Sadhana é sem dúvida uma das obras primas de Rabindranath Tagore, talvez mesmo a mais valiosa do ponto de vista da espiritualidade expressa, face à implícita presente em toda a sua obra dada a sua sensibilidade anímico-espiritual imensa.
Sadhana, palavra sânscrita que significa conjunto de práticas e modo de vida assumido no caminho do conhecimento e da religação (Yoga), foi dada à luz em 1913, quando Rabindranath Tagore (1861-1941) já atravessara, pela morte da sua mulher e filhos, o seu tremendo rasgar de alma, e continua hoje bastante actual na sua abordagem de oito perenes questões do ser humano, assim intituladas nos capítulos em que está dividida: «I - A relação do indivíduo com o Universo. II - Consciência da Alma. III - O problema do mal. IV- O problema do Eu. V - Realização no Amor. VI - Realização na Acção. VII - Realização da Beleza. VIII - A Realização do Infinito.» E podemos pensar que seria muito bom se todos fizéssemos de quando em quando uma reflexão, ou mesmo uma redacção, acerca destes temas...
Pelo título, Sadhana, e pelos temas tratados, vemos que os oito capítulos da obra nos fazem circular por entre a espiritualidade indiana em geral e até pelos quatro caminhos, ou margas, típicos da espiritualidade indiana: Raja Yoga, o do conhecimento e o auto-conhecimento; Bhakti, o do amor, devoção, compaixão; Karma, o da acção correcta ou boa; e Jnana a percepção ou visão do divino, do infinito, no universo, na vida, em nós, numa unidade de uma só consciência omnipresente.
Pelo título, Sadhana, e pelos temas tratados, vemos que os oito capítulos da obra nos fazem circular por entre a espiritualidade indiana em geral e até pelos quatro caminhos, ou margas, típicos da espiritualidade indiana: Raja Yoga, o do conhecimento e o auto-conhecimento; Bhakti, o do amor, devoção, compaixão; Karma, o da acção correcta ou boa; e Jnana a percepção ou visão do divino, do infinito, no universo, na vida, em nós, numa unidade de uma só consciência omnipresente.
Embora haja uma tradução recente brasileira, Sadhana é uma obra que merecia ser traduzida e publicada em Portugal.
Traduzimos neste artigo alguns excertos substanciais do
1º capítulo, e comentamo-los um pouco, nestes dias das
comemorações do seu 159 aniversário de nascimento. E posteriormente gravámos uma parte valiosa do capítulo , que contudo não chegou ao fim, pois a bateria findou...
Logo
no começo do 1º capítulo, depois de contrastar a civilização grega
nascida nas cidades e entre muros com a indiana nascida nas florestas e
aberta à imensidade da vida, deduz que de tal nasceu uma tendência para
se possuir e defender no caso grego, enquanto que na Índia o que se
desenvolve é «um objectivo não de adquirir mas de realizar, para alargar
a sua consciência crescendo com, e crescendo para, os seus ambientes. Ele
[o povo indiano] sentiu que a verdade é omnicompreensiva, que não há
isolamento absoluto na existência, e que a única maneira de atingir a
verdade é através da interpenetração do nosso ser com todos os objectos.
Realizar esta harmonia entre o espírito humano e o espírito do mundo
foi o esforço dos sábios habitantes das florestas da antiga Índia.»
Este esforço concretizou-se e tornou-se a sadhana,
um tipo de vida com as suas práticas, a qual procura abrir a ligação
consciente do nosso interior tanto consigo mesmo na sua pluridimensionalidade como com o campo unificado de infinita energia e
informação que é o Universo e a sua Fonte Divina.
De
realçar a visão de Tagore bem abrangente e panteísta de que o caminho, para se alcançar a verdade, é o da
interpenetração do nosso ser com tudo, ou seja, o estabelecermos pontes
de comunicação, simpatia e comunhão.
"O
caminho faz-se caminhando", foi dito, e tal significa que o caminhar ou
avançar já é em parte manifestar o que se quer atingir e que devemos
sentir a harmonia e amor com o que nos rodeia, e aceitar o que vamos
recebendo, firmes nos nossos pequenos propósitos que estão em harmonia
«com o propósito que opera através da natureza», o Sanatha Dharma, a
Ordem cósmica.
«Para a Índia a unidade
fundamental da criação não foi apenas uma especulação filosófica e o
seu objectivo de vida era realizar esta grande harmonia entre sentir e
agir. Com a meditação e o serviço, com uma regulação da sua vida, ela
cultivou de tal maneira a sua consciência que tudo tinha um significado
espiritual para ela».
Rabindranath Tagore
realça que esta percepção da unidade é algo vivido e sentido e
desenvolvido por uma vida justa e espiritual, destacando a tradicional
divisão da meditação ou via contemplativa e o serviço desinteressado ou
via activa, numa interacção com o que nos rodeia não limitada ao que é
registado como aparência sensorial mas bem mais vasta e subtil..
Assim
«o ser que tem os seus olhos espirituais abertos sabe que a verdade
última acerca da terra e da água está na nossa apreensão da vontade
eterna que opera no tempo e toma forma nas forças que nós realizamos
sob esses aspectos. Isto não é um mero conhecimento, como a ciência é,
mas uma percepção da alma pela alma. Isto não nos conduz ao poder, como o
conhecimento faz, mas dá-nos alegria, a qual é o resultado da união de
coisas afins»
Realça
então Tagore que este desabrochar da alma se faz pela abertura dos
sentidos espirituais, os quais fazem-nos sentir a comunhão com a
vontade divina ou cósmica, que podemos denominar não só Dharma como
também Amor, e simultaneamente uma felicidade (Ananda) grande na união ou comunhão
com os objectos ou seres próximos ou afins.
É muito valioso este discernimento de Rabindranath Tagore que a verdadeira alegria não vem de se possuir ou se conhecer superficialmente mas sim da união dos seres, da sua comunhão nos seus níveis subtis e dentro do propósito divino que perpassa o Cosmos.
É muito valioso este discernimento de Rabindranath Tagore que a verdadeira alegria não vem de se possuir ou se conhecer superficialmente mas sim da união dos seres, da sua comunhão nos seus níveis subtis e dentro do propósito divino que perpassa o Cosmos.
Sob
esta comunhão mais subtil ele explicita que «quem se limita pelo
conhecimento científico nunca compreenderá o que o ser com visão espiritual encontra nos
fenómenos naturais: A água não limpa apenas os seus membros, mas
purifica o seu coração; pois toca a sua alma. A terra não sustenta ou
apoia o corpo apenas, mas alegra a sua mente, pois o seu contacto é mais
do que um contacto físico, é uma presença viva».
Poderíamos pensar que Rabindranath Tagore iria falar ou apontar para os espíritos da natureza, os devas, mas não é o caso, descrevendo mais a sensibilidade da alma com os elementos da natureza. A visão espiritual que ele valoriza e desenvolve é mais profunda e elevada, na linha ou tradição da darshana ou filosofia Vedanta: «Quando o ser humano encontra o espírito eterno em todos os objectos, então torna-se emancipado, pois descobre então o significado ou sentido mais completo do mundo em que nasceu; então ele encontra-se na perfeita verdade, e a sua harmonia com o todo está estabelecida».
Mas logo em seguida Rabindranath Tagore apela a um despertar para o mundo não apenas na realização da Unidade Divina, mas também de interacção e interpenetração:
Mas logo em seguida Rabindranath Tagore apela a um despertar para o mundo não apenas na realização da Unidade Divina, mas também de interacção e interpenetração:
«Na Índia recomenda-se que as pessoas despertem plenamente para o facto de que estão numa relação estreita com o que as rodeia, corpo e alma, e que devem saudar o sol nascente, a água fluindo, a terra frutífera, como manifestações da mesma verdade que os sustém num abraço. E assim o texto da nossa meditação diária é a Gayatri, uma oração que é considerada o supremo resumo ou epítome dos Vedas. Através dela nós tentamos realizar a unidade essencial do mundo com a alma consciente do ser humano. Aprendemos a perceber ou discernir a unidade mantida pelo Eterno Espírito Um, cujo poder cria a terra, o céu, as estrelas e ao mesmo tempo irradia as nossas mentes com a luz de uma consciência que move e existe numa continuidade não partida com o mundo exterior».
Eis-nos com algumas indicações sobre a sadhana, sobre as práticas harmonizadoras e espiritualizantes: ver o nascer do Sol, saudar o Divino astro, sentir com amor a força da fluidez da água, dardejarmos, meditarmos, assimilarmos, sintonizarmos e sermos um com os conteúdos de alguma oração ou mantra, tal a Gayatri: Om Bhur Bhuva Swaha Tat Savitur Varenyam, Bhargo Devasya Dhimahi Dhiyo Yonah Prachodaya. Uma tradução possível, a minha de agora: "Na vibração de Deus, saudações à terra, ao mundo subtil e ao celestial e àquela Divindade solar excelente. Possa a sua luz gloriosa estimular e abençoar as nossas meditações."
Sendo talvez das mais fortes e misteriosas questões que nos desafiam dia e noite, a da relação entre a mente cerebral, a consciência, a luz e o espírito, bem como a do nosso ser individual com o Universal, Rabindranath Tagore afirma que o «Espírito irradia as nossas mentes com a luz de uma consciência que move e existe numa continuidade ininterrupta com o mundo», ou seja o Espírito, a Divindade, emana, irradia uma consciência luminosa que vai impactar, penetrar, influenciar as nossas mentes. Esta consciência luminosa, este Eu sou divino é omnipresente e assim o que sentimos em nós é para sentirmos reconhecermos e amarmos nos outros, a verdade.
Em seguida Rabindranath Tagore desenvolve a ideia que na Índia o entendimento da superioridade do homem na Terra ou na criação não era o poder de possuir ou dominar mas sim o poder de estar em união, sem dúvida uma clarificação muito bela e útil, pois as pessoas, apesar do mote a união faz força, esquecem que devemos trabalhar sacrificando ou vencendo o nosso egoísmo e liberdade para, em união, com os outros, ajudá-los ou impulioná-los.
É também valiosa e original a explicação que Rabindranath Tagore dá para a escolha de certos locais como santuários e metas de peregrinação, de certo modo em sintonia com o Shinto japonês que ele apreciará em 1916, quando visita o Japão (receando já porém o nacionalismo), pois o Shinto é também uma religião muito sensível à natureza e aos espíritos ou deuses, os Kami, que a habitam. Diz-nos assim: «A Índia escolhe os seus locais de peregrinação onde quer que haja na natureza algum tipo especial de grandeza e beleza, de modo que a mente humana possa sair do mundo das estreitas necessidades e realizar o seu lugar no Infinito.»
Para Rabindranath Tagore
os locais sagrados seriam os mais indicados para os seres saírem dos
seus limitados horizontes e expandirem-se na imensidade e assim sentirem
ou realizarem algo da infinidade e unidade do Espírito divino.
E continuando a explicitar como a Índia desenvolveu o poder da união, faz logo a seguir uma afirmação também muito original: «Esta foi a razão porque na Índia todo um povo que outrora era de comedores de carne abandonou a ingestão de comida animal para cultivar o sentimento de simpatia universal pela vida, um acontecimento único na história da humanidade.»
Foi o imperador máuria Asoka (304-232 A. C.) que, após uma guerra violenta e aderindo ao budismo, promulgou o princípio yogi da ahimsa, não-violência, em relação à mortandade de animais na alimentação e nos sacrifícios, e Rabindranath Tagore vê tal como uma decisão consciente de manter a simpatia viva com todos os seres vivos.
«Os escolhidos para representarem o ser humano na Índia foram os rishis. Quem são os rishis: Aqueles que tendo atingido o conhecimento da alma suprema foram enchidos de sabedoria, e que tendo-a encontrada em união com as suas almas estavam em harmonia perfeita com o eu íntimo; tendo-o realizado no coração, libertaram-se de todos os desejos egoístas e vivenciando a alma suprema em todas as actividades do mundo, atingiram a quietude. Os rishis foram os que tendo atingido o supremo Deus (purusa) por todos os lados encontraram uma paz duradoura, tornaram-se unidos com o Todo, entraram na vida do Universo».
Os parágrafos seguintes, um deles muito valioso sobre o que ele sentia ser o Amor, bem como as críticas a uma compreensão superficial ou limitadora da espiritualidade indiana, foram lidos e comentados, como pode ouvir no vídeo final. Mesmo assim traduzo aqui a parte melhor: «o verdadeiro espírito do ser humano é o espírito de compreensão. Essencialmente o ser humano não é um escravo nem de si nem do mundo; mas é um amante. A sua liberdade e realização plena está no amor, que não é senão outro nome para a compreensão perfeita. Por este poder de compreensão, esta permeação do seu ser, ele é unido com o omnipenetrante Espírito, que é também a respiração da sua alma»....
Das quatro pequenas páginas que faltavam para terminar a leitura do capítulo gravado, transcrevo alguns parágrafos onde Rabindranath Tagore acentua a sua forte vivência amorosa da Unidade da vida e a partilha dela, bem fundamentada com a tradição espiritual indiana.
«O Infinito na Índia não era uma frágil não-entidade, vazia de todo o conteúdo. Os rishis da Índia afirmaram enfaticamente,
"Conhecê-lo nesta vida é ser verdadeiro, não o conhecer nesta vida é a desolação da morte". Como conhecê-lo então: "Realizando-o em cada um e em todos". (Bhuteshu bhuteshu vichintya). Não só na natureza, mas na família, na sociedade, no Estado, e quanto mais realizarmos esta consciência do mundo melhor para nós. Se falharmos na realização disto estamos a virar as nossas faces para a destruição».
Algo que é bem difícil nestes momentos em que sociedades e estados estão tão apanhadas por forças desinformadoras, manipuladoras, opressivas, mas que é certamente um ideal, uma linha de força, para des-desconfiarmos e des-confinarmos....
Reconhece e bem desafiantemente Rabindranath Tagore que os antigos videntes (rishis) sentiam na profundidade serena das suas mentes que a mesma energia, que vibra e passa nas inumeráveis formas do mundo, manifesta-se a si própria no nosso ser interior como consciência; e não há uma quebra de unidade», prosseguindo com a visão que mesmo com a morte não há quebra dessa continuidade consciencial: o ser humano é imortal...
E termina o capítulo assim, começando com a sua tradução de dois versos das Upanishads: «Tudo brotou da vida imortal, e vibra com vida» (Yadihna kincha prana ejati nihsritam), pois a «Vida é imensa» (prano virat).
Esta é a nobre herança dos nossos antepassados, esperando por ser reclamada por nós como nossa, este ideal de suprema liberdade de consciência. Não é apenas intelectual ou emocional, tem uma base ética, e deve ser traduzida em acção. Na Upanishad diz-se: "O supremo ser é omnipresente, e portanto é a divindade inata em todos". (Sarvavyapi sa bhagavan tasmat sarvagatah çivah). Estar verdadeiramente unido em conhecimento, amor e serviço com todos os seres, e assim realizar o seu próprio eu na Divindade omnipresente é a essência da bondade, e esta é a nota chave dos ensinamentos das Upanishads: "Prano virat, a Vida é imensa".»
Eis-nos com algumas indicações sobre a sadhana, sobre as práticas harmonizadoras e espiritualizantes: ver o nascer do Sol, saudar o Divino astro, sentir com amor a força da fluidez da água, dardejarmos, meditarmos, assimilarmos, sintonizarmos e sermos um com os conteúdos de alguma oração ou mantra, tal a Gayatri: Om Bhur Bhuva Swaha Tat Savitur Varenyam, Bhargo Devasya Dhimahi Dhiyo Yonah Prachodaya. Uma tradução possível, a minha de agora: "Na vibração de Deus, saudações à terra, ao mundo subtil e ao celestial e àquela Divindade solar excelente. Possa a sua luz gloriosa estimular e abençoar as nossas meditações."
Sendo talvez das mais fortes e misteriosas questões que nos desafiam dia e noite, a da relação entre a mente cerebral, a consciência, a luz e o espírito, bem como a do nosso ser individual com o Universal, Rabindranath Tagore afirma que o «Espírito irradia as nossas mentes com a luz de uma consciência que move e existe numa continuidade ininterrupta com o mundo», ou seja o Espírito, a Divindade, emana, irradia uma consciência luminosa que vai impactar, penetrar, influenciar as nossas mentes. Esta consciência luminosa, este Eu sou divino é omnipresente e assim o que sentimos em nós é para sentirmos reconhecermos e amarmos nos outros, a verdade.
Em seguida Rabindranath Tagore desenvolve a ideia que na Índia o entendimento da superioridade do homem na Terra ou na criação não era o poder de possuir ou dominar mas sim o poder de estar em união, sem dúvida uma clarificação muito bela e útil, pois as pessoas, apesar do mote a união faz força, esquecem que devemos trabalhar sacrificando ou vencendo o nosso egoísmo e liberdade para, em união, com os outros, ajudá-los ou impulioná-los.
É também valiosa e original a explicação que Rabindranath Tagore dá para a escolha de certos locais como santuários e metas de peregrinação, de certo modo em sintonia com o Shinto japonês que ele apreciará em 1916, quando visita o Japão (receando já porém o nacionalismo), pois o Shinto é também uma religião muito sensível à natureza e aos espíritos ou deuses, os Kami, que a habitam. Diz-nos assim: «A Índia escolhe os seus locais de peregrinação onde quer que haja na natureza algum tipo especial de grandeza e beleza, de modo que a mente humana possa sair do mundo das estreitas necessidades e realizar o seu lugar no Infinito.»
Estampa trazida de uma peregrinação a Kedarnath, uma das fontes do santo Ganges. |
E continuando a explicitar como a Índia desenvolveu o poder da união, faz logo a seguir uma afirmação também muito original: «Esta foi a razão porque na Índia todo um povo que outrora era de comedores de carne abandonou a ingestão de comida animal para cultivar o sentimento de simpatia universal pela vida, um acontecimento único na história da humanidade.»
Foi o imperador máuria Asoka (304-232 A. C.) que, após uma guerra violenta e aderindo ao budismo, promulgou o princípio yogi da ahimsa, não-violência, em relação à mortandade de animais na alimentação e nos sacrifícios, e Rabindranath Tagore vê tal como uma decisão consciente de manter a simpatia viva com todos os seres vivos.
«Os escolhidos para representarem o ser humano na Índia foram os rishis. Quem são os rishis: Aqueles que tendo atingido o conhecimento da alma suprema foram enchidos de sabedoria, e que tendo-a encontrada em união com as suas almas estavam em harmonia perfeita com o eu íntimo; tendo-o realizado no coração, libertaram-se de todos os desejos egoístas e vivenciando a alma suprema em todas as actividades do mundo, atingiram a quietude. Os rishis foram os que tendo atingido o supremo Deus (purusa) por todos os lados encontraram uma paz duradoura, tornaram-se unidos com o Todo, entraram na vida do Universo».
Om sri Ramakrishna namah! Um rishi e yogi moderno. |
Das quatro pequenas páginas que faltavam para terminar a leitura do capítulo gravado, transcrevo alguns parágrafos onde Rabindranath Tagore acentua a sua forte vivência amorosa da Unidade da vida e a partilha dela, bem fundamentada com a tradição espiritual indiana.
«O Infinito na Índia não era uma frágil não-entidade, vazia de todo o conteúdo. Os rishis da Índia afirmaram enfaticamente,
"Conhecê-lo nesta vida é ser verdadeiro, não o conhecer nesta vida é a desolação da morte". Como conhecê-lo então: "Realizando-o em cada um e em todos". (Bhuteshu bhuteshu vichintya). Não só na natureza, mas na família, na sociedade, no Estado, e quanto mais realizarmos esta consciência do mundo melhor para nós. Se falharmos na realização disto estamos a virar as nossas faces para a destruição».
Algo que é bem difícil nestes momentos em que sociedades e estados estão tão apanhadas por forças desinformadoras, manipuladoras, opressivas, mas que é certamente um ideal, uma linha de força, para des-desconfiarmos e des-confinarmos....
Reconhece e bem desafiantemente Rabindranath Tagore que os antigos videntes (rishis) sentiam na profundidade serena das suas mentes que a mesma energia, que vibra e passa nas inumeráveis formas do mundo, manifesta-se a si própria no nosso ser interior como consciência; e não há uma quebra de unidade», prosseguindo com a visão que mesmo com a morte não há quebra dessa continuidade consciencial: o ser humano é imortal...
E termina o capítulo assim, começando com a sua tradução de dois versos das Upanishads: «Tudo brotou da vida imortal, e vibra com vida» (Yadihna kincha prana ejati nihsritam), pois a «Vida é imensa» (prano virat).
Esta é a nobre herança dos nossos antepassados, esperando por ser reclamada por nós como nossa, este ideal de suprema liberdade de consciência. Não é apenas intelectual ou emocional, tem uma base ética, e deve ser traduzida em acção. Na Upanishad diz-se: "O supremo ser é omnipresente, e portanto é a divindade inata em todos". (Sarvavyapi sa bhagavan tasmat sarvagatah çivah). Estar verdadeiramente unido em conhecimento, amor e serviço com todos os seres, e assim realizar o seu próprio eu na Divindade omnipresente é a essência da bondade, e esta é a nota chave dos ensinamentos das Upanishads: "Prano virat, a Vida é imensa".»
Aum Bhagavan namah, Om sri Gurave namah. Saudações à divindade amada, saudações ao mestre.
Saudações à Divindade amada. Saudações ao mestre, e em especial a Rabindranath Tagore... Que saibamos aprofundar a sabedora milenar da Índia por ele transmitida... Possam-nos inspirar e iluminar... Aum...
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