sábado, 5 de maio de 2018

A galeria Verso Branco, do Fernando Sousa, expõe Maia Horta e Mariana Selva. Maio 2018

A Loja de Design, Atelier e Galeria de Arte  Verso Branco, do Fernando Sousa, na rua da Boavista, 132, quase a chegar ao Conde Barão, apresenta, desde a inauguração do dia 3 de Maio 2018, uma bela e por vezes bem arrojada exposição conjunta da Maia Horta e da Mariana Selva, sob as relações entre a mulher, no seu quotidiano, e a arte e a leitura, e assume  títulos ou questões sempre actuais, diremos mesmo perenes, o primeiro, Lar, doce lar, ou seja, só em casa é que podes (se não ligares a alienante televisão), estares à vontade, doce e fluindo, seja trabalhando ou dialogando, lendo ou amando, mas lutando para não ficares demasiado presa nas lides domésticas..
Já  Quando Morrer vou ser Famosa aponta à necessidade de maior valorização da mulher artista, apelando a que a vocação-profissão-missão possa ser  bem prosseguida mesmo casada ou trabalhando e que não se caia no caso tão frequente de tratarem-se mal as pessoas, ou as mulheres, não as sabendo receber e apoiar com condições de criatividade, amor e emulação em vida, pois melhor do que quando elas morrerem e serem então famosas, porque não entrarem na Felix Beatitudinem, no aqui e agora, da presente hora?
Eis algumas imagens da inauguração da exposição de pinturas, colagens, esculturas e instalações, aonde, apesar de amigo da Maia Horta e do Fernando, fui mais movido a contemplá-la por ser instado na hora pelo vizinho Jorge Pires, um peixe no mundo da Arte e que mora com a janela debruçada sobre a Verso Branco nesta zona de ruas estreitas e casas pombalinas ainda tão carregada das auras antigas lisboetas e portuárias.
Os reflexos das luzes impediram melhores fotografias e são poucas também porque não pensara  que iria contribuir para a perenização, com este registo, de alguns bons momentos no Verso Branco da arte e no coração das amizades, da beleza  e dos diálogos luminosos, como aconteceram.
Fragmentos de páginas,  frases,  ideias, em formas misteriosas na sua génese, causalidade e intencionalidade, pela subjectividade de cada leitura ou leitor... Da Mariana Selva..
Possuir a chave do coração, ou mesmo as chaves do céu, sempre foi uma utopia e talvez por isso a Mariana Selva mostra-nos que só as flores espontâneas e de cores intensas brotam do coração amoroso e livre e que são essas que valem...
São muito sugestivas e de bonança divina as frases de cartas escolhidas da mística católica Paula Frassinetti (1809-1882, italiana e já canonizada) pela Mariana Selva para,  em letra pequenina e difícil, testemunhar que afinal o Amor pode ser transmitido por palavras e letras, mas tem de ser pequenas, íntimas, coloridas, sentidas, divinas mesmo. Oiçamos uma ou duas das mais operativas: "Fazer bem e com alma o pouco que se pode". Ou ainda: "Esquecei o passado e abri o coração às maiores esperanças do futuro" ... 
Da Maia Horta, ambientes familiares, continuidade de gerações, celebrações do Amor e da Unidade que rega as flores das almas...  .
Da comunhão amorosa e logo da gestação e curadoria da família e como a artista tem depois de subir por uma escada se quer aproximar-se mais do Cé cristalino ou criativo, o Empíreo.  Da Maia Horta.
O livro espelho que nos torna mais lúcidos e nus na auto-consciência desvenda também as nossas forças e potencialidades. Da Maia Horta, e instalado no chão...
 Da atracção da beleza na aparência exterior e na profundidade da matriz interior..
                    
      
Criar as crianças para crescerem e nadarem no grande Oceano...
O  Hugo, filho do Fernando, com as crianças da Maia, confraternizam com uma cadela jovem mas de já grande humanização ou individuação, capaz de falar pelo uivo harmonioso e de controlar a sua imensa afectividade, exuberantemente manifestada com a chegada de uma amiga da dona...
Tendo como fundo a galeria, as obras e algumas pessoas, a Mariana dialoga, junto a uma das suas instalações, uma ampulheta de um tempo tanto bloqueado pelo peso das pequeninas coisas do quotidiano, como cantante se medido por subjectividades afectivas de objectos domésticos, conchas, botões...
Maia Horta, num tríptico fotográfico ascensional, junto a uma   obra de leitura em miniatura, e um busto seu.
A criatividade como uma obra paciente de olhar o futuro com o coração sempre ardente...
O sorriso que move as montanhas e abre as redomas e projecta na eternidade: "Vidas famosas" em miniatura, a de "Nefertiti"
Uma conjunção do auto-retrato de Maia e a instalação de Nefertiti, por Mariana.
Um texto que explica bem os objectivos dos títulos trabalhados, Lar doce lar, e Quando eu morrer serei famosa, nas obras e nas vidas das artistas e que se querem mais livres e independentes.
O Fernando Sousa dialogando, no seu tão belo quão original espaço de design e galeria. No andar de cima, o Manuel Furtado, da galeria Mute, dialoga.
A Mariana Selva, tendo chegado à conclusão que o Amor não se pode transmitir por palavras nem livros, fez algumas magias e sobretudo alquimias com os corações e os livros, alguns mesmo transmutados em cinzas e em frasquinhos  bem etiquetados...
Quanto aos corações se o livro tinha o título Ele era a Felicidade, e com o tempo tal encanto se torna demasiado pregado, também  o dedal das agulhas da lide domestica se pode tornar um coração demasiado anestesiado por tal forma de acupunctura.
 Discutimos o assunto cadente e perene, do Amor não se transmitir  pelas palavras, algo que discordo, tal como aliás a Maia Horta, já que pela arte e a literatura muito do Amor vivido ou intuído por alguns tem sido recebido e aprofundado por muitos outros. 
Mas certamente não há nada como o encontro do peito, do olhar, do coração, dos seres, livres e em Amor, em comunicação apofática, isto é, sem ou acima das palavras. 
A tal empatia e telepatia magnética, ou Unidade de consciência,  que todos deveríamos desenvolver e que já o Antero de Quental demandou como cavaleiro do Amor...

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