quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Tarot V - O Papa, o Sumo Pontífice, o Hierofante. Imagens arquétipas, símbolos energéticos, iniciações conscienciais

   O arcano V tanto nos aproxima do Papa da Igreja Católica Romana, como dos Patriarcas da Ortodoxa, dos Hierofantes das antigas religiões e dos líderes religiosos e gurus das várias tradições, como também ainda de tal capacidade e função sacerdotal, sacer ou sacralizadora, a de nos tornarmos sacros, harmoniosos, luminosos, capazes de ver e conhecer, despertarmos espiritualmente, e logo eventualmente de ensinarmos, inspirarmos, ajudarmos  e abençoarmos os outros em tal ligação e auto-realização...
 Significativamente o Papa é apenas o arcano V, enquanto que a Papisa é logo o arcano II, com uma antecedência numérica  significativa da sua primordialidade, provavelmente como representante da Grande Deusa, ou Deusa Mãe e de todos os cultos pré-cristãos em que a mulher oficiava, seja pela sua sensibilidade e amor seja pela sua beleza e intuição.
                                    
Nestas duas versões primordiais ou mais antigas do Tarot, provenientes das cortes de Itália na Renascença, a de Visconti-Sforza e a D'Este, o Papa surge sozinho com a mão direita abençoando, no gesto clássico ou mudra de dois dedos esticados e os outros em corrente. Quanto à mão esquerda, num caso, ela empunha, com luva de pureza, o ceptro encimado pela cruz e no outro segura uma chave, a que abre a porta do conhecimento e do coração ou o acesso merecido aos mundos espirituais e divino. O S. Pedro porteiro do céu, e que se prestou a tantos diáologos divertidos com as almas que chegavam a ele, é claramente uma materialização das funções sacerdotais e pontificiais que cabem a todos, embora certamente nos planos mais elevados sejam os Mestres e espíritos celestiais que transmitem as bênçãos iluminantes.
A forma e tipo das vestes e mantos, e as suas cores, simbolizam também as qualidades ou virtudes da alma que consegue ou quer ser hierofante ou pontífice, isto é, ser ponte de ligação com o mundo espiritual e divino, objectivo e realização que está também simbolizado na mitra ou coroa papal em forma quase triangular, com os três níveis, correspondentes aos três mundos (físico, psíquico e espiritual), delimitados por formas sagradas e jóias. ou seja, com brilho precioso e virtuoso.
                                        
O Tarot clássico de Marselha, já dos finais do séc. XV, começo do séc. XVI, oferece-nos de novo o Papa com a sua mão à altura do coração apontando para o alto e para os três mundos ou planos em que vivemos, físico, subtil e espiritual, simbolizados ainda nas três travessas da cruz. Quer-nos dizer, entre outros sentidos, para observarmos para onde estão a ser dirigidas as energias do desejo, do coração e da intenção, em que níveis as estamos mais a aplicar com a nossa essência manifestada nesta vida no tempo humano, e consciencializar-nos do que afecta e impede isso, ou que faculta e impulsiona...
O simbolismo arquétipo desta carta apela assim a discernirmos melhor como estão as nossas energias, aspirações e realizações, e à nossa volta (já que influenciam a nossa alma), e se estamos a ser fiéis à nossa missão própria mais elevada (o swadharma, na linguagem indiana),  a qual deve ser diariamente relembrada e meditada para melhoria da nossa vivência ética, do despertar auto-consciencial e da  religação harmonizadora e mais plenificante espiritual e divina.
                                              
É importante preservarmos o nosso discernimento tanto bem fundamentado e livre, não nos deixando manipular pela "lixagem" cerebral dos meios de informação e não nos envolvendo demasiado emocionalmente em discussões e lutas de opostos, e tentando com perseverança reforçar conscientemente  a ligação subtil harmoniosa entre a Terra e o Céu, o que se opera ou talha particularmente nos momentos de esforço e amor, oração, meditação e culto. 
Assim trilhamos um caminho de vida em que a respiração inspiradora e a ascensão (vertical e em espiral, onírica e intuitiva) acontece com regularidade pois, tal como Jesus disse "Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida", assim cada de nós será mais pontífice pela assunção do holismo do seu espírito-consciência, na tradição indiana Shiva, com a sua energia e frequência interna, a Shakti kundalini, dentro do Campo unificado de energia informação ou Anima Mundi... 
As duas colunas por detrás do Papa tanto podem representar essa passagem da Terra para o Céu, seja na morte seja na ascensão interior, seja a polaridade  dentro de nós, denominada ida e pingala na tradição indiana e que estabilizada, equilibrada permite a paz e a visão espiritual, e portanto é uma chave para os mistérios mais profundos da vida. São pois as duas colunas do templo, para o qual cada ser deve contribuir com a sua vida e práticas espirituais, e que veio a ser bastante desenvolvido nos rituais maçónicos, simbolizando a dualidade severidade e misericórdia, masculino e feminino,
Somos pois todos Pontífices, Hierofantes ou Sacerdotisas, pelo alinhamento e dinamismo justo, sábio e amoroso que anima  o nosso ser, levando-o a determinar-se mais espontânea ou sinceramente em sintonia com os seus fins, deveres ou Dharma, tal como Antero de Quental tanto desejava e defendeu no seu seminal "Testamento Filosófico", como chamou Sant'Anna Dionísio às Tendências Gerais da Filosofia na segunda metade do século XIX. Neste sentido entre nós Antero foi um exemplar peregrino do dever, um hierofante poético, ético, filosófico e espiritual, reconhecido e venerado por muitos, e que escreveu mesmo uma valiosa e algo irónica carta sobre a mais recente doutrina papal da Igreja, em 1865, a Defesa da Carta Encíclica de Sua Santidade Pio IX, tombando por fim no seu ungimento sacrificial do suicídio...
                                       
O Sumo Pontífice ou o Patriarca, a Papisa  ou a Sacerdotisa, significa tanto hierarquicamente o mais elevado construtor e condutor duma religião como também quem constrói a ponte superior, a que liga ao Espírito, ao Anjo da Guarda, ao Mestre, ao mundos superiores, ao Infinito, à Divindade, sem dúvida a ponte consciencial que vamos talhando ou abrindo pelas nossas elevações e abnegações, amores e dores, respirações e consciencializações e na qual nos veremos mais ou melhor quando sairmos do Eu-Ego encarnado no corpo físico (e ao qual em geral estamos demasiados identificados), para o Eu no corpo subtil e espiritual.
Este pontificado caracteriza-se ainda por consciencializar-nos da descida de energias e informações, provindas do Logos ou Sol Espiritual Divino, dos mestres e anjos, e da subida adequada da vital e dinâmica energia, que vem tanto da Terra como da nossa ancestralidade, e mesmo de órgãos como os pulmões, os rins e o chakra do fim da coluna, de modo a fortificar-nos e a interagirmos adequada e clarificadoramente com os seres, construindo, cultivando e respirando as pontes entre nós e eles, em sabedoria e amor, como Fiéis do Amor...
                                             
A imagem mais clássica deste arcano do Tarot mostra-nos diante do Papa duas ou três pessoas, em geral de costas para nós, e que podem ser interpretadas de diversos modos, desde o nível histórico, o de aludir à aclamação do Papa, ou aos seus hierarquicamente mais próximos, como ao nível psíquico em que simbolizam-se as nossas diferentes dualidades que se submetem ou unificam com a vida sacralizante, hierofânica, sacerdotal, pontificial, a qual devemos, mais do que seguir no exterior, assumir criativamente na interioridade anímica e na sua coerência posterior. E, neste sentido, esta carta-arcano, aparentemente paradoxal, serve para nos alertar a não nos deixarmos prender nem materializar ou alienar pelas instituições e posições hierárquicas rígidas, pelas igrejas e seitas, pelos seguidismos e partidarismos, consumismos e futilidades, manipulações e opressões.
A tripla tiara na cabeça indica-nos que o Hierofante ou Sumo Sacerdote, que cada um é, seja mulher ou homem, tanto mais que tal função implica harmonizar e orientar  as dualidades internas, está consciente (mais ou menos...) dos três mundos dentro de si mesmo, o terreno, o astral-mental e o espiritual e faz circular, subindo e descendo, as energias subtis através dos dedos e seus mudras ou gestos energéticos, e por meio das palavras, pensamentos e intenções, o que é de novo assinalado na tripla cruz, nesta versão do Tarot, a desenhada pela Pamela Colman Smith, a pedido e sob a orientação do ocultista Arthur E. Waite, e na estola de pano branco que desce ao longo da coluna e onde foram desenhadas três cruzes, quais três chakras ou rodas de frequência vibratória e das quais devemos estar mais conscientes, em especial pelas posturas e tensões em que caímos e nas qualidades, cores  e irradiações que são desenvolvidas.
Na base ou aos pés do Hierofante, na versão de A. Edward Waite, estão interlaçadas em duplo V (o do acolhimento de energias) e em X (o da sua fusão e irradiação) as relações e chaves, as práticas e gnoses que podem abrir dos mundos subtis, ardentes e espirituais as portas, ou encerrá-las, com tal lembrando-nos que o que cultivamos, ligamos ou amamos na Terra com tal seguimos no além, e o que negarmos ou repelirmos se afastará de nós nos mundos subtis e espirituais.
                                           
O Hierofante, o mestre, partilha a sua realização interior, as suas ligações superiores e ensina os psicomorfismos, isto é, os arquétipos e linhas de ideias-forças da Tradição Espiritual mais importantes de serem trabalhados ou cultivados, transmitindo-os em osmose e satsanga, palavra, diálogo e iniciação, por livros e símbolos, ritmos e geometria sagrada, celebrações e vídeos, olhares e gestos, danças, abraços e telepatias...
Seria bom que os líderes religiosos de todos os povos e tradições se reunissem com mais frequência e pudessem transmitir e realçar os ensinamentos mais valiosos e actuais, num diálogo com todas as formas de conhecimento e ciências, com místicos e iniciados a participarem de modo a levedarem o estado geral da humanidade e sobretudo a corrigirem e controlarem os políticos, financeiros e militares que tanto fazem sofrer a humanidade e o planeta, como estamos agora a observar pela covinagem mundial que tanto tem destruído a convivialidade e a confiança entre os seres e sobretudo pela acumulação de energias, laboratórios, factores e seres violentamente extremistas ou negativos na Ucrânia...
     
O hierofante ou sacerdotiza que cada um é nos nossos dias tem de ser também ecologista (e o actual Papa Francisco bem se consciencializou disso e tentou semear), pois tanto oficia, celebra ou ergue o Graal no templo citadino ou em casa, como sente, cultiva e defende bem a comunhão com a Natureza (em especial nos solstícios e equinócios, e fases da Lua) e os seus ecossistemas tão ameaçados pela ganância das grandes multinacionais da agro-química, como a Bayer-Monsanto e Sygenta, a qual fere ou mesmo destrói também as aves e os animais e os Espíritos da Natureza (Devas, Kami e elementais). O pontífice tem em si mais consciente o pentagrama do Espírito, o Ser Humano Universal, que é chamado a desabrochar e a irradiar cada vez mais...
No século XXI a visão do ser humano tem de ser tanto mais profunda e espiritual como ecológica e orgânica e nesse sentido esta imagem  de um Tarot influenciado pela obra de Carl Gustav Jung introduz-nos um Hierofante, Mestre ou Papa firme e bem iluminado, tendo na mão direita um ser em corpo de glória, flamejante, o microcosmo do macrocosmos, e na esquerda o globo ambiental de uma Terra lúcida, harmonizada quem sabe pela agricultura biológica, a agro-floresta, o crescimento e o consumismo moderados e ainda pela paz e não-violência entre os países, seres e eco-sistemas, tão necessitada face a tantos ódios e ganâncias, conflitos, imperialismos e terrorismos...
É para esta missão sagrada, sempre algo utópica neste planeta ainda tão animal ou mesmo sub-animal (pelo ódio e crueldade, pela ignorância e a opressão) e que por isso mesmo nos obriga a despertar, lutar e crescer, que os seres nascem na Terra, evoluem, despertam e se iluminam e libertam, tal como a progressão dos arcanos do Tarot nos transmite e pode inspirar.
A brancura das suas vestes nesta versão lembra-nos que a Paz profunda (Pax Profunda!) é um valor indeclinável da Humanidade e que as guerras e imperialismos, em especial o norte-americano e dos seus coligados na famigerada NATO, sempre em acção perturbante no Médio Oriente e na Europa,  deverão desaparecer, tal como as formas "dinausáuricas" se extinguiram há milénios...
Esteja então confiante e sereno e cumpra ou flua criativamente na sua missão ou dharma de viver em justiça, sabedoria e amor, religando-se verticalmente com o Campo Unificado de energia informação e os Mestres e Anjos, e com o seu Espírito, de modo a sermos um pentagrama cooperador na harmonia da Natureza, da Humanidade e da Divindade...
Anote-se, em Novembro de 2019, o  Sínodo dos bispos católicos na Amazónia e a forte assunção do Papa da ecologia, ambientalismo e reconhecimento sábio e amoroso dos povos indígenas, dando um bom exemplo a uma classe política em geral demasiado vendida, cega, arrogante ou mesmo imperialista, para a qual a Natureza é apenas uma fonte de ganhos para uns poucos através de meios exploradores e destrutivos. De igual modo devemos libertar-nos de sujeições a  posições autoritárias  de detentores da banca, da verdade e do policiamento mundial para uma de procura da Verdade em diálogo e fraternidade harmoniosa, numa época cada vez mais multi-polar que vamos assistindo com os que se estão a erguer contra a opressão norte-americana sustentada no seu dólar inesgotável e corruptor. 
Saibamos pois estar mais conscientes das lutas que se passam nos três mundos, e não só nas narrativas oficiais, e consigamos como hierofantes trabalhar tanto as ligações do nosso espírito e mente  como as bênçãos que o nosso coração e mãos podem irradiar a cada momento desta nossa travessia criativa entre os mundos e que podia ser muito mais bela e feliz, ou como os mestres indianos dizem em Sat, Cit, Ananda... 

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