sexta-feira, 1 de maio de 2020

Da morte e do além, "Homo bulla est" e centelha espiritual. De Plotino e Erasmo aos nossos dias pandémicos ou opressivos...

Diz-se que as últimas palavras de um dos mais elevados mestres da Antiguidade, Plotino (205-270), autor das Enéadas, foram, tal como as registou o seu valioso secretário Porfírio, também ele um mestre espiritual: «agora procuro levar de volta o eu que está dentro de mim para o Eu total.»
                                   
Outros ao morrer pensariam, ou eventualmente diriam: «Oh Divindade que estás dentro de mim e que és a luz dos meus olhos, e a força do meu espírito, o centro de meu ser, impulsiona-me para me elevar o mais possível no cosmos rumo aos teus mundos divinos, e que aí possa encontrar aqueles com quem deverei estar, comunicar, trabalhar, sentindo-te mais em mim, e sendo mais plenamente teu cooperador.»
Outros ainda talvez pensem e se lancem assim: «Eu aspiro à mais elevada região do mundo espiritual a que posso chegar. Anjos e mestres, impulsionai-me rumo à Divindade. »
Sim, na verdade, ao morrer a nossa alma e espírito deixam o corpo físico e elevamo-nos para os mundos subtis, menos ou mais luminosos e espirituais, assim nos elevando conforme a nossa vida e logo a constituição anímico-espiritual desenvolvida.
Compreender o que fizemos, o que poderíamos ter feito, as consequências positivas ou negativas dos nossos actos e sentimentos, tentar corrigi-las, no nosso mundo interior, quem sabe se de algum modo tocando subtilmente nas pessoas com quem nos relacionamos, quem sabe até olhando para o mundo humano físico, podendo ser esses primeiros tempos no além, para os mais despertos (pois muitos descrentes, ou mortiços no amor, estarão semi-adormecidos), entrecortados com vistas de antepassados ou amigos, quem sabe mesmo se com diálogos com eles, são hipóteses plausíveis da nossa vida post-mortem do corpo físico.
                                          
                                        Om Sri Ramakrishna namah! Saudações!
Sim,  acredito que podemos merecer encontrar-nos não só com os nossos pais e ascendentes familiares mas também com aqueles seres que mais gostamos e trabalhámos, seja os que conhecemos pessoalmente, ou que nos iniciaram mesmo, tais Si Rishi Atri, Swami Kaivalyananda, Sri Vidwans, Shudhananda Bharati e Swami Ranganathananda, ou os que já tinham partido, tais como
Pitágoras e Platão, Ramanuja e Madhva, Shorawardi,  Nadjin Kubra, Sa'adi, Marsilio Ficino, Pico della Mirandola, Erasmo, Damião de Goes, Dara Shikoh, Nur Ali Sha, Ramakrishna, Antero de Quental e Fernando Leal, Fernando Pessoa, Wenceslau de Morais, Bô Yin Râ, Paramahansa Yogananda, Guru Ranade, Henry Corbin e, por fim, Jesus, certamente um dos mais elevados mestres de sempre.
Sim, grande mistério, onde estará ele e o que faz? Irradia apenas naturalmente Amor para todo o cosmos, ou age individualmente na Terra, inspirando aqui, corrigindo acolá, visionando isto, atalhando aquilo?
Terá bastantes espíritos celestiais (anjos) e santos colaborando com ele e movendo-se subtilmente no mundo subtil tentando ajudar ou inspirar as pessoas?
Os religiosos e místicos que o veem pelo olho espiritual nas suas meditações chegam mesmo a ele, ou apenas captam certas energias suas que se concretizam depois nas imagens que veem, podendo assim ocorrer quase um desdobramento infinito de si próprio para os muitos que a ele apelam?
Ou será que está já com outros horizontes cósmicos e logo menos ligado à Terra, onde se há muitos que o invocam e falam em seu nome, na verdade são bem menos os que verdadeiramente têm ligação com ele, ou o conseguem invocar e de algum modo receber alguma energia da sua imensa aura e ser?
Quantos de nós conseguimos ter no nosso coração ligação e logo até alguma sensação de presença potencial dos grandes seres em nós?
Quais serão aqueles seres que mereceremos ter acesso quando partirmos, seja na altura seja mais tarde, quando tivermo-nos adentrado nas regiões já não ribeirinhas mas verdadeiramente espirituais?
Ou será que, como Plotino escreveu, estaremos a sós, com o mundo espiritual ou divino?
                                        
Chamaremos e invocaremos nós Jesus e Maria, Buda e Maomé, Ali, Hussaim e o Madhi, Krishna e Shiva, Radha, Isis ou Amaterasu, ou ainda o santos e santas, ou ainda os mestres de confrarias e linhas tradicionais milenárias,
recebendo muitos provavelmente    bênçãos deles, directas ou indirectas, ora sem ora com intermediários?
E agora com os vírus e guerras, que agitação na passagem e intermediarização entre os mundos, físico e subtil está a acontecer, com tão
pouca gente  preparada para morrer, para se libertar da terra, e frequentemente algo perdida, com pouco apoio (ou mesmo nenhum) de familiares e amigos, vendo-se no além, quase sem capacidades de visão, compreensão e movimentação?
Será que devemos questionar as religiões por não terem preparado melhor as pessoas seja para a vida no além, seja para estas súbitas possibilidades de abruptos fins do mundo colectivos, tal como no nível terreno e social alguns Estados (mormente o Estados Unidos da América, o Reino Unido e a UE em relação à Itália) tidos como muito desenvolvidos e poderosos, mostrando assim o egoísmo e o desleixo que havia e há para o que não seja armamentos, guerras, sanções e lucros das classes financeiras, políticas e farmacêuticas, enquanto os Estados vilipendiados e sancionados como os do Mal agem ou agiram com  altruísmo, tal a Rússia, a Cuba e a China?
                                       
                   A Humanidade vai abrindo os olhos, discernindo melhor o mal e o bem...
Talvez não devamos ficar muito apreensivos com o que se vai passando, pois é possível, que antepassados já no além e o Anjo da guarda de cada ser, estejam conseguindo orientar muitos, sobretudo os que já têm algum despertar e abertura dos órgãos do corpo espiritual, pela sua vida de luz e amor, e assim impulsionando-os a avançarem melhor.
Para os outros, pois que as nossas orações de luz e amor para as suas almas os possam ajudar...
Cuidemo-nos uns aos outros, como os seres que verdadeiramente se auto-conhecem e amam fazem.
                                          
E como ninguém se pode evadir à limitada duração da vida na terra, tal como uma bolha de sabão, metáfora ainda da superficialidade da vida vaidosa, ou da sua efemeridade, tal como Erasmo desenvolveu a partir do dito antigo do romano Varrão, Homo bulla est, o ser humano é uma bolha, num escrito famoso a propósito da súbita morte do príncipe Filipe de Borgonha, pai do futuro imperador Carlos V, saibamos trabalhar bem enquanto há luz, enquanto estamos vivos para que não venha a noite ladrona e nos apanhe desprevenidos, como crianças distraídas, despreocupadas, alienadas da sua missão principal de evolução fraterna, de sabedoria e amor, e antes possamos estar entre aqueles,tal Plotino, trabalhando pela, ou já com, a
religação à centelha espiritual e à Divindade brilhando no seu interior e ser.

2 comentários:

Jo disse...

Muito bem Pedro, muito obrigado por este texto reflexão.

Pedro Teixeira da Mota. disse...

Graças muitas, Jo. Só agora o vi, e o posso agradecer. Espero que estejas bem. Muita saúde, luz e amor no teu caminho!