sexta-feira, 31 de dezembro de 2021

Quem somos ? Das dificuldade e das luzes no caminho para o Espírito e a Divindade...

                                                            

                       Um dos Ensaios Espirituais, que um dia se poderá tornar livro....

Sempre que escrevemos reatamos navegações antigas e tentamos ir mais longe, chegar a mais claras ou subtis compreensões,  descobrindo novos aspectos da vida, da alma, dos seres,  do espírito,  frequentemente tentando sondar mais profunda ou clarificadoramente os mistérios do universo,  as  demandas  perenes da Humanidade.

Mas, embora diariamente milhões de raios cósmicos e solares, pelo sol, a lua, os planetas e as estrelas, desçam sobre a Terra, pouca gente os absorve e se transforma luminosamente pelo que o planeta não está como poderia ou deveria estar, antes pelo contrário sofre muito a pegada semi-descontrolada da humanidade, em muitos quadrantes vendo-se clarões de energias viscosas e violentas envolvendo milhões de seres humanos em sofrimento, pobreza, desigualdade, poluição, conflitos, guerras, fugas, vírus, vacinas, controles, manipulações, autoritarismos e opressões, diminuindo-se assim muito as possibilidades da satisfação das verdadeiras necessidades evolutivas e libertadoras das pessoas...

Pelo que face a tanta manipulação e materialização,  sofrimento e  impotência é natural as pessoas  sentirem-se abusadas, inseguras,  tristes e as personalidades,  frustradas, desenvolverem comportamentos de compensação muitas vezes nocivos ao corpo e alma...

Mas se orarmos e meditarmos suficientemente e regularmente veremos que não somos apenas corpos e seres animais e que na nossa dimensão interior e espiritual há firmeza e paz, e que no centro do peito, no coração espiritual, poderemos ver pelo 3º olho a luz do Espírito e sentir a paz e o amor que provém do Espírito...

Quantos de nós, todavia, face a tanta alienação ou manipulação mediática, e conflito e sofrimento generalizado, conseguem ou se esforçam por sintonizar com o coração espiritual, com o Espírito, com o Divino e, assim, vencer dores, medos, egoísmos, hábitos, receios, dores, calculismos e opressões, de modo a estarmos ora serenos e confiantes, ora até ardermos dinamicamente na chama do amor, da abnegação, das causas e dos ideais?

Como constatamos a personalidade é feita de pensamentos, sentimentos e actos que vão e vêm, e a ela e às interacções mundanas se têm referido os mestres e discípulos orientais como constituindo o campo de maya, limitação, medida, ilusão, impermanência, por contraste com o que é permanente e eterno, a consciência pura, divina, Brahman na Primordialidade absoluta, Atman na individualidade de cada espírito.

É só quando se retira o nosso ser mais para o interior da alma e psique, e estabilizamos minutos e horas em respiração consciente, concentração psico-espirtual e com poucas ondulações de pensamentos (Yoga citta vriti nirodha, dirá Patanjali, nos seus Yoga Sutras [dos quais fiz na Índia uma tradução com o professor Sat Chit Ananda Dhar e que veio a servir de texto dos comentários de Maria, editados nas publicações Maitreya] ,"Yoga é a extinção das vagas de pensamento"), que se sentem estados mais luminosos da consciência e do ser, e que podemos intuir futurantemente, e logo agirmos pelo  amanhã melhor.  Ou seja, pelo que vai resultando de realização dos propósitos primaciais humanos: sermos almas em demando do espírito divino e para sermos fraternos, em justiça, sabedoria, amor, criatividade, solidariedade, unidade...

 Assim, sem  pretensões ou bandeiras utópicas, messiânicas ou quinto imperiais, mas sendo diariamente o que a alma permite desabrochar na interacção auto-consciente constante com o que nos rodeia, ora investigando e trabalhando, ora irradiando amor e serenidade, ora alertando ou entusiasmando, ora admirando ou ironizando, ora sofrendo ou alegrando. Assim iremos conseguindo amar, aprofundar e compartilhar, vencendo os muitos obstáculos e opressões, com discernimento e prudência.

Sim, sermos a estrela do espírito, e não só as claridades acolhidas como reflexos do Maya na sua pluridimensionalidade, ora tão atraente ora tão repulsiva. Sim, sermos mais o Amor puro do que aquele já tingido pelo ego de quem ama ou é amado, tanto mais que  dois seres que conseguem ser unidos pelo  Amor primordial e divino,  no que Ele pode em dois seres individualizados se manifestar criativa e unificadoramente, cumprem aquele preceito magistralmente expresso pelo mestre Jesus, "onde dois ou três se reúnem em meu nome eu estou no meio deles", algo que na oração e meditação individualmente nós também tentamos, seja com a face divina, seja com um mestres, seja com alguém, e que invocamos e sentimos amorosamente, adoradamente.

O  Espírito é a pérola perdida dos hinos gnósticos, o Amor o rio claro que fertiliza as terras e atravessa o céu  das esferas celestiais, e é então em nós o fluir espontâneo, a admiração plena, a dádiva gratuita, a adoração íntima, a gratidão sincera, o fogo ardente da aspiração e da comunhão, que tanto urge acendermos na escuridão de tanta vulgaridade e superficialidade de vida, interesses e conversas...

Sim, na verdade, na essência, cada um de nós é uma estrela, um espírito dotado dessa forma pentagonal que se deve desenvolver, no meio de todas as dificuldade e opressões, como qualidades e claridades, para que nessa frutificação o Amor divino que lhe deu origem esplenda ainda mais naturalmente e plenamente. 

E isto sem necessidade de tanta mistificação ocultista e de vidas passadas e tanta complicação de "esoterice, astrologice, cabalice", antes se realizando pela oração e meditação, invocação dos mestres e anjos, e adoração divina e, claro, uma vida harmoniosa, criativa e interdependente luminosa e libertadoramente.

Sim, cada ser pode e deve sentir-se, reconhecer-se e dizer: - Sou Luz e Amor, sou Amor, sou Eu, sou um Espírito, filho ou filha de Deus, em acção e abnegação, em aspiração, adoração e unificação.

Saibamos amar e dar, aprofundar e compartilhar, com discernimento e sabedoria, com persistência e confiança vencendo os obstáculos, desânimos e desafios

Um novo ano de 2022 de maior justiça e harmonia político-social (tão, tão necessária) e de maior abnegação, criatividade e realização espiritual individualmente, em nós e em todos, e na comunhão do corpo místico da Humanidade e da Divindade.

Símbolos operativos para quem contempla e ama. 2022 bem mais divino em nós.

quarta-feira, 29 de dezembro de 2021

Diários, meditaçõe e reflexões revolucionárias. Do dia 17-VII-2021, no Gerês transmontano, e revisto. Do Sol e da Religião Perene..

 Dia 17, 8:07. Acordara às 6 e pouco, com sonho de dificuldade de estacionar o carro. Noutro, as pessoas estavam em pares e eu não. Muita gente vejo eu nos sonhos. Não sei se é só da inter-relacionalidade do plano astral ou se é a internet, o Facebook, as redes sociais, os telemóveis a intensificarem esta quase que globalização das almas, que fez com que sonhos em que esteja completamente só sejam raríssimos.

                                 

Resolvi ir ver o nascer do Sol e foi muito bom, com boas comunhões com as energias solares divinas, nomeadamente via Amaterasu o mi kami (a divindade solar nipónica), e em comunhão também com penedos milenares, sempre a contemplarem mudos o nascer solar, enquanto eu posso orar e gravar até um vídeo.

Nascer do sol  há a uma hora, enquanto o dormir se faz em qualquer hora.

Absorver o ouro líquido solar pelo interior do corpo físico e subtil. Ainda agora o meu interior exclama: - Meu Deus, meu Deus... 

******* 

Pensamentos Revolucionários mas Espirituais:

A monoteização das três religiões do livro foi uma tarefa de certo modo desnecessária e daninha, pois fez perecer muita gente e criou mentalidades monomaníacas, monoteístas e fanáticas, pois o paganismo e os cultos de diferentes faces da Divindade continuam fortes, bastando ver a Índia.

Primeiro, foram os judeus a matarem os fiéis de cultos de deuses e deusas diferentes do seu primitivo e violento Jehova, ainda hoje gerando algo disso em aqueles que o aceitam, seguem ou cultuam. Podemos vê-lo nos seus extremos e extremistas como um demónio astral exclusivista e sem amor.

 Anterior ao Javé judaico, houve no Egipto a reforma de Akhenaton, e o culto solar de Ra Atoum, mas era apenas o reconhecer-se que o Sol era a maior e melhor fonte da Divindade e dos seus raios subtanciais para os seres humanos na Terra, ou ainda a melhor imagem da Divindade Primordial que poderíamos ver no mundo físico...

 Os Cristãos, que acabaram por afogar bastante a mensagem de Jesus ao misturarem-na forçadamente com o Antigo Testamento, algo,  que ele repudiara, tal como a concepção de Jeohova, na sua missão libertadora espiritual, acabaram  por pouco compreender o Pai de Jesus e, quanto ao Espírito divino, após muitas hesitações e controvérsias inventaram uma Trindade, mas sem Mãe, pelo que depois viram nascer mil deusas, as Nossas Senhoras, além dos santos e santas, uma das mais conhecidas sendo a nossa de Fátima, que acabou por ganhar graça também dos Shiias, por tal ser o nome da mulher de Ali.

 O Islão, nascido no deserto, aceitando partes do Judaísmo e do Cristianismo mas repudiando o endeusamento de Jesus, tendendo na sua secura a um paraíso que o compensasse e a um monopensamento, certamente com valor concentrativo, ao estar rodeado de outros deuses e deusas, e das duas religiões anteriores, teve de fanatizar de certo modo os seus seguidores ou fiéis para andarem a impor a sua crença à ponta da espada, embora também por diálogos o conseguissem. Mas no Irão e Iraque rapidamente desenvolveram-se linhagens mais místicas e abertas aos mestres e suas iniciações, tanto nos sunitas como nos Shiaa, estes tendo quase epifanizado os 10 imans, a linhagem de Ali e de Fátima, a filha do profeta Maomé. E na Índia também os sufis, enquanto místicos, conseguiram verdadeiramente atrair e converter hindus, ou então fazerem sínteses valiosas, como as de Kabir,  Dadu, Guru Nanak, Akbar e o seu bisneto Dara Shikoh, este um dos grandes pioneiros do estudo comparativo e vivencial das religiões e suas espiritualidades, realçando muito as meditações, a devoção, os mestres.

Akbar e a sua corte ecuménica de demanda do valor das religiões

Hoje em todas as religiões há muito seres que recebem  graças místicas, seja a luz interior seja estados de amor e de expansão de consciência, e que sabem por experiência própria que são mais que o corpo e o cérebro, mas a ignorância é ainda muito grande, bem como os fanatismos, tanto mais que seres, algo diabólicos no seu egoísmo, crueldade e ambição, tentam manipular e controlar a humanidade.

O que se poderá fazer então neste século XXI que se acreditava ser mais harmonioso e espiritual e vemos cada vez mais oprimido e manipulado, violentado e desumanizado? 

Educarmos mais as novas gerações na sensibilidade e estética, na ética e na bio-ecologia, no conhecimento histórico e científico,  e em especial na n história das religiões, espiritualidades, psicologias, sem cair em demasiados laicismos e materialismos como é moda ou ordem na União Europeia e no Ocidente. E com liberdade para praticarem as suas religiões mas sem se deixarem explorar por falsos pastores nem enveredarem por extremismos. 

E finalmente valorizarem-se as práticas espirituais, as ligações aos mestres e anjos, para que as pessoas despertem mais a auto-consciência espiritual, abram os seus sentidos subtis e possam começar a relacionar-se mais íntima e verdadeiramente com a Divindade (o que constitui a essência da religião perene e universal), de modo a que uma vida mais biológica e harmoniosa possa cuidar e melhorar este ar e estar em que temos de inspirar e expirar....

Os Anjos da Guarda conduzem-nos, inspiram-nos, abençoam-nos... Poemas de 2021 e uma gravura comentada em vídeo 25-12-21.

Anjo da Guarda num Livro de Horas russo do séc. XIX: Mantém a mão da alma dada ao Anjo, que ele te guiará ou inspirará na peregrinação da Vida...
 

Gravado na noite de 25-12-2021 um comentário a uma litografia "Anjos da Guarda", do séc. XIX, francesa, antecedido por algumas sonorizações mântricas (em voz menos afinada...), e que encontra no fim desta página, acrescentei-lhe  alguma poesia espiritual celestial (fragmentos dos últimos tempos, por vezes escritos, em segundos, no trabalho), algo também mântrica, cantada, orada. 

Apesar da sua fragilidade, possa esta poética inspirar mais almas a cultivarem as ligações interiores e verticais, com os espíritos celestiais...

Anjos e Arcanjos,
Inspirai-nos e protegei-nos sempre,
Na Verdade e no Amor
Em nós e com a Divindade.
*****


Om, São Miguel
Por cima de nós
E à volta de nós
Esteja o teu amor,
Feito destemor,
Vigor e ardor.
Para cumprirmos
A nossa missão
Em Divina Comunhão.
 

Ó Arcanjo Mikael
Que as tuas bênçãos
Desçam sobre nós
E nos harmonizem e fortifiquem
Agora e sempre, Amen.»
*****


Anjo, Anjo, Anjo,
vem
ao meu coração,
ao meu coração
aberto em gratidão.

Anjo, Anjo, Anjo,
vem
ao meu coração
em aspiração
e inunda-o

do teu amor
e adoração.

                          

terça-feira, 28 de dezembro de 2021

Poesia Espiritual. Três fragmentos de 2021...

                                     Rasga o cansaço, e os olhos já fatigados

Não deixes apagar a tua aspiração

Na noite que entra, sê uma estrela

Cuja missão é apenas a Luz irradiar,

Pela consideração dos bens recebidos

E por quem arde no peito: - amor e gratidão...

Meu Deus, Meu Deus, como desejo a tua comunhão...

1 de Abril 2021. * Pela estrela, na estrela, a Deus *

***

Sílfide que chegas

Voando de braços abertos

Em dança misteriosa,

Que apelo da Terra transmites

Aos que te vêem e intuem

Na alma em demanda,

No mundo tão dilacerado,

insanavelmente conflituoso?

- Ouve-me na voz do teu Espírito,

Pois só esse te pode valer

Para seres o que deves ser.

- Sê em Amor e Justiça.

 ***


                                          Ergue-te da terra,

Abre teu braços e peito,

Humilha-te no silêncio

E em seres só tu.

 

Do tronco partem os ramos e folhas,

Da alma saem desejos e pensamentos

Mas do Espírito sai apenas Luz.

Ò Alma, abre-te mais à Luz!

domingo, 26 de dezembro de 2021

O Sol e a Lua como metáforas no caminho da Vida. Um emblema hieroglífico de 1655, de Pedro de Villafranca Malagon, comentado em vídeo.

Elevatus est Sol, et Luna stetit in ordine suo, foi o lema ou mote que serviu a um  pintor para dar à luz uma bela gravura hieroglífica do séc. XVII, plena de simbolismo, enriquecida até por uma letra ou poema em língua espanhola.
A frase inicial vem do Antigo Testamento do livro do profeta Habaquque que no III Capítulo relata uma imaginária visão de Deus numa linha apocalíptica, com esta frase surgindo no versículo 11, mal traduzido na maior parte das versões que correm hoje online, pois a fiabilidade, sobretudo nas protestantes ou evangélicas brasileiras, é reduzida: Assim o sol e a lua param, é o que se lê, quando no original hebraico, visível na versão da Bíblia interlinear, o que se deve ler é: permanecem, estão de pé, resistem, face aos raios e dardos do violento Jehova.
A versão latina posta na gravura é naturalmente a da Vulgata, e este passo teve até utilizações metafóricas de escritores de referência no Cristianismo, tal S. Agostinho, na Cidade de Deus, em que a elevação do sol e a calma passagem da Lua pelas suas estações são comparados ao Cristo que ascendeu aos céus e à Igreja que toma o seu lugar e o seu curso debaixo ou segundo o seu rei. E no caso desta gravura a coroa poderia indicar essa sujeição ao Cristo rei. Em S. Gregório, na sua Moralia in Job, 17, XV, o Sol é interpretado como Deus e a Lua como a Igreja que reflecte a sua luz e subsiste face às tempestades do mundo. 
 
 
Ora aquando da gravação realizada à noite, e que escutará no fim, apenas sabia  que era de um texto das Escrituras o lema ou mote da gravura e comentei-o, com o poema e os símbolos, de um modo simples, espontâneo, ahistórico, após alguns minutos de contemplar esta fascinante imagem, que ao nosso amigo Antero de Quental proporcionaria certamente um belo soneto à morte libertadora...
A letra do emblema ou poema, em espanhol, permitiu-me pensar que poderia sido composto para algum livro de emblemas ou de filosofia moral escrito em castelhano, ou até de autor português, e que ainda através de uma pesquisa talvez conseguisse descobrir a sua proveniência ou fonte. E assim foi:

                                                                                  
 
De facto já feita a gravação em vídeo, no dia seguinte, com a internet a funcionar, pude constatar num artigo online de Victor Mínguez, La metafora lunar: La Imagem de la Reina en la Emblematica Espanola, que a origem da gravura está na cuidada celebração da morte de Filipe o IV, em Espanha, no Real Convento da Encarnacion, em Madrid, em 1665, para a qual foram desenhados 41 hieróglifos pelo pintor e gravador Pedro de Villafranca Malagon (1615-1684), que sobreviveram no livro Descripcion de las honras que se hicieron a la catholica Mg. de D. Phelipe quarto Rey de las Españas y del nuevo Mundo en el Real Conuento de la Encarnacion ... / y escriuio el doctor D. Pedro Rodriguez de Monforte..., publicado em 1666 e hoje online, e do qual uma gravura aberta a buril solta ou solitária me chegara às mãos, com as dimensões 19x13 cm, originando a gravação a 25-12-2021 e, no dia seguinte, este artigo, mais esclarecedor factualmente, tanto mais que Pedro de Villafranca Malagon é considerado o melhor gravador do séc. XVII em Espanha, tendo deixado vasta e valiosa obra gráfica, na qual se incluem gravuras de portugueses como S. João de Deus, Camões e Faria e Sousa.

Anote-se que também nas exéquias em Pamplona do rei Filipe o V, em Julho de 1746, o mesma  lema ou letra foi utilizado, embora o poema já fosse diferente e na gravura a lua tivesse sido omitida e o sol sobrepujasse a caveira. Finalmente, na liturgia católica é cantado no dia da Ascensão, e mesmo a oração "os corações ao alto" pode inserir-num mesmo  dinamismo anímico ascensional espiritual...
 
O poema em castelhano diz-nos:

"Esta Luna com luz nueva

  Vive apesar de esse monte

  Que el Sol en otro oriçonte

  No falta, quando se eleva."


A ideia geral metafórica é a fragilidade da luz ou conhecimento, e força da Lua, sobretudo quando está na fase de Lua Nova, e em que o monte do mundo, da morte, da ignorância, se ergue mais poderoso e tapa a luz da verdade e da divindade, que contudo se elevará no horizonte, clarificando e fortificando Dona Luna, seja Igreja, seja alma humana, ordenada e coroada pelas suas virtudes e méritos, que lhe permitem receber ou contemplar o levantar ou renascer do Sol e do Espírito e do Divino.
Mas tendo em conta a utilização histórica dela no enterro do rei Filipe IV sem dúvida que as interpretações de Victor Mínguez (que cita ainda os estudiosos destas gravuras Adita Allo e Steven N. Orso) ganham destaque:« hieróglifo mostra o inevitável sol eclipsado, a um monte coroado por uma caveira e uma lua coroada (...) A morte do monarca fica patente na caveira que senhoreia o elevado monte, e sem embargo esta não pode evitar que o sol eclipsado se eleve e de esta forma proporcione a sua luz à rainha regente [Mariana de Áustria], metaforizada por suposto na lua coroada».
A leitura de Minguez não me parece literalmente porém plenamente correcta, já que o sol não está eclipsado nem em S.Agostinho, S. Gregório, e sim elevado, e mesmo na imagem, este brilha, embora, sim, esteja eclipado em si, mas não na sua luz, já que a linha recta de visão que parte de lua pára ou é detida no monte ou na caveira. 
 
Dentro da Arte de Bem Morrer diremos ainda: deixa-se de se ver o Sol espiritual ou divino se nos focarmos e limitarmos no monte ou na caveira. Ou seja, em ensinamento final, perante as mortes há que focarmos no espírito imortal, e contar que a força e alegria da luz e do amor solares hão-de vir ao de cima em quem, qual Lua-persona aberta ao Sol, segue o seu caminho, verdade e vida, ou o curso seu ordenado, o caminho do meio, em demanda da Divindade...
Oiçamos então a gravação, onde uma hermenêutica menos dependente da morte de um rei e bastante mais pobre historicamente  foi desenvolvida, mas contudo com valor espiritual. Pelo menos assim o espero... E demos graças por  toda a  aurea catena ou traditio...

                               

quinta-feira, 23 de dezembro de 2021

Das imagens religiosas e espirituais, dos santinhos e das energias luminosas potenciais. Ensaio de iconologia espiritual, na história de arte religiosa.

Entre as imagens religiosas e espirituais, pela sua acessibilidade e profusão, destacam-se as gravuras e registos dos séculos XVII e XVIII, e os santinhos, estampas e depois cartões de boas festas que no século XIX e XX, com o desenvolvimento tipográfico e a democratização das sociedades, tiveram o seu apogeu, com grandes centros impressores e tiragens enormes e que se espalhavam pela cristandade ou até supra-religiosamente...
Dir-se-á que são obras de arte menores, embora os haja até realizados ou pintados manualmente e com grande originalidade e beleza, mas na realidade são como pequenas pinturas sagradas à disposição prática de qualquer pessoa.
Por isso, e porque haja quem os sinta tão carregados de energias, não só potenciais como também acumuladas, eles são ainda hoje apreciados e sentidos por algumas pessoas que não os menosprezam como úteis no caminho espiritual.
Energias potenciais dizemos, porque representando aproximações devocionais e amorosas a altos níveis dos seres,  do Cosmos e da Divindade têm esse potencial de nos tocarem, encantarem e religarem ao sagrado, desafiando-nos a comunicarmos com eles e a intuirmos o que nos sugerem, sentindo-os, e deixando-nos ir nos sentimentos e associações, realizando com eles preces e meditações, obtendo até compreensões valiosas da ordem sagrada do Universo ou mesmo expansões de consciência...
Contém energias acumuladas, quando já foram dados e usados, pois sendo antigos sofreram os influxos das pessoas que os possuíram, receberam, deram, assinaram, anotaram.
 Por exemplo, este que me foi enviado por Germain March'adour (que o destacou e imprimiu) e dado por José V. de Pina Martins, contém a reprodução da oração que o grande amigo de Erasmo, Thomas More escreveu (quando estava preso e antes de ser martirizado em 6-VI-1535, pela sua defesa da fidelidade à consciência livre), à volta de uma imagem do seu livro de Horas, ou de orações, e que rezava e reza assim hoje em dia também em Julian Assange (um heróico jornalista que desvendou pioneiramente a criminalidade impune do imperialismo norte americano, e que ao estar a ser detido e martirizado prolongadamente pelos vingativos ingleses, norte-americanos e australianos se tornou um Cristo do séc. XXI) e em outros heróis e mártires da luta pela verdade, justiça e liberdade: «Dá-me a tua graça, bom Senhor, para ver o mundo como nada. Para estabilizar rapidamente a minha mente em Ti, e não andar à volta da explosão das bocas humanas. Para estar contente na solidão, não desejar a companhia do mundo, a pouco e pouco deitar fora completamente o mundo e libertar a minha mente de todos os negócios com ele. Para me inclinar para o conforto  de Deus. E activamente laborar por O amar. Para comprar de novo o tempo que antes fora perdido.»
Ora, regressando às imagens contempladas, a intencionalidade transmitidas e a acumulação energética não são fáceis de se ver ou provar, pois é difícil distinguir se o impacto do santinho provem só da beleza, antiguidade, elevação e temática, ou se a essas componentes de origem subtil humana incorporadas  historicamente ou no tempo também contam, vibram e contribuiem para os nossos movimentos de alma...
Potencialmente, por si só, cada santinho é de certo modo um livro em imagens, contendo ou potencializando ensinamentos pessoais, históricos, religiosos, estéticos, culturais, espirituais e que se abre e lê portanto multidimensionalmente.
Cada um deles ensina-nos e leva-nos a contactar temas, seres e símbolos, acrescentando-se a riqueza das legendas, conselhos, orações e ainda o que se reflecte das mentalidades da época, tudo convergindo para uma experiência, ou pelo menos vivência, espiritual. E para o historiador de arte ou investigador pode haver ainda a considerar o autor do desenho ou pintura,  o gravador, a tipografia, o ambiente representado, e mesmo a textura, a qualidade gráfica, o colorido, etc.
Há pois muitos valores e utilidades nos santinhos, nomeadamente a harmonizadora, a afectiva, a espiritual e a evolutiva, para qualquer pessoa, sem ter que ser criança, beata ou simplesmente católica...
Seja pela forma e estética, e consequentemente pelos efeitos psico-somáticos gerados em nós, seja pelas impulsões que nos transmitem, seja pela ligação com níveis subtis, do inconsciente e do supra-consciente colectivo, seja pela ligação com anjos, santas e santos, Jesus, Maria, ou o Pai, Deus, são muitos os motivos para contemplar estas imagens que estão à nossa disposição em qualquer momento.
Podem-se distinguir certos tipos de santinhos, os mais vulgares sendo os consagrados a Jesus, a Maria, aos santos e santas, aos Anjos, à Cruz, aos sagrados Corações, ao santíssimo Sacramento, à 1ª comunhão, a retiros, a mortes, a santuários e suas Nossas Senhoras, a peregrinações, aos Anjos e Arcanjos, às virtudes e a cenas da Natureza como pano metafórico para ensinamentos morais e espirituais ora para a mera transmissão de sentimentos e emoções inocentes e purificadoras:
 Cada pessoa pode sentir mais afinidade ou atracção por este ou aquele tema, ou ainda maravilhar-se com os efeitos geométricos, as perspectivas, ou já na feitura exterior com os rendilhados, os debruados a canivete, os que têm fotografias de pessoas santa, ou mesmo relíquias delas.
Dos mais valiosos são os que propicionam um contemplar espiritual, uma sintonização com o mundo espiritual, e uma maior ligação com o nosso espírito e com o Ser Divino. Aqueles que mostram auras, estrelas (nomeadamente a estrela de 5 pontas, impressa como cartão de boas festas por Manuela Morais, da editora Tartaruga, a partir do desenho de 2004 do seu marido Espiga Pinto, um amigo e bom conhecedor da geometria sagrada, tal como Almada Negreiros, Lima de Freitas e Carlos Calvet), nuvens, árvores, pedras, cosmos,  ao entrarem no nosso cérebro e alma receptivos, facilmente nos harmonizam e expandem a consciência.
Soletremos brevemente uns poucos deles, à sorte:
A Nossa Senhora de la Salette, da França (e em breve a ilustrarei), surge representada em belas imagens, pairando no ar, no meio da natureza e com uma grande aura. É das melhores para contemplarmos e podermos elevar-nos à nossa dimensão de seres dotados de corpos gloriosos, quando ela está representada só e a pairar, pois noutras já está a chorar pelos pecados no mundo, ou a aconselhar os dois pastorinhos, actividades certamente também importantes...
                                       
A Nossa Senhora de Fátima, em santinhos, pagelas e imagens, embora tendo sido bem explorada ou projectada nessa dimensão na natureza, da árvore sagrada e das nuvens, rapidamente foi talvez demasiado coisificada na bela estátua que tanto se venera e peregrina no mundo e que serve de facto de íman. Ao encontrarem-se  alguns santinhos  com esses elementos da Mãe Natureza e até ampliados na sua contextualização, com os anjos e armas de Portugal,   permitem-se bons alinhamentos psico-espirituais dos devotos que contemplarem o santinho, ou cantarem com a pagela e imagem, tal como partilhamos em seguida, sem que antes não deixe de referir a força mantrica de tais hinos ou cantos, já que na Índia e noutros locais sendo convidado a participar com algum canto, ao lado dos partilhados por Paramahamsa Yoganananda, o "a 13 de Maio" foi entoado com boa devoção e aspiração ou, como se diz na tradição yogi indiana, bhakti e mumuksha.
S. José tornado fiel protector-seguidor de Jesus e Maria, ou a  guardião de Maria, destaca-se mais na imagística pela ternura do olhar pleno de amor paternal, o esmero na arte da carpintaria que ensina ao filho e na suavidade e pureza dos lírios que empunha. É um ser que foi porém algo vítima do papel absurdo com que ainda se mantém nos dias de hoje: uUm pai que não é (miticamente...) pai, quando seria mais acertado falar-se da pureza com que gerou com Maria, Jesus...
Também o Pai Deus de Jesus  continua um mistério, para muita gente uma concepção baseada em crenças e leituras bíblicas com contradições fortes,  advindas de S. Jerónimo ter criado uma tão estreita sobreposição ou identificação entre o Jehova violento do Judaísmo e o Deus de Jesus, e que concretizou com a Bíblia, enquanto união dum Antigo Testamento e dum Novo Testamento, tornando-se assim muito mais perdida e pesada a mensagem libertadora de Jesus, da qual intuímos sinais em alguns passos e ditos dos Evangelhos canónicos, ou do Evangelho de S. Tomé,  muito afogados na profusão forçada de milagres e de cumprimento de profecias das antigas escrituras.
A Cruz é outro dos elementos centrais em muitos santinhos, em especial lembrando que na vida terrena cada um de nós tem que levar a sua cruz, as suas dificuldades e sofrimentos, pondo os olhos nos que deram exemplos virtuosos, dos quais se destaca primacialmente Jesus. A cruz é então ora posta sobre os ombros das pessoas, ora junto ao martírio, à morte e à tumba, ora  avistada num alto, como fonte de inspiração ou de força. Algumas cruzes remetem para a cruz cósmica que traça um centro no Universo, e podemos vê-las ainda como mostrando o fluxo e cruzamento das energias das 4 direcções do espaço. 

 Outras realçam o mistério da redenção, de Jesus, pelo amor que manifestou e sangue que derramou, se ter erguido fortemente como fonte de luz e de amor salvífico para a Humanidade que nele crê e de algum modo o segue como mestre do Espírito, embora saibamos bem como na prática tão pouco o Amor é vivido pelos mais poderosos e ricos, e como mesmo os Estados modernos na civilização cristã ou ocidental o tem abandonado, pesem os apelos do Papa ou de seres mais religiosos. A laicidade exagerada, a não espiritualidade do ser humano e a inexistência de Deus são crenças limitadoras modernas mais ou menos desfraldadas como valores pela União Europeia.
Das mais belas representações são as de jovens que a aceitam nos sofrimentos, surgindo como que ministrada por Jesus como sacramento, enquanto que outras são já cruzes envoltas em flores, com belos enlaçamentos ou espirais e com dizeres inspiradoras, por vezes com certo efeito interno ou anímico ascensional.
Cada pessoa devia ter algumas imagens espirituais ou mesmo santinhos de predilecção e contemplá-los com regularidade, de modo a conseguir levá-los no coração, ou a tê-los de cor. Quem sabe se quando morrermos essas devoções abrirão ou fortificarão portas ascensionais, canais, linhas de comunicação...
Cada pessoa devia também fazer, desenhar uma imagem, um santinho seu, uma composição que marque as suas aspirações e realizações, as suas crenças e experiências e que seja como que um mantra visual, certamente com base geométrica, que permita até afectar mais o olho espiritual, equilibrando-o de tanta exposição a imagens violentas, desorientadoras ou superficiais, como o mundo de hoje tanto reproduz, em especial nos meios de comunicação, com os seus aterrorizadores jornalistas e grupos de pressão que estão por detrás deles. 
Enviada por uma amiga inglesa Marilyn, na unidade dos espíritos em amor no caminho
Sejamos continuadores criativos das tradições artísticas espirituais, tanto nacionais como internacionais, na religião universal, resistindo à lavagem ao cérebro e à massificação por baixo que predomina hoje em dia, antes aspirando pelo esforço e a beleza, através das imagens, à contemplação dos mundos e seres espirituais e divinos para a melhoria da Humanidade e do Planeta...
Bela imagem de pintura de Bô Yin Râ, propícia à contemplação espiritual...

terça-feira, 21 de dezembro de 2021

Visita e diálogo com a filha de Bô Yin Râ, Datti Schneiderfranken, na villa Gladiola, Massagno, Lugano, Suíça. 2010.

 Visita na sua casa, a villa Gladiola, em Massagno, Lugano, Suíça, a Datti Schneiderfranken, última filha do pintor e mestre espiritual alemão Bô Yin Râ (Joseph Anton Schneiderfranken,1876-1943) e de sua mulher Gattin, ainda viva nos seus 91 anos bem lúcidos, embora com alguns problemas de verticalidade na coluna vertebral.

Serve uma bebida agradável, que eu brindo a Bô Yin Râ e a nós. Falamos descontraidamente em língua francesa cerca de uma hora e meia numa das salas, rodeados dos quadros de Bô Yin Râ nas paredes, alguns dos quais que ainda não conhecia. À saída mostra-me da porta uma sala ou quarto onde estão muitos quadros de Bô Yin Râ armazenados.

Uma das gravuras de Yoshijiro Urushibara a partir de uma obra de Bô Yin Râ...
Também estão expostas gravuras dum japonês,  Yoshijiro (Mokuchu) Urushibara, uma delas baseads numa pintura de Bô Yin Râ e que editou numa impressão de 200 exemplares, e nela desfrutamos da Grécia e da Natureza, em beleza...

O poderoso retrato de Jesus, feito a partir da sua comunhão anímico-espiritual com o mestre, e do qual tenho uma reprodução na minha sala e que me acompanha já há alguns anos ( reproduzida em cima), encontra-se aqui e Jesus parece mais pequeno mas com uma coloração mais amarela, quente, luminosa, seja por ser o original e estar carregado de forças, seja pelas reproduções diminuírem o seu brilho. Datti dá-me e à Maria Valentina dois postais de reproduções de obras de Bô Yin Râ. Peço-lhe para assinar dois livros e ela assim o faz, a lápis, tal como assinava também o seu pai.

Durante a conversa esclareceu-me que não fora a sua mãe Gattin, mas a primeira mulher de Bô Yin Râ, médica de profissão, quem se interessara pelos mistérios gregos da Antiguidade, e a quem Bô Yin Râ se refere num dos seus livros. Quanto a alguns dos objectos orientais  presentes, provieram dum tio da primeira mulher, que viajava muito, tal um belo vaso em metal.

Conto-lhe o meu percurso e a minha situação actual e ela sugere calmamente que viver só das traduções do Bô Yin Râ não chegaria certamente. E que para se publicarem os livros o tradutor precisa ser um bom conhecedor do alemão e do ensinamento do Bô Yin Râ, algo que eu certamente não sou.

Não há hoje em Lugano muita gente que conheça Bô Yin Râ ou siga os ensinamentos dele. Apenas alguns operários que foram aprendizes nos anos 30 e 40. Já Emil Zillig, com quem me tenho correspondido e de quem lhe falei, é um bom conhecedor do ensinamento, sendo ainda o actual responsável das traduções francesas e membro da fundação Stiftung Bô Yin Râ, sediada em Basileia.

Datti  tinha 24 anos quando o pai morreu em 1943, não inesperadamente mas em consequência duma doença prolongada e com várias causas e sintomas. Não explica bem a doença mas diz que foi o resultado do desgaste da sua vida (na fotografia em baixo, com 66 anos e a sua mulher Gattin). E que, muito cansado, não podia falar tanto para ela, então com 24 anos, para a ensinar, e que era mais como pai e filha que surgia o ensinamento.

Em relação às forças ou impulsões espirituais revelou que Bô Yin Râ tinha alguns planos ou projectos para pinturas que não completou, mas os ideais ou as forças passam de uns para outros. Respondeu-me em relação a isso que não devia haver tanto receio das impulsões, ou desejos de fazer isto e aquilo e que não conseguimos completar em vida, pois eles  depois passam para outras pessoas para as (e se...) completarem, pois tal é natural.Lembro-me contudo que Bô Yin Râ no seu Livro do Além, recomenda não criarmos muitas impulsões que não podemos realizar em vida, porque depois ficamos algo atados a elas até que se realizem. Datti transmite talvez uma visão mais desprendida disso.

Diz-me como também lhe é natural aceitar mais facilmente a morte, neste caso a de um seu familiar há meio ano, porque quem como eles conhece o ensinamento sabe bem da vida post-mortem e ainda porque já se tem certos graus ou níveis de auto-consciencialização.

Assim terminou o testemunho escrito à noite, mas algo à pressa [e a letra ressente-se...)  e claramente para continuar mais tarde.

*** Há pouco, quinze dias passados, folheando este caderno, resolvi continuar a transcrever memórias da conversa com Datti (ou Devadatti) Schneiderfranken, nascida em 1919, e relembrei-me que, como no livro  Wegweiser, em francês Jalons, o seu pai escrevera que durante centenas de anos ninguém daria um novo ensinamento espiritual tão valioso como o dele, lhe perguntei o que pensa de tal, já que muita gente descrê disso, mas ela calma não parece ter dúvidas de ser verdade que o ensinamento de Bô Yin Râ é o melhor que a Humanidade terá para mil anos.

Já antes a interrogara quanto ao ritmo lento da divulgação e acolhimento do ensinamento de Bô Yin Râ, comparado com o ritmo muito mais rápido de nova Era e esoterismos  superficiais, o Carnaval ocultista,  como lhe chama Bô Yin Râ, e Datti responde que é o que tem de ser, e que não nos devemos preocupar em o acelerar, mas antes deixar desenrolar naturalmente o que  tem de ser...

Outra dúvida que tinha e lhe pus foi, a propósito de Bô Yin Râ ter escrito que Lutero tinha feito uma obra algo frustre mas que abrira caminho e lançara bases para outros que a completariam, se haveria aqui  uma referência a ele próprio Bô Yin Râ, mas ela responde que não, e de facto foram obras e ensinamentos a níveis bem diferentes...

Acerca da casa editora parisiense Librairie Médicis, a minha grande fonte de leitura da obra de Bô Yin Râ, já que traduziram e editaram cerca de uma vintena de livros, disse que o fundador dela tinha grande devoção pelo ensinamento e que era amigo do barão Robert de Winspeare, de quem eu li uma obra acerca do ensinamento de Bô Yin Râ e que fora publicada em 2ª edição  pelo mestre francês, de Kriya Yoga e simultaneamente na linha de Bô Yin Râ,  Rishi Atri, e que foi ele quem me iniciou na via de Bô Yin Râ.

 Por cima da secretária estão algumas fotografias dele, da mulher, das filhas e uma de Robert Winspeare e Bô Yin Râ. No átrio está um busto de Bô Yin Râ, uma fotografia da mulher e umas flores, mas passamos por eles sem nos determos e não faço perguntas ou observações. Apenas me detive para tirar uma fotografia a falar ao telefone, saudando de todo o meu ser Bô Yin Râ, em sua casa e no seu próprio telefone antigo. Já fora de casa a Maria Valentina tirou uma fotografia da afável senhora Datti comigo, à porta da entrada, e era a última do rolo. [Anos mais tarde, em 2019, tornaria a subir a pequena escadaria e franquear a entrada aquando da discreta inauguração da casa museu, preparada após a partida de Datti da Terra em 2015].

Mostrou-me alguns livros escritos, e não há muitos, sobre o ensinamento do seu pai e dado que há poucos livros traduzidos para português (um por mim) e brasileiro (dois) admite a ideia de eu escrever sobre o seu ensinamento. Quanto à nacionalidade do misterioso mestre de Bô Yin Râ, à minha pergunta se era indiano, respondeu  que era dos Himalaias, não especificando mais. É um dos mistérios da sua vida, embora haja algumas referências a ele de René Guénon, Hiran Singh (ou Narad Mani) e Paul Chacornac, e uma pintura até dele...

** Chegado a Milão, após os dois dias em Lugano. Na noite seguinte ao encontro com a filha de Bô Yin Râ tive imagens fortes de pequenos quadros que seriam espirituais ou dele e que provinham dos lados do horizonte da minha visão interior, e a mensagem compreensão foi a de que o olho espiritual se abre por vezes por todos os lados ou, melhor, se vê por e para todos os lados, como as abóbadas pequenas de certas capelas nos fazem lembrar, tal como experimentei algo hoje nas deambulações arquitectónicas vespertinas por Milão. Uma praça bela de sabor renascentista, a piazza Mercanti.

Ontem estivemos no monte S. Salvador, ponto alto sobre Lugano, com boa vibração. A igreja de santa Maria dos Anjos é a mais bela e valiosa, com belos frescos do séc. XVI e seguintes. Meditações de rápida comunicação de sentimentos para com Anjos, mestres e espíritos amigos.

Comprei três livros antigos de razoável sabedoria: de S. João Damasceno, Cirilo de Alexandria  e Ludovico Castelvetro. Há muita riqueza mas também muita dispersão nas cidades. Esta viagem e peregrinação à casa de Bô Yin Râ  não teve grandes heroísmos ou devoções, excepto uns cantos e sons proferidos em S. Salvador, um belo pôr do sol em simultâneo com uma erupção de sinos a tocarem quando saíamos da valiosa visita dialogante a Datti na casa de Bô Yin Râ e duas comunhões da Eucaristia, uma  na igreja de S. Carlos em Lugano, outra na igreja dos dominicanos em S. Maria del Cruzal. E algumas orações e meditações mais conseguidas, nomeadamente a das imagens dos mundos espirituais, na linha de Bô Yin Râ, e que a pintura seguinte (óptima para contemplação) mostra e finaliza inspiradoramente este grato testemunho de homenagem reconhecida a Bô Yin Râ, a Gattin e a Datti Schneiderfranken. Lux, Amor!

quarta-feira, 15 de dezembro de 2021

Ensaios Espirituais: viver plenamente o presente, o difícil e o único, nas três Graças, no Espírito e na Divindade.

                                    

Sabermos aprofundar os momentos valiosos, os locais bons ou belos, as situações estimulantes, harmoniosas ou únicas, as mudanças e desenlaces libertadores, mas também as dores e as dificuldades, passa por uma assunção deles plena, isto é, com todo o nosso ser, pensante, sentiente, criativo, espiritual, universal...

Deste modo o que foi ou é pensado, sentido e vivido mais intensificadamente, se for bem enfrentado e assimilado, torna-se parte integrante do nosso ser presente e perene e propulsiona o processo de despertar, nosso e dos outros seres, frutificador no futuro, mesmo para além da morte, gerando efeitos belos, úteis e luminosos...

Em cada momento, em cada grau da nossa escada, há degraus à frente e é da atenção, força e consciência manifestada, que já foi testada, recolhida e desenvolvida nos estágios anteriores, que recebemos também forças para interagirmos plenamente (em amor e sabedoria) no presente e no futuro e nos guindarmos aos degraus seguintes de desprendimento, de compreensão, de gnose, de expansões consciencial e visão espiritual.

É diariamente, cumprindo as pequenas tarefas ou objectivos, que vamos capacitando-nos para realizar as grandes tarefas e fazer desabrochar as sementes que, lançadas agora harmoniosamente à terra, querem germinar e ser benéficas no presente e futuro...

Certamente nem toda gente tem a visão da vida como uma subida de escadas ou degraus, seja de madeira, em caracol ou talhada na terra montanhosa, granítica ou xistosa, mas deveríamos a cada momento ter mais consciência do que acabámos de deixar para trás, onde nos encontramos, que caminho bifurcado em Y pitagórico nos desafia, nomeadamente quanto aos estados conscienciais que deveremos cultivar,  com quem estar ou comunicar e o que de melhor de qualidades podemos desenvolver, num conjunto de decisões e trabalhos que, ao interpelarem-nos, geram esforços, capacidades, ideais, encontros, obras, bênçãos e graças.

 Assim, a gratidão pela estação do nosso percurso onde estamos é fundamental. Ou seja, estar no aqui e agora com  gratidão, alegria e plena atenção e, logo, sentirmos que tal felicidade e a aspiração à consciência de Deus baseiam-se numa vida justa, amorosa e harmoniosa e no darmos graças à Divindade e à sua Hierarquia, tanto mais que tal impulsiona outros a se alinharem e darem graças também. E os que se sentem bem pelo que nós partilhamos  crescem também no bem e podem sentir mais a subtil presença espiritual interna ou ainda a do Amor unificador, que brota do coração ou que se derrama do Sol no Cosmos e na atmosfera.

Deste modo, neste círculo ou elo de graças, a gratidão funda-se e eleva-se da Terra e retorna ao Céu e ao Sol, pois a sua etericidade e leveza substancial fazem-na facilmente chegar aos mundos espirituais, manifestando a unidade subjacente de Amor, que é no fundo também a base da vida social em comunidade e não em competição e imperialismo e, portanto, do progresso evolutivo dos seres, tornando-nos mais transparentes, redondos e condutores-transmissores do Amor...

Saibamos pois aproveitar os momentos mais saudáveis, luminosos ou decisivos do dia a dia, ou das nossas vidas, e não os deixemos partir ingloriamente (e "glória", doxa em grego, e kvarnath em persa, significa luz, resplendor), nem serem soterrados sob novos dados de informação ou de consumo, tão frenéticos hoje, antes consigamos percepcionar a luz interna  e deleitar-nos um pouco, no nosso íntimo, na gratidão, no Amor aos seres, à vida e à Divindade adorável, sob que forma, tradição ou face afim...

Ou seja, vivamos mais no aqui e agora pleno, no qual a transparência e a unidade dos mundos e seres pode  ser mais sentida ou vivenciada com a Graça do Amor libertador a brilhar e a Divindade a ser intuída no círculo e na circulação do que é recebido, amado e gratamente devolvido, ou  reintegrado, o que foi representado nas Três Graças por tantos pintores e escultores, e glosada por filósofos e espirituais, sobretudo no Renascimento, e a imagem que vemos mais à frente é de Rafael: Recebemos da Divindade e do Cosmos, damos e partilhamos aos outros e numa linha ascendente de gratidão as energias amorosas retornam à Fonte, donde se derramarão de novo em chuva de bênçãos e inspirações sobre os seres nos mundos intermediários e finalmente em nós, numa circularidade geral...

Saibamos pois constantemente sentir o que vivemos com gratidão elevante e abençoante: seja o que se passou há umas horas e que é agora oferecido em amor e em memorização amorosa aos que participaram e aos seres dos planos superiores, seja o que se encontra virginalmente diante do tempo que nos resta por trabalhar nesta peregrinação terrena: - Venha a nós o vosso dinamismo vivo, ó graça do Amor...

Saibamos pois peregrinar e navegar corajosamente e plenamente os momentos ora mais difíceis ora mais especiais e invulgares e que  apelam às nossas melhores qualidades ou virtudes e à descida ou assunção do espírito dinâmico, tendo presente e vivo o importante reconhecimento do valor do presente intenso do dito nipónico: icchi go, icchi e, um momento único na vida, irrepetível. E podem ser muitos...

Tentemos então descobri-los e criá-los mais pela nossa plena atenção e amor, unindo o exterior e o interior, quem somos e o que queremos ser, os outros e nós, por todos e por nós, pelo Cosmos e pelo Divino e seus fiéis do Amor.