quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Os Anjos do Hospital de S. José em Lisboa velam, curam, iluminam...

    
Os hospitais, não sendo albergues para peregrinos nem hotéis para turistas, para muitos caminhantes das ásperas veredas da vida acabam por o ser. Escapando à dor ou à solidão e vivenciando a fraternidade curativa, as pessoas que se curam e não morrem neles agradecem o tempo lá passado, a experiência recolhida, as noites sofridas, a enfermagem mais querida e o desvelo do corpo e alma médico, ou mesmo as protecções do alto. Alguns ex-votos antigos celebram em cenas ingénuas o agradecimento pela miraculosa cura.
Para quem entra no Hospital de S. José, em Lisboa, a pé ou de maca, estas colunas e estátuas tão graciosas, estas cores, arvoredo e beleza, são certamente reconfortantes e auspiciosas e está-se quase pronto para tudo...
Encimando a coluna masculina e a feminina duas figuras angélicas apontam para a linha do centro, axial, com o brasão ou peito da alma e de Portugal sobrepujado pela coroa divina, e isto simboliza que devemos aspirar à Luz divina, harmonizar as dualidades ou opostos, por vezes unindo-os ou unificando-os mesmo no chakra ou na coroa aberta ao espírito, ao Divino. 
Este Anjo, ou simplesmente um ser purificado, virtuoso ou angelizado, mostra-nos que o sofrimento deve tender sempre para tal estado consciencial mais elevado, porque quando ele é suportado ou mesmo vencido, a nossa alma espiritual emerge mais purificada ou desprendida do corpo físico sofrido e amadurecido...
Passadas as duas colunas do átrio aproximamo-nos do santuário (fechado), com as colunas espiraladas lembrando-nos dos movimentos ascensionais das energias internas e que o Divino é no mais íntimo e no maior ardor ou maior quietude que se manifesta, e que é preciso passar para além da dor para chegar ao Amor!
Os anjos e os mundo subtis estão presentes nos hospitais ainda que a nossa visão esteja muito desfocada ou até desviada deles. Quem tem de ficar deitado ou recolhido mais tempo, pode e deve aproveitar para cultivar a visão interior, no chamado terceiro olho, onde se podem receber e ver realidades, seres e energias subtis ou espirituais muito harmonizadoras, curativas e clarificadoras... 
Estes anjos mais pequenos podem ser interpretados como a  modéstia e humildade adequada e necessária para o contacto com o Anjo. Podem também indicar que os nossos desejos ou cupidos são virados para dentro e para o mundo espiritual para nos curarmos, harmonizarmos.
Os pequenos actos de amor, de caridade, de diálogo e ajuda ao próximo, por mais pequenos que sejam, tornam-nos mais dignos de recebermos as bênçãos angélicas, a luz do Alto, e deste modo ao guiarmos podermos merecer ser guiados.
Em analogia com o que mestre Jesus disse, «se o teu olho for simples, o teu corpo será luminoso», neste painel de azulejos a criança inocente conduz o idoso já cego dos seus dias, enquanto os olhos dos Anjos mostram que o ego e o orgulho, a ignorância e ambição, são os grandes inimigos do caminho "da alma para o espírito", titulo aliás do meu último livro de ensaios, concluindo os 33 capítulos com um consagrado ou acerca dos Anjos.
Num recanto, Anjos algo desfocados na fotografia, mas abrindo sugestões que as confluências de palavras e cores, sons e formas geométricas, orações e cantos desvendam estados superiores de consciência ou proporcionam o diálogo ou visão com o Anjo. Ou que mesmo à pressa, num canto da jornada desgastante de quem trabalha ou sofre no Hospital, o Anjo é sentido na enfermeira ou médico, ou mesmo no gentil pessoal que apoia ou atende. Ou então no coração nosso ou do outro...
No alto das colunas e das noites,  das dores e da solidão, o Anjo contempla-nos calmo e acalmando. Se meditarmos nele e na Divindade, se dialogarmos, orarmos e aspiramos. ele pode descer da sombra e vindo pelas costas ou pela frente iluminar-nos, entusiasmar-nos,...
E aparecer sorridente à Luz, assim passando a estar e a ser mais em nós...

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