São bastante subtis e elevadas as realizações internas alcançadas em estados expandidos de consciência e elas são apresentadas sempre ligadas ou na continuidade da tradição espiritual indiana, o Sanatana Dharma, embora fazendo por vezes ligações às descobertas modernas da ciência, pelo que uma apreciação crítica completa seria um tarefa imensa, e assim apenas apresentaremos algumas ideias-resumos.
Comprado o livro na Índia, na sua 1ª edição de 1979, ao longo dos anos volta e meia abria e lia partes, e sentia-as valiosas. Mas recentemente lendo e anotando algumas páginas, decidi escrever um artigo para o dar a conhecer e por ele ilustrar o que se podem chamar os livros mais difíceis da sabedoria indiana. E como a internet dinamiza rapidamente o conhecimento do que se passa em sincronia com a nossa procura-necessidade, resolvi digitar o título e surgiram-me, após a publicidade de algumas distribuidoras de livros, dois blogues com artigos respeitantes a Amarakavi e ao livro, que me permitem melhor confirmar que foi de facto um valioso mestre dos mundos interiores, tendo deixado além de muitas obras inéditas que estão a ser digitalizadas e trabalhadas, um conjunto de 140 pinturas reflectindo as suas experiências clarividentes e oníricas.
O autor, que se chamava, por nascimento em 1906 no Tamil Nadu, em Madras, numa família brâmane (mas não de sacerdotes), Sangam Ramchandra Rao, viveu uma vida normal, embora tendo já as suas vivências espirituais juvenis, estabelecendo família aos 20 anos ao casar-se com Meenakshi Ammal e tendo filhos, trabalhando três anos num banco e depois desde 1927 numa companhia de petróleo, a Burmah Shell, onde foi muito pontual e consciencioso, elevando-se por seus méritos a contabilista principal. Destacou-se ainda num sindicato, num jurado de tribunal e como jogador de badminton. Quando se reformou ao fim de 35 anos de serviço, renunciando a ofertas da petrolífera, dedicou-se plenamente à realização espiritual e começou a dar à luz algumas obras.
Através das suas práticas interiores de respiração, controle do pensamento, devoção, mantras, meditação e a graça dos mestres e de Deus, na forma de Sri Moola Ganapathy (tradicionalmente cultuada pelos siddhas e no sul da Índia), conseguiu despertar o seu corpo espiritual, obtendo a consciência dos sentidos subtis, tal a clarividência, da luz e da visão nos mundos espirituais, e a clariaudiência, ou seja a voz ou sussurro interior, e que se manifestava tanto em vigília como no mundo onírico, atribuindo a sua origem ao seu espírito ou Atman, a Presença viva em si, ocorrendo aos quarenta anos a sua maior iluminação, o śāmbhavi vidya.
Tentemos da sua complexa e pouco sistematizada escrita, discernir e partilhar quais as teorizações e técnicas psico-espirituais trabalhadas e recomendadas para as pessoas conseguirem controlar a sua dispersão mental e terem experiências místicas ou do eu espiritual, que as façam sair da ignorância e mover-se melhor no caminho espiritual...
Sendo muitas as vias e meios que conheceu e indica, vamos apontar apenas algumas que se nos tornaram mais evidentes, e em parte porque são as tradicionais que praticamos.
Controle dos sentidos e dos pensamentos, na linha de que a mente tem de ser controlada e dissolvida para que nela não haja um tão grande gasto de energias psico-físicas que como sabemos podem provocar até esgotamentos cerebrais.
Sri Amarakavi Ramachandra considera mesmo que a energia ígnea dos pensamentos é extraída do reservatório geral no chakra raiz, muladhara, e tal é estimulado pelas imagens que aceitamos na nossa mente. Logo o controle da mente é fundamental para a energia básica poder ser canalizada na meditação para os centros mais elevados, pela respiração vertical no canal central ou sushuma, nomeadamente para o plexo solar e a partir deste centro.
Este controle mental, no fundo o correspondente nos Yoga sutras de Patanjali, ao sutra inicial yoga citta vritti nirodha, vai alcançar-se não só pelas práticas de orações, mantras, concentrações, respirações e imobilizações respiratórias, como também pelo que ele denomina o olhar vacante e que consiste em olhar para o céu, para o vazio, o espaço, ou sem estar a ver nada em especial. Esta técnica e modo de olhar, que eu conhecia já pessoalmente de um mestre advaita de Rishikesh, Swami Kaivalyananda, como propícia à realização advaitica ou não-dual do Brahman, tem ainda correlações com as práticas yoguicas de se contemplar o céu e as miríades de glóbulos de prana.
Em qualquer dos casos subjaz a ideia, o conceito, e para alguns bafejados pela graça, a experiência do chitakasa, o espaço da consciência cósmica, que se identifica com o corpo subtil de manifestação da Divindade ou Brahman.
Esta prática mais prolongada pode, além de imobilização da ondulação dos pensamentos. gerar um estado de samadhi, de saída da nossa identificação ao corpo físico e uma unificação do nosso corpo e eu espiritual ao espaço ilimitado (ananta), ao infinito, à superconsciência, pois não havendo dispersão mental, a energia interna, a shakti, pode elevar-se da base da coluna ou do nabi, no centro, e manifestar-se nos centros ou chakras da coluna, exprimir-se como "Voz Mística", e religar-se mais com a pura consciência, Shiva, beatífica, que ele também equivale a Chaitanya ou consciência cósmica, ou mesmo a Khrisna, ou ainda a Saraswati.
Boas inspirações, respirações, mantras, meditações, iluminações..
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