sexta-feira, 7 de novembro de 2025

O Profeta, de Kahlil Gibran, ilustrado por Zeida Abirached. Apresentação na livraria Palavra de Viajante. Fotografias, e vídeo da 1ª parte do diálogo da ilustradora com a editora.

Zeida Abirached, em Lisboa, apresenta O Profeta ilustrado por si.
1º e 2º volume, em letra quase manuscrita e bom papel.

      O lançamento em Portugal, em banda desenhada por uma artista libanesa Zeida Abirached, de O Profeta, um dos sete livros mais editados e lidos no mundo, escrito e publicado em Nova Iorque em 1923 pelo escritor e artista libanês Kahlil Gibran, é certamente um acontecimento valioso no nosso meio editorial, cultural e espiritual. Aconteceu na simpática livraria de bairro e de viagens Palavra de Viajante, sob a chancela luso-espanhola Lenoir. Com  tradução de José Luis Covita, fluida mas (creio) do francês da edição da Senghers, e portanto perdendo por vezes a melhor tradução. São dois volumes in-4º de 191 e 189 páginas, em bom papel e com uma breve introdução da ilustradora Zeida Abirached. 

                                                      

Não morando longe da Palavra de Viajante, porque lera duas vezes o Profeta e recentemente traduzira e comentara alguns dos poemas resolvi participar no acontecimento e, como perguntando às pessoas responsáveis do interesse em ser gravada ou não a apresentação a resposta foi afirmativa,  encontrará no fim o primeiro dos três vídeos que documentam a apresentação e o seu diálogo, com excepção de um minuto no fim de uma das gravações, estando-se disponíveis no Youtube.




Os livros foram autografados com ilustrações personalizadas

Vamos transcrever a tradução e ilustrações de um dos poemas, que até apresenta alguma dificuldade de hermenêutica na parte final mas que aludirá à pesagem da alma pela consciência justiça karma cósmico divino.

 

«Uma mulher disse então: fala-nos da Alegria e da Tristeza.
Ele respondeu. A vossa alegria é uma dor sem máscara. [... a vossa dor]
E o poço de onde se elevam os vossos risos [E o mesmo poço... riso]
esteve muitas vezes cheio com as vossas lágrimas.
E como poderia ter sido de outra maneira?
Quanto mais fundo a dor se entranhar no vosso ser,
[.., modelar]
mais conseguireis conter a alegria.
A taça que contém o vosso vinho
Não é a mesma que o oleiro cozeu no seu forno?
[... que foi queimada]
E o alaúde que apazigua o vosso espírito
não é ele feito de uma madeira talhada pelas facas?
[tornada oca...]
Quando estiverdes felizes, sondai as profundezas doo vosso coração,
e descobrireis que a dor de outrora
é a alegria no presente. [que foi o que vos deu a tristeza vos está a dar alegria ]
Quando estiveres tristes, sondai de novo o vosso coração
e aperceber-vos-ei que na verdade chorais por aquilo que já foi a vossa alegria.

Alguns de entre vós dizem [alguns de vós...]
a felicidade sobrepõe-se à tristeza [...é maior]
e outros respondem não, a dor sobrepõe-se à felicidade. [... maior]
Eu digo-vos que são inseparáveis,
chegam juntas,
e se uma delas está sentada à vossa mesa, [e quando...]
lembrai-vos que a outra dorme na vossa cama. [está adormecida]

Na verdade, sois como uma balança, suspensa entre a alegria e a tristeza.
Apenas guardais o vosso equilíbrio e a vossa imobilidade quando estais despojados. 
Quando o guarda do tesouro vos levanta para pesar o seu ouro e a sua prata,
a vossa alegria ou a vossa tristeza devem então aumentar ou diminuir.» 

A mãe de Khalil Gibran sua mestra da sensibilidade profunda. E o próprio... 1993-1931.
Este verso final é o mais complexo de ser compreendido: quem pesa alma? Pesa-se o ouro e a prata, correspondentes à alegria e tristeza, e isso influencia o nível do destino-estação no além?
 
 Eu traduziria assim:
«Na verdade, estais suspensos como pratos de balança entre a vossa alegria e a vossa tristeza.
Só quando estiverdes vazios é que estareis em calma e equilibrado.
Quando o guarda do tesouro vos elevar para pesar o seu ouro e a sua prata,
necessariamente a vossa alegria ou a vossa tristeza sobe ou desce.»

Eis-nos com uma obra de extraordinária qualidade anímica, humana, perene, e nesta edição propícia a ser lida pela juventude e pelos que gostam de banda desenhada, tão bem ilustrada com leveza e beleza pela Zeida Abirached, e que podem até colorir... Boas leituras...

                               

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