quarta-feira, 20 de maio de 2020

Da demanda espiritual por entre o espólio de Fernando Pessoa: um poema espiritual e rosicruciano, de Pedro Teixeira da Mota.

A minha peregrinação no espólio de Fernando Pessoa, na Biblioteca Nacional de Lisboa,  começou no ano de 1986 e foram três anos de muitas horas dedicadas a decifrar e a ler os seus papéis dispostos em pastas e que ia transcrevendo para um e depois dois cadernos, a que se juntavam fotocópias de numerosos documentos, em especial os mais difíceis e valiosos, resultando disso após moroso e amoroso trabalho a impressão de quatro livros de inéditos e vários textos e conferências. 
No ano de 2020, graças ao confinamento, pude ordenar melhor o imenso arquivo de escritos soltos, ou de diários. Ou então de cadernos temáticos, como esses dois dos documentos de Fernando Pessoa.
Ora por entre as transcrições de poemas ou sobretudo textos ocultistas, ia escrevendo algumas reflexões ensaísticas ou mesmo poéticas, de algum modo lançando as minhas flechas semi-poéticas e tentando sondar os mistérios do ser e da espiritualidade, em geral, em Fernando Pessoa, em mim, na Tradição Espiritual Portuguesa. 
No meio da tarefa de decifração e entendimento da opus pessoana, tais momentos auto-criativos eram como um súbito respirar por mim próprio, na elevação vertical que as minhas forças geravam em diálogo com a demanda de Fernando Pessoa e a Tradição Perene,  muito certamente sinais da comunhão no fogo comum que alimenta, inspira ou intensifica os peregrinos e espirituais. 
Eis um deles, embora a transcrição fiel de 2020 deu lugar a uma melhorada em 2021, como pode discernir pelas diferenças efectuadas:

«Participando da mensagem de Pessoa
somos então emissários dum Oriente oculto,
mistério traçado nas linhas invisíveis do futuro.
Acreditamos então na vida, este jogo sem fim de se erguerem
histórias contadas das dores e alegrias
sem fim do mundo,
Em nós então recuperando tábuas de salvação de comunhão.
Remos traçando rotas nos desertos das multidões de pensamentos,
Solitários  cavaleiros esquadrinhando horizontes infinitos,
sob a calma abóbada divina ora silenciosa ora esfuziante de sons.
Assim participamos nesta vida invocando a sagrada consciência,
esta chama que em nós relampeja e dá calor ao corpo e luz à vida,
e ousamos então ressuscitar nossas almas, séculos oprimidas,
levantá-las em comunhão com o que Pessoa revelou na intuição
de que afinal a demanda do santo Graal é aceitar de Deus o sinal
 da descida da luz poderosa, em nós subindo a gratidão amorosa.
Assim vivemos a Rosa da cruz, o Amor vencendo o sofrimento
Olhos irradiante para que os males sejam dissipados pela Luz,
Elevando-se o nosso ser à irradiação da Glória e do Amor Divinal.»


2 comentários:

João Teixeira da Motta disse...

Para ti foi boa a companhia de Pessoa, o texto que agora publicas é bonito e poético.

Pedro Teixeira da Mota. disse...

Graças. Só agora vi, quando o revi e melhorei bastante. Lux Dei!