Que bom é exercitar-nos ou aprendermos a descobrir, a auscultar e a trazer ao de cima os conteúdos e ritmos criativos que pulsam nas nossas profundezas ou que nos banham provindos do Cosmos e dos seus seres e níveis subtis e imensos ou ainda que sentimos necessários serem expressos ou manifestados...
Conseguirmos que as nossas ideias e palavras se tornem avatarizações, isto é, manifestações do Alto, do Ignoto, do Mundo espiritual, no coração, na língua, na palavra, nos efeitos em nós e nos outros, é sem dúvida bem desejável e necessário...
A tal ajuda não nos apegarmos muito aos sucessos e prazeres manifestados, evidentes, sensíveis e comestíveis. E comungar de vez em quando do subtil, do silêncio, do imanifestado, do infinito, calma e desprendidamente, como uma mão dada alongada mas calma, ou então um abraço profundo e eternizante, com alguém e no espaço cósmico...
São tantas as energias visíveis e invisíveis a caírem constantemente sobre as pessoas, ou a passarem ao seu lado, que é necessário uma fina atenção e e voos de inspiração para mantermos a tais possibilidades as janelas-chakricas desimpedidas e as portas da alma abertas. E, claro, o cálice do coração em aspiração ou mesmo em derramamento de comunhão...
Há ainda tanto por descobrir, sentir, criar, dizer...
Há tantos seres com potencialidades a morrerem ou a enfraquecerem de sede que devemos tentar discernir o que podemos de melhor estimular e desenvolver em nós, ou mesmo, em grupo, tentando conseguir unir e convergir por momentos em intenções que sejam luminosas e boas para todos, isto é, estimulantes das suas melhores aspirações e afinidades, alguns seres, quem sabe ganhando com isso prolongamentos nos mundo subtis e espirituais, que passem para além da morte...
A fragilidade do que é subtil, e nomedamente de sensibilidades, é uma regra terrena, pois a densificação dos corpos e a agitação dos ambientes não permitem tanto a sobrevivência ou a preservação de tais brotos quase invisíveis. E isto tanto se passa no interior das pessoas como no relacionamento entre elas, tantas vezes quebrado ou enfraquecido pelo exterior...
Conseguirmos que o subtil, interno nosso ou o de um relacionamento, sobreviva à massificação e vulgarização, implica cultivarmos a sensibilidade ao belo e à compaixão, ao alegre e ao triste, e mantermos quase heroicamente a alma ligada aos planos psíquicos e espirituais, mesmo na inter-relação dispersiva e mecânica moderna, de modo a preservarmos na intensificação criativa ou compassiva dos nossos centros anímicos e intencionalidades...
Musa é o nome mágico dado não só à amada, à inspiradora, às antigas ninfas e depois deusas, mas sobretudo aquela subtil inspiração, quente entusiasmo, claridade criativa que todos nós desejamos cultivar, amar e comungar, e que é uma face ou manifestação da Alma-Gémea ou do Eterno Feminino Divino e que, pela palavra, a escrita e a meditação e a acção e inter-relação justa, é invocada, merecida e desfrutada...
Vivemos entre florestas de emanações e desejos naturais, ou de arranha-céus e medos burocráticos, sociais e pandémicos que, ao nos envolverem (e a uns mais, outros menos, felizmente), impregnam-nos, como odores não seleccionados de restaurantes que penetram no olfacto, tingindo de emoções a pele sensível e carente da quotidiana personalidade que, apesar de tão ameaçada e manipulada, caminha sempre em demanda do ser ou estado amado, dos níveis mais primários aos mais elevados, e que deve conseguir manter a sua bússola imunitária e salvífica apontada ao norte da verdade, do ser amado, da musa, da criatividade e da Divindade...
Ichi go, ichi e dizem os Japoneses àquele momento único no qual a essência divina e bela de uma situação ou de um ser se desvenda e floresce, por entre a transitoriedade efémera da vida...
Assim tu também aprende a viveres o mais desperta e intensamente possível qualquer momento criativo, meditativo, convivial, para que ele possa ser verdadeiramente comunicativo e impulsionador, e para que o Universo não seja frustrado pela tua falta de entusiasmo e aspiração ao Divino e à Unidade.
Assim aprende a atravessar a ponte que une as duas margens do rio que corre entre ti e o outro, entre tu e o mundo espiritual, e vive o presente na intensidade unitiva e amorosa que torna o passado o degrau certo para o presente e para o eterno...
Na fragilidade da vida humana e na perenidade do ser espiritual encontram-se dois dos pólos fulcrais da vida humana. Feliz de quem os sabe unir e comungar harmoniosamente a sós ou com os outros seres, e no Ser, Divino mesmo...
Lisboa, 1-XI-2014.19:39. Revisto:17-II-2015, 21-7-2017, 31-I-2021
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