sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Livro do Sossego Clarificante, 3. Do som transpessoal e da árvore axial

Sabermos no meio de múltiplas actividades em que nos envolvemos sossegarmos a agitação mental e usufruirmos da paz profunda da alma espiritual não é fácil, tanto mais que muitas vezes além da actividade mental e das preocupações do futuro, o ruído nos envolve e mesmo uma boa música pode estar-nos a projectar demasiado para fora do nosso próprio som interior, cuja audição, mais ou menos atenta e prolongada, é ainda um dos mais directos meios de nos ordenarmos e harmonizarmos, de nos recentrarmos e elevarmo-nos ao campo unificado de energia-consciência em que temos o nosso ser ora íntimo ora transpessoal.
E se fecharmos os olhos, então vemos mais claro todos os múltiplos fios que ora saiem ora chegam até nós e podemos então, calmamente, respiratoriamente, consciencializá-los, clarificá-los e ir mais além deles
E então ao concentrarmo-nos mais no olho espiritual, na sua direcção natural de aspiração ao alto, podemos ser agradavelmente surpreendidos com uma visão ou vista desafogada e luminosa, a qual permite ao coração ser mais sentido, ou mesmo adentrado, por nós...
E como é nele e dele que brota o Amor e o Divino, sossegamos, aumentamos a irradiação luminosa na nossa aura e assim dissolvemos sombras de algumas precupações ou indecisões e estaremos prontos a agir sábia e corajosamente...
Adentrar-nos no coração, uma palavra tão prenha ou rica de significações, é então sinónimo da difícil arte da interiorização, a que nos leva até ao centro de nós próprios, à pulsação rítmica e desabrochamento da nossa especificade e à desvendação do Graal da nossa aspiração.
Certamente que nestes níveis não estamos apenas só, pois facilmente o coração pode-se abrir ou estender horizontalmente e comungar com os que amamos ou nos amam mais.
No meio do dia a dia, enovoado, fatigante ou dispersante, estes momentos de recolhimento axializante são  certamente uma fonte de sossego clarificante, uma audição a ser retomada, uma graça a ser cultivada, partilhada, aprofundada,  sentida então mesmo como um antídoto ao stress do quotidiano e das suas crises forjadas pelo Sistema para fazer diminuir o despertar mais radioso da Humanidade...
Não nos deixemos então manipular e ficar nos baixios da vida. Corajosamente, subamos a árvore da vida, eixo dos mundos, escapemos da inconsciência em que tanta gente dorme ou sonha as imagens que os media lhes põem nas cabecinhas, e desfrutemos por fim da vista desafogada, das brisas do Oriente íntimo...

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