ao Irão, 2013, (2ª cap.) por Pedro Teixeira da Mota.

2º capítulo e dia, 26 Abril, 2013. 11:15, já em Teerão (1).  Dormitei uns cinco minutos, ontem na longa viagem de avião,  da ligação Dinamarca-Irão, de resto a trabalhar sempre em leituras ou escritas, pelo que os olhos estão cansados, mas alegre e feliz por chegar e ser acolhido no aeroporto por Nasrin Fahgi e Ali Mohammad Khani (2), que me trouxeram de carro para este apartamento na zona norte de Teerão, junto às montanhas Darband. Um sétimo andar, um quarto maravilhoso, silencioso. Descanso finalmente o corpo deitado. Demos graças. 
A aurora nas montanhas de Darband
19:49, de Lisboa, mas aqui serão uma e meia da manhã (afinal eram apenas 23:30). Pôr o sino-relógio em ordem, arrumar a minha nova casa, espaçosa, de dois andares, na qual me estou a habituar a circular sem luz, com mil olhos, como há pouco: começando a descer a empinada escada, tive uma intuição ou pensamento rápido de pôr no bolso algo que levava na mão e segurar o corrimão e, de facto, de repente, numa curva da escada, senti o pé em falso pois o degrau era diminuto e ia caindo não fora o ter-me agarrado bem ao corrimão.  
Lua Cheia no ar, bela, e já fiz exercícios de purificação no terraço oferecido por esta casa, bem como orações e invocações, tais como a que invento do Jaam-e jam, o Graal da tradição primordial Persa e de Jamshid, a taça da visão do mundo, o mundo como taça, a abertura de mim próprio ao Divino.
Ao ter dormitado, ao entardecer, num dos sonhos o guardião deste edifício, já ancião e com uma curvatura de cara e de corpo condizente com o seu sorriso, apareceu-me a verificar que eu estava a usar também o travesseiro da outra cama do quarto. Como ainda era de dia e ele não estava a dormir, não viajou em corpo astral para me aparecer no sonho. Mas porque não admitirmos que mentalmente a sua aura e alma estão em todo o edifício e particularmente nesta zona agora habitada por mim e que portanto interagiu com o seu corpo psíquico no meu, admirando-se da minha utilização de mais uma almofada, provocando este encontro e diálogo no meu sonho, ou que se me tornou sensível enquanto sonhava?
Sim, talvez possamos dizer que mesmo sem a outra pessoa ter
sonhado nem ter estado a dormir, e portanto sem ter o seu corpo psíquico livre para se mover (consciente ou inconscientemente) nele até mim, ainda assim mentalmente a consciência psíquica não está encerrada no corpo físico limitado mas na sua aura psico-espiritual interage para além das limitações do espaço, tocando-me, comunicando psiquicamente, neste caso no sétimo andar distante do rés-do-chão onde ele habita... 
 Aspiro a que esta viagem seja bastante propulsionadora de um avanço na espiritualidade e nos estudos e traduções comparadas, e sem grandes sofrimentos no corpo, além das narinas agora muito entupidas. Em frente a estes belos cravos pequenos doces e muito coloridos, oferecidos por Nasrin, e que reparti na despedida com ela, ao pensar que estou num sétimo andar, houve uma leve dor do ouvido direito, provavelmente efeito natural das diferentes pressões atmosféricas nos tímpanos a que estive sujeito durante os voos, sobretudo com as descidas.
Só agora é que me apercebi que podia ter escrito no computador que trouxe comigo, mas ligá-lo levará muito tempo e trabalho, a esta hora, e quero sobretudo registar uma ou outra intuição subtil e fugidia das meditações e uma delas é acerca do que Saadi diz, e bem importante psico-espiritualmente, no preâmbulo do seu mítico livro Bustan, o Pomar, e que tenho vindo a ler e a traduzir: a inspiração, dando a energia da vida, que na retenção é bem assimilada, e na expiração faz ou causa alegria ou gozo na nossa natureza mais profunda, que assim realiza o Tawid, a Unidade omnipresente de Deus, ou seja, culminando-se este processo respiratório mais consciente na entrega ou submissão maior a Deus, tal como eu agora sinto, respirando sentado em postura de joelhos sobre o grande e belo tapete persa, bem mandálico, tingido de vermelho, cobrindo o chão do quarto por onde me desloco, sento, medito...
              Ah, e fiz há pouco um poema à rainha, a Lua Cheia: 
 Oh beloved queen of Malakut,
 Full moon that enlives so much
 Our inner word with wonderful
 Images and panoramas,
 With thy soft silver light shining
In the darkness of our ignorance,
Making us praise the Divine beneficience.

[Oh, amada rainha do mundo psico-espiritual,
Lua cheia que tanto animas
Nosso mundo interior com maravilhosas
Imagens, panoramas e ensinamentos,
Com a tua luz prateada  e doce brilhando
Na escuridão da nossa ignorância
Fazendo-nos dar graças pelo Bem Divino.]
 
Pois, meditando, tive uns momentos de visão interior de paisagens da natureza e casas, como as que me rodeiam nesta zona norte de Teerão, junto à montanha, já na sua encosta, embora daqui não veja os níveis nevados, sempre inspiradores e que praticamente rodeiam Teerão todo o ano… 
2:00, de Terão. Alguns sonhos, acordar e ir beber um chá de ervas iranianas, mistura tradicional ou caseira, encontrado no armário da cozinha.
I can not discover already the remains of the dream, or the memories of the people and land interacted. May be, as in the airplane I was more alone, so there is not so many beings, aspects or scenes to be recapitulated or interpreted, or assimilated, causing the brain and the soul to re-arrange themselves…
[Já não consigo lembrar-me dos restos ou vestígios do que sonhei, ou das memórias das pessoas e terras com que me interrelacionei oniricamente. Talvez, porque tivesse feito a viagem de avião a sós, não houvessem muitos seres, aspectos ou cenas a serem recapitulados, interpretados e assimilados de modo a que o cérebro e a mente por si próprios se reordenem, como sucede com muitos dos sonhos.]

Acabei de ler do místico príncipe mogol Dara Shikoh o Compasso da verdade, Risala-i-Haq nama, escrito espiritual pequeno de 1646, na tradução que fiz do opúsculo publicado em inglês no princípio do séc. XX, e que trago comigo e fui relendo na viagem de avião. A obra contém possivelmente dois ou três versos de Hafiz, embora só identificando como tal um deles. 
Serão certamente dois dos seres que invocarei e que algum modo me acompanharão, tal como Nur Ali Shah, o mestre espiritual do séc. XVIII que ficou no Facebook como a minha imagem de perfil num belo desenho de um tapete persa...
*** Notas:
1-Teerão é a capital do Irão apenas desde o final do séc. XVIII, com um dos Shahs ou reis da dinastia Qajar, não tendo por isso uma monumentalidade antiga, sendo mais do séc. XVIII e XIX a maioria dos seus palácios. Já as mesquitas algumas são anteriores. Está situada a uma altitude de 1.189 metros, protegida a norte pelas montanhas Darband, e com um clima benigno na Primavera e Outono, mas de extremos no Verão e no Inverno. Tem mais de dez milhões de habitantes, estendendo-se pelo horizonte vastamente...

2 - À Nasrim Fahgi, a professora universitária de Literatura, especialista de poesia, que conheci em Portugal na semana Cultural do Irão, em Cascais em Junho de 2012 e em que fomos ambos conferencistas, e que foi quem me desafiou para esta viagem, ofereci a bela rosa vermelha que me deram no aeroporto à  entrada no Irão, um costume hospitaleiro e certamente um bom augúrio para esta viajem e peregrinação.  Ali Asghar Mohammad Khani é o director de uma das unidades  (cerca de trinta em Teerão) do Book City Institute e é uma pessoa muito dinâmica culturalmente e simpática. Serão de certo modo os meus anfitriões no Irão.

terça-feira, 1 de maio de 2018

Uma Peregrinação Portuguesa ao Irão, 2013, (1ª p.), por Pedro Teixeira da Mota.

Uma Peregrinação Portuguesa ao Irão, em 2013, Abril, 25, 1ª parte ou dia.
Peregrinatio ad Persicam animam...
Registo manuscrito de uma peregrinação ao Irão durante trinta dias (alguns deles com escritos em inglês, mas traduzidos) por Pedro Teixeira da Mota, e que teve como fim falar sobre os poetas persas Hafiz e Saadi e conhecer o seu povo, cultura e história.
Pensei, e ainda é possível, publicá-la sob a forma de livro, mas para já irão saindo, no blogue. Pode ser que alguma alma editora e luminosa o queira dar um dia à luz em livro impresso.
Princípio:
«Partindo no momento exacto, cavalgando com os pneus, a gasolina, a trepidação de todo o avião, ergo a taça do coração a partir do fim da coluna vertebral, com língua ora de fora ora para dentro, já feito avião ou ave, entre a terra e o céu, mais perto do mundo espiritual, liberto-me da aura horizontal da terra, subindo a montanha primordial invisível ou o cone triangular que vai da terra ao Divino Ser, a cuja Unidade me entrego e invoco...
 
 - Oh Deus todo poderoso, recebe-me mais, purifica-me mais, torna-me capaz de me ligar melhor à sabedoria Persa e à evolução de alguns seres que me rodearão nesta primeira entrada no histórico e intenso ser espiritual que é a Pérsia ou Irão.
Advancing into Iran, now by the Mediterranean coast, unfortunately not by camel but by airplane… 
[Avançando para o Irão, agora pela costa do Mediterrâneo, infelizmente não por camelo mas por avião...]
By the window, as I changed from the previous seat to be now so well placed, really floating in a landscape of clouds, so milky, so sweet and soft, still with rivers, mountains, streams and tempests... 
[À janela, já que mudei de lugar para estar melhor situado, verdadeiramente flutuando entre uma paisagem de nuvens, tão leitosas, tão doces e suaves, e ainda assim com rios, montanhas, correntezas e tempestades...]
So many graces I give for all that I received and made; now being ready for Hafiz, Saadi, Iran, Wisdom and Love. 
[Tantas graças eu dou por tudo o que recebi e fiz. E agora estar pronto para Hafiz, Saadi, Irão, Sabedoria e Amor.]
Paragem em Dubai, trânsito de duas horas, percorrendo o vasto e luxuoso aeroporto, com funcionários e empregadas de quase todos os povos do mundo, comprando duas caixas de bombons de tâmaras e observando como os romances ou mesmo os ensaios à venda nas livrarias são comuns a todo o mundo e provavelmente a quase todos os aeroportos mais ocidentalizados. Registo algumas obras de auto-ajuda leve, ou de pensamento positivo, com títulos como Active a Alegria, As Regras da Vida, O Poder do Agora, Paz e Prosperidade, Obtenha tudo o que quer. Nada mal tanto prometer… 
Admiro e desfruto brevemente um espaço de árvores, algumas de uns três metros de altura, com água corrente, estilo jardim de harmonia oriental, belo e no meio de tanta matéria inerte e por isso certamente salutar… 
3:00. In the path of Love-Wisdom there is no stopping. We are everyday ignited to be active, ever... So, with the help of the imagination, arise, awake and be creatively and compassionately in Love… 
[3:00. No caminho do Amor-Sabedoria não há paragem. Diariamente somos impulsionados igneamente a  estarmos sempre activos. Assim, com a ajuda da imaginação, ergue-te, desperta e sê Amor criativa e compassivamente...]
Vou relendo as traduções feitas em Lisboa e de versões inglesas de poemas de Hafiz e melhorando-as.
Hafiz is a poet so subtle in his phrases that we are moved all the time between so many possibilities of signification and interpretation that indeed he can appeal to all beings and still each one will find its own reasons of empaty and meaning. And when we are faced with a translation still the images are so rich that even the limitations of the language are not sufficient to dry the Ocean of interpretations and enchantments possible.  
[Hafiz é um poeta tão subtil nas suas palavras e frases que estamos sempre que o lemos movimentando-nos entre tantas possibilidades de significado e interpretação que inegavelmente ele consegue tocar todos os seres e cada um encontrará as suas razões de empatia e de interpretação.]
In the case of one of his most beautiful ghazals, where someone is sending him the cup of wine, we can ask: 
Who is sending the cup where the face of God can be seen? What cup is this? Is it the Jam-e-Jam, the cup of the Cosmos, from the old stories and myths of Persia and the acess to it being by evolution, suffering and age, merits earned by Hafiz in his long life? 
[No caso de um dos seus mais belos ghazal (poema lírico), onde alguém lhe envia uma taça de vinho, podemos interrogar-nos?
Quem lhe envia a taça onde a face de Deus pode ser vista? Que cálice é este? É ele o Jam-e-jam, a taça do Cosmos, dos mitos e histórias antigas da Pérsia, sendo o acesso a ela obtido pelos méritos ganhos ao longo da vida de Hafiz, ou seja, pela sua evolução, sofrimento, sabedoria, amor e idade?]
"Passa-me a taça". "Pass me the cup", or raise the cup, raise thy faith and hope, thy state of Love, thy heart opening, and the Divine Grace will descend on thee, or you will be more conscious of that.
[Passa-me a taça, ou ergue o cálice, ergue a tua fé e esperança, o teu estado de Amor, a abertura do teu coração , e a Graça Divina descerá sobre ti, ou estarás mais consciente dela...]
Who is speaking on the cup and sending the Grace?
[Quem está a falar sobre o cálice e a enviar a Graça?]
Is it the beloved, the Divine Being, his own Spirit, his master, myself?
[É o amado, o Ser Divino, o seu Espírito, o mestre, eu próprio?]
                                                       
Através da dinâmica dos louvores, dos cantos e das brisas, a energia do desejo, da aspiração e do amor movimenta-se, inflama-se, vence as ausências ou distâncias e torna presente (ou sentido) o Amor Divino, ou o que em si mesmo é Divino...»