A Loja de Design, Atelier e Galeria de Arte Verso Branco, do Fernando Sousa, na rua da Boavista, 132, quase a chegar ao Conde Barão, apresenta, desde a inauguração do dia 3 de Maio 2018, uma bela e por vezes bem arrojada exposição conjunta da Maia Horta e da Mariana Selva, sob as relações entre a mulher, no seu quotidiano, e a arte e a leitura, e assume títulos ou questões sempre actuais, diremos mesmo perenes, o primeiro, Lar, doce lar, ou seja, só em casa é que podes (se não ligares a alienante televisão), estares à vontade, doce e fluindo, seja trabalhando ou dialogando, lendo ou amando, mas lutando para não ficares demasiado presa nas lides domésticas..
Já Quando Morrer vou ser Famosa aponta à necessidade de maior valorização da mulher artista, apelando a que a vocação-profissão-missão possa ser bem prosseguida mesmo casada ou trabalhando e que não se caia no caso tão frequente de tratarem-se mal as pessoas, ou as mulheres, não as sabendo receber e apoiar com condições de criatividade, amor e emulação em vida, pois melhor do que quando elas morrerem e serem então famosas, porque não entrarem na Felix Beatitudinem, no aqui e agora, da presente hora?
Eis algumas imagens da inauguração da exposição de pinturas, colagens, esculturas e instalações, aonde, apesar de amigo da Maia Horta e do Fernando, fui mais movido a contemplá-la por ser instado na hora pelo vizinho Jorge Pires, um peixe no mundo da Arte e que mora com a janela debruçada sobre a Verso Branco nesta zona de ruas estreitas e casas pombalinas ainda tão carregada das auras antigas lisboetas e portuárias.
Os reflexos das luzes impediram melhores fotografias e são poucas também porque não pensara que iria contribuir para a perenização, com este registo, de alguns bons momentos no Verso Branco da arte e no coração das amizades, da beleza e dos diálogos luminosos, como aconteceram.
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Fragmentos de páginas, frases, ideias, em formas misteriosas na sua génese, causalidade e intencionalidade, pela subjectividade de cada leitura ou leitor... Da Mariana Selva.. |
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Possuir a chave do coração, ou mesmo as chaves do céu, sempre foi uma utopia e talvez por isso a Mariana Selva mostra-nos que só as flores espontâneas e de cores intensas brotam do coração amoroso e livre e que são essas que valem... |
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São muito sugestivas e de bonança divina as frases de cartas escolhidas da mística católica Paula Frassinetti (1809-1882, italiana e já canonizada) pela Mariana Selva para, em letra pequenina e difícil, testemunhar que afinal o Amor pode ser transmitido por palavras e letras, mas tem de ser pequenas, íntimas, coloridas, sentidas, divinas mesmo. Oiçamos uma ou duas das mais operativas: "Fazer bem e com alma o pouco que se pode". Ou ainda: "Esquecei o passado e abri o coração às maiores esperanças do futuro" ... |
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Da Maia Horta, ambientes familiares, continuidade de gerações, celebrações do Amor e da Unidade que rega as flores das almas... . |
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Da comunhão amorosa e logo da gestação e curadoria da família e como a artista tem depois de subir por uma escada se quer aproximar-se mais do Cé cristalino ou criativo, o Empíreo. Da Maia Horta. |
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O livro espelho que nos torna mais lúcidos e nus na auto-consciência desvenda também as nossas forças e potencialidades. Da Maia Horta, e instalado no chão... |
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Da atracção da beleza na aparência exterior e na profundidade da matriz interior..
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Criar as crianças para crescerem e nadarem no grande Oceano... |
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O Hugo, filho do Fernando, com as crianças da Maia, confraternizam com uma cadela jovem mas de já grande humanização ou individuação, capaz de falar pelo uivo harmonioso e de controlar a sua imensa afectividade, exuberantemente manifestada com a chegada de uma amiga da dona... |
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Tendo como fundo a galeria, as obras e algumas pessoas, a Mariana dialoga, junto a uma das suas instalações, uma ampulheta de um tempo tanto bloqueado pelo peso das pequeninas coisas do quotidiano, como cantante se medido por subjectividades afectivas de objectos domésticos, conchas, botões... |
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Maia Horta, num tríptico fotográfico ascensional, junto a uma obra de leitura em miniatura, e um busto seu. |
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A criatividade como uma obra paciente de olhar o futuro com o coração sempre ardente... |
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O sorriso que move as montanhas e abre as redomas e projecta na eternidade: "Vidas famosas" em miniatura, a de "Nefertiti"
Uma conjunção do auto-retrato de Maia e a instalação de Nefertiti, por Mariana. |
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Um texto que explica bem os objectivos dos títulos trabalhados, Lar doce lar, e Quando eu morrer serei famosa, nas obras e nas vidas das artistas e que se querem mais livres e independentes. |
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O Fernando Sousa dialogando, no seu tão belo quão original espaço de design e galeria. No andar de cima, o Manuel Furtado, da galeria Mute, dialoga. |
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A Mariana Selva, tendo chegado à conclusão que o Amor não se pode transmitir por palavras nem livros, fez algumas magias e sobretudo alquimias com os corações e os livros, alguns mesmo transmutados em cinzas e em frasquinhos bem etiquetados...
Quanto aos corações se o livro tinha o título Ele era a Felicidade, e com o tempo tal encanto se torna demasiado pregado, também o dedal das agulhas da lide domestica se pode tornar um coração demasiado anestesiado por tal forma de acupunctura.
Discutimos o assunto cadente e perene, do Amor não se transmitir pelas palavras, algo que discordo, tal como aliás a Maia Horta, já que pela arte e a literatura muito do Amor vivido ou intuído por alguns tem sido recebido e aprofundado por muitos outros.
Mas certamente não há nada como o encontro do peito, do olhar, do coração, dos seres, livres e em Amor, em comunicação apofática, isto é, sem ou acima das palavras.
A tal empatia e telepatia magnética, ou Unidade de consciência, que todos deveríamos desenvolver e que já o Antero de Quental demandou como cavaleiro do Amor... |
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