quinta-feira, 20 de novembro de 2025

Galaktion Tabidze, o maravilhoso poeta da Geórgia, então na Rússia imperial e depois soviética, e o seu poema "Sem Amor", 1913.

O maravilhoso poeta da Geórgia, então parte do Império da Rússia, Galaktion Tabidze, de quem se celebrou há dias o aniversário (17-XI-1892 a 17-III-1959), é praticamente desconhecido em Portugal, e assim, aproveitando a data auspiciosa e a partilha dum poema por uma amiga, a Oksana, no Vk.com, resolvi apresentá-lo  (e, claro, não me pude fiar nos dados da Wikipedia, como de costume provenientes da intencionalidade anti-russa que a ideologia ocidental neo-liberal ostenta nessa sua plataforma manipuladora) com uma brevíssima biografia e um belo poema que ilustra bem a força e profundidade da sua alma e o lirismo poético e comunhão com a Natureza e o Cosmos que o animavam e transmitia...
                                                 
Galaktion Tabidz
e recebeu boas influências culturais do seu pai, um sacerdote ortodoxo e professor da província ocidental da Geórgia e depois no seminário teológico de Tbilisi em 1908, começando logo a publicar, tendo sido também professor. As obras poéticas iniciais mais importantes foram coligidas em 1914,  sendo muito apreciadas e mostraram a sua sensibilidade intimista e a grande aspiração insatisfeita ao amor. Participou no começo do Modernismo georgiano, com ligações ao Simbolismo, escrevendo no jornal Golubye rogi (Chifres Azuis).   
Estando ora na Geórgia ora em Moscovo e S. Petersburgo (Petrograd), assistiu ao vivo à revolução de 1917, e aderiu a ela, vindo a participar plenamente seja escrevendo, discursando e viajando até ao estrangeiro. Assim em 1928, excursionou pela santa terra mãe da Rússia com os delegados ao Sexto Congresso da Internacional Comunista, do que resultou o poema A Época (1930). E em 1935 foi um dos delegados ao Congresso anti-fascista de Paris, onde brilhou e do que resultou uma série de poemas importantes.
Infelizmente as lutas,  purgas e repressões políticas de diferentes facções bolchevistas dos anos 30, em especial de Estaline,  levaram à execução em 1941, por estarem ligados aos Antigos Bolchevistas,  da sua mulher Olga Okudzhava e do poeta seu primo e grande companheiro Titsian Tabdize (amigo de Boris Pasternak, que o traduzira), o que o perturbou, sendo também ele sujeito a detenção e interrogações que o fragilizaram, obrigando-o a lutar contra outros factores desagregadores, tais como a tristeza-depressão e o álcool.                                                     
Todavia, apesar ter vencido esses problemas e do sucesso e reconhecimento (até as principais condecorações, como a Ordem de Lenine e a Ordem da Bandeira Vermelha do Trabalho), e pode-se apreciar ao vivo tal popularidade, em https://www.youtube.com/watch?v=TUDQHPIY-Uw   - em 1959, quando tinha 60 anos, voou da janela do hospital psiquiátrico onde estava em tratamento, muito provavelmente impaciente da paz e  da Mors-Amor libertadora, tal como o nosso poeta filósofo Antero de Quental.
Antero de Quental, 1842-1891. Lux et Amor Dei, nele e em Galaktion Tabidze. Aum!
Galaktion Tabidze, ao contrário de Antero, foi acompanhado no funeral por milhares e milhares de pessoas que tinham sido fecundadas pelo sua palavra e alma ígnea, inquieta e na demanda de justiça e de amor, certamente gerando ondas  de amor e misericórdia que muito o terão banhado e ajudado. Oiçamo-lo vibrante, entusiasmado,  noutro do seus milhares de poemas, muitos ainda hoje cantados, numa excelente gravação: https://www.youtube.com/watch?v=1XfhjSwglsQ
                                          
Em 2020, a Ig
reja Ortodoxa da Geórgia  absolveu-o do pecado mortal do suicídio, o que podemos considerar também como certa santificação pelo muito que sentiu, sofreu e influenciou criativamente, sendo hoje reconhecido como um dos mais valiosos poetas da Geórgia. Leiamos então um dos  seus poemas mais cantados e musicados ainda hoje, Sem Amor

 TBILISI, GEÓRGIA - 08 DE JULHO DE 2019: O Túmulo Do Poeta Georgiano Galaktion Tabidze No Panteão Mtatsminda De Escritores E Públi Imagem Editorial

  SEM AMOR
Não há brilho no céu sem amor,
Sopro de vento, variedade de cores do mundo
E canto dos pássaros nas florestas vibrantes.
Não há vida nem imortalidade sem amor...

Mas a última paixão-amor  é-me a mais querida,
Pois, como flor outonal, em doce langor,
Não ouve os gritos selvagens das paixões,
Nem o desabrochar das violetas na neve primaveril.

Não se assemelha a um flor frágil,
O vendaval da meia-noite  acaricia-o
E ele inclina-se lentamente para a terra,
No silêncio outonal, murcha...

 Último amor,  também tu partirás,
Quando as tenras inflorescências se desfazerem.
Todavia não há imortalidade no mundo sem amor,
Não há nem haverá imortalidade sem amor!»
 
Com Galaktion Tabidze, recusemos os infrahumanismos e pragmatismos económicos e hegemónicos que tanto ameaçam e desfiguram a Humanidade e lutemos pela multipolaridade equitativa, fraterna e amorosa. Saibamos imortalizar-nos no Amor flamejante. Saibamos viver o mais possível em amor e compaixão com os outros e com a vida. Não percamos as oportunidades de amarmos mais, de estreitarmos almas e corações, de encontrarmos a pessoa certa e afim, de descobrirmos o nosso caminho de religação espiritual e divina, para que o Amor-Sabedoria divino e imortal possa arder e estabilizar mais plena e frutiferamente em nós e na Terra...
 
 
De Assis Kraussauskas,  "Dois".  Стасис Красаускас "Двое"
 
БЕЗ ЛЮБВИ
Нет без любви сиянья в небесах,
Дыханья ветра, мира многоцветья,
И пенья птиц в разбуженных лесах,
Нет без любви ни жизни, ни бессмертья....

Но мне любовь последняя милей,
Что, как цветок осенний, в тихой неге
Не внемлет диким окрикам страстей,
Фиалок буйству на весеннем снеге.

На хрупкие цветы он не похож,
Полночный ураган его ласкает,
И он клонится медленно к земле,
В безмолвии осеннем увядает...

Последняя любовь, уйдешь и ты,
Когда поблекнут нежные соцветья,
Но в мире нет бессмертья без любви,
Нет и не будет без любви бессмертья...»
Галактион Табидзе.

SANS AMOUR
Il n'y a pas d'éclat dans le ciel sans amour,
Pas de souffle du vent, pas de monde multicolore,
Et pas de chant d'oiseaux dans les forêts éveillées,
Il n'y a ni vie, ni immortalité sans amour...

Mais le dernier amour m'est le plus cher,
Qui, comme une fleur d'automne, dans une douce langueur,
N'écoute pas les cris sauvages des passions,
Ni l'épanouissement des violettes sur la neige printanière.

Il ne ressemble pas à des fleurs fragiles,
L'ouragan de minuit le caresse,
Et il se penche lentement vers la terre,
Dans le silence automnal, il se fane...

Dernier amour, tu t'en iras aussi,
Quand les tendres inflorescences se faneront,
Mais il n'y a pas d'immortalité dans le monde sans amour,
Il n'y a pas et il n'y aura pas d'immortalité sans amour...»


A soft song, with  a tranlation of his poem. https://www.youtube.com/watch?v=pYqSuYvffkA 

WITHOUT LOVE
There is no brilliance in the heavens without love,
No breath of the wind, no multicoloured world,
And no birdsong in the awakened forests,
There is no life or immortality without love...

But my last love is dearer to me,
Like an autumn flower, in quiet bliss,
Unheeding the wild cries of passions,
The violets' exuberance on the spring snow.

He's not like fragile  flowers,
The midnight hurricane caresses him,
And he slowly bends towards the earth,
Withering in the autumn silence...

My last love, you too will leave,
When the tender blossoms fade,
But there is no immortality in the world without love,
And there is no immortality without love, nor will there ever be...»

Excelent, immortal voice, vak or shabda:  https://www.youtube.com/watch?v=1XfhjSwglsQ

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