sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Tarot VII, o Carro, o Conquistador. Imagens arquétipas, símbolos energéticos, iniciações conscienciais

Esta é uma das lâminas que, denominada o Conquistador, ou o Condutor do Carro, ou a Carruagem, partindo de uma imagem simples de passagem em triunfo,  pode transmitir, além do elogio do saber e da força vitoriosa, ensinamentos valiosos de  tradições nas quais o ser humano foi e é compreendido  como um conjunto energético-consciencial dinâmico de cavalos, carro, cocheiro-condutor, ser conquistador.
                                              
Na representação de um dos Trionfi ou Tarot primordiais, o de Visconti-Sforza, no arcano Carro, vemos uma mulher, uma princesa ou rainha aclamada, levando consigo um globo terreno sobrepujado pela cruz, e uma vara de poder, como uma Imperatriz ou Rainha.  Já simbolicamente podemos ver a alma unificada e conquistadora, ou ainda a deusa Vénus do Amor, deixando-se conduzir pelos cavalos, simbólicos dos sentidos, instintos e pensamentos, num modo que surge como pacífico, determinado e amoroso, talvez sugerindo que a alma espiritual  flui na vida  quando os seus actos, desejos, pensamentos e ligações superiores são justos e estão harmonizados. 
Este arcano tem porém muito provavelmente a sua origem nas entradas triunfais de imperadores ou generais romanos após campanhas bélicas, e logo alguma ligação ao deus Ares ou Marte, e ainda nos Triunfos literários celebrados na Renascença Italiana, e que a obra I Triomfi de Petrarca e o Sonho de Polifilo, Hypnerotomachia Poliphili, atribuído a Francesco Colllona, mostram em belas imagens, nas quais em carros ou coches alegóricos Deus, Deuses-Deusas, personificações e virtudes, sobretudo o Amor, eram conduzidos alegremente em procissões, fazendo lembrar procissões católicas, carnavais, ou mesmo os matsuris, do Shinto nipónico que ainda hoje se realizam.
O simbolismo espiritual dela surge bem desenvolvida na Índia numa das mais antigas Upanishads (traduzidas para o persa pelo príncipe mogol sufi Dara Shikoh e depois para o latim e línguas ocidentais), a Kata (1.III-3, 4): "Sabe que o espírito (atman) é o mestre do carro e o corpo é o carro. Conhece o intelecto (budhi) como o condutor, e a mente (manas) como as rédeas. Os sentidos são os cavalos, e os objectos à sua vista são o caminho. Quando o espírito (atman) está unificado com a mente e os sentidos, o sábio chama-lhe o desfrutador".
Também o encontramos na belo e valioso Bhagavad Gita, Canto do Bem Amado, na qual Sri Krishna aconselha o guerreiro e cocheiro Arjuna a saber dirigir o seu ser destemidamente no campo da batalha de Kurukshetra contra as forças adversas, onde estão muitos dos seus familiares, que são também partes de si. Neste último sentido entre nós correu mais modernamente Agostinho da Silva quando afirmava que a verdadeira guerra santa era contra o infiel em nós e contra o que impede os outros de serem fiéis à sua essência e missão.
Platão, no Fedon, compara a alma a um cocheiro de uma quadriga com o cavalo negro dos apetites (eros epithumia) e o cavalo branco do coração (tymus) e da coragem, apresentando o cocheiro como o nous, que se pode traduzir sob designações várias, como intelecto, razão,
Espírito, no fundo o Eu espiritual...
Esta fonte platónica deve ser a que fundamentou a gestação deste arcano e arquétipo nas sucessivas representações do Tarot e vê-se por vezes bem realçada a dualidade dos dois cavalos, um branco, obediente e direito, o outro negro, divergindo ou mesmo torcido na posição do pescoço e dos olhos.
                                          
Pode-se então ver neste arcano o ser que pelo discernimento e a vontade bem consciente orienta, harmoniza e rege os elementos e as polaridades em si, as duas subtis e desafiantes esfinges, que podem ser vistas no sol e lua (que o cavaleiro leva nos ombros, em vez das iniciais asas), emissão e recepção, pensamento e sentimento, alegria e tristeza, dia e noite, ida e pingala, quente e frio, Marte e Vénus, palavra e silêncio, alimento e jejum, prazer e dor, etc., as quais são no fundo os cavalos ou rodas do carro da nossa alma que, se controlados e unificados pelo nous, ficando assim a mente ligada ao espírito, e inspirados pela ligação axial e cardíaca à Divindade, tornam os seus movimentos harmoniosos ou conquistadores das dificuldades, das lutas ou das oposições por vezes mais duras...
                                        
Somos convidados a tornar-nos assim seres condutores e transmissores da correnteza  do Poder e do Amor Sabedoria, Inteligência Divina ou Logos cósmico, que é o Campo unificado de energia informação que origina e apoia as energias psico-magnéticas harmonizadas e espiritualizadas que vamos desenvolvendo na vida, as quais podem tanto manifestar-se na nossa aparência e resistência, na voz e presença, como comunicarem e irradiarem para os planos invisíveis e assim clarificar o ambiente e eventualmente ajudar e impulsionar os outros para as suas melhores vidas e realizações...
                                         
O arcano 7 do Carro ou Quadriga, ou ainda do Conquistador, no qual ao quadrado ou cubo (4) da matéria é adicionado o triângulo (3) do mundo espiritual, que o coroa, deve inspirar-nos a meditarmos com regularidade as nossas aspirações e ambições, intenções e desejos e assim fundamentarmos ou darmos coerência ao projecto de vida ou progressão no carro deste conjunto psico-somático, a fim de  que não haja partes que querem ir para um lado e outras para outro, ou que não tenhamos forças para realizar tal percurso ou missão, ou ainda percamos o Norte ou a orientação superior.
                                         

Certos limites nas rédeas dos nossos instintos e desejos, compras e consumos, certas balizas ou metas no percurso, devem ser escolhidos e mantidos, sendo importante de se praticar a determinação de assumirmos e cumprirmos as nossas promessas e decisões de sim e de não...
Este arcano valoriza o estado de decisão fundamentada e determinada e a capacidade de movimento vencedor, concretizador, real e por isso o ser está coroado, liga a terra e o céu, e sobre o seu olho espiritual luze a estrela, podendo ser tal estrela ampliada ou corporizada em quase corpo de glória (Xvarnah, a luz teofânica na tradição Persa) em modernas recriações bem desenhadas do Tarot.

                                                                                 É bom estarmos fortes para o acto de conduzir e correr uma quadriga e dirigir invencivelmente a sua progressão e para tal é necessária uma vida natural e harmoniosa, mens sana in corpore sano, com alimentação mais biológica e exercícios psico-físicos, fortalecendo-se o sistema imunitário, fendendo-se ou dissipando-se medos e paranóias, e estando-se mais mais ciente  das posturas da nossa coluna e dos estados da aura e alma, tão afectados pelas conversas e ambientes. 
 Poder-se-ia falar da consciência dos sete planos do Universo, como desde a Antiguidade se contaram a partir dos conhecimentos astronómicos e astrológicos da época, as chamadas esferas planetárias (e que fundamentaram ciclo da semana), e que alcançaram no séc. XIX com os ocultistas franceses e ingleses formas mistificadoras (que aplicaram às cartas do Tarot), e que tiveram com Helena Petrovna Blavatsky, o famigerado Leadbeater e Annie Besant e Alce A. Bailey, reputados clarividentes ou canalizadores de informações que ampliaram muito tal saber em grande parte incomprovável, e que fecundaram muitas escolas esotéricas e instrutores da nova Era, mais recentemente destacando-se na psicologia transpessoal   Ken Wilber ao esquematizar, bastante mentalmente, novas forçadas ou imaginadas correspondências.
Realcem-se ainda, a partir de Rudolf Steiner e dos ensinamentos biográficos da Antroposofia, em sintonia com este arcano 7, os septenários que ao longo da vida se vão desenrolando rumo à maturidade, e que são anos importantes e de charneira na carreira ou biografia de cada um.

Quando contemplamos e assumimos este arcano (e nesta imagem dos Trionfi iniciais com um guerreiro de machado, qual Thor, em glória no carro) podemos cortar as amarras ao corpo-ego, com os seus hábitos que nos prendem, e conseguir ver do alto ou acima do carro-corpo, como que desprendidos e não identificados com ele e suas tendências, para assim nos aplicarmos melhor no que se deve desenvolver e cumprir.
Praticando este auto-conhecimento e auto-avaliação, de quando em quando, em momentos de recolhimento e alinhamento diário, podemos melhor determinar-nos apropriada ou "dharmicamente" (de dharma, ordem-dever-missão) nas direcções ou sentidos certos do empenhamento e vitória.
Assim, cada vez mais auto-conscientes e firmes, nomeadamente no equilíbrio dos cinco elementos que atravessamos e que temos em nós, mais abertos e irradiantes das energias do Espírito, as melhores asas brotarão dos nossos ombros, intenções e aura, e o Anjo ou o Espírito Divino em nós brilhará mais sensível e triunfantemente.
Lembre-se deste arcano durante o dia, escolha uma ou outra imagem das diferentes versões e veja-a e sinta-a dentro de si, activando-a no que está a consciencializar-se, a fazer  ou a realizar brevemente como acto ou projecto, neste caso a persistência sendo fundamental...

Nesta versão moderna, em que temos um regresso às origens primordiais dos Tarots, em que era uma mulher a representada. Controle o melhor possível as suas energias anímicas, unifique-as e intua o que deverá realizar segundo o lema da tradição espiritual portuguesa, iniciado pelo Infante D. Henrique, Talent de bien faire...

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