Ao Irão, que na antiguidade, sob o nome de Pérsia, se estendia por vastos territórios e com sucessivos reinos e impérios de grande brilho na história da civilização, devemos bastantes aspectos espirituais valiosos que qualquer estudioso da Humanidade e particularmente da religião, da arte, da ética, da filosofia e da espiritualidade deverá conhecer minimamente.
Este pequeno texto é um convite ao estudo da religiosidade e espiritualidade de tal histórica civilização e da sua população, e abordará, breve e quase superficialmente, dada a complexidade e subtilidade do Mazdeísmo ou Zoroastrismo, escassos aspectos: a concepção da Divindade na sua transcendência, imanência e qualidades, a visão da sua manifestação, ou descida à Terra ou avatarizaçã0, e a presença dos espíritos celestiais entre nós. Embora muitos séculos tenham passado, desde que os hinos, textos, diálogos e ritos brilharam na sua génese, transformações e esplendor, pois o Madzeísmo é uma das religiões históricas mais antigas, nascida provavelmente entre o III e o II milénio a. C., consideramos que sempre que, numa demanda sincera, estudamos, pensamos e meditamos a Divindade com aspiração e amor, e a partir duma boa concepção, alguma abertura ou ligação entre Ela e nós se restabelece, o que é muito benéfico, por entre a superficialização e dispersão do dia a dia moderno, tanto para nós espíritos imortais como para a Humanidade.
Os Persas alcançaram uma visão, ou chegaram a uma concepção, de Deus ou da Divindade Suprema, denominada Ahura (Senhor) Mazda (Sabedoria), para alguns melhor traduzida por a Sabedoria Sublime, também chamada Hormazd, e exprimiram-na em vários hinos e textos, sobrevivendo bem expressa num dos gathas, ou hinos de Zoroastro, ou de quem escreveu em seu nome:
Este pequeno texto é um convite ao estudo da religiosidade e espiritualidade de tal histórica civilização e da sua população, e abordará, breve e quase superficialmente, dada a complexidade e subtilidade do Mazdeísmo ou Zoroastrismo, escassos aspectos: a concepção da Divindade na sua transcendência, imanência e qualidades, a visão da sua manifestação, ou descida à Terra ou avatarizaçã0, e a presença dos espíritos celestiais entre nós. Embora muitos séculos tenham passado, desde que os hinos, textos, diálogos e ritos brilharam na sua génese, transformações e esplendor, pois o Madzeísmo é uma das religiões históricas mais antigas, nascida provavelmente entre o III e o II milénio a. C., consideramos que sempre que, numa demanda sincera, estudamos, pensamos e meditamos a Divindade com aspiração e amor, e a partir duma boa concepção, alguma abertura ou ligação entre Ela e nós se restabelece, o que é muito benéfico, por entre a superficialização e dispersão do dia a dia moderno, tanto para nós espíritos imortais como para a Humanidade.
Os Persas alcançaram uma visão, ou chegaram a uma concepção, de Deus ou da Divindade Suprema, denominada Ahura (Senhor) Mazda (Sabedoria), para alguns melhor traduzida por a Sabedoria Sublime, também chamada Hormazd, e exprimiram-na em vários hinos e textos, sobrevivendo bem expressa num dos gathas, ou hinos de Zoroastro, ou de quem escreveu em seu nome:
Quando eu Te concebi, ó Mazda,
Como o Primeiro e o Último,
Como o mais Adorável,
Como o Progenitor do Bom Pensamento,
Como o Criador da Lei eterna da Verdade e da Luz,
Como o Juiz Senhor das nossas acções na Vida,
Abri espaço então na minha visão para Ti.
Gathas: Yasna, ou cap. 31-8.
Discerniram também que Ahura Mazda tinha o seu aspecto ou espírito santo ou bondoso, Spenta (benéfico, incrementador) Mainyu (espírito), e era criador e preservador duma ordem cósmica (Asa, ou asha), que assentava em certos princípios e qualidades suas, os Amesha Spenta, explicitados como mente boa (vohu mana), rectidão (asha), auto-controle ou domínio (khshatra, donde os kshatryas na Índia, o outro ramo indo-europeu, a casta dos guerreiros, e donde a forte presença duma cavalaria espiritual no Irão), serenidade (armayti), plenitude (hauvartat) e imortalidade (ameratat, igual à amrita indiana). Estes Amesha Spenta tanto se podem identificar portanto como seis qualidades divinas como ainda grandes espíritos celestiais individualizados, crendo-se que judeus e cristãos formaram deles a noção de Arcanjos.
Será só mais tarde, não estando mencionadas nos hinos ou gathas primordiais de Zoroastro, que se acrescentará na Providência Divina na Terra a participação da contraparte celestial de cada ser humano, a Fravashi.
Na origem, o Zoroastrismo não era uma religião dualista e só mais tarde é que se considera que à Divindade, com as emanações da luz e do bem, se opunha um ser e estado mental denominado Angra Mainyu, ou Ahrimam, pelo que a vida devia ser assumida como uma luta entre o bem e o mal, nos céus, mas não tanto com Ahura Mazda, mas entre Spenta e Angra, e mais ainda, tal como é evidente, na Terra entre os seres maldosos e os justos ou bondosos, entrando então em acção essa espécie de Anjo da Guarda, Fravashi.
Não é pois de estranhar que os iranianos nunca tenham gostado nem aceitado a designação com que o imperialismo norte-americano ou ocidental os presenteou: o eixo do mal. Para eles, por motivos fundamentados e constantemente provados, a fonte do mal na Terra é a ignorância, arrogância, ambição e violência, e nos últimos tempos sobretudo o imperialismo ocidental, que tanto conflito e sofrimento tem causado.
Embora se reconheça mais o impacto nas três Religiões do Livro (Judaísmo, Cristianismo e Islão), também a sempre em transformação religião Iraniana influenciou o Budismo Mahayana, efectivando-se nos primeiros séculos na zona dos reinos indo-citas, no Irão oriental, e de lá estendendo-se ao Turquestão chinês, China, Coreia e Japão.
Os primeiros tradutores de textos budistas para chinês foram os Partas, da Pérsia, e por influência deles a figura de Sakya Muni (Budha, o sábio silencioso do clã dos Sakya) diminui e em contrapartida cresceu a dos seres luminosos e futuros Budhas, os bodhisatvas, tal o Budha Amitaba, da Luz Infinita e que preside ao paraíso do ocidente, sukhavati, semelhante à terra de Luz ou lúcida do Maniqueísmo, a religião que sucedera ao Zoroastrismo.
Ora será outro bodhisatva Maitreya ou Ajita que vai corresponder ao Mitra invictus, o Sol invencível, e sobretudo ao Saoshyant do Zoroastrismo, aquela manifestação divina que há-de vir trazer a Luz plena à Terra, algo que judeus e cristãos, com a ideia do Messias, e islâmicos, com a vinda final do profeta, sendo especialmente os shiias, maioritários no Irão e no Iraque, os que mais acreditam em tal vinda, através da desvelação do 12º imam ocultado, o Madhi.
Os primeiros tradutores de textos budistas para chinês foram os Partas, da Pérsia, e por influência deles a figura de Sakya Muni (Budha, o sábio silencioso do clã dos Sakya) diminui e em contrapartida cresceu a dos seres luminosos e futuros Budhas, os bodhisatvas, tal o Budha Amitaba, da Luz Infinita e que preside ao paraíso do ocidente, sukhavati, semelhante à terra de Luz ou lúcida do Maniqueísmo, a religião que sucedera ao Zoroastrismo.
Ora será outro bodhisatva Maitreya ou Ajita que vai corresponder ao Mitra invictus, o Sol invencível, e sobretudo ao Saoshyant do Zoroastrismo, aquela manifestação divina que há-de vir trazer a Luz plena à Terra, algo que judeus e cristãos, com a ideia do Messias, e islâmicos, com a vinda final do profeta, sendo especialmente os shiias, maioritários no Irão e no Iraque, os que mais acreditam em tal vinda, através da desvelação do 12º imam ocultado, o Madhi.
A vinda do enviado divino prometida por Zoroastro tinha uma correspondência nos seres humanos, e nada racista mas universalista, tal como ele bem explicitou, na Yasna 48, 12:
«Os salvadores (Saoshyants) que virão dos povos
são os que, pelo bom pensamento (vohuman),
se comprometem pelos seus actos a realizar
os deveres que vós, Mazda, Sabedoria Sublime,
transmitistes enquanto justiça verdadeira. »
são os que, pelo bom pensamento (vohuman),
se comprometem pelos seus actos a realizar
os deveres que vós, Mazda, Sabedoria Sublime,
transmitistes enquanto justiça verdadeira. »
Capa de livro trazido da Índia quando estive em Bombaim em diálogo com um sacerdote madzeísta ou parsi: Zoroastro resplandecente |
Este aspecto da avatarização ou descida da Divindade, na dimensão do Zoroatrismo iniciático e da Sabedoria Perene, e que toca ou compete a todos nós, foi explicitado num modo ainda mais espiritual por um notável estudioso e conhecedor da sacralidade do Irão, Henry Corbin, pela seguinte frase e ideia:
«O laço que une cada crente ao Saoshyant a vir, o laço que faz dele também um Saoshyant neste mundo, resulta de ele realizar ou cumprir a escolha pre-existencial [na emanação primordial ou antes de incarnar] da sua fravarti ou fravashi (a sua contraparte angélica, o seu Eu celeste): fazer manifestar-se, ou ser, o mundo de Luz.»
«O laço que une cada crente ao Saoshyant a vir, o laço que faz dele também um Saoshyant neste mundo, resulta de ele realizar ou cumprir a escolha pre-existencial [na emanação primordial ou antes de incarnar] da sua fravarti ou fravashi (a sua contraparte angélica, o seu Eu celeste): fazer manifestar-se, ou ser, o mundo de Luz.»
- Ó Fravashi, Fravashi... |
Sejamos mais lúcidos no que nos forma e desinforma, lutemos mais criativamente pela Luz, o Bem e a Verdade e irradiemo-las corajosamente nos encontros com as forças da ignorância, da mentira, do ódio, da crueldade e logo do Mal, que tanto nos rodeiam actualmente, para podermos merecer sentir a presença ou ligação espiritual, celestial e Divina no nosso coração e verdadeiro ser, e assim gerarmos solidária e multipolarmente mais Terra lúcida, pacífica e amorosa na Humanidade e no Cosmos...
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