sábado, 15 de novembro de 2014

Vinoba, o sucessor de Gandhi, mestre da resistência civil não-violenta, morreu há 34 anos (15/11/1982).

Homenagem a Vinoba, o sucessor de Gandhi, mestre da espiritualidade e da resistência civil não-violenta e que se libertou do corpo terreno há precisamente 34 anos (15/11/2014).
                                            
Vinoba Bhave (de seu nome Vinayak Bhave) nasceu em 12 de Setembro de 1895, perto de Bombaim. Dotado para as línguas (chegou a saber falar doze) e as matemáticas, abandonou um futuro promissor, tanto mais que era da casta brâmane, para se entregar ao Mahatma Gandhi e ao seu movimento de não-violência (ahimsa) auto-suficiência e regência (swaraj) e resistência civil fundada na verdade libertadora (satyagraya), princípios estes perenes e mais do que nunca necessários no mundo actual...
Passando a viver no seu ashram (comunidade), Vinoba executa todas as funções com tal perfeição que Gandhi confessa ao pastor inglês Andrews, que lhe perguntava quem era ele: «É uma das pérolas raras do ashram, um daqueles que vieram não para ser benzidos, mas para abençoar, não para receber, mas para dar».
                                    
Foi mestre de Gandhi no sânscrito e na interpretação e recitação dos textos sagrados, pois enquanto brâmane os aprendera desde o berço, discípulo profundo nos votos e técnicas da não-violência e assim na luta pela independência Vinoba, tal como Gandhi, chegou a estar preso várias vezes, aproveitando a ocasião para meditar mais profundamente e chegar à conclusão que a libertação exterior implica uma libertação interior mental e que esta só é obtida pelo auto-conhecimento, Atma Jnana, o conhecimento do espírito. E que para vencermos as fricções das personalidades e sociedade temos de nos elevar acima do plano mental e introduzir o poder do amor...
 Quando Gandhi morreu em 30 de Janeiro de 1948, tomou o seu lugar. Como disse o famoso cantor Toukdoji: «O Pai partiu, o Filho carregou o fardo sobre o seu ombro. Vinoba é agora para nós o que Bapou (Pai) era para nós. Gandhiji morto, eis agora o advento do herdeiro do seu imenso amor».
 Vinoba inicia então o Bhoodan, o dom gratuito ou caridoso da terra, e recebe milhões de hectares para os mais desvaforecidos em grandes peregrinações a pé por toda a Índia, justificando-se: «Não basta espalhar ideias e não convém impô-las, e é preciso ainda que venham ter connosco e que adiram às coisas. Se elas aderirem às coisas, impõem-se e espalham-se. Se tivesse atravessado as aldeias a rolar sobre nuvens de poeira, as minhas ideias não teriam raízes».
Conheceu nestas peregrinações centenas de milhares de pessoas e locais e uma imensa consciência da Unidade do género humano ou mesmo das suas religiões e tradições cresceu-lhe invisivel e invencívelmente na sua alma e naturalmente se transmitia-se aos que conheceram ou abraçaram.
Numa dessas peregrinações,em Yelwal, Mysore ,disse num discurso, em 1957: «É minha fé fundamental que há um espírito divino no coração do ser humano. Superficialmente pode haver faltas, mas não são da essência interna. Precisamos então de descobrir um caminho que entre no mais íntimo do coração para que toda a bondade seja revelada. E esse caminho pode ser encontrado; descobri-o em Telengana. Eu pedi terra, e um homem avançou e deu-me terras. Para mim este minúsculo incidente foi um sinal de Deus; confirmou a minha fé em Deus. É contra o dharma (ordem cósmica) e a razão pensar que a terra pode ser propriedade individual. E quando eu comecei a pedir terra num espírito de amor, as pessoas começaram a responder. Foi como se um vento fresco começasse a soprar, e as pessoas vieram, vindas de longe ou de perto, juntar--se à nossa peregrinação».
Assim se referia Vinoba às jornadas a pé (bhodan) que atravessaram a Índia a pedir e a receber terras para os mais destituídos (grandam). Isto na sua plenitude significa «que tudo o que se possui deve ser posto à disposição da comunidade como um todo». Assim se realizou uma reforma agrária, não-violenta e eficaz, de milhões de hectares.
No seu ashram em Wardha, homens de Estado e peregrinos encontraram sempre um caloroso e sábio acolhimento, como eu próprio o experimentei quando o visitei e  com ele dialoguei pouco antes de ele morrer.
Entre os ocidentais que mais conviveram com Vinoba destacou-se Lanza del Vasto, o sábio peregrino às fontes orientais da espiritualidade, da não-violência e das comunidades harmoniosas, que nascera na Sicília, em 1901. Cristão, foi discípulo profundo e prolongado de Gandhi e do seu sucessor Vinoba. Era um artista, músico, poeta, filósofo e escreveu livros importantes para o aperfeiçoamento humano e sobre a não violência. Veio por mais de uma vez a Portugal partilhar a sua maneira de ser, viver, pensar, sentir. Deu origem a movimentações de resistência civil importantes sobretudo em França, onde ainda subsistem comunidades (La Borie Noble) na sua linha, que foi denominada a Arca.
Desenho de Vinoba realizado por Lanza del Vasto
Lanza del Vasto, que já escrevera anos antes a Peregrinação às Fontes, recentemente publicada em Portugal pelo José Carlos Marques nas edições Sempre em Pé, dedicou-lhe o Vinôbâ ou le nouveau pelerinage, um sábio e belo livro, do qual reproduzimos algumas páginas da edição original, de 1954, de um exemplar proveniente da biblioteca de Alberto Ultra Machado, amigo de Fernando Pessoa e como ele também interessado nas vias espirituais, possuindo (e lendo...) muitas obras de Vinoba, Rudolfo Steiner, Berdiaev, Soloviev, etc., e que adquiri ao amigo Nuno Franco, da Livraria Alexandria, à lisboeta rua do Século, tanto anos animada também pelo Carlos Barroco e a Nadia na galeria Novo Século.
                               
                                
                         
Vinoba desprendeu-se do corpo, estando a fazer um libertador jejum, no seu ashram de Paunar em 15 de Novembro, de 1982, com 87 anos de grande serviço à Índia e à Humanidade. Um dos maiores pedagogos da Índia, com vasta obra, entre nós infelizmente desconhecida, advertirá: «Ciência e tecnologia científica devem ser diferenciadas. Não é a ciência mas a sabedoria espiritual que deve decidir até onde a tecnologia científica deve ser aplicada na prática, numa sociedade particular, num tempo particular. Não deve haver restrições no avanço da ciência pura; quanto mais progredir melhor. Mas o seu uso e aplicação deve ser pelo auto-conhecimento. No mundo do futuro, ciência e sabedoria espiritual terão um lugar; políticas de poder e religião sectária não terão nenhum»...
Esforcemo-nos para que tal seja uma realidade...
Sobre a Ciência e o Auto-Conhecimento disse, num discurso em 1957, inserido no livro Third Power: "A ciência em si não é moral nem imoral; é amoral e os seus padrões de valor têm de ser fornecidos do exterior. Incorrectamente dirigida leva ao Inferno. Correctamente dirigida pode levar ao Céu. O único poder que a poderá dirigir correctamente é o auto-conhecimento, o conhecimento espiritual"...
"Hoje em dia grande parte da ciência está controlada por políticos, pois demasiada investigação científica está governada por considerações políticas. Os políticos compram muitos cientistas que se tornam seus escravos. Estes pseudo-cientistas não merecem o nome; um verdadeiro cientista não admitiria tal escravidão. A ciência expandiu-se, sem dúvida, mas a atitude científica, falta ainda em larga escala; a vida em geral ainda não se tornou científica"...
Quem sou "eu"? Os sábios antigos responderam: "Eu sou Brahman" [Aham Brahmasmi] - ou seja, incluo tudo, rebanhos, burros e tudo. Esta experiência de unidade de vida é denominada Vedanta. Significa que eu devo tratar todos os seres com igual respeito. Eu tentarei certamente fazer isto, mas não conseguirei o sucesso completo por causa do meu corpo. O desejo estará lá, mas o corpo puxará noutro sentido. Esta ideia que um respeito igual é devido a tudo é a base de ahimsa, a não-violência.
Ahimsa é um modo de vida, Vedanta um modo de pensar. Vedanta, pensando, diz-nos o que é; Ahimsa, a conduta, diz-nos como devemos agir. cada uma complementa-se a si própria. Vedanta é a base para a prática da vida; ahimsa é a casa baseada em tal fundação. A nossa tarefa nas aldeias é explicar às pessoas que somos todos um e que devemos praticar esta igualdade na nossa vida quotidiana".
Poder-se-á dizer com alguma certeza que os líderes nacionais atingiram um nível elevado dum ponto de vista espiritual? Eles podem ser tão estreitos mentalmente como qualquer camponês que faz o seu melhor para apanhar um pouco de terreno do vizinho. Quando um líder nacional começa a pensar em estender as fronteiras do seu país, tomando conta dos distritos que têm mais produtividade, derivarão de uma visão espiritual tais objectivos? O político é tão egoísta como o camponês, ainda que ele possa fazer mais figura. Mas vinte partes de dez não são mais de que meio de um, ainda que pareçam mais.
Um dos grandes defeitos da espiritualidade, nomeadamente da Indiana, é não darmos atenção ao modo como poderemos libertar-nos deste "eu", do egoísmo. O segredo está em deixarmos que o "nós" afaste o "eu." Idealmente, talvez, é o Tu - a presença de Deus - que deve expulsar o "eu". Mas onde é que se encontra Deus? Digamos antes que o "eu" deve ser absorvido no "nós". Só quando conseguimos pensar e falar do nosso esforço espiritual, da nossa devoção é que o nosso trabalho alcançará a sua satisfação natural e tanto o indivíduo como a sociedade serão regenerados..."
Anote-se no notável pedagogo Vinobaji esta incidência ética muito clara e forte na não-violência, no respeito do outrem e do mais fraco, primeiro e, segundo, a inserção na comunidade, no nós, como sendo os meios principais de se vencerem o egoísmo e o individualismo excessivo.
 Seguem-se mais algumas páginas reproduzidas  do livro, acerca de Vinoba, da autoria de Lanza del Vasto, também conhecido por Shantidas, servidor da Paz,  nome iniciático que lhe foi dado por Gandhi.
                                      
                                       
                                      
                                      
                                                Om Shanti, Shanti, Shanti..
Para finalizar um pequeno extracto, referente ao meu encontro com Vinoba,  do Livro das Peregrinações na Índia, que certamente um dia será publicado...
"Cheguei na manhã de 17 de Março a Wardha, ao Paunar Âshram do Achârya Vinoba Bhave, o sucessor de Gandhi (que morrera a 30/1/1948) na liderança do movimento, já não do auto-governo da Índia (svaraj) que fora conseguido, mas da não-violência (ahimsa) e dos modos de vida tradicionais indianos. Uma série de construções simples alinhadas proporcionam um balcão com sombra por onde avanço para um ancião que caminha em direcção a mim, amparado por duas mulheres, também trajando de branco, e que grita sorridente abrindo os braços finos e longos: — Ravi! Ravi! um dos nomes do Sol, e que significa brilhante. Saúdo-o também com alegria e vamos para o seu quarto sala, onde sentado explico-lhe quem sou, donde venho, com quem estive e como conheço o seu amigo Lanza del Vasto.
Ele fala-me de Gandhi e da sua vida, da força interior e espiritual que os animava, alude a um certo desentendimento com Lanza del Vasto, que partira cedo demais para a Europa em vez de ter ficado mais tempo a aprender com eles antes de trazer o ensinamento da não-violência gandhiana para o Ocidente, embora lhe tenha escrito uma bela biografia. Está rodeado de servidores da paz e da não-violência e de jovens ajudantas que mantém o âshram. Estão cá alguns dos seus antigos companheiros do Bhoodan, as grandes jornadas a pé pela Índia, durante treze anos, em prol da não-violência e duma reforma agrária justa, para as quais a presença peregrina e sábia dum verdadeiro brâmane (o que conhece e vive no Omnipresente Brahman), com os seus discursos simples mas directos e intensos, causou que mais de dois milhões de hectares entrassem e fossem distribuídos pelos pobres.
Está ainda bem activo apesar da sua idade avançada e os políticos vêm consultá-lo em momentos cruciais. Não escreveu ele no seu magnífico comentário à Bhagavad-Guîtâ:«Se a mente está concentrada, uma pessoa nunca perderá a habilidade. Mesmo se tiverdes 60 anos, tereis a energia e o entusiasmo dum jovem. À medida que uma pessoa envelhece, a mente deve tornar-se mais forte. Olhai para um fruto. É verde ao princípio, depois amadurece, murcha e cai, mas durante todo este tempo a semente torna-se mais forte. O corpo exterior definha, cairá, mas isso não é a parte essencial do fruto. A parte essencial, a alma, é a semente. O mesmo sucede com os nossos corpos. Ainda que o corpo vá envelhecendo, a memória deve tornar-se mais forte e o conhecimento mais brilhante».... Mas isto é muito difícil sem dominarmos a personalidade e a mente, por uma conduta disciplinada em que saibamos colocar os limites correctos às nossas acções, e sem uma prática constante de acção de graças, concentração e meditação no Eu espiritual ou na Divindade.
Fala-se do abate de animais que dois Estados Indianos, com maioria de comunistas no governo, Kerala e Bengala, têm permitido, em desacordo com a Constituição, e também da decisão de Vinoba de iniciar em 22 de Abril uma greve de fome por tempo indeterminado contra esta matança. Assisto a um dos seus satsangas ou conversas, em que a educação espiritual, certamente a tónica maior de toda a vida investigadora, ensinante e testemunhante de Vinoba, é valorizada perante um mundo cada vez mais precipitado no materialismo da produção e do consumo a todo o custo. É a transformação do coração e do interior dos seres o mais necessário e isso implica  a sabedoria e o poder espiritual em acção, e uma atitude ecuménica em relação a todas as religiões e tradições, de fé nos seres humanos e na unidade possível dos seus corações. 
Compro alguns dos seus livros e ele assina-os. Num deles, Pensamentos acerca da Educação, explica que dois dos significados principais da educação são construir caracteres e mostrar-nos como reganharmos sukha, a alegria ilimitada, que vem da raiz kha, o céu amplo e ilimitado.
Por isso, é bom meditar ou contemplar mais o céu infinito, que Vinoba e os peregrinos bem conhecem nas suas caminhadas purificadoras e harmonizadoras....»

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Sri Tathata em Portugal. Imagens e Vídeos, com Rão Kyão.... Sri Tathata in Portugal, videos and images...


           Sri Tathâta em Portugal. Vídeos e imagens...  Com Rão Kyão e a sua flauta "nádica"...
           Sri Tathâta in Portugal... Videos and some images... With the Portuguese famous musician Rão Kyão...
 
Sri Tathata e, o tradutor da língua malayala para inglês, Santosh
                            
  Sri Tathata e os tradutores: sadhaka Santosh e Pedro Teixeira da Mota. 
Vista geral dos participantes, cerca de 128, do satsanga, obtida por um discípulo indiano.
                 
                             Aspirantes, praticantes e amantes do Dharma.
Alguns dos seres aspirantes ou sadhakas portugueses...(Foto importada)
Rão Kyão e sua mulher Margarida Arruda, com os discípulos ocidentais mais próximos de Sri Tathata, nomeadamente Anne Laksmi e a Ema Blanc de Sousa, na parte final..

Começo do darsham e entrega das pétalas por Sri Tathata, explicada por Maitreyi e Ema Blanc de Sousa...
                    Entrega simbólica de pétalas de rosa pelo mestre Tathata às pessoas, que as deitam depois junto ao fogo, simbolizando a sua aspiração de queimarem as samskaras (tendências intrínsecas) e de desenvolverem as pétalas ígneas do amor e do conhecimento...    
                           Om namah! Om namah! Om namah!     
                                                        
                            Videos in english and portuguese 
Dialogue in english with Sri Tathata on Shiva, Shakti, Jiva and Brahman.
Diálogo em inglês entre Sri Tathata e Pedro Teixeira da Mota, com a tradução de Santosh, realizada no dia 4/11, anterior ao satsanga, no quarto do mestre sri Tathata. Bastante valioso sobre Shakti e Shiva ou Energia e Conhecimento. Infelizmente foi pedido que se retirasse da circulação pública.... http://youtu.be/dO62-Ocu5u0...
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Rão Kyão, bom conhecedor e  amante da música, som e  espiritualidade da Índia prontificou-se graciosamente a tocar na abertura do satsang de Sri Tathata do dia 5...  http://youtu.be/m0CqrVqstik                                                     *******
Dia 5, apresentação de Sri Tathata, antes do satsang, por Pedro Teixeira da Mota...     http://youtu.be/kyHyJ1hk9FQ
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Parte da satsanga (diálogo ou palavra na companhia da Verdade) de Sri Tathata, traduzida por Santosh e Pedro T. da Mota. English and Portuguese... http://youtu.be/DOrJxyZ-EAQ
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 Parte do satsanga  de Sri Tathata, traduzida por Santosh e por Pedro T. da Mota... English and Portuguese... http://youtu.be/_yq_4Hs2lTo
                                         OM SHAKTI OM  SHIVA OM
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quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Sri Tathata e o Dharma em Portugal... Sessão de perguntas e respostas...

                                       Sri Tathata e o Dharma em Portugal...
Sri Tathata, e os tradutores para inglês e para português Santosh e Pedro Teixeira da Mota
Realizaram-se dia 4 de Novembro, em Lisboa, duas sessões de perguntas e respostas, destinada à Imprensa (esteve presente a Elizabeth Barnard, directora das revistas Zen Energia; Reiki Yoga e Consciência e Harmonia)  e a pessoas ligadas a grupos ecológicos e espirituais, as  quais decorreram com agrado geral. Este dia 5, pelas 20:00 no mesma União de Associações de Comércio e Serviços,  Rua Castilho, nº 14, realizar-se-á a grande sessão pública.
No dia 6, de manhã cedo, há as iniciações para quem estiver interessado...
    Sri Tathata, entre muitos outros aspectos, realçou a importância de uma educação integral das crianças que contenha o conhecimento espiritual, o que implica uma iniciação à beleza, aos valores interiores. à meditação, à unidade da vida, pois são elas que farão as grandes mudanças que estão já a suceder...
   Face às questões sobre a crise actual mundial defendeu que ele resulta em parte de uma vida desequilibrada do seres ou desviada do Dharma, das Leis e natureza própria, o que causa desequilíbrios da natureza e que por sua vez se repercutem sobre todos os seres e que a melhor forma de cooperarmos com a evolução da humanidade e do planeta é aumentarmos a nossa ligação interior com a luz e o poder superior, melhorarmos a nossa satsanga ou companhia da verdade ou ainda relacionamento com pessoas boas, e, pela nossa vontade luminosa e emanações espirituais, contribuirmos para a transformação dos seres menos abertos ao Dharma ou ao Bem Comum...
     Realçou ainda que nesta fase de transição há duas direcções possíveis ou a da Luz e da evolução, pela qual nos abrimos às correntes luminosas e de amor e compaixão, ou a do egoísmo e da ignorância e que tanto uma como a outra receberão os seus resultados.
Disse ainda de si próprio que já nasceu com a consciência espiritual desperta mas que só depois de muitos anos de práticas espirituais é que compreendeu e amadureceu para a sua missão de reactivar os instrumentos psico-somáticos e espirituais de auto-conhecimento e auto fortalecimento nas pessoas, e é por isso que vem a Portugal e aos outros países da Europa e do Mundo...
 

domingo, 2 de novembro de 2014

Sri Tathata, um mestre indiano, em Portugal, XI-2014. Ensinamentos e biografia.

                         Sri Tathata, um yogui e mestre indiano autêntico em Portugal.
 Partilha dos ensinamentos dia 5, às 20:00 na R. Castilho, nº14, Lisboa. Entrada livre.   Rão Kyão graciosamente abrirá esta satsanga, ou reunião em torno de Verdade...
No dia 6, pela manhã, iniciação para quem estiver interessado...
                                                     
   Sri Tathata, nascido há 74 anos em Kerala no sul da Índia, começou cedo a sua demanda, através de asceses e práticas espirituais realizadas em diferentes templos e locais sagrados da Índia, o que lhe permitiu recuperar a sua consciência espiritual e tornar-se um instrumento mais perfeito do Dharma, o Bem Comum, a Vontade Divina....
Para ele a libertação não é o objectivo último, pois libertar-nos das dependências e identificações é apenas o começo de uma Vida Divina, a qual deve chegar e impregnar o nosso corpo e células e a própria Terra.
É o alinhamento da nossa vontade individual com a Divina, ou com o Dharma, a missão essencial que temos nesta vida.
“O Dharma é a grande força que impulsiona a evolução ascendente da vida e do Universo”, mas como há muita obscuridade no estado presente da Humanidade e da Terra são necessários a bênção da Mãe Divina, da Shakti, da Energia Primordial e Universal, e o Amor e Conhecimento que os Mestres partilham no mais alto grau possível e que chegam a, e tocam, todos os seres, desde os humanos e angélicos até aos elementais das plantas e das Terra.
Donde o interesse de Sri Tathata em contactar com comunidades rurais e praticantes da agricultura biológica...
E daí também a realização de grandes rituais de fogo (mahayajna) na Índia, em 1999, 2002, 2009 e 2104, com a intenção de se harmonizarem as manifestações das forças da Natureza, melhorando e intensificando o campo psico-geomórfico da Terra e proporcionando a elevação da consciência humana....
                                           
 Foi em 21 de Janeiro de 1991, em Sarnat, alto lugar do Budismo (onde Gautama o Budha poz a roda do Dharma a rodar, com a sua primeira pregação), que Sri Tathata recebeu o seu nome e pouco depois os Dharma Sutras, os textos que incorporam os ensinamentos apropriados para o desabrochamento do Dharma nos dias de hoje.
Oiçamos-lo: «Estava de olhos fechados antes da grande revelação dos Dharma Sutras. Foi então que ouvi uma música provinda dos planos subtis flutuar no ar e aproximar-se de mim. Três sílabas, Ta, Thâ, Ta, penetravam em mim e depois a frase: «Oh Tathata, tu és Tathata, tu és Tathata, tu és Tathata» começou a ressoar no meu mental profundo.
Eu sentia essas ondas sonoras que rodavam à volta da minha cabeça. Ouvi então uma voz interior dizer-me: «Adopta o nome de Tathâta e proclama o Dharma com esse nome!»
Foi assim que o nome de Tathâta me foi dado.
Elevei então a minha consciência até atingir um plano transcendental apropriado a receber o Dharma e a anunciá-lo. Foi a partir [e só] desse plano que foram proclamados os Dharma Sutras, pois o Tempo aconselhava-me a agir assim pois naquela altura as condições do plano na Terra não eram as mais propícias...»
Estes Dharma Sutras foram recentemente publicados em livro traduzido e certamente que Sri Tathata os partilhará....
«Como já contei, proclamei os Dharma Sutras sob o nome de Tathâta, que me foi dado pelo Tempo. Mas na altura, não sabia exactamente o significado. Para dizer a verdade, nem sequer ouvira pronunciar tal palavra. Mas se não a ouvira, já a essência dela me era bem familiar. o termo tathâta designa «o que é real», referindo-se ao mesmo tempo à realidade do Universo e à Realidade e Verdade que se encontra para além do mundo manifestado.
Faz assim alusão a um estado de ser no qual estes dois aspectos se interligam. A consciência humana deve atingir estes dois estado: primeiro, tat-padam, depois tathâta-padam...
Tad-padam é atingido quando a alma individual pode retornar à Fonte em plena consciência. Depois, quando esta consciência evolui posteriormente até se identificar com o Universo inteiro, até tornar-se o Universo, ela entra na dimensão suprema de tathâta-padam. Todas as alma têm o direito de chegarem a estes estado e a história da minha incarnação actual é a prova e é nisso que a minha própria vida é uma mensagem para o mundo: se eu consegui atingir este resultado tendo incarnado como ser humano, toda a a humanidade o pode atingir! E cada ser está no caminho para esta realização» Dharma Yanam, Le Vaisseau du Dharma, o Veículo do Dharma....
                                                              
Face à situação bastante problemática de muitas pessoas e regiões, Sri Tathata acredita que a mudança começa no plano individual, nomeadamente pelo respeito das leis da Natureza e pela orientação da vida por um objectivo superior, ou seja, pela abertura aos desígnios Divinos que vamos compreendendo pelo conhecimento e assimilando pelo modo de vida e as práticas espirituais...
Quando um grupo de pessoas se transforma e se eleva de vibração isso vai tocar um número maior de pessoas e as emanações resultantes impulsionam a transição colectiva e mundial.
Para isto servem também as meditações e orações, individuais e colectivas, pela paz e a harmonia nas pessoas, nos cinco elementos e no mundo, pois tal realidade ou frequência vibratória existe já nos mundos espirituais e trata-se de religar o que está em cima com o que está em baixo para fazer o milagre do Um.....
Segundo Sri Tathata estamos num desses momentos de sandhya, de transição e elevação pelo amor e a sabedoria (ou energia e conhecimento) do nível vibratório e consciencial da Humanidade e do Mundo, desde as células e almas humanas até aos elementos e espíritos da Natureza....                                                         
   Perguntando alguém a Sri Tathata se a espiritualidade é ou não é uma religião, ele respondeu com estas palavras:
"Sim, há uma diferença entre religião e espiritualidade. O ensinamento do Dharma pelos Rishis - os místicos videntes da Índia - não era uma religião. Dharma é outra palavra para qualificar a “Realidade Última”.
Neste sentido, o ensinamento dos Rishis era universal. As religiões, coloridas por uma cultura, servem como intermediárias entre os seres e a Realidade última. Mas o Dharma transcende todas as limitações, culturas, religiões e abre uma consciência Divina infinita. O Dharma está para além de todas as categorias e dirige-se a toda a Humanidade. Um muçulmano, um judeu ou um cristão pode seguir o caminho do Dharma sem negar a sua religião. A evolução da consciência passa através desta prática universal do Dharma.
Quando se pratica ou vive o Dharma, temos acesso aos níveis mais elevados da consciência. O Dharma é um canto escrito para todos. Não há um Dharma indiano ou francês! A Realidade última deve ser pensada como um todo. A este nível de consciência todas as distinções de cultura ou filiação religiosa desaparecem. O Dharma é Um. A Realidade última é Uma. A Verdade é Uma. A Felicidade última é Uma."                                                  
Sri Tathata, de acordo com a visão Indiana dos Yugas ou ciclos do tempo, considera que um deles acontece de 5.000 em 5.000 anos, altura em que o Universo e os seus seres entram num estado transicional, no qual podem ser "propulsionados para um nível mais elevado", havendo contudo que contar com a agitação e confusão que se instalam então e nas quais as mentes e pessoas se deixam frequentemente prender por hábitos, automatismos e desilusões.
Os mestres têm então a função de estabelecer o Dharma, de reactivarem o seu ritmo que jaz no coração de cada ser e do núcleo central da própria Terra.
É nesse sentido que eles partilham a sua presença e ensinamentos e iniciam numa prática espiritual interior os que aspiram verdadeiramente a avançar mais na Luz e na Verdade, no Dharma, isto é, numa vida mais luminosa, rítmica, feliz e harmoniosa no Universo e na Divindade....
A já próxima vinda de Sri Tathâta a Portugal será então uma boa ocasião de relançamento do Dharma em nós e em Portugal....                                                     
Dos aspectos mais instrutivos da biografia de Sri Tathata são as suas peregrinações e  ensinamentos, dos quais destacamos seja o intensificar de locais e seres algo adormecidos ou obscurecidos seja os encontros com almas desincarnadas que precisavam das energias luminosas que as ajudassem a ganhar forças para se elevarem ou para poderem incarnar de novo.
Mesmo os seres subtis das árvores e plantas surgiram ao olhar interno de Sri Tathata suplicando bênçãos divinas.
As orações de Sri Tathata e do seu grupo eram suficientes para fazer descer mais raios divinos, os quais eram intensificados seja pela chamas do fogo sagrado seja pelo derramar ritual de água, do seu kamandalu (vaso) ou ainda da mão, sobre o local e a terra...
Assim, por onde Sri Tathta e os seus passavam, dialogavam e meditavam havia claras mudanças nas vidas das pessoas, que ficavam mais sintonizadas com o Dharma, com a Divindade.
É este despertar das pessoas e da Humanidade para o Dharma que se está a verificar crescentemente e que sri Tathata está a impulsionar com as peregrinações, os ensinamentos, as orações e os rituais de fogo (yajna), que ele aprendeu com um acharya ou instrutor bramane.
A vinda de Sri Tathata a Portugal, ponta extrema da Europa e de onde esta se uniu mais com a Índia desde a viagem de Vasco da Gama em 1498, será certamente auspicioso para os seres humanos e subtis desta terra e para uma claridade maior do Dharma e da Divindade em Portugal...
Apareça e divulgue....
Veja facebook evento: Sri Tathata em Portugal, ou tm 918222175, da Ema Blanc, a co-organizadora do evento...
Aum Tat Sat
                                                      

sábado, 1 de novembro de 2014

Inspirações na Palavra e no Ser... Ichi go, ichi e... Estar plenamente no presente...

Que bom é exercitar-nos ou aprendermos a descobrir, a auscultar e a trazer ao de cima os conteúdos e ritmos criativos que pulsam nas nossas profundezas ou que nos banham provindos do Cosmos e dos seus seres e níveis subtis e imensos ou ainda que sentimos necessários serem expressos ou manifestados...
Conseguirmos que as nossas ideias e palavras se tornem avatarizações, isto é, manifestações do Alto, do Ignoto, do Mundo espiritual, no coração, na língua, na palavra, nos efeitos em nós e nos outros, é sem dúvida bem desejável e necessário...
A tal ajuda não nos apegarmos muito aos sucessos e prazeres manifestados, evidentes, sensíveis e comestíveis. E comungar de vez em quando do subtil, do silêncio, do imanifestado, do infinito, calma e desprendidamente, como uma mão dada alongada mas calma, ou então um abraço profundo e eternizante, com alguém e no espaço cósmico...
São tantas as energias visíveis e invisíveis a caírem constantemente sobre as pessoas, ou a passarem ao seu lado,  que é necessário  uma fina atenção e e voos de inspiração para mantermos a tais possibilidades as janelas-chakricas desimpedidas e as portas da alma abertas. E, claro, o cálice do coração em aspiração ou mesmo em derramamento de comunhão...
Há ainda tanto por descobrir, sentir, criar, dizer...
Há tantos seres com potencialidades a morrerem ou a enfraquecerem de sede que devemos tentar discernir o que podemos de melhor estimular e desenvolver em nós, ou mesmo, em grupo, tentando conseguir unir e convergir por momentos em intenções que sejam luminosas e boas para todos, isto é, estimulantes das suas melhores aspirações e afinidades, alguns seres, quem sabe ganhando com isso prolongamentos nos mundo subtis e espirituais, que passem para além da morte...
A fragilidade do que é subtil, e nomedamente de sensibilidades, é uma regra terrena, pois a densificação dos corpos e a agitação dos ambientes não permitem tanto a sobrevivência ou a preservação de tais brotos quase invisíveis. E isto tanto se passa no interior das pessoas como no relacionamento entre elas, tantas vezes quebrado ou enfraquecido pelo exterior...
Conseguirmos que o subtil, interno nosso ou o de um relacionamento, sobreviva à massificação e vulgarização, implica cultivarmos a sensibilidade ao belo e à compaixão, ao alegre e ao triste, e mantermos quase heroicamente a alma ligada aos planos psíquicos e espirituais, mesmo na inter-relação dispersiva e mecânica moderna, de modo a preservarmos na intensificação criativa ou compassiva dos nossos centros anímicos e intencionalidades...
Musa é o nome mágico dado não só à amada, à inspiradora, às antigas ninfas e depois deusas, mas sobretudo aquela subtil inspiração, quente entusiasmo, claridade criativa que todos nós desejamos cultivar, amar e comungar, e que é uma face ou manifestação da Alma-Gémea ou do Eterno Feminino Divino e que, pela palavra, a escrita e a meditação e a acção e inter-relação justa, é invocada, merecida e desfrutada...
Vivemos entre florestas de emanações e desejos naturais, ou de arranha-céus e medos burocráticos, sociais e pandémicos que, ao nos envolverem (e a uns mais, outros menos, felizmente), impregnam-nos, como odores não seleccionados de restaurantes que penetram no olfacto, tingindo de emoções a pele sensível e carente da quotidiana personalidade que, apesar de tão ameaçada e manipulada, caminha sempre em demanda do ser ou estado amado, dos níveis mais primários aos mais elevados, e que deve conseguir manter a sua bússola imunitária e salvífica apontada ao norte da verdade, do ser amado, da musa, da criatividade e da Divindade...
Ichi go, ichi e dizem os Japoneses àquele momento único no qual a essência divina e bela de uma situação ou de um ser se desvenda e floresce, por entre a transitoriedade efémera da vida...
Assim tu também aprende a viveres o mais desperta e intensamente possível qualquer momento criativo, meditativo, convivial, para que ele possa ser verdadeiramente comunicativo e impulsionador, e para que o Universo não seja frustrado pela tua falta de entusiasmo e aspiração ao Divino e à Unidade.
Assim aprende a atravessar a ponte que une as duas margens do rio que corre entre ti e o outro, entre tu e o mundo espiritual, e vive o presente na intensidade unitiva e amorosa que torna o passado o degrau certo para o presente e para o eterno...
Na fragilidade da vida humana e na perenidade do ser espiritual encontram-se dois dos pólos fulcrais da vida humana. Feliz de quem os sabe unir e comungar harmoniosamente a sós ou com os outros seres, e no Ser, Divino mesmo...
Lisboa, 1-XI-2014.19:39. Revisto:17-II-2015, 21-7-2017, 31-I-2021

domingo, 19 de outubro de 2014

Marsilio Ficino (1433-1499), vida e ensinamentos. Com extractos da sua valiosa correspondência.

Dia de aniversário de Marsilio Ficino, nascido em 19-X-1433 e partido da Terra em 1-X-1499, em Florença, mas sempre vivo nos corações ou nas almas dos seus amigos, admiradores, condiscípulos, ou simples peregrinos e espirituais...
                               
Foi já no Outono de 1433, em 19 de Outubro,  que nasceu em Figline, no vale do rio Arno, Marsilio Ficino, filho de Diotifeci d'Agnolo, médico de Cosimo de Medici, a família regente de Florença, e de uma mãe bastante intuitiva ou mesmo clarividente. Foi muito dado ao studium e veio a tornar-se um pensador fulcral no Humanismo dos séculos XV e XVI, pois, por encomenda-missão em 1462 de Cosimo de Medici, foi o primeiro tradutor do grego para o latim, então a língua culta da Europa, das obras completas de Platão e dos textos de sabedoria espiritual da Antiguidade designados por Corpo Hermético, a que se seguiram a obra de Plotino, as Enéadas, coligidas pelo seu secretário e discípulo Porfírio (234-304), com prefácios e comentários valiosos.
Tornou-se, com Pico della Mirandola e Erasmo, os líderes do Humanismo mais espiritual e abrangente do Renascimento, sendo um animador da célebre Academia Platónica de Florença, mantida por Cosme e Lourenço de Medici, que se reunia em debates filosóficos e espirituais valiosos (tendo o seu convívio e banquete mais importante a 7 de Novembro, dia do nascimento e desencarnação de Platão, de quem um busto pontificava, com uma lâmpada de azeite sempre acesa) e nos quais participaram almas luminosas, tais como Pico, Cristoforo Landino, Poliziano, Lorenzo de Medici, Francisco Cattani da Diaceto, Boticelli e Michelangelo.
                               
                               A villa de Careggi, casa da musas, academia platónica.
  Foi da sua casa-domínio de Careggi, onde se reunia a Academia, que deixou a Terra no dealbar do século XVI. As suas melhores biografias são as de Giovanni de Corsi, que nasceu em 1472, e foi publicada em 1560, a de Arnaldo della Torre, sobre a Academia Platónica, de 1902, e a de Raymond Marcel, impressa em Paris, Les Belles Lettres, 1958, devendo ainda mencionarem-se os estudos de Paul Oskar Kristeller, Michael J. B. Allen, Jean Claude Margolin, Marc Fumaroli, Cesare Vasoli, Patrizia Castelli, Christopher Celenza e Stéphane Toussaint, com alguns destes tendo eu ainda dialogado.
                                         
Céu natal de Marsilio Ficino, muito dado à investigação das possíveis correspondências do Macrocosmos e do Microcosmos.

Foi Marsilio Ficino de certo modo impulsionador ou inspirador de artistas como Botticeli, Ghirlandaio, Fillipini Luppi e Michelangelo e, com Pico della Mirandola, Poliziano, Cristoforo Landini, Erasmo, Thomas More, John Colet, Lefèvre d’Étaples, Agostino Steuco e Giordano Bruno,  autor de obras de grande sabedoria, entre elas se destacando, além dos comentários aos grandes textos Platónicos (nomeadamente o Parménides e o Banquete), a Theologia Platonica, o De Sole e o De Triplice Vita, este incluindo três tratados: Da Vida, Da Vida Longa, e Da obtenção da Vida dos Céus, ou se quisermos Da vida celestial reunida. Tanto estudara a via aristotélica como a platónica, nessa época numa certa luta entre os seus proponentes, equilibrando-as, embora sentisse que queria aprofundar mais a via imaginal e espiritual platónica, a qual era pouco acessível e menosprezada, até ao Concílio de Florença de 1439 e à queda de Constantinopla (1453), com a consequente emigração dos seus sábios para o Ocidente e depois, com os manuscritos trazidos por eles, a sua tradução da Obra de Platão completa. 
Estudara com vários preceptores e frequentara o Studio ou universidade fiorentina, tendo sido mesmo professor, pelo menos no ano de 1466. Mas Platão e os textos espirituais das diversas tradições a que acedia propulsionaram-no para uma síntese ousada e perigosa do paganismo com o cristianismo, da racionalidade com a espiritualidade e até a uma magia de operações e orações assentes em correspondências do microcosmos e do macrocosmos, nomeadamente as posições dos astros nos céus, que Paracelso e Agripa depois desenvolveram bastante.
                       
Marsilio Ficino, Pico della Mirandola e Angelo Poliziano, por Cosimo Rosselli. Chiesa de S. Ambrogio, Florença, 1486.
Médico como o pai, mas clérigo na igreja florentina de santa Maria Magiore e, mais ainda, filósofo e espiritual, desenvolveu a ideia da continuidade da revelação divina, desde os tempos primordiais, a chamada Prisca Teologia, reconhecendo Hermes Trismegisto, Zoroastro, Orfeu e Pitágoras como elos da mesma transmissão divina que a Cristã, o que, na altura de um certo zelo de exclusividade por parte da Igreja Católico (o qual teve consequências trágicas com o mais que sábio Giordano Bruno), era muito pioneiro e ousado, embora se apoiasse em padres da Igreja, tal como Lactâncio, nesse reconhecimento nos ditos filósofos pagãos da sabedoria divina perene.
Provou racionalmente a imortalidade da alma, se é que assim se pode dizer, na sua famosa Teologia Platónica da imortalidade da alma, e os seus comentários às obras que traduziu de Platão e Plotino, e em especial ao Banquete de Platão granjearam-lhe admiração ao longo dos séculos pela sublimidade da sua mente, coração e alma e pela forte aspiração à Verdade, ao Divino, ao Uno Primordial.
Aí afirma sobre caracterização trina da Divindade: "é denominada Boa porque é o acto (e autor) e fortificador de tudo. Bela porque vivifica, alegra, adoça e excita. Verdadeira, porque alicia para os objectos que devem ser conhecidos as três forças da alma: a mente, a vista e o ouvido [...]
Não sem causa os antigos Teólogos puseram a Bondade no centro, e a Beleza na circunferência. A Bondade num centro único e a beleza em quatro círculos. O centro uno de tudo é Deus, e os quatro círculos que o rodeiam são o espírito, a alma, a natureza, a matéria. O espírito ou mente angélica é o círculo estável. A alma move-se por si. A Natureza move-se a partir do outro e no outro.”
Marsilio Ficino, quando morre de velhice ou de cólicas, como afirma o seu biógrafo quinhentista Giovanni da Corsi, deixa os seus livros e a propriedade de Caregi ao seu afilhado, filho do seu irmão Querubino, o qual será o editor da sua vasta e riquíssima correspondência epistolar, que ainda vai hoje sendo traduzida, sobretudo em inglês, merecendo ser lida e relida com amor e discernimento, tendo eu modestamente contribuído com algumas traduções que encontra no blogue.

                                         
Oiçamo-lo numa carta a um amigo professor: «Mostra-te um exemplo de boa conduta. Pureza de vida engendra reverência para com o ensinamento. Os jovens seguem facilmente o exemplo dos mais velhos. Os que corrompem um jovem, ou de facto a mente de alguém, quer por palavras quer por conduta, devem ser considerados culpados de sacrilégio. Finalmente, age de acordo com Pitágoras e Apolónio de Alabanda que, na tradição dos filósofos Indianos, não admitiam à sua disciplina nenhum jovem que não fosse de nascimento luminoso e de educação boa. Pois não está certo que as Musas se tornem ministras ou instrumentos de iniquidade».
                               
Marsilio Ficino, Cristoforo Landino, Angelo Poliziano e Demetrios Chalkondyles, por Domenico Ghirlandaio. Capela de santa Maria Novella, Florença.
Eis outra carta, enviada a Niccolo degli Albizzi, tão lúcida quão profundamente sábia e que foi intitulada Exhortatio ad scientiam:
«Ouviste aquele provérbio, meu Nicolau, “nada mais doce que o lucro”? Mas quem lucra? Aquele que compreendeu o que é seu no futuro, pois nosso é o que sabemos, tudo o mais é verdadeiramente da fortuna [ou sorte].
Invejam os homúnculos os ricos, dos quais é a arca e não a alma a riqueza [cuja riqueza está na arca e não na alma].
Tu emula os homens doutos e bons, cuja mente é semelhante a Deus. Admoesta os teus condiscípulos a terem cuidado com Cila e Caribide, isto é, com a volúpia enganadora e a inflamação pestífera da mente, antes opinando que sabendo.
Que eles se lembrem que, um dia, a suma volúpia haverá de estar na parte suprema da alma, naquele tesouro da verdade suprema, quando eles desprezarem as sombras inânimes da volúpia pela graça do conhecimento.
A árvore do conhecimento, mesmo se virmos que tem raízes amargas, todavia produz frutos suavíssimos. Que eles se lembrem além disso que nunca superfluamente em excesso se torna o que nunca se torna suficiente.
Que eles se lembrem além disso que nunca se torna bastante o que nunca se tornar em excesso. Ainda não aprendeu suficiente quem ainda duvida de qualquer coisa, porém duvidamos enquanto vivemos. Assim é de nós aprender por tanto tempo quanto formos vivendo, imitando aquele sábio Sólon [638-558 a.C) que, estando a morrer, brilhava aprendendo algo, visto que se alimentava pelo sustento da verdade e para quem a morte não era senão revivescer.
Não pode morrer quem vive [respira] de alimento imortal. Além disso, Sócrates foi o primeiro a ser chamado do mais sábio de todos por Apolo, porque foi o primeiro a pregar publicamente que nada sabia. Mandava Pitágoras os seus discípulos verem-se ao espelho não à luz de uma luzerna, mas à luz do sol. O que é porém a luz da luzerna senão uma alma até aqui pouco erudita? O que é a luz do sol senão a mente que é muito sábia?
Portanto quem lhe apeteça especular acerca da figura da sua alma não a compare com indoutos, mas pelo contrário com doutíssimos. Assim discernirá claramente quanto lucra, quanto falta. Ao sustentar a mente devemos imitar os gulosos e os avaros, que sempre tem a mente intenta no que ainda resta. O que há mais? O Mestre da Vida diz: «Não é digno de prémio aquele que mete a mão ao arado e olha para trás». Ouviste aquela que de ser vivente em estátua foi transformada. Ouviste ainda como Orfeu perdeu nessa ocasião, em que olhou para trás, Eurídice, isto é, a profundidade do seu juízo. Cobarde e vão é o investigador que regride e não progride. Guarda-te em Deus [Vale]...» (Opera. 1641. T. 1º, p.605).
 

Giovanni de Corsi, nascido em 1472, e que publicou a biografia de Marsilio Ficino em 1560, foi discípulo de Francisco Cattani da Diaceto, grande amigo de Ficino, o qual escreveu no prefácio do seu De Pulchro algo que aflora aspectos sagrados do ensinamento platónico e neoplatónico, a comunicação profunda e do interior entre o ser humano, o seu anjo e o seu mestre: "Tudo o que nós somos, se somos alguma coisa, devemo-lo a Ficino. Marsilio, portanto, como nosso daimon (génio, anjo, mestre) familiar, fala sobre o belo através da nossa boca, o que é conforme à Academia". Na verdade, a sua aproximação ao mistério e ao Ser divino foi e é das melhores que o género humano gerou...
Tocando harpa, Marsilio Ficino conheceu, tal como alguns sábios das tradições Indiana, Persa e Grega vivenciaram e ensinam, o Sermo, Verbo ou Shabda interno: «A alma recebe as mais doces harmonias e números através dos ouvidos, e por estes ecos é lembrada e desperta para a música divina que pode ser ouvida pelo sentido mais subtil e pela mais penetrante mente». Eis um pequeno contributo para desafio perene de conseguirmos ouvir a tão subtil música do som das partículas e esferas e que está sempre a ressoar provinda do mundo interno espiritual e do cosmos...
Talvez por isso esteja representado no seu busto mortuário, dentro da igreja florentina de Santa Maria Maior, na parede meridional, tocando harpa, sugerindo que devemos afinar as frequências da alma e intensificá-las (tocando, cantando, orando, meditando e agindo bem e em amor), para os níveis mais elevados dela própria e da Anima Mundi, e assim podermos cada um reconhecer-se como "raio eterno do Sol Divino" e não se dispersar ou envolver em tanta alienação, manipulação e lixo dos meios de comunicação, de modo a que possamos resistir a tal massificação infra-humanista-transhumanista, e antes fortificarmos o nosso corpo espiritual e sentirmos mais a ligação com os mestres e santas, anjos e a Divindade e logo agir pelo bem da Humanidade multipolar e livre...