segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Tarot III - A Imperatriz. Imagens arquétipas, símbolos energéticos, iniciações conscienciais.

                                 
No dia 3 de cada mês, correspondendo à lâmina III, a Imperatriz, podemos sintonizar com o arquétipo da mulher coroada ou iluminada, na imagem com o escudo da subtilização da águia invencível cingido junto ao peito e o ceptro do poder da ligação vertical entre os mundos empunhado.  
Nas cartas dos Trionfi e do Tarot, geradas no começo do Renascimento na Europa, ainda no séc. XV, nas cortes italianas, esta denominação da Imperatriz, acima da múltiplas rainhas e princesas, e vindo na sucessão das cartas logo após o Mago e a Papisa, assinala uma concretização ou fruto dessa polaridade primordial inicial, algo analógica da Masculina e Feminina da Divindade, e precedendo tanto o Imperador como o Papa, numa posição algo pioneira de feminismo europeu. Talvez possamos considerá-la mesmo uma representação claramente feminina do Espírito Santo, algo que a nossa Natália Correia apreciaria ou concordaria...
                             
A Imperatriz, nesta imagem do Tarot já do começo do séc. XX do ocultista Arthur E. Waite, é desenhada em Inglaterra no estilo pre-rafaelita, realçando-se a fertilidade, a abundância e a riqueza da Natureza, cósmica, terrena e humana. E a mulher como sendo e exercendo tal mediação fecundante e mágica, social e benigna, com muitas faces possíveis de intermediarização. Esta imagem tem mais naturalidade, profundidade e até sensualidade que as representações antigas, mais formais e rígidas, como se o corpo da mulher fosse um a Natureza, a floresta e o solo, sem glifosato da Bayer, como diria a valiosa ecologista Vandana Shiva...
O diadema de estrelas que a coroa e irradia representa a sua ligação com o Céu, os astros e as frequências vibratórias dos raios celestiais e dos mundos espirituais, recebendo-os e partilhando-os não só pela sua aura e corpo mas também por um pequeno ceptro culminado por um globo, na forma perfeita do círculo ou duplo vaso e que, de cor verde, a da esmeralda, simboliza tanto  a receptividade como a fertilidade, tanto a Esperança como Amor que se podem derramar através de nós, quando sintonizamos e vivemos este arquétipo feminino tão necessário  nos nossos dias em que a secura machista masculina e a sua manifestação de imperialismo norte-americano (a que se pode juntar o racismo saudita e o israelita no Médio Oriente) destroem tanto e tão violentamente a Natureza, as relações humanas e os povos.
 Nesse sentido vemos também o signo de Vénus desenhado sob um dossel, manto ou vale de receptividade, e em forma de coração, este sendo a sede principal ou original do sentimento, do afecto e do Amor. 
Como está o seu coração, o seu potencial Graal neste momento? 
Desanuviado? As asas vibratório-anímicas, abertas e expandidas, batem, acreditam, irradiam? 
E as da águia da nossa alma espiritual, ou as da amada alma gémea visível ou invisível, e do Mestre, Anjo da Guarda e da Divindade, vibram em nós, inspiram-nos e dinamizam-nos?
                                    
Nesta imagem de um Tarot traduzido para português dos anos 40, a Imperatriz é representada com asas, atribuindo-se-lhe a correspondência com o deus romano Mercúrio, que é também símbolo alquímico do poder mutável da ideia, da energia e da comunicação que liga os mundos e as almas e gera amorosamente as múltiplas frequências vibratórias, ressoantes em formas, harmonias e sincronias....
                                
No dia da Imperatriz, ou quando tiramos e meditamos este arcano, devemos estar abertos às ideias fertilizantes e benéficas (mercurianas) e aprofundando e comunicando a fluidez energética, mas também fazê-lo incarnando, partilhando e tentando aprofundar a natureza venusiana e o mistério do Amor.
E ao comunicarmos assim, ora habilmente ora pacientemente, devemos preservar os nossos potenciais movimentos ascensionais, nomeadamente na criatividade, na oração, na meditação,  tal como a águia que se eleva alta, dizendo-se que olha mesmo o sol e é determinada, destemida e precisa nas suas intenções e realizações. Assim ligamos  a Terra e o Céu com as cores e frequências vibratórias adequadas a cada situação, e valorizando as verdes e douradas, tanto balsâmicas e fertilizantes como iluminantes e abençoantes.
                                
A versão do Tarot inspirado nas ideias de Aleister Crowley, um mago algo negro e que veio a Portugal influenciar ou iniciar Raul Leal e Fernando Pessoa, tem bastante leveza e lembra-nos que devemos ser mais ecológicos e embelezadores e comungar melhor com a Natureza e os seus campos, jardins e árvores, regatos e flores, vasos, plantas, sementeiras e culturas, sentindo tudo e todos como emanando, em pluri-milénios de gestação, das energias e seres da Divindade, e em especial cultuando o seu aspecto feminino, Shakti, Maya, Urânia, Hagia Sophia, ou ainda, na tradição da cavalaria e das cortes do Amor, como a nossa Dona e Amada, sempre inspiradora, curativa e despertante, para que a Terra e os seus tão desprotegidos e ameaçados eco-sistemas e seres possam sobreviver luminosamente, em especial nesta época da covinagem, e em que a nossa ligação com a Natureza curadora deve ser procurada e reforçada.
 Terminemos a nossa aproximação simples a esta carta, com a versão mais tradicional a de Marselha, e vejamos os gestos da alma "imperatrizada" e as energias que ela atrai e conserva, bem como a relação que tem com a papisa, como que passando para o nível de concretização no mundo terreno e social as inspirações obtidas na religação ao espírito, aos anjos, ao Divino, como competiu à Papisa ou Sacerdotisa. 
Sabermos reconhecer, controlar e bem utilizar as energias em modos interactivos acertados apela a sermos imperatrizes do Espírito Santo, ou seja, a sermos mais almas inspiradas por ele, que é tanto Ela, a Shakti, o Eterno Feminino como o nosso próprio espírito, por ela estimulado ou mais manifestado.
Eis-nos num dia ou numa tiragem, com um convite a não nos deixarmos confinar e manipular amedrontadamente demasiado e irmos para a Natureza em amor, em criatividade, em benfazeja intencionalidade e actividade, fortalecendo o nosso sistema imunitário com ela e as suas mezinhas, e simultaneamente a nossa alma luminosa e amorosa...
 Pintura de Bô Yin Râ... Unir a terra em agricultura biológica e o céu do espírito, ou as distâncias e separações humanas, no arco-íris do Amor...

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