quarta-feira, 12 de janeiro de 2022

Vivekananda, o discípulo querido de Ramakrishna. A sua vida e missão. No seu dia de anos 12 de Janeiro

Valiosa palestra proferida na Rússia em 1981 pelo meu mestre Swami Ranganathananda.

Foi em 1863, a 12 de Janeiro, que nasceu, em Calcutta, Narendranath Dutta,  dum  pai céptico mas leitor do grande poeta e místico persa Hafiz e dos Evangelhos, enquanto poesia, e de uma mãe de quem valorizava o domínio sobre si própria, a piedade e o carácter elevado, numa família kayastha, tradicionalmente ligada à escrita e à administração pública. Levou a sua aprendizagem  até ao bacharelato em Artes na Universidade de Calcutá, destacando-se nos estudos filosóficos e na memória retentiva poderosa.
Será no final de 1881, já depois de ter participado, e até como
cantor (e por isso no fim deste artigo encontra uma pequena canção dele, moderna, em vídeo),  no movimento bengali religioso monoteísta do Brahmo Samajde Ram Mohan Roy, Dwarkanath Tagore e Keshab Sen, que foi aconselhado a visitar, com outros estudantes,  Sri Ramakrishna, como um exemplo dum mestre vivo. Mas ao princípio ficou renitente em aceitá-lo como mestre, pois este quando o ouviu cantar entrou em extâse e, depois, levando-o para  a varanda da casa, confessou-lhe ser ele o discípulo que há tanto tempo esperava, e cultuou nele, com a saudação típica indiana, a divindade Narayana. Já na sala com os outros devotos, Narendra perguntou-lhe se ele já vira Deus, respondendo-lhe Ramakrishna que sim, e que quem verdadeiramente aspirasse a Deus, e chorasse até, O poderia ver. Anote-se que a capacidade visionária de Sri Ramakrishna era invulgarmente poderosa  e tem sido assunto de muitos estudos e livros, nomeadamente na obra de Swami Yogeshananda, The Visions of Sri Rmakrishna, onde são relatadas cronologicamente.

Romain Rolland, na sua famosa La Vie de Ramakrishna, p. 229, que leio num exemplar que tem notas de posse e de leitura do meu irmão Carlos ( e muita luz e amor na sua alma, pois já partiu para o outro mundo), descreve assim a intuição do mestre: 

                                   

«No cenáculo dos seus discípulos indianos, em que todos se distinguiram mais tarde pela fé e pelas obras, houve um, excepcional, em relação ao qual a sua atitude foi, também, excepção: pois, ao primeiro olhar, elegeu-o, enquanto que o jovem homem ignorava-se  ainda para o que ele fosse: um chefe espiritual de humanidade: - Narendranath Dutt - Vivekananda.
O Paramahamsa [Ramakrishna], com o seu génio de intuição das almas, que via num só batimento do coração delas desenrolar-se toda a maré do seu futuro, pensava que ante mesmo de reencontrar o grande discípulo na vida, já se tinha cruzado com ele, na matriz dos Destinos.
[Uma subtil idealização-visualização do que pode estar por detrás ou na base causal do desenrolar da vida no plano da incarnação fisico] 
Inscrevo aqui a sua bela visão. Eu [Romain Rolland] poderia, tão bem como os psicólogos, tentar explicar pelos meios correntes. Mas que importa? Sim, nós sabemos que uma vigorosa visão que se impõe, cria e faz nascer o que ela viu. Num sentido mais profundo, os profetas do que será foram os verdadeiros criadores do que não era ainda, mas hesitava em ser.
[Outra tentativa de aproximação à matriz causal do que sucede na incarnação terren: o olhar quente do mestre jardineiro faz germinar potencialidades, sementes]. A torrente que foi o destino genial de Vivekananda ter-se-ia perdido nas entranhas da terra se o olhar de Ramakrishna não tivesse, num golpe de machado, fendido a rocha que o bloqueava, e pela brecha fazer brotar a torrente da alma.»

Na segunda visita de Narendra (Swami Vivekananda), o mestre, Sri Ramakrishna tocou-lhe e Narendra começou a ver tudo à roda e a desaparecer, pelo que começou a gritar que tinha os pais em casa para tratar, obrigando Sri Ramakrishna, rindo-se, a fazê-lo voltar à sua consciência de vigília normal. Regressando a casa, ainda mais desconfiado ia em relação a Ramakrishna. Seria um hipnotizador ou um doido?  Todavia na terceira vez que se encontraram ainda foi pior, pois o mestre, tocando-lhe, fê-lo perder a consciência e aproveitou esse estado para lhe fazer algumas perguntas ao seu eu espiritual. Narendra, apesar de impressionado fortemente, continuou com dúvidas e não tinha receio de questionar as visões de Sri Ramakrisna como sendo alucinações, mas um dia que ridicularizava o ensinamento não-dual, ou seja, aquele que afirma que Deus ou o Absoluto está em tudo, ou se vê em tudo, ou mesmo é o único que existe em tudo,  Ramakrisna Paramahamsa veio e tocou-o, fazendo-o entrar num estado não dual, no qual Vivekananda via a Presença Divina em tudo, estado muito expandido de consciência este em que permaneceu alguns dias. 

                                         

Assim se foi convertendo ao reconhecimento de Sri Ramakrishna como seu mestre, sobretudo após a morte do pai em 1884, realizando  que Ramakrishna era o seu intermediário divino, o guru,  e teve ainda dois anos de aprendizagem e formação, nomeadamente a aceitar e sentir a Divindade feminina, Shakti, Kali, como Deusa pessoal, tornando-se  o discípulo mais querido e principal, embora com vários outros bem próximos,  protagonistas de muitos diálogos e histórias das biografias do mestre, nomeadamente na famosa obra O Evangelho de Ramakrishna, Sri Ramakrishna Kathamrita, em bengali, escrita por Mahendranath Gupta, uma obra excepcional na sua simplicidade de diário dos eventos e diálogos, e que cedo circulou no Ocidente, seja nos resumos-biografias realizados por Max Müller e Romain Roland, seja pelo próprio Evangelho, traduzido para muitas línguas.  

Com a desincarnação de Sri Ramakrishna em 16 de Agosto de 1886, que mesmo assim antes de morrer iniciara doze discípulos como swamis, monges,  os  discípulos foram obrigados a deixar a casa onde se reuniam em Cossipore, já que devotos e admiradores esfumaram-se e com eles o dinheiro que sustentava o grupo, e assim uns dispersaram-se, outros assumiram responsabilidades familiares ou profissionais, e só alguns resolveram manter-se juntos, firmes na devoção inquebrável ao mestre (tanto mais que tinham absorvido um pouquinho das suas cinzas...), mudando-se para uma casa de renda barata que reconstruiram em Baranagar, tornando-se o primeiro mosteiro ou Math.  

Será após a convocação e auscultação dos discípulos e devotos, a 1 Maio de 1887, em Calcutá, hoje Kolkota, que é fundada formalmente a Ordem Ramakrishna, ou Ramakrisna Math, sendo ele o Presidente,  Yogananda o Vice-Presidente, cabendo a Bramananda a presidência de Belur Math, o centro em Calcutá. O lema ou mote da Ordem e da Missão escolhido foi e é Atmano Mokshartham, Jagad Hitaya Cha,  que pode ser traduzido como: Libertação pela realização do espírito  e  prosperidade para toda a Humanidade" . Hoje em 2022 há 214 centros no mundo, dos quais 163 na Índia.

Entre 1888 e 1891 andou frequentemente a peregrinar e a meditar pela Índia, sentindo a necessidade de trabalhar tanto o espírito como a pobreza social gritante, até receber a intuição de que deveria viajar por barco (via Japão, China, Canadá) e participar (e viria a ser como representante do monasticismo da Vedanta) no Primeiro Parlamento das Religiões, intuído e projectado por Charles C. Bonney, um discípulo ou seguidor do notável cientista visionário Swedenborg, e realizado em Boston, USA, em Setembro 1893, durante 17 dias de sessões, discursando com brevidade e simplicidade mas grande sucesso na tarde do 1ª dia, 11 de Setembro (que se tornou Dia Mundial da Fraternidade), perante 7.000 pessoas, transmitindo de unidade das religiões, pois por todas elas se pode chegar a Deus ou  manifestar as Suas qualidades e de tolerância e universalismo. Interveio ainda doze vezes, e com tal sabedoria e convicção que o New York Herald noticiou assim: "Vivekananda é sem dúvida a mais grandiosa figura do Parlamento das Religiões. Depois de o ouvirmos sentimos quão tolo é enviar missionários para esta nação tão culta (learned)».
A mensagem no dia do encerramento, a 27 de Setembro, tornou a ser
breve e simples, sete parágrafos apenas, realçando que cada fiel de uma religião devia crescer nela e apenas assimilar o espírito das outras preservando contudo a sua individualidade e o crescimento de acordo com a lei do seu crescimento [o seu swadharma].

Tornou-se então o primeiro grande divulgador do Sanatana Dharma, o Dever ou Ordem Eterna, a espiritualidade indiana, no Ocidente (antes apenas realizada por livros, embora no Parlamento estivessem vários outros indianos, e tivesse passado um ou outro pela Europa), e em especial nos USA, onde viveu três anos de grande dinamismo e sucesso, realizando dezenas de conferências e ensinos, fundando a Vedantic Society em Nova Iorque e publicando vários livros sobre Yoga. Também viajou até Londres duas vezes, em 1895 e em Maio de 1896, fazendo então amizade com Max Müller e, já na Alemanha, com outro orientalista importante, Paul Deussen. De tais encontros escreveu pequenos mas belos e entusiásticos artigos para a revista Brahmavadin, elogiando ambos pelo abnegado e frutífero amor ao sânscrito e à Índia. Dirá mesmo que foi um dos episódios mais agradáveis da sua vida a viagem que fez com Paul Deussen, após se ter juntado a ele em Kiel, através da Alemanha e da Holanda até Inglaterra.
Foi mantendo constante correspondência com os outros monges
indianos, apoiando-os de diversos modos e em 16 Dezembro de 1896, parte de Londres e, via França, Itália, Suez e Ceilão, chega à Índia no final de Janeiro 1897, sendo recebido com grande entusiasmo e veneração por uma população no fundo crescentemente aspirando também já a uma liderança libertadora da colonização inglesa. Irá pronunciar consecutivos discursos, de Ceilão a Calcutta e a Almora, para milhares e milhares de almas, o primeiro em Madras tendo ficado memorável pela envolvência feérica, estimulando a auto-estima dos indianos. Como escreveu Jawahardal Nehru, em Discovery of India, p. 400, «Enraizado no passado e cheio de orgulho na herança indiana, Vivekananda era todavia moderno na sua aproximação aos problemas da vida, e era uma espécie de ponte entre o passado da Índia e o seu presente».

Funda então em 1 Maio de 1897 a Missão Ramakrisna,  destinada ao karma yoga ou trabalho social, mas que trabalha em estreita ligação com a já referida Ordem Ramakrisna e com os seus swamis ou monges e presidentes, a sede de ambas sendo em Belur Math, a uns quilómetros de Calcutá, junto ao rio Ganges e que eu bem conheci. Funda ainda jornais e mosteiros e desloca-se a numerosos locais e instituições. Em Junho de 1899 apesar da saúde fragilizada, decide voltar ao Ocidente para apoiar a obra na USA, onde funda mais centros, e para participar no novo Parlamento das Religiões, ou melhor, Congresso de História de Religiões que se realiza em Paris em 1900.  

Deste Congresso parisiense Swami Vivekananda dará ecos numa carta impessoal para a revista Udbodhana nas quais assinala a resistência ao diálogo em pé de igualdade da Igreja Católica, dominante em França mas que num Congresso recente em Chicago não conseguira afirmar-se como a melhor religião, e que decidira que neste de Paris não havia lugar para «discussões sobre as doutrinas e as vistas espirituais de cada religião». E assim diz que «da Ásia havia apenas três pandits Japoneses presentes no Congresso. E da Índia o Swami Vivekananda.» E menciona então, como observador imparcial, como Swami Vivekananda se erguera para refutar as teorias sem base do alemão Gustave Opert, quando ao culto do Shiva Lingam, expondo o que os dois disseram. Quanto à sua palestra, Vivekananda falou sobre a evolução histórica das ideias religiosas da Índia e como todas derivariam dos Vedas, mesmo as que os negavam. Afirmará também a contemporaneidade, se não mesmo a anterioridade, da Bhagavad Gita em relação ao grande poema em que foi incluída, o Mahabharata, destacando ainda nela a inexistência de qualquer referência ao Budismo.

Regressando em 9 Dezembro a Calcutta, estabilizará então na casa mãe de Belur Math e, embora viajando ainda até ao mosteiro de Almora e aos grandes locais de poder Bodhigaya e Varanasi, já não sentirá forças para participar no Congresso das Religiões de 1901, a realizar-se no Japão. E em 4 de Julho de 1902, seja por causa da saúde em que os diabetes, a asma e até insónias fizeram o seu desgaste, ou porque chegara a hora de partir, depois de ter dado aulas, dialogado e meditado, retirou-se para o quarto e terá morrido enquanto meditava, seja por um aneurisma cerebral, seja porque o seu ser e corpo espiritual abandonou o corpo físico pelo chakra ou centro de forças do topo da cabeça.

   Nascido numa família culta, desde novo com uma capacidade muito grande de leitura, memória, oratória, sensibilidade espiritual e preocupações sociais,  os toques sucessivos de Sri Ramakrishna e o discipulado ascético abriram Swami Vivekananda cada vez mais ao Divino e ao serviço da Humanidade. Foi assim um pioneiro do encontro do Oriente e do Ocidente e da divulgação do Sanatana Dhrama ou sabedoria indiana, em especial do Vedanta e do seu mestre Ramakrishna mundialmente, pois, embora tendo estado sobretudo na USA,  as suas principais obras, em especial o Raja Yoga, saído à luz em 1896, foram traduzidas em toda a parte, nomeadamente em Portugal, nas segundas e terceiras décadas do séc. XX na Editora A. M. Teixeira, onde Fernando Pessoa publicou as traduções de livros teosóficos de influência indiana.  Mas foi o Brasil e a sua Editora O Pensamento (e também a Editora Ananda, com O Ensinamento Espiritual de Ramakrishna) quem se encarregaram de divulgar mais o Evangelho de Ramakrishna (do qual podemos apreciar a bela capa da 3ª edição, de 1936), o qual Swami Vivekananda ecoou e continuou, certamente com diferenças, apesar de ele ter dito que o melhor que ele falara era o que mestre nele dizia...

Entre nós outros seres conheceram sri Ramakrishna e Vivekananda e assim em 1931 era impresso em Leiria um opúsculo A Universalidade da Sociedade Vedanta, do swami Prakashananda, traduzido pelo professor Joaquim Morais da Silva, um leiriense de quem se sabe pouco e que foi membro da Societé Psychique Internationale, e publicou ainda um estudo sobre os casos de levitação.

                                        

Também Luzo Bemaldo, co-autor em 1919 de um livro de Esperanto e director de uma revista de Esperanto em 1926, traduziu e publicou em 1935 um belo livrinho de Jean Herbert, de quem parece ser um admirador (e conviria saber quem ele foi), e com razão pois Jean Herbert foi dos melhores orientalistas, intitulado Alguns Grandes Pensadores da Índia Moderna, contendo dois capítulos dedicados a Vivekananda e a sri Aurobindo e donde extraí a bela imagem colorida de uma fotografia de Sri Ramakrishna Paramahamsa...

"Impressionante fotogravura a cores de Ramakrishna", no dizer sábio da divulgação na revista Ísis, da "primorosa publicação", como partilhou o caro amigo e espiritual Alberto Ferreira.

Devemos mencionar ainda Rajarama Pundolica Sinai Quelecar, um goês que, tendo publicado uma tradução da Bhagavad Gita, recentemente reimpressa entre nós nas Publicações Maitreya, a instâncias de Maria Ferreira da Silva e a partir dum exemplar meu, escreveu e deu à luz  também em Goa, na Imprensa Nacional, em 1963, um esboço biográfico de Swami Vivekananda, valioso, donde selecionamos o prefácio: «A Índia celebra hoje o centenário do Nascimento de Swami Vivekananda, um dos seus mais eminentes filhos, que foi mestre espiritual de muitos Indianos, Americanos e Ingleses. Inteligência viva e penetrante, memória prodigiosa, vontade de ferro, clareza na exposição e discussão das questões difíceis, esse homem que, depois dos Upanishads, foi o único que deu vigor ao pensamento Indiano, proclamava bem alto o seguinte: "Ó jovens, antes de tudo, sede viris. Não esqueçais nunca a glória da natureza humana. Nós somos Deus. Os Cristos, os Budhas não são senão vagas no Oceano Imenso que Eu sou." Palavras maravilhosas encerrando o sentido lato do homem.
Julgo-me feliz, por ter tido ocasião de prestar a minha homenagem a esse grande homem que venerei e continuo a venerar, publicando em poucas linhas, a sua biografia para a geração nova ocidentalizada».
Entre nós, Agostinho da Silva, dedicou-lhe uma pequena biografia, provavelmente a partir da leitura da obra de Romain Rolland, onde diz, numa percepção com influência franciscana e panteísta:«o grande fervor religioso que frequentemente o fazia entrar em êxtase e romper em louvores da Natureza e de Deus não o distraía da criação de escolas, de Universidades vivas em que se estudassem com um espírito novo os grandes problemas da humanidade, de centros de socorro, de instituições médicas; oferecia-se com os seus missionários para as tarefas mais humildes, sem querer saber a quem beneficiavam, certo sempre que, em última análise, só poderiam dar a todos maior força espiritual».
Anote-se que a edição das Obras Completas de Swami Vivekananda, está publicada em oito volumes, compreendendo os seus discursos, conferências, cursos, poemas, ensaios, traduções, com cerca de 500 páginas cada, e
na introdução se explica que a sua obra baseou-se nas Shastras (textos sagrados), na terra mãe e no Guru ou mestre. E os meios de realização principais do espírito eram para Vivekananda a fé (shrada), a força (virya) e jnana ou conhecimento acerca do espírito. Mas são milhares os livros com os ensinamentos e as vidas tão abnegadas de Sri Ramakrishna Paramahansa e de Swami Vivekananda. Esperamos consagrar mais alguns textos dedicados à  imensa e tão valiosa obra dos dois.

                                           

E para finalizar, dando graças, contemplemos e inspiremo-nos com esta bela fotografia antiga de Swami Vivekananda meditando...
Que ele, Sri Ramakrishna e os demais mestres e swamis desta linha espiritual nos impulsionem ou abençoem....
Aum Jivatman Om...

                                   

                      

terça-feira, 11 de janeiro de 2022

"Pela Iluminação", oração de Bô Yin Râ. Do livro "Das Gebet", "A Oração". Tradução de Pedro Teixeira da Mota.

                                           Aum Jivatman                                      

Erleuchtung, Iluminação, pintura de Bô Yin Râ.

Numa outra oferta da arte da oração, Bô Yin Râ apresenta-nos uma prece pela iluminação, pela aspiração a sairmos da noite escura da alma, com a ajuda das mãos, bênçãos ou correntes de sabedoria e amor dos mestres, santos e anjos que nos possam  orientar ou impulsionar na senda escarpada da comunhão com a graça do Espírito Divino e a sua Luz e Amor.


                           Pela Iluminação. Um Erleuchtung.

                 
«De toda a consolação abandonado
Chamo eu,
Chamo eu por Ti: -
Tu Luz da Eternidade!
Tu Luz da Vida, -
Luz do Amor!

Não deixes
Em negra falta de luz
Obscurecer
A alma
E o sentido.

Aclara
O nebuloso!
Ilumina
A escuridão!
Deixa-me
A iluminação
Alcançar
Em Ti.

Envia
Os que na Tua Luz
Iluminam

Me
No meu Caminho!

Dizei-lhes que olhem
Pela minha procura:
A minha procura
De Luz.

De boa vontade sigo eu
A mão orientadora!
De boa vontade subo eu
A escarpada senda.

Levai-me
Para longe
Da terra sombria!
Conduzi-me
Na Luz: -
Ao brilho
Da Graça!»

"O Ser Humano após a Morte". 1ª parte, por Paul Masson-Oursel. Traduzido e comentado, e com vídeo, por Pedro Teixeira da Mota.

L'Homme aprés la Mort, O Ser humano após a Morte, é o título de uma obra colectiva publicada nas Éditions Montaigne, Paris,  em 1926, e na qual colaboraram dezassete pensadores, embora o coordenador Fernand Divoire no prefácio tenha ainda referido quinze nomes que por uma razão ou outra acabaram por não participar, dos quais se destacam Maurice Blondel (por questões de saúde), Chesterton («extremamente ocupado»), Chestov («a questão posta é muito delicada e complexa») e G. Wells ( põe-me uma grande questão»)... 

Das dezassete colaborações destacam-se a do prof. Ehrhardt, teólogo protestante, com uma boa tentativa de leitura espiritual das visões cristãs do além, rejeitando a concepção materialista da ressurreição dos corpos carnais, o breve e intenso texto metafísico de Nicolas Berdiaev e os extensos textos teosóficos de B. P. Wadia e de Eduard Caslant, embora certamente outros haja também valiosos. Seleccionei  Paul Masson-Oursel (5-IX-1882 a 18-III-1956), por o conhecer há já algum tempo, por ser um valioso e pioneiro comparativista das religiões, um orientalista com bons conhecimentos linguísticos e filosóficos, e por a amiga Ana Salema ter aberto um portal dedicado a ele, onde recenseou e digitalizou centenas de documentos, livros, artigos. 

Como têm morrido recentemente algumas pessoas directa e indirectamente conhecidas, como refiro na gravação, tendo o livro, resolvi ler o texto e simultaneamente traduzir, comentar,  gravando, em três vezes, das quais partilho neste espaço do blogue a 1ª delas, onde Paul Masson-Oursel refere brevemente a visão judaico-cristã e a da Grécia e detém-se um pouco no Egipto e na China, entrando finalmente na Índia, a civilização e filosofia que conhecia mais profundamente.

Destaquemos dois momentos do texto e gravação, o 1º quando diz: «Os mistérios helénicos, como os mistérios egípcios, visavam imortalizar o indivíduo por ritos [e ensinamentos, iniciáticos]; mas os Cristãos, herdeiros do teocracismo judaico, fizeram depender do arbítrio divino a sorte dos seres humanos; eles deram tanta importância[ao ser humano]  que aos olhos deles não era demasiado uma criação especial para explicar a sua chegada ao ser com o nascimento, nem uma duração sem fim para retribuir as acções realizadas durante esta vida. Brotando de uma seita que esperava com muita brevidade o fim do mundo, é certo que o Cristianismo admite um julgamento último com a ressurreição dos corpos, mas não vê nisso senão uma selecção de diversos valores humanos, sem fazer resultar a persistência ou o desaparecimento das almas criadas. O Islão trouxe uma nova afirmação da dependência absoluta em que se encontra a criatura perante o criador».  Vemos assim Masson-Oursel desvalorizar de certo modo o exagero de um absolutismo e determinismo Divino sobre o ser humano...

O segundo, quando refere o valor de harmonização do microcosmo com o macrocosmo realizado na China, não só pelo Imperador mas pelas práticas populares ou «procedimentos empíricos, tais os do Taoístas: cumprir ritos, certamente, e sobretudo aqueles que sustentam ou nutrem a vida universal, através da alternância os dois princípios antitéticos, o yang masculino e quente, o yin feminino e frio; mas também economizar, mesmo capitalizar a vida do Filho do Céu; fazer que os seus sopros vitais [chi, prana] sejam conservados o mais longamente possível por uma ginástica respiratória apropriada, que o harmonizam ao Tao [Ordem cósmica] universal; e obter por uma droga ou preparado alquímico o indefinido prolongamento da existência. Aqui nenhum monopólio real da imortalidade; cada um pode recorrer a ritos, à ascese, a preparações mercuriais para prolongar a sua vida [e desenvolver luminosamente a sua alma], e correr o risco de aceder às Ilhas Bem-aventuradas».

Anote-se que entre nós subsistem alguns textos medievais alcobacenses, com raízes célticas, que falam dessas viagens imaginárias  ou astrais pelos mares até às ilhas misteriosas ou paradisíacas, e que a notável escritora portuense Dalila Pereira da Costa estudou algumas delas, tal a Visão de Tundâlo, o Conto do Amaro, e a Viagem de S. Brandão, em especial numa das suas melhores obras Dos Mundos Contíguos. Todavia, chegar ou passar por tal não é um risco, mas algo que todos devemos querer, já que elas significam não apenas a imaginação de paraísos que compensam a violência egoísta, mas a sobrevivência no além, e sobretudo a entrada consciente e interactiva em níveis subtis harmoniosos do Universo quando deixarmos o corpo físico. E para isso as práticas taoístas e indianas, de respirações e concentrações meditativas ou contemplativas, que encontramos também nos místicos cristãos e islâmicos, são essenciais... Boas orações e meditações imortalizantes, nomeadamente para os espíritos amigos partidos nestes dias, em especial o pai do Nuno e o Manuel Afonso, mestre do Gerês...

                         

segunda-feira, 10 de janeiro de 2022

"Para uma pessoa se encontrar", oração por Bô Yin Râ. Do seu livro "Das Gebet". Tradução de Pedro Teixeira da Mota.

Mais uma oração de Bô Yin Râ, com um segundo verso bem difícil de se traduzir, apontando para o auto-conhecimento mais profundo, o da estrela espiritual em nós e que somos, e a quem Bô Yin Râ ora, e que nós, persistentemente, dia e noite, devemos apelar, aproximar, aspirar e unificar. E mais do que nunca nestes tempos de tão grande desilusão da civilização ocidental, cada vez mais manipulada e oprimida...  Perseveremos... Invoquemos as bênçãos Divinas... Vençamos...
 
       Para uma pessoa se encontrar...

Vida mais íntima!
Meu próprio Ser!
Vós, brilhante Estrela,
 Luz primordial Divina,
Na escuridão terrena!
Vós, 
Cuja "Imagem",
Eu sou,-
 Terrenamente entrelaçada
No terreno, -
De mim próprio
 Não compreendido: -
   Apenas em ti
Por ti
Afirmado! 
 
Longínquo
  Tornei-me eu, -
Assim, tal como sou
Em vós, -
Para longe de mim me 
Afastei.

Onde está o meu Caminho? -
O meu caminho
Para mim, -
Tal como eu
Eternamente
Sou
Em ti!?

Ó ajudai-me!
Não deixai  a vossa "Imagem"
Pelo terrestre
Deformar-se!

Ó deixai-me de novo
A mim próprio
Me encontrar!---
Em direcção a vós,
Vós, Luz em mim!
 
Desprende
O meu auto-entrelaçamento!
Liberta
Da servidão do erro,
O que apenas convosco
Unido
A Vida pode encontrar ...
 
 

domingo, 9 de janeiro de 2022

Swami Natana Gopal: vida e ensinamentos, por Pedro Teixeira da Mota. Com uma das suas canções.

Natana Gopal, ou de seu nome completo Sriman Natanagopala Nayaki Swamigal, foi um notável místico, yogi, poeta e músico do sul da Índia, nascido a 9 de Janeiro de 1843 na Palmal Cross Street, em Sourashtrapuri, parte sul da famosa cidade de Madurai, em Tamil Nadu, filho de Rengariyar e Lakshimi Ammal, uma família de brâmanes Sourashtra, os tecelões, tendo recebido o nome de Rama Bhadran. Desde cedo foi  atraído para o mundo espiritual não ligando muito à escola, nem depois, aos dez anos, ao trabalho de tecelão que naturalmente no modo de vida das castas lhe pertenceria, já que não queria estudar. Aos dezasseis anos resolveu desprender-se do trabalho, para o qual não sentia vocação, sentindo-se chamado para outros voos e, despedindo-se dos pais, retirou-se para a natureza e as montanhas a fim de se dedicar mais plenamente à renúncia do mundo e à realização espiritual. A dado momento, por sonho, recebeu a indicação de procurar um guru, Nagalinga Adigal, em Paramakuti, onde foi bem recebido, aprendendo rapidamente o dialecto sindhi e recebendo na iniciação o nome de Sadhananda Siddhar.
Teve contactos com personagens públicas importantes que, atraídos pela sua fama ou o queriam ver ou testar, saindo bem sempre dos testes. Foi também iniciado na tradição já não dos Sidhas mas dos Vaishnavas, os devotos de Vishu. O mestre ou acharya foi Vadapathraararyar, que na iniciação lhe deu o nome de Natana Gopal, com o qual ficará conhecido, e manteve pelo mestre grande amor ou respeito, acrescentando o seu nome em quase todos os poemas devocionais que foi compondo, e dos quais poderemos ouvir um no fim. Leu muito os poemas dos 12 místicos Alvares, contidos na famosa compilação, do séc. IX, Divya prabandam, que alberga 4.000 versos de alta devocionalidade e espiritualidade yogi e  vaishanava, isto é, devotos de Vishnu Narayana, Krishna, Radha, caracterizados por muita Ananda, beatitude...
A sua rotina diária em Madurai no seu ashram, onde recebia discípulos, devotos e visitantes, incluía, cantos, música e satsanga, isto é, diálogo ou palestra em grupo e sob a invocação da verdade. Um dos nomes divinos que mais utilizava e recomendava era Govinda, que significa tanto o Deus Krishna como o Senhor da terra e das vacas, ou ainda dos VedasSendo levado nos dois anos antes de morrer, no dia de anos,  em procissão de elefante e de palanquim, anunciou então que no próximo ano já o iriam levar morto. E assim foi libertou-se do revestimento físico, no mesmo dia em que nascera, a 9 de Janeiro, de 1914.  
 O meu mestre de Madras, Shudhanda Bharati, na fotografia em cima (em jovem, tendo-o eu conhecido já bem mais tarde), escreveu um livrinho sobre Natana Gopal, e começa-o assim: «Fui convidado a escrever sobre um santo que viveu em Madurai, a cidade das artes e da beleza. Eu vi este santo e os seus êxtases espirituais na minha infância. Ele vivia, movia-se e tinha o seu ser em Deus. Ele despertara Deus na argila humana. Eram dias em que a educação inglesa apressava-se a tornar os homens meros robots pragmáticos. O ozono do fervor espiritual estava viciado pelo gás da impertinência agnóstica. O sexo era em excesso. O espírito era enterrado no estômago. O estudo era sem alma, a vida era sem espírito. A escola era enganar as pessoas levando-as a pensarem que a vida era feita para ganhar e gozar, comer e beber, guiar carros, e afirmar: Eu sou rico, e o que tenho é grandioso. Os intelectuais estavam apanhados no beco sem saída de desespero moral. A civilização era mecânica, como um carro guiada por um obstinado condutor embebedado em direcção a uma crise grave. As pessoas estavam hipnotizadas pelo colorido exterior da vida, pondo de lado as delícias ontológicas e os níveis profundos de consciência psíquica.» 
Narrando depois como o irmão do seu avô, o yogi Purnananda o iniciara na via espiritual e na busca do contacto com mestres, Shudhananda Bharati relembra-se de tê-lo visto com Natana Gopal no jardim onde aquele dispunha de uma pequena cabana, e conta o episódio quando tinha 11 anos: «de repente uma alma emocional entrou no jardim, luminosa, ágil e cheia de vida. Tinha um fogo subtil nos seus olhos e um encanto doce feminino na sua face. Era a verdadeira imagem da devoção fervorosa a Deus. Hari Om, exclamou o meu Mestre erguendo-se para o abraçar. Era Swami Natana Gopal. Eu já vira este Swami. As suas canções devocionais e danças extácticas  tinham encantado a minha alma. Natana Gopal sorriu para o meu ser. Durante cinco minutos, ele sorria e olhava-me e, batendo-me as nas costas, disse: Lopala undi pandu,  Recolhe-te interiormente e amadurece. Falava num excelente Telugu com o meu Mestre e foi uma festa para o coração escutar a conversa deles.»
Em seguida narra parte da conversa e como o seu tio avô, e seu mestre inicial, Purnananda, que afirmava que o caminho espiritual se deveria basear na Gita, Jnana e Nama, algo bastante comum nos mestres indianos, ou seja, lerem-se e meditarem-se os valiosos ensinamentos do poema em diálogo  Bhagavad Gita, depois Jnana, discernimento, conhecimento, sabedoria acerca de quem somos realmente e o que usamos transitoriamente e, por fim, Nama, nome, subentenda-se de Deus. Ou seja, recomenda praticar a invocação de Deus numa ou noutra face, ou nome divino, que nos mais atraia, pondo em acção o amor e a aspiração, e conseguindo uma certa unificação das forças anímicas e uma religação ao espírito e a Deus, que se manifestará eventualmente por algum tipo de graça. Sem dúvida uma boa base programática, por exemplo também muito praticada e recomendada por guru Ranade, um mestre acerca de quem já escrevi neste blogue. 
Por fim «Natana Gopal cantou um kirtan melodioso emocionalmente e cuja substância era: "Canta o nome de Hari ( Harinam) incessantemente e caminha humildemente para os seus pés"», conselho que Shudhanada Bahrati seguiu à letra, peregrinando muito e praticando  bhakti e kirtans, e que me transmitiu também, já que durante os três meses que estive com ele encaminhou-me com cartas de recomendação para o ashram de Tiruvanamali, de Ramana Maharishi, para a comunidade de Auroville e para o centro de Aurobindo em Pondichery, onde dialoguei e meditei.
Alguns ensinamentos desse seu livrinho biográfico de Natana Gopal mostram bem a qualidade devocional da sua via yógica, a da bhakti, ou da devoção, em que o amor a Deus na forma escolhida pelo discípulo é perseverantemente dedilhado, cantado: «Pára a mente que passeia e fixa-a no coração do amor... Medita no que habita no coração, noite e dia e vencerás a morte... A repetição do nome de Deus (japa, namdev, satnam) abre o coração... Mantém a Luz do Amor de Deus ardendo com brilho no coração... O corpo murcha sem comida. A sabedoria tremeluze sem a devoção amorosa...».
Nestes tempos em que tanta mentira e opressão política, científica e mediática nos envolve, saibamos  acender e erguer mais em nós e à nossa volta, o amor, tanto em discernimento como devocionalmente, isto é, em aspiração aos seres celestiais, aos mestres, santos e santas, ao espírito, ao Amor e à Divindade, sob que forma ou nome mais A amarmos e adorarmos...

                      

sábado, 8 de janeiro de 2022

"Numa alegria grande", oração por Bô Yin Râ, do livro "Das Gebet", traduzida por Pedro Teixeira da Mota.


Segue-se mais uma prece do livro  Das Gebet, A Oração, de Bô Yin Râ. Nela se exalta a Divindade, fonte de todas as alegrias e a sua Luz  e o seu Amor eternos que se derramam pelo Cosmos e a Humanidade, nomeadamente com a ajuda dos Espíritos celestiais e Mestres. Que possamos merecer a sua ajuda, tão necessária nos nossos conturbados dias, em que o discernimento da verdade é bem difícil de se manter a menos que pratiquemos bem a oração, a meditação e a contemplação, e neste último sentido juntámos as duas pinturas de Bô Yin Râ...
Boas inspirações. E, claro, ao orar (...), pode alterar a ordem de um ou outro verso, já que fiz uma tradução bastante literal... Lux!

NUMA GRANDE ALEGRIA

Agradeço-te
Fonte de toda a Alegria, -
Luz primordial eterna
Amor doador da Vida, -
Causa
Do que eu
Posso vivenciar,
O que hoje
Me torna feliz,- 
De toda a queixa
Liberto agora, -
Preenchidos estão
Esperanças e sonhos!

Porém mal compreendo
Como o obtido
Se tornou realidade.

Vós porém:
Seres de Amor,
No Espírito,
Vós,
Que o vosso Caminho
E veredas conhecei
Vós,
Que o Vosso Amor
Chama a ajudar
Enviai-me,
Ajudantes,
A vossa força.

Ensinai-me
A discernir
Como eu
A minha alegria
Posso merecer!

Deixai tornar-se-me uma bênção
O que neste dia me iluminou!

Ó não me deixais
Só!
Só com a minha Alegria!
Protegei,
Protectores,
A minha alma,
Para que
de presunção 

Não seja agora afligida.
.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2022

Oração diante dum berço e um olhar, por Bô Yin Râ, do livro "Das Gebet", "A Oração", traduzida por Pedro Teixeira da Mota.

                                                             

Eis mais uma oração do livro Das Gebet, A Oração, de Bô Yin Râ (escrito em alemão e logo algo se perdendo na tradução), esta diante do berço e o olhar de uma criança e invocando as  bênçãos divinas, dos anjos e dos mestres, para que o espírito oriente a alma e esta seja feliz e protegida no seu caminhar, até por fim um dia ressuscitar luminosa nos mundos espirituais. 

Diante de um Berço.

«Interrogadores olhos,
Nunca tendo existido,
Nunca retornando, -
Ainda não compreendeis
O que vos é mostrado
Na Luz terrena!

Que as bênçãos
Impulsionem-o,
Cheio de confiança
Para ver em breve,
Iluminado pelo Sol,
O seu Mundo! 

Possa o espírito puro  prevalecer
no desenvolvimento
da alma em si , -
Do que ainda “dorme” 
no seu desabrochar!

Guardiões amantes,
Protegei esta criança!-
Encaminhai o seu devir
Aqui na Terra
No caminho luminoso! 


Dirigi esta Vida!
Guiai o seu esforço
Através de longo,
Alegre
Tempo na terra
Sempre mais perto
Da Luz Eterna! -
Protegei-a
Em todos os caminhos
Até ela se tornar feliz,
Um dia, -
Da Terra arrebatada, -
Convosco unida,
Na Luz ressuscitada
Para toda a Eternidade!»