A carta foi integralmente lida e comentada por mim e passada para o Youtube no dia 31-III-2016 e a ligação para se ouvir é esta, embora na altura não tivesse ainda alguns conhecimentos acrescentados neste texto, nomeadamente referentes ao posicionamento sobre espiritismo de Eduard von Hartmann e de Sárrea Prado:
Agora como, isso não sei e penso que ninguém sabe.»
A tal unidade de consciência é coisa que não repugna à razão filosófica. Se ler [Eduard von] Hartmann, na Filosofia do Inconsciente verá que essa é uma das pedras angulares do sistema daquele engenhoso e profundo alemão. Segundo ele, essa unidade, expressão da unidade fundamental das coisas, existe latente ordinariamente, e só se manifesta obscuramente nos factos do instinto. O magnetismo será, segundo esta ordem de ideias, o momento em que essa unidade de consciência de latente se torna patente».
Como sabemos Antero de Quental apreciou bastante Eduard von Hartmann (na fotografia), colocando-o a par de Giordano Bruno e de Schelling como representantes do Panteísmo espiritualista e da busca de uma religião do futuro, considerando até bem profeticamente «o seu pessimismo como um protesto da razão e até do senso moral contra o optimismo naturalista» então vigente, sem deixar de lhe apontar algumas limitações («conciso e deficiente em certos pontos», dirá a Oliveira Martins, em 13-5-1876), ou deixando pouco lugar na religião ao maravilhoso e ao imaginoso, e não discernindo e valorizando suficientemente o Absoluto ou o Inconsciente como Liberdade.
Na carta, Antero de Quental parece dar o salto de considerar os fenómenos de conhecimento supra-sensorial como manifestações da tal unidade, ainda que não tente explicar como tal se passa: se por alargamento ou expansão da alma-consciência, se pela utilização de sentidos espirituais, se por acção de espíritos, embora quatro anos mais tarde no seu "testamento filosófico", como bem lhe chamou Sant'Anna Dionísio, afirme já a existência de uma substância ou "alma infinita das coisas" por onde tal comunicação acontece..
Limitações também expressas pelo próprio Eduard von Hartmann no seu livro já mais tardio, Spiritismus, 1885, onde, tratando do espiritismo e do magnetismo, confessa nunca ter assistido ou participado em experiências e conclui tratar-se apenas de magnetismo, mesmerismo ou sugestão o que está em acção nesses momentos. Tal não era a posição de vários filósofos e investigadores psíquicos (tal como Alexander Aksakof, traduzido em português), além de espíritas, que puseram em causa as contradições das suas explicações, propugnando a possível intervenção de espíritos, como aliás podemos ver no prefácio da tradução inglesa da obra e que está on-line.
Seria Antero de Quental um nome de referência, um conhecedor e conhecido não só na Ética, na Filosofia, nas Letras e Poesia, mas também nas ditas Ciências Ocultas e Magnetismo? Ou seria pela sua aura de líder de estudantes e de mestre do pensamento e da demanda da Verdade?
Ou seria de conversas anteriores, pois a amizade entre Carlos Cirilo Machado e Antero de Quental sabemos existe pelo menos desde 1881 e que então conversaram bastante, conforme está registado numa carta de Antero a ele, de Dezembro, 1881: «pela minha parte, de entre os rapazes da última geração, está o Carlos no número limitado daqueles que eu estimo e de quem espero alguma coisa sã. Concebo que [eu] lhe tenha feito alguma falta: as nossas conversas não eram vãs, e o Carlos não é daqueles, que, por terem talento, se cuidam dispensados de ouvir e atender». (Ver ainda http://pedroteixeiradamota.blogspot.pt/2018/01/a-casa-do-coracao-de-antero-de-quental.html ).
Tentando aprofundar os aspectos ainda desconhecidos desta carta, descobri primeiro que um magnetizador esteve em Portugal nesses anos, suscitando naturalmente questões a muita gente. E segundo, que o engenheiro Ângelo Sárrea de Sousa Prado, foi uns dos onze membros da Comissão Central Pró-sede da Federação Espírita Portuguesa nomeada em 26-8-1928, em Lisboa, conforme se pode ler na Revista de Espiritismo, nº 5, de Setembro-Outubro de 1928, presidindo ainda a duas conferências na Federação Espírita Portuguesa, em Setembro de 1928, as de Maria O' Neill (mestra de um dos meus iniciais dialogantes espirituais, o eng. Manuel Lourenço) e do médico António J. Freire. E, por indicação (conforme os comentários) do Luís Lyster Franco, que em 1927 pertencia aos corpos gerentes da Federação Espírita.
A lucidez magnética, e seria valioso se ele nos explicitasse melhor o que ele entendia e incluía mesmo com esta expressão, então usada por alguns como explicação do magnetismo e do hipnotismo, mas provavelmente é a visão psíquica interior ou, se quisermos, uma intensificação energética, uma sintonia e receptividade subtil que permite a passagem, pressupondo a tal unidade, ou continuidade de circulação, de consciência e informação, de um estado ou um dado desconhecido, ou melhor latente, virtual a um estado patente, conhecido ou manifestado.
Nas Tendências Gerais da Filosofia da segunda metade do século XIX Antero de Quental faz algumas aproximações ao Espírito e à sua unidade universal que se podem equacionar com as descrições actuais da física moderna das partículas e ondas e que, na visão de Antero, são também psíquicas ou de ideias forças. Mas a este ensaio final de Antero de Quental voltaremos um dia dentro desta óptica ou visão, embora acrescentemos para já este passo significativo das Tendências Gerais de Filosofia na segunda metade do século XIX:
«O pensar moderno quebra essas prisões lógicas, faz circular através dos tipos pretendidos irredutíveis uma substância omnímoda, por virtude da qual todos os seres, momentos e modalidades dela comunicam continuamente entre si, influenciando-se mutuamente, opondo-se e, por essa constante e terrível oposição, realizando, não a recíproca anulação, mas a integração de todos os momentos na unidade, cujas diversas potências manifestam."
Chama-lhe ainda "a alma infinita das coisas", considerando-a simultaneamente Divina e real...

No campo unificado da "substância omnímoda", ou de energia atómica e consciencial da Anima Mundi, ou do Absoluto, ou se quisermos da Divindade, saibamos continuar Antero de Quental e a Tradição Espiritual Portuguesa, com Cirilo Caros Machado, o Padres Chaves e Sárrea Prado, e conhecer melhor ou mais verdadeiramente a psique, o universo e a Divindade, com gratidão e em amor e para a felicidade de todos os seres dos Universos...
































