domingo, 10 de maio de 2020

Yoga e a Índia em Portugal. Ensinamentos na década de 1980.

Ños anos 80, depois de ter estado dois meses e em seguida um ano na Índia, praticando os vários yogas e aprendendo com mestres e em ashrams, ensinei yoga esporadicamente em Gilde (S. Torcato, Guimarães) e Braga, com regularidade em Lisboa, Évora e Covilhã e sobretudo no Porto, no restaurante macrobiótico e centro alternativo Suribachi, à rua do Bonfim, ainda hoje em actividade, e onde antes de mim estivera a ensinar o Carlos Hargraves. Além das aulas, meditações, diálogos ou satsangas e idas à Natureza, dava umas folhinhas com ensinamentos tradicionais e dos mestres que conhecera, com  o esquema da sequência das posturas e práticas nas aulas e com explicações de espiritualidade e yoga.  
A Manuela, o Miguel Canelas e eu, na muralha do castelo de Guimarães.
As aulas continham uma síntese, um graal, de Raja Yoga, na linha de Yoga Vedanta e do que aprendera na Índia com mestres e instrutores, e dos ensinamentos dos livros de Agni Yoga, mais o que ia descobrindo.  Ensinava sob a denominação Agni Raj Yoga.
Na quarentena de 2020, pondo os milhares de livros, imagens e papéis em ordem, encontrei  algumas folhas e vou transcrever uma, com acrescentos ou explicações entre colchetes:
                                      Textos sobre Yoga.
Das Upanishad (2.000. A.C.) [Embora os Vedas tenham começado a ser compostos oralmente nesse período, as Upanishads, que fazem parte dos quatro Vedas,  começam a surgir por volta do séc. VIII, a.C.]
- Conduz-nos do irreal ao Real [Verdade], da escuridão à Luz, da morte à Imortalidade. [Asatoma sadgamaya, Tamasoma jyothirgamaya, Mrithyorma amritangamaya.   Proveniente da Bṛhadāraṇyaka Upaniṣad (1.3.28.), recentemente traduzida por António Barahona, e que é muito utilizada como oração yogi.

- O Conhecedor [o que adquiriu o conhecimento verdadeiro] é feito de fé, de verdade, de exactidão recta de majestade - e de Yoga (a sua alma).
- O corpo humano é um carro puxado por cavalos indisciplinados (os sentidos), que o cocheiro (o pensamento) não consegue dirigir. A alma - atman - embarcada nesta corrida para o precipício sofre, a menos que o Yogi abra a sua inteligência intuitiva do coração à luz de Atman...
- Aquele que sente em si a necessidade de saber, o desejo de salvar-se (mumuksa) possui já em si o sagrado Atman a agir para a sua libertação. 
- Diz-se que o Espírito humano pode ter dois aspectos, o puro e o impuro. Este quando se é escravo do desejo, puro quando está livre do desejo. É o pensamento a causa do cativeiro ou da liberdade dos humanos. Se apegado aos bens deste mundo conduz ao sofrimento, mas livre desta ligação conduz à libertação. É só quando o espírito humano está livre de todo o apego que conquista o auto-domínio e que extinguindo [silenciando] o pensamento atinge o estado supremo [Ou uma certa comunhão com o Espírito]. Mas enquanto a instabilidade reinar no seu coração longos serão os esforços para a realização. Conhecimento (Jnana) e Meditação são estes esforços. É preciso portanto combinar  a prática atenta de Yoga com a enunciação da sílaba secreta OM, cujo silêncio final se dirige para o Ser. Quando o adepto reconhece que ele próprio é  Brahman, ele realizou-o para sempre. 
[Esta identidade de atman (espírito, ou o ser em nós com Brahman, pois haverá só este Brahman, Divindade, Espírito Abslouto, ou Eu, é a visão e realização Advaita (ou não dual), de muitos yogis e filósofos. Já outros, onde me incluo, são Dvaita, dualistas, sentindo ou realizando que são duas realidades verdadeiras  mas diferentes, o espírito individual (atman ou jivatman) e o Espírito Absoluto, Atman ou Brahman]. [Assim hoje a afirmação final seria assim redigida por mim:  Quando o praticante toma consciência da sua ligação com o Espírito (atmam) ou com a Divindade (Brahman), obtém uma certa realização luminosa, mais ou menos profunda e duradoura.]
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[Citações de Mestres] Contemporâneos:
Sri Yogi Jnana Sidha (mestre do Kavi Yogi Shudhanana Bharati): -Yoga é sentir na alma a unidade embraçante [envolvente] de Deus.
                                   
Sri Yoga Shudhananda Bharati (um dos mestres com quem vivi mais tempo e me iniciou, em Ram Nagar, Madras): - Procurai a companhia dos grandes seres (satsanga) mas sede vós mesmos.
- Elevai-vos acima das personalidades até ao Eu impessoal que está no vosso coração. Sede sempre centrados em Deus.
- O Yoga estabelece-te dentro de ti mesmo, independente dos outros. 
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Sri Yogi Vidwans (um dos mestres que me iniciou, sendo yogaterapeuta em Wardha): Através das cinco Yamas [As cinco observâncias de Raja Yoga: Satyam, a Verdade, Ahimsa, a não-violência, Astheya, o não roubar, Aparigraham, o desapêgo e Brahmacharya, o controle da energia sexual],  reduzem-se as tensões sociais e a cooperação e simplicidade generalizam-se. A dedicação de tudo ao Divino  (Iswara pranidhana) é habilidade de estarmos conscientes da sua Presença.
O Guru (Mestre) é o que destrói as trevas. O que vira as almas para a luz.
 O Yoga ajuda a despir-nos das malhas que nos puseram em crianças e torna-nos seres livres.
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Sri Morya: Agni Yoga [O mestre que teria inspirado o ensinamento de Agni Yoga ao casal russo Helena e Nicholai Roerich, este um fabuloso pintor, como vemos na imagem. Estive no local onde ele viveu em Naggar, Kulu Valey, e correspondi-me com o filho Svetoslav.] 
Hagia Sophia e a bandeira da Paz: a religião, a ciência e a arte em triangulação no círculo da cultura
- «Eu proteger-te-ei com um capacete de fé, uma armadilha de devoção e um escudo de vitória. Mas na bandeira estará inscrito: Amor - O Conquistador. 
- A transmutação da consciência é a substituição da memória pela compreensão do Espírito, envolvendo todo o ser como um chama.
- Notai o efeito do pensamento de matar e acção de matar no espectro da aura. Os resultados serão idênticos.
- O Mundo inteiro está dividido por uma linha de fronteira dentre o bem pessoal e o bem geral. Quando agimos na esfera do bem geral e temos motivos sinceros, então por detrás de nós acha-se toda a reserva das acumulações cósmicas.
-A Fé em si próprio e a procura da Verdade criam a Harmonia.»
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Saudações aos que buscam.
Ligação para esclarecimentos: Sri Pedro
Quinta do Gilde. S. Torcato, Guimarães. T: 42875 (de Braga).»

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