Aproximações aos arcanos do Tarot: o nº I, o Mago....
Em cada mês podemos sintonizar os 22 dias iniciais com os 22 arcanos maiores do livro de imagens arquétipas e sábias que é o Tarot, de origem italiana, do começo do Humanismo e do Renascimento, mas com fontes antigas, eventualmente egípcias (para alguns poucos dos estudiosos), certamente greco-romanas (educativas, mitológicas e iniciáticas), cristãs e, as mais recentes e directas, do Renascimento italiano, tal como, por exemplo, o livro Trionfi de Petrarca (1304-1374), os Triunfos, na qual as imagens e os sentidos pedagógicos, éticos e espirituais, vindos da Antiguidade clássica e do Cristianismo, estavam bem unidos, e que pode dar dado o nome às cartas no começo do séc. XV, Carta a Trionfi, Cartas de Triunfos, pois a expressão Tarocchi, só surge documentalmente em relação a este tipo especial de cartas, em 1505.
Como se fez a transição dos Trionfi para os Tarocchi e quem fixou os 22 arcanos, tais como ficaram depois para sempre, é incerto. E também como era jogado, havendo indicações no pioneiro livro do conselheiro Marziano da Tortona (1370-1425), o qual, com Michelino da Bezosso. gerou o Ludus Triomphorum, o Jogo dos Triunfos ou Trunfos. Talvez pudesse ser em disputas ao desafio, a partir da rapidez de associações, e com apostas, pois desde cedo foi condenado pela Igreja como jogo de azar. E possivelmente o papel do Louco, Mat ou, mais tarde, o Joker, deveria ser importante no modo como se jogaria. Mas avancemos para um terreno mais palpável, os arcanos ou cartas e seu simbolismo.
Nesta imagem próxima da primordialidade do Tarot, a versão de Visconti-Sforza, da segunda metade do séc. XV, embora haja já registo em 1415 de uma encomenda de Fillipo Maria Visconti (o pai de Bianca Visconti, casada com Francesco Sforza, de Milão) de um "maço com figuras de Deuses e seus símbolos", o Mago surge como uma pessoa algo aristocrática ou de idade e hierática, afim das cortes italianas (Ferrara, Bolonha e Milão) onde foram desenhados ou criados os primeiros Trionfi, sentado à mesa com objectos simbólicos, talvez dos quatro ou cinco elementos ou, quem sabe, de ritos iniciáticos, vestido ricamente com predominância de vermelho, associada ao amor, e com um chapéu de ondulação em espiral ou lemniscata. A sua mão direita está sobre um objecto ou recipiente coberto por um pano, como que magnetizando-o ou abençoando-o, com sacralidade sugerindo até o abençoar no dia a dia, com mais ou menos frequênci e, num sinal de auto-consciência e de invocação das energias divinas e logo da magia de as infundir ou intensificar nos objectos, alimentos e seres...
Algumas das figurações iconográficas manter-se-ão na evolução das versões dos pré-Tarots para os Tarots, outras transformar-se-ão (tal como o ser idoso e sério que passa ao jovem Mago criativo), ou mesmo desaparecerão ou esbater-se-ão, o caso das quatro Virtudes cardeais que estavam representadas nos Trionfi
Que ensinamentos e mensagens se quiseram transmitir, quem é o ser representado e que polisemia (pluralidade de sentidos) ele encerra e nos ensina?
Era o Mago que é cada ser em potencial, diante da tábua ou mesa da Manifestação cósmica e terrestre e suas potencialidades? Era o Mago dos truques, o Bagatto, de onde tirámos nós a palavra bagatela, sem valor, em operações ou exibições? Era o louco, tolo, joker ou ignorante, caído ou exilado na Terra e necessitando de toda uma aprendizagem que esta e depois as outras cartas sugerem e transmitem? Era já o Mago que pretensamente revelaria o futuro, através das cartas, função que está historicamente assinalada muito mais tarde para o Tarot, só no final do séc. XVIII, pois antes o conjunto das cartas era um jogo e um programa humanista ético, instrutivo?
Seria ainda o mago da Pérsia, dos Zoroastrianos? O alquimista medieval recebendo energias do cosmos e transmutando a matéria? O iniciando de todos os tempos? A imagem humana do Demiúrgo, do Deus menor criador, provinda dos Mistérios antigos?
Na imagem da versão que se tornou a mais clássica do Tarot, a de Marselha, o Mago, com a posição das mãos bem diferente da versão anterior mais antiga, simboliza mais claramente o ideal da vontade activa e luminosa que une criativa e habilidosamente o Céu e a Terra, os mundos espirituais e divinos com os humanos e terrestres, e que invoca e atrai do alto, com a mão esquerda (a mais receptiva) sejam as forças subtis vitais e genésicas sejam as bênçãos divinas, cósmicas, angélicas, dos mestres ou eventualmente dos antepassados. E, conseguindo-o, comunga com elas, infunde-as na Terra, nos seres e coisas, através da mão direita, operativa, que manuseia um objecto em forma circular, disco ou moeda.
Podemos admitir que esta representação como que assume já a Magia hermética, estudada e desenvolvida no Renascimento, mas a partir de fontes antigas, por Marsilio Ficino, e que consiste na harmonização, manuseio e união das forças e virtudes naturais que ligam simpateticamente a Terra e o Céu e que, por exemplo, Cornélio Agripa e Paracelso desenvolverão depois bastante, mas com bastante argúcia e imaginação mas por vezes algo infundada, ou mistificadora..
Podemos admitir que esta representação como que assume já a Magia hermética, estudada e desenvolvida no Renascimento, mas a partir de fontes antigas, por Marsilio Ficino, e que consiste na harmonização, manuseio e união das forças e virtudes naturais que ligam simpateticamente a Terra e o Céu e que, por exemplo, Cornélio Agripa e Paracelso desenvolverão depois bastante, mas com bastante argúcia e imaginação mas por vezes algo infundada, ou mistificadora..
Não limitada ao cérebro e à cabeça (como normalmente se pensa) está a consciência, seja no seu alargamento ou expansão, seja na sua essência espiritual, de origem divina, simbolizada pela lemniscata sob a forma de chapéu e que aponta para a comunhão com o que hoje se designa como o Campo unificado de energia-informação, e que era a antiga anima mundi, alma do mundo, ou mesmo com o Espírito Divino. E também as duas mãos realizam a mesma lemniscata de circulação cósmica e terrena frutífera, pelo trabalho, habilidade, magia, vontade, amor...
Uma sintonização e circulação que ocorre mais quando há coloração e tensão afins, e logo contacto e harmonização das polaridades, níveis, hemisférios, o que se realiza na meditação, nos estados de receptividade, amor, descontracção (simbolizados no arcano seguinte feminino da Papisa), mas também na atenção, acção e pensamento conscientes e ardentes com que agimos e interagimos. É por esta auto-consciencialização interior e plasmada na acção que a nossa vida criativa se torna mais fecunda, espiritual e perene nos seus efeitos sobre os outros e nós.
Uma sintonização e circulação que ocorre mais quando há coloração e tensão afins, e logo contacto e harmonização das polaridades, níveis, hemisférios, o que se realiza na meditação, nos estados de receptividade, amor, descontracção (simbolizados no arcano seguinte feminino da Papisa), mas também na atenção, acção e pensamento conscientes e ardentes com que agimos e interagimos. É por esta auto-consciencialização interior e plasmada na acção que a nossa vida criativa se torna mais fecunda, espiritual e perene nos seus efeitos sobre os outros e nós.
Diante de nós estão na mesa da vida as energias dos quatro (ocidentais) ou cinco (orientais) Elementos para as podermos trabalhar, desenvolver e partilhar criativa e harmoniosamente, com os desejos-aspirações adequados e a mais elevada vontade justa possível, determinada e persistente, e os objectos representados podem até provir dos rituais iniciáticos dos mistérios dionísiacos ou báquicos e dos órficos e que eram mostrados aos misté, os iniciandos.
Tais objectos, ao serem considerados símbolos dos quatro elementos na mesa da manifestação (da qual um pé da mesa não existe, como dizendo que temos nós de ser ou fazer o tal grounding, enraízamento, de que se fala), podem identificar-se como o cálice do coração, a espada do discernimento, a vara da acção justa e a moeda da riqueza pentagonal, que constituem tanto os quatro naipes dos baralhos das cartas (e dos posteriores 56 arcanos menores do Tarot, sem interesse maior simbólico ou para consultas), como as funções e capacidades criativas, harmonizadoras e potencializadoras que corresponderiam aos quatro ou cinco elementos (fogo, ar, terra e água, e o éter, quintaessência ou prana) em nós e nos outros e que a cada momento e minuto interagem connosco, ou que estamos a trabalhar e a utilizar.
Se aludirem ou representarem ritos iniciáticos, o simbolismo seria mais secreto, por isso tanto a dificuldade de os fazer corresponder com os elementos ou identificá-los claramente. Algo para o qual a passagem do tempo e o desgaste das matrizes da impressão das cartas contribuiu, ao haver uma perda dos contornos precisos materiais ou físicos, e logo de discernirmos os elementos psíquicos aludidos ou simbolizados.
O arcano I mostra-nos a potencialidade infinita seja da Natureza nos seus cinco elementos, seja do Espírito individualizado e em vias evolutivas de individuação, que os manuseia criativamente, e os faz florescer pelas aspirações, esforços, disciplinas e realizações. Sermos seres mágicos, criativos, trabalhadores, de modo determinado, hábil, optimista, norteados pela espontaneidade interior, o Amor, o Bem e a Verdade, eis a dança e arte, luta e caminho.
Historicamente o nome de Magos vem da Pérsia ou Irão, com a tradição dos seus sábios e sacerdotes, provindo a palavra do grego Magoi, a qual como que foi canonizada no Evangelho de S. Mateus, com a referência aos três Magos do Oriente (o que levou a admitir não serem só da Pérsia mas eventualmente da Índia) que teriam vindo abençoar, ensinar ou, segundo a narrativa evangélica, adorar Jesus.
Ao longo dos séculos podemos observar que tal tradição ininterrupta de sábios, iniciados, órficos e gnósticos de realização espiritual interior, e simultaneamente de secretas harmonias com a natureza e de uma magia da Palavra, esteve sempre viva e entre os seus elos, no séc. XIX e XX, por exemplo, tivemos de alguns modos entre nós Bocage, Antero de Quental, Leonardo Coimbra e Fernando Pessoa, este um escritor e poeta estudioso da magia, ocultismo, esoterismo e até do Tarot, e que chegou a escrever a dado momento, numa linha de ensinamentos de ordens secretas, que «a conversação com o santo Anjo da Guarda é a mais alta obra de Magia». Magia então como obra de conhecimento interno, de auto-consciencialização, e de se operar ou agir no mundo terreno, no subtil e no espiritual pela palavra, a vontade e o discernimento justo.
O desafio desta carta ou arcano, o primeiro e masculino, vindo depois o feminino, o II, da Papisa, é o de sermos almas criativas, mágicas, fecundantes, capazes de interagir e irradiar luminosamente, pelos pensamentos, sentimentos, actos e palavras nos seres e na Alma do Mundo, ou Campo unificado de energia inteligência consciência, que nos liga a todos, fazendo desabrochar mais a ligação com os mestres e santos e sorores, Anjos e a Divindade, e com as qualidades, energias, virtudes e psicomorfismos (ideias modeladores de formas), isto é, com os arquétipos do Bem e da Verdade, da Justiça e da Beleza.
Se contemplarmos estas imagens de versões mais modernas do arcano I, o Mago, podemos ser estimulados a tornar-nos mais a individualidade criativa e corajosa que mantém a sua abertura ao Campo unificado de consciência-energia-informação simbolizado pela lemniscata e que é também símbolo tanto do Espírito activo sábia e amorosamente, em nós, como do Espírito Santo e da Vontade Divina cósmica...
Terminemos com estas imagens de três versões de Tarots, já não primordiais mas das mais ricas de simbolismo, a 1ª a tradicional, a de Marselha, e a 2ª e 3ª das mais belas mas por vezes "erradas" de Aleister Crowley, e de Arthur Edward Waite, relembrando-nos da importância das cores ou frequências vibratórias da nossa aura e como a magia da palavra, do gesto e da intencionalidade e da intermediarização divina, que todos podemos exercer, servem o Bem da Humanidade e de nós próprios.
Em verdade sabemos como as palavras curam ou fazem mal, são de mel ou de fel, e desde o tempo de Orfeu, dos órficos e pitagóricos, que tal magia está assinalada na história da humanidade, dela fazendo eco o Evangelho de S. João, ao ser o mais helenista e gnóstico: «Ao princípio era a Palavra (Logos, em grego, ou Sermo, em latim) e a Palavra estava em Deus (Theos) e Deus era aquela Palavra .» (Segui a tradução do Novo Testamento, de Erasmo, do grego para o latim, na edição de Lyon, 1705).
Saibamos pois nós despertar ou sintonizar, proferir ou orientar as energias psíquicas e vitais de ligação entre a terra e o céu, entre nós e o mundo espiritual, de modo a sermos o Mago ou a Maga, ou seja, almas criativas, harmonizadores e unificadoras das energias e consciências para bem do mundo e da sociedade, os quais bem precisam que este arquétipo seja reactivado, não egoísta ou ilusoriamente, não com falsas promessas e adivinhações superficiais, mas exercido e assumido sabiamente, coerentemente, ecologicamente, de modo a sairmos da ignorância e do sofrimento, das rotinas e limitações, semi-adormecimentos e alienações, das manipulações e submissões a tantas forças nocivas ou mesmo maléficas, activas na sociedade nos seus meios de informação, e assim aprofundarmos e expandirmos a potencialidade poderosa do Amor e do Ser Divino em nós.
Em verdade sabemos como as palavras curam ou fazem mal, são de mel ou de fel, e desde o tempo de Orfeu, dos órficos e pitagóricos, que tal magia está assinalada na história da humanidade, dela fazendo eco o Evangelho de S. João, ao ser o mais helenista e gnóstico: «Ao princípio era a Palavra (Logos, em grego, ou Sermo, em latim) e a Palavra estava em Deus (Theos) e Deus era aquela Palavra .» (Segui a tradução do Novo Testamento, de Erasmo, do grego para o latim, na edição de Lyon, 1705).
Saibamos pois nós despertar ou sintonizar, proferir ou orientar as energias psíquicas e vitais de ligação entre a terra e o céu, entre nós e o mundo espiritual, de modo a sermos o Mago ou a Maga, ou seja, almas criativas, harmonizadores e unificadoras das energias e consciências para bem do mundo e da sociedade, os quais bem precisam que este arquétipo seja reactivado, não egoísta ou ilusoriamente, não com falsas promessas e adivinhações superficiais, mas exercido e assumido sabiamente, coerentemente, ecologicamente, de modo a sairmos da ignorância e do sofrimento, das rotinas e limitações, semi-adormecimentos e alienações, das manipulações e submissões a tantas forças nocivas ou mesmo maléficas, activas na sociedade nos seus meios de informação, e assim aprofundarmos e expandirmos a potencialidade poderosa do Amor e do Ser Divino em nós.
O que foi dito serve para aconselhamos alguém que nos peça uma tiragem, simples, de quatro cartas, deixando-nos guiar pela nossa intuição e discernimento para tentarmos ver o que esta carta poderá transmitir à pessoa que nos consulta, o que ela poderá desenvolver das potencialidades do Mago na sua vida.
2 comentários:
Obrigada Pedro.
Graças, Maf. Só agora consegui responder...
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