quarta-feira, 22 de setembro de 2021

Tolstoi, "O meu Testamento". Do livro "Últimas Palavras". E com vídeo. Comentado com ligações a Antero de Quental, nos seus 193 anos. Com o Imagine, de John Lennon.

                       

                  O  meu Testamento, de Lev Tolstoi.

«Não há tempo a perder. Quem andou, não tem mais para andar. Inútil é hesitar e reflectir mais tempo sobre o que tenho a dizer. A morte não espera. A minha existência vai já no declínio, e a cada instante se pode extinguir. Se ainda posso prestar algum serviço à humanidade, se posso fazer perdoar os meus pecados e a minha vida ociosa e sensual, é dizendo aos homens, meus irmãos, o que me foi dado compreender mais nitidamente que eles: - o que me tortura e oprime o coração há muitos anos.
Todos os homens sabem, como eu, que a nossa vida não é o que deveria ser, e que nós nos tornamos mutuamente desventurados.
Sabemos que para sermos felizes e fazer felizes os outros, é preciso amarmos o próximo como a nós mesmos; e se nos é impossível fazer-lhe o que quereríamos que ele nos fizesse, pelo menos é possível não lhe fazer o que não quereríamos que nos fizessem...
É isto o que ensinam as religiões de todos os povos, e a razão e a consciência ordenam.  
 
[Comentário: Lev ou Leão Tolstoi (1828-1910), tal como Antero de Quental (1842-1891), foram seres muitos abertos à voz da Consciência, ou da Razão universal, ou ainda do Espírito, que sentiam dentro de si com mais força até que os preceitos de religião, embora estes fossem fortes em Tolstoi, ou os ensinamentos morais. Foram pensadores da verdade e que sentiram que ela se deixava indiciar por uma pequena voz subtil e silenciosa da consciência, ou de uma Razão universal, absoluta, divina. No caso, esta até apenas a materialização do Amor, expresso lapidarmente, no seu estado potencial, o da não-violência: - “não faças aos outros o que não gostarias que te fizessem”, embora saibamos como temos também o dever de criticar ou de nos opor ao mal, à violência, ao ódio. Este testamento que lemos foi escrito como um testemunho sincero já no fim da sua vida do que ele desejava e pensava, acreditava e sabia...]]
 
A morte do invólucro corporal, que a todo o instante nos ameaça, recorda-nos o carácter efémero de todos os nossos actos; de modo que a única coisa que podemos fazer e que pode conquistar-nos a felicidade e a serenidade é obedecer continuamente, eternamente, ao que nos determinam a razão e a consciência, se não cremos na revelação; ou no ensino de Cristo, se nele cremos.
Por outras palavras: se não podemos fazer ao próximo o que quereríamos que nos fizessem, pelo menos não façamos o que não desejamos para nós.
Posto que todos nós há muito tempo conhecemos esta verdade, os homens matam, roubam e violentam; de tal modo que em vez de viverem alegres, em tranquilidade e amor, sofrem, afligem-se e não vivenciam senão medo ou ódio uns pelos outros. Por toda a parte, na Terra, as pessoas procuram dissimular a sua vida insensata, e esquecer e abafar o seu sofrimento, sem poderem atingir tal resultado. Assim o número de pessoas que perdem a razão, e se suicidam, aumenta de ano para ano, porque está acima das suas forças suportar uma vida contrária à verdadeira vida humana...
Mas, dir-se-ia, talvez seja necessário a vida ser assim: - necessária a existência dos imperadores, dos reis ou presidentes, dos governos, dos parlamentos ou assembleias, que comandam milhões de soldados providos de espingardas e canhões, a todo o momento prontos para se atirarem um aos outros; - necessárias as fábricas e oficinas, que produzem objectos inúteis e perigosos, em que milhões de homens, mulheres e crianças são transformadas em máquinas, penando dez, doze ou quinze horas por dia; – necessária a despovoação crescente das aldeias e a acumulação progressiva das cidades com as suas tabernas, seus albergues nocturnos, seus asilos para crianças e seus hospitais; - necessária a prisão de centenas de milhares de homens. Talvez seja necessária que os casamentos diminuam cada vez mais, que a prostituição e os abortos aumentem de dia para dia, e que os homens se deem cada vez mais ao deboche.
Talvez seja necessário que a doutrina de Cristo, ensinando a concórdia, o perdão das ofensas, o amor do próximo e dos inimigos, seja inculcada aos homens por sacerdotes de seitas inumeráveis em lutas contínuas, e isto sob a forma de fábulas estúpidas e imorais, a respeito da criação do mundo e do homem, do seu castigo e da sua redenção por Cristo, e sobre tal ou tal rito, tal ou tal sacramento.
Talvez este estado de coisas seja natural ao homem, como próprio é as formigas e às abelhas viverem nos seus formigueiros e nos seus cortiços em lutas contínuas e sem outro ideal.
Talvez esta seja a lei dos homens, enquanto que o chamamento da razão e da consciência para uma outra vida afectiva e feliz não passará dum sonho, e que se não possa, enfim, imaginar e realizar tal como esta de hoje...
É assim, que falam certos opinativos...
Mas o coração humano não quer crer em tal: está sempre em revolta contra a mentira, e tem sempre, sempre, convidado os seres humanos a deixarem-se guiar pela razão e pela consciência. E em nossos dias
faz esse apelo com mais intensidade que nunca.
Não existimos durante séculos, durante milhares de anos, uma eternidade; mas, depois, eis-nos na Terra vivendo, pensando, amando e desfrutando da vida.
Ora nós podemos viver até aos setenta anos, - se, aliás, chegamos a essa idade, porque podemos não viver mais que alguns dias, algumas horas – em pesares e ódios, ou em alegrias e amor; podemos viver com a consciência de mal-fazer, ou de cumprir, imperfeitamente que seja, o que podemos julgar ser o nosso dever.
-«Tende mão em vós!... Fugi à tentação! » - bradava aos homens João Baptista,
-«Fugi à tentação! » - dizia a voz de Deus pela voz da consciência e da razão.
Antes de mais, detenhamo-nos a meio de cada uma das nossas ocupações, de cada um de nossos prazeres, e perguntemo-nos:- «Fazemos o que devemos, ou desbaratamos inutilmente a nossa vida, - esta vida que nos foi dado passar entre duas eternidade do nada?»
 
[Comentário: Esta afirmação de Tolstoi é algo dramática pois vemo-lo sem uma certeza de uma vida espiritual antes e depois da vida no corpo físico terrestre. Apesar de algumas vezes a ter admitido, ou mesmo a reencarnação, e ter-se dedicado à compilação de frases de sabedoria de muitos povos e tradições já no fim da sua vida, eis uma dramática confissão, que contudo ainda mais valoriza a sua luta constante por seguir a voz da consciência e da razão, sem outro motivo que o dever ser, embora a chegue a designar por Voz de Deus. Mas na sua luta contra os aspectos negativos da religião católica e ortodoxa acabou por não conseguir manter uma relação mística íntima com a Divindade. Antero de Quental, teve bastantes semelhanças com Lev Tolstoi, e assentou bastante a sua linha de conduta e de ética neste princípio do dever, do bem impessoal, embora algumas vezes tivesse afirmado a sua crença na imortalidade da alma e da vitória do amor sobre a morte, como alguns poemas finais retratam excelentemente, poucos para o que ele desejaria, como mais de uma vez afirmou, embora na sua adolescência tal fé e amor brilhasse mais pura e não diminuída. 

Tolstoi está assim a tentar chamar as pessoas a uma conversão mas talvez sem as fundações necessárias, que seriam: há uma vida depois da morte, o que semeias colhes, viverás num corpo psico-espiritual e num plano que estará de acordo com o que foste, sentiste, fizeste, pensaste, acreditaste.]
 
Eu sei muito bem que, devido a incitamentos ou estímulos da sociedade, nos parece impossível parar para reflectir ou meditar alguns momentos.
Uns dizem-nos: - «Basta de reflexões! Actos é que se querem!
Outros afirmam: - «A gente não deve pensar em si, nos seus desejos, quando a obra ou missão ao serviço da qual nos achamos é a da nossa família, da arte, da ciência, do comércio, da sociedade, - tudo pelo interesse geral.»
Outros sustentam: - «Tudo foi pensado e ponderado há muito tempo. Ninguém achou melhor. Tratemos de nós, e acabou-se».
Outros, enfim, pretendem: - «Reflectir ou não reflectir, tudo é um. Vive-se, depois morre-se. O melhor é portanto viver gozando. Quando uma pessoa se põe a reflectir, chega à conclusão de que a vida é pior que a morte, e mata-se. Por conseguinte, tréguas às reflexões! Viva cada um como poder!»
 
[Comentário: Sabemos como houve e há pessoas que pensaram tal em relação Antero de Quental: de tanto matutar, de pouco rir e desfrutar, melancolizara-se e fragilizara-se, e de facto a falta de maior fogo do amor em si, e um progressivo isolamento e desilusão precipitaram-no no abandonar da missão terrestre.]
 
Não escutei estas vozes: a todo este arrazoado, respondei simplesmente:
«Atrás de mim vejo a a eternidade durante a qual eu não existia; adiante, sinto a mesma noite infinita em que morte a todo o instante me pode tragar. Actualmente vivo e posso, - sei que posso! - fechando voluntariamente os olhos, cair numa existência cheia de miséria, mas sei que abrindo-os para olhar à volta de mim, posso escolher a melhor e mais feliz existência. De modo que, digam o que disserem as vozes, quaisquer que sejam as seduções que nos atraiam, por muito tomado que eu esteja pela obra que tenho em mão, e agitado pela vida que me cerca, paro, examino e reflicto.»
Eis o que eu tinha a dizer aos meus semelhantes antes de regressar ao infinito.»

                                                  
[Comentário: Assim escreveu Tolstoi no final da sua vida, quando deixava num testamento legal os direitos de muitas das suas obras ao povo russo, ou seja, dava-os à universalidade dos seres na gratuitidade do amor e da sabedoria. Não são contudo palavras de tão grande sabedoria face à morte, e constituem sobretudo um apelo a que, por preceitos religiosos, nomeadamente os de Jesus Cristo, ou por uma intuição da Razão cósmica, ou uma audição da voz da Consciência, saibamos agir em amor e vencermos a instintividade (as "tentações", para ele tão forte e culpabilizante no seu aspecto sexual), a superficialidade de vida, a possessividade, a violência, os hábitos e costumes sociais negativos que tanto controlam ainda a humanidade, em muitos casos explorados pelos governos, os grupos económico-ideológicos e os meios de informação e desinformação tão vendidos e manipulantes....
Prestes a deixar a Terra, Tolstoi não se afirma como um mestre espiritual conhecedor vivencialmente de que é um espírito imortal, ou que existe a vida depois da morte, ou uma justiça cósmica, antes simplesmente pede para que saibamos parar e meditar de quando em quando, a fim de discernirmos se estamos a caminhar na direcção certa e nos melhores modos, aqueles que tornam a existência dos seres e a nossa melhor, mais sábia, amorosa e feliz, mais em 
harmonia com o querer Divindade...

Possam a Luz e o Amor divinos e a comunhão com os grande seres alimentarem a sua alma, possa o seu ser estar agora bem mais consciente e a vivenciar as luminosas dimensões espirituais e reais em que o amor e a não-violência que ele tanto quis, e em parte conseguiu, viver e transmitir, brilhem e possam reflectindo-se nele chegar até nós...

                        

 Imagens finais do túmulo verdejante de Tolstoi, na Iasnaia Poliana (Clareira dos Freixos), aonde o tolstoiano Jaime de Magalhães Lima, "discípulo" dilecto de Antero, foi em peregrinação dialogante, narrada no seu belo livrinho, Cidades e Paisagens, 1889, cf:. (teixeiradamota.blogspot.com/2015/01/jaime-de-magalhaes-lima-as-doutrinas-do.html), seguida de uma pintura dos mundos espirituais pelo mestre alemão Bô Yin Râ (1876-1943). Utilizamos para o texto a tradução de Francisco Barros Lobo, circa 1906, com pequenas correcções. O texto foi também gravado e comentado e pode ouvi-lo em:  https://www.youtube.com/watch?v=MxAVZYVV9dQ&t=1s

Segue-se um vídeo do Imagine, de John Lenon, um mártir precoce, tal  como Sócrates, Jesus, Ali, Sohrawardi, Dara Shikok, S. João de Brito, Mahatma Gandhi,  Martin Luther King, Qassem Soleimani, Daria Dugina e tantos outros... Aum! Amor!

                        

segunda-feira, 20 de setembro de 2021

Tolstoi, "Apelo à Juventude". Do livro "Últimas Palavras". Os textos finais e mais revolucionários de Tolstoi. Com um vídeo. Comemorações dos seus 193 anos.

Na  colecção Os Bons Autores, da livraria Bertrand, era publicada, sem data mas na 1ª década do séc. XX uma das últimas obras de Leão Tolstoi, intitulada Últimas Palavras,  que Francisco Barros Lobo (irmão do malogrado Beldemónio) traduziu, certamente da edição francesa Paroles d'un homme libre (dernières études philosophiques), a qual fora traduzida do russo e editada em 1901, em Paris. 

Na revista Occidente, nº 1016, 20-III-1907, a propósito do seu romance Crónica d'Aldeia.


 
A obra contém alguns dos últimos escritos de Tolstoi e dos mais poderosos de afirmação de uma ética viva,  como que o seu canto de cisne de uma vida  de uma criatividade e indagação corajosa da verdade e da justiça social. Vejamos no índice os títulos, onde após o prefácio se seguem alguns textos que na época tiveram grande impacto e que ainda hoje nos fazem sentir, talvez por uma corrente tolstoiana perene, a sua força e actualidade: Não posso calar-me. Persegui-me! Não matarás! A pena de morte e o Cristianismo. A anexação da Bósnia, Amai-vos uns aos outros. Apelo à Juventude. A religião e as religiões. As duas morais. O meu testamento.

 Aquando das comemorações dos 186 anos de Tolstoi, lemos e comentámos em vídeo o Apelo à Juventude, e agora, passados sete anos. resolvemos transcrever o texto. sublinhá-lo e anotá-lo brevemente.

                                             Apelo à Juventude.

«Crede! Crede em vós, rapazes e raparigas, quando, ao saírdes da infância,  esvoaçarem na vossa alma perguntas como:«Quem sou eu? Para que vivo eu? Para que vivem todas as pessoas que me cercam?» E, sobretudo, a mais importante e perturbadora pergunta: «Acaso eu e as pessoas que me cercam vivemos exactamente como devemos viver?»

Crede em vós, quando as respostas que de vós saírem não estiverem de acordo com as que vos foram inculcadas na infância, nem com o género de vida vivido por vós e todos os que vos cercam. Não receais o desacordo: pelo contrário, aceitai-o como a expressão de tudo o que em vós há-de melhor, - o princípio Divino, que é não só a  mais importante, mas a única razão da vossa existência na Terra. Não acrediteis em vós, - indivíduo dum dado nome, - João, Pedro, Luzia ou Maria, filho ou filha dum lavrador, - mas no  princípio Eterno de sabedoria e bondade que em cada um de nós reside e em vós despertou e vos propõe problemas vitais dos quais exige a solução.»

 [Comentário: Este apelo forte à sinceridade e autenticidade das nossas ideias, sentimentos e actos, em suma, da nossa vida, nomeadamente não termos medo de irmos contras as ideias feitas, ou os modos de vida, dos outros, recebe subitamente uma raiz espiritual e não meramente ética: "há dentro de vós um princípio Divino, que é o que há-de melhor em nós". O mais importante é então ouvir e seguir este princípio Divino, e seria bom sabermos a exacta palavra utilizada por Tolstoi, pois pode ser tanto o espírito, a centelha divina individualizada, como pode ser uma espécie de fundo colectivo da alma, ou a voz da consciência tão invocada por Antero de Quental, ou a presença Divina em nós, tal como ele acrescentou: «um Eterno princípio de sabedoria e bondade que em cada um de nós reside», e que em vós despertou ou pode despertar. Sintonizarmos, meditarmos, aprofundarmos este subtil e elevado nível ou princípio é então fundamental para vivermos mais plenamente e harmoniosamente, numa arte criativa e compassiva diária. ]

«Não acrediteis nas pessoas que vos dizem, com um sorriso condescendente, que também elas durante muito tempo procuraram respostas a essas mesmas perguntas, e as não acharam, porque é impossível achar outras soluções que não sejam as admitidas por todos.»

[Comentário: Este apelo tem sido formulado ou dado pelos mestres ao longo do tempo: aquilo que vos foi dito, aquilo em que acreditaste, muda com o tempo e as gerações. Outras perguntas e respostas são necessárias, e temos de ser nós a fazê-las, a descobri-las e a vivê-las, para assim darmos sentido à nossa vida...]

Não acrediteis senão em vós: não temais o desacordo com as opiniões e os pensamentos dos indivíduos que vos cercam, no caso em que os vossos próprios pensamentos resultem, não dos vossos desejos egoístas, mas do anelo de cumprir a vontade da Força que vos enviou à Terra. Crede em vós, principalmente quando as respostas que se vos impõem são conformes aos eternos princípios da sabedoria humana expressos em todas as doutrinas religiosas e, na de Cristo, no seu mais alto significado. Eu lembro-me como, aos quinze anos, vivi esses momentos, como despertei da minha passiva crença infantil nos juízos de outros em que tinha vivido até então, e como pela primeira vez compreendi que devia viver por mim próprio, escolher o meu caminho e ser responsável pela minha vida perante o Princípio que me a tinha dado.

Lembro-me que sentia então, posto que muito vagamente ainda, mas em todo o caso muito profundamente, que o fim principal da minha vida era ser bom, bom na acepção evangélica, - sacrifício e amor. Diligenciei então viver assim, mas a minha tentativa durou pouco. Não acreditava em mim, mas na imponente, presunçosa e triunfante sabedoria humana, que actuava em mim conscientemente, e inconscientemente pelo meio ambiente. E o meu primeiro despertar foi substituído pelo desejo determinado do ser poderoso, sábio, rico, forte; isto é, tal como o mundo, e não eu, o achava bom.

Não tinha então confiança firme em mim. Só à custa de perseverantes esforços, gastando dezenas de anos na realização de fins terrenos, nunca atingidos, é que  dei pela vaidade deles, muitas vezes pela sua nocividade, e compreendi que o que eu sabia há sessenta anos, e no qual não acreditara, podia e devia ser o único fim sensato da energia cada um.

E quão diferente, mas alegre para mim e mais útil para os outros, teria podido ser a minha vida, se eu acreditasse e seguisse então a voz da verdade, isto é, a voz Divina, quando ela primeira falou na minha alma, pura ainda de toda a tentação!

Sim, mocidade querida: tu que despertas a tomar [consciencializar] toda a importância da tua missão na vida, e isto não sob uma acção exterior mas pela tua própria iniciativa, não creias naqueles que te disserem que as tuas aspirações não passam de sonhos irrealizáveis da idade juvenil; que te assegurem que também eles sonharam e procuraram, mas que a vida cedo lhe demonstrou que tem as suas exigências, que é inútil criar quimeras, que é preciso cada qual esforçar-se por fazer concordar o melhor possível os seus actos com a maneira de viver da sociedade existente, a fim de ser um membro útil dessa sociedade.

Não te deixes de modo algum seduzir, ò gente jovem, pela miragem em moda, fazendo crer que a missão do homem é reorganizar a ordem de coisas estabelecida, em tal ponto e em tal época, recorrendo a toda a espécie de processos, algumas vezes contrários à moral. Não acredites em tal! Esse fim é ínfimo, comparado ao esforço que devemos fazer para manifestar em nós o princípio Divino que a nossa alma encerra em estado latente: fim de reorganização esse que também é mentiroso se permite a gente afastar-se dos princípios da bondade que a alma contém.

Não acredites que te seja impossível educares-te isoladamente na bondade e na verdade. Isso não somente é possível, como ainda toda a tua vida, a tua como a de todos as pessoas, para aí tende. A melhoria moral de cada um de nós conduz não só à melhoria social, mas ainda ao Bem universal que a humanidade pode atingir, o que não se realiza senão pelo esforço pessoal de cada indivíduo.

 [Comentário: São muito actuais e de meditarmos estes conselhos tolstoianos de não deixarmos influenciar pelas novas modas e directrizes materialistas e apelidadas de transformistas que a elite que deseja uma nova Ordem Mundial opressiva global  tenta impor na Humanidade graças ao seu domínio dos meios de informação e das duas moedas principais em curso ilimitado. Escapemos a tal manipulação, sobretudo televisiva...
Importante ainda a sua ideia,
e que Antero de Quental,  em vários aspectos afim de Tolstoi, embora tolstoiano fosse o seus discípulo Jaime de Magalhães Lima, meditou e escreveu por vezes excelentemente,  de que a melhoria moral ou ética da Humanidade e de cada um ela só se  realiza  pelo nosso esforço pessoal de intuirmos ou discernirmos a Verdade e o Bem universal, no fundo o princípio e plano Divino, e de tentar vivê-lo e testemunhá-lo.]

Sim, mocidade: crê em ti, quando no teu coração sentires ou ouvires falar o desejo de ser melhor, e não o de ir além dos outros, - ser poderoso, notável, - salvar os homens da sua má organização da vida; tem fé em ti quando sentires manifestar-se em ti o princípio divino, ou, como dizem os moujikes, "viver em conformidade com Deus". Vivendo assim, farás tudo o que podes fazer em teu próprio benefício e do da humanidade.

Procura o reino de Deus e a sua verdade, e o resto te será dado por acréscimo. 

Tem fé em ti no grave momento em que na tua alma pela primeira vez se acenda a consciência luminosa da tua origem divina. Não apagues essa luz;  pelo contrário, cuida preciosamente dela, até que ela por si se extinga [fisicamente, à hora da morte]. É nesta extensão da luz que reside o único, o grande e o belo sentido de vida de todo o ser humano.»

Realcemos, para concluir, parecer-nos Tolstoi considerar o princípio divino como sabedoria e a vontade de ser bondoso e fazer-se o bem (entre nós emblematizado no talent de bien faire, do Infante D. Henrique e depois de Fernando Pessoa nos seus textos de ressurreição espiritual), e o querermos ser melhores, evoluirmos mas não em competição mas sim em não-violência e amor. E que para tal será preciso vencermos as modas, manipulações e opressões exteriores, sendo fiéis a nós próprios (como muito valorizava Agostinho da Silva), ouvir e seguir a voz da consciência, ou do coração, diremos, e assumir e nutrir a luz tanto da verdade extrínseca como a interior e subtil da identidade espiritual, a de espíritos filhos ou filhas da Divindade, em cuja assunção e vivência apenas se verifica, ao morrermos, a extinção do corpo físico e do cérebro mas não da nossa consciência luminosa, que pelo contrário se vai estender ou expandir...
Sejamos pois jovens eternamente nesta fé ou vontade de avançarmos luminosamente no caminh
o do Bem, da Verdade e do Amor rumo à Fonte Divina, ao Sol Primordial....

Encontro na Luz, de Bõ Yin Râ.

                  

domingo, 19 de setembro de 2021

"A ORAÇÃO", de Bô Yin Râ. 5º cap. (3ª p.), Renovação Espiritual. Tradução por Pedro Teixeira da Mota.

                                           

 «Esta é exactamente a ordem inversa da que se aplica nos nossos deveres na vida exterior, onde é preciso que uma pessoa crie primeiramente uma posição sólida para si mesmo antes de poder tomar a responsabilidade de fundar uma família, - e deve cuidar primeiro da sua família antes que possa ajudar  parentes e amigos, e  por sua vez  terá de não lhes ser mais necessário, antes de procurar ajudar grupos humanos mais longínquos ou pôr as suas forças ao serviço do conjunto da humanidade.

É de uma indizível importância para toda a humanidade que toda a pessoa que aprendeu verdadeiramente a “orar”, “ore” em primeiro lugar  para todos, antes de utilizar igualmente a "oração" para aspectos  mais longínquos ou mais próximos de natureza “privada”, para não mencionar os problemas puramente pessoais para os quais ele queira recorrer à “oração” …

  Pode assim com o decorrer do tempo  chegar uma verdadeira renovação  espiritual de partes crescentes da humanidade  só  pelo efeitos  das orações de poucos  seres!

Mas tal não permanecerá apenas nesses seres individuais, pois a potência de verdadeira oração saberá atingir bem cedo todos os que estão suficientemente maduros e firmes para serem capazes de aprender a “orar”…

Mas certamente não são poucos os que se podem encontrar nos dias de hoje. - -

Os que  ainda carregam os pesos e  dificuldades da Terra não se devem esquecer dos que antes deles atravessaram esta Terra sobrecarregdos dos mesmos pesos e dificuldades.

Não se deve imaginar que eles estão agora livres de qualquer desejo de serem ajudados, ou que estão tão fora do alcance da ajuda humana terrestre, que tal auxílio não lhes poderá ser mais útil.

Ah! – são mesmo muitos os que necessitam urgentemente de ajuda pela  “oração” verdadeira, pois as suas almas encontram-se num plano de evolução anímica que não lhes permite mais impulsionarem activamente o seu destino!...

Quando encontramos num  livro sagrado antigo as palavras: “É um pensamento santo e salutar, orar pelos mortos para que eles se salvem!”, – uma pessoa pode ficar verdadeiramente certa que estas palavras só puderam ser escritas por quem via por detrás do espesso véu que torna impossível, a quem para tal não está preparado,  ver a “terra sem retorno” -

E quando eu peço aqui a cada um, que quer aprender a "orar", de incluir  na sua “oração” verdadeira, na medida em que é capaz, também os que deixaram esta Terra, falo em virtude dos meus “conhecimento” mais certos e de modo algum influenciado por quaisquer ideias do ser humano terrestre acerca da vida depois da morte terrena.

Contudo deve-se pensar aqui também, em orar em primeiro lugar por todos, antes de direcionar as forças da verdadeira “oração” para seres individuais!

Ninguém, todavia, deve preocupar-se, que a sua oração possa ser para certas pessoas inútil,  porque elas já não teriam necessidade de ajuda!

Eu direi aqui apenas, que entre as que qualquer ser vivo  pode conhecer, ou que os seus pais se lembram, não existe uma só alma que não acolha com gratidão ser impulsionada no seu caminho, mesmo quando não pertencem aquelas que essa ajuda da “oração” verdadeira se pode tornar francamente “libertação”.

Mesmo em tal estado anímico, em que a alma se vivencia livre do corpo terrestre e que se costuma designar por “além”, a renovação espiritual, no mesmo sentido em que já usei anteriormente a palavra, é uma constante necessidade, já que consciência terrena continua a ter  efeitos perturbadoras na alma, enquanto ao mesmo tempo vibra  em  vivências novas que tem de aceitar passivamente sem, como outrora na terra, através do corpo físico, poder participar activamente nisso. 

Os poucos, entre os que morreram, e que na sua vida terrestre, eram activos no mundo espiritual, saberão certamente utilizar para os outros a ajuda da verdadeira oração que lhes fosse porventura dirigida…

Cada um pode estar certo de que nada é perdido do que o amor pode enviar “no além” por cima das fronteiras do mundo sensorial físico.

Isto aplica-se em verdade a todo o sentimento impregado de amor, a cada pensamento cheio de amor e por razão mais forte ainda, à ajuda miraculosa que se torna possível pela prática da “oração” verdadeira!

Assim, a verdadeira maneira de “orar” tal como eu ensino neste livro, estende a sua acção não somente sobre a terra, mas ainda bem além deste mundo de fenómenos sensoriais físicos!

A verdadeira “oração” conecta tudo o que é anímico e que carrega consigo a centelha espiritual,  tanto no Cosmos visível como invisível, e gera correntes de forças que, por intermédio das estações adequadas,  que verdadeiramente atingem por fim  o coração do Ser eterno absoluto, para em seguida refluírem de lá, de certo modo “carregadas de graça”, até a quem reza e a todos a quem foi dirigida a sua “oração”…

A verdadeira “oração” deixa recriar-se a “escada celestial” erguendo-a do íntimo do ser humano até ao mais íntimo da vontade do Ser Original, - essa escada celestial que  torna possível às mais elevadas hierarquias do Espírito fazerem descer  a esplendorosa e  eterna  Luz até à vivência mundana do homem da Terra!

A verdadeira “oração” é a mais elevada gorificação do Amor eterno, - a possibilidade oferecida amorosamente de união com a Omnipotência criadora eterna, que gera do Amor primordial   vida  eternamente nova

Assim para o ser humano da terra é apenas a realização do seu dever mais sagrado, quando  se esforça ao máximo por aprender  a “orar” verdadeiramente !

Salvação e bênção surgirão de tais “orações” para ele e para todas as almas e cada vez mais a face da terra através dessas  orações verdadeiras assumirá espiritualmente  uma nova plasmação, em prol dos que virão depois de nós.

Preparadores do futuro são todos aqueles que sabem verdadeiramente orar!-

Eles são os percursores e os desbravadores do caminho do Homem novo, que aspira já com impaciência à existência na Terra mas que só poderá fazer  a sua aparição  quando encontrar a terra preparada para a sua maneira nova de ser Homem.

Para ele  a verdadeira "oração" criará uma Pátria na Terra, - para ele: - o novo ser Humano  que conjuga tudo o que no presente está ainda dividido e dilacerado  porque ele vive agora só do Amor!- - -»


sábado, 18 de setembro de 2021

"A ORAÇÃO", de Bô Yin Râ. 5º cap. (2ª p.), Renovação Espiritual. Tradução por Pedro Teixeira da Mota.

                                           

É praticamente impossível  expor em palavras da linguagem humana a união sem par que existe no homem terrestre entre a "centelha espiritual e a "alma”, ou apenas querer esclarecê-la com o auxílio de imagens e semelhanças.

Se bem que a nossa “alma” seja para nós "o único real", ou seja, a única coisa activa internamente perceptível, ela não é senão um agrupamento orgânico formado e segundo certas leis de harmonias rítmicas, do oceano eterno das forças psíquicas,  o qual tem por assim dizer, como ponto focal de cristalização a “centelha espiritual” mergulhada neste oceano.

A percepção da nossa própria "centelha espiritual" só nos é possível na medida em que “somos almas”, e somente através de forças específicas da alma que, penetrando até ao Espírito puro, podem ser consideradas como os seus “sensores” [fühler].

Tudo de espiritual, que quer atingir a nossa consciência terrena,  tem de fazer o seu caminho através da “centelha espiritual” eterna em nós, onde é recebido pelos "sensores" da alma e é  novamente transmitido da alma por certos "órgãos anímicos" nas nossas membranas cerebrais...

Mas como também todas as impressões ruidosas da vida terrestre exterior fazem ressonâncias na alma através da consciência cerebral, assim o organismo indiscritivelmente subtil da "alma" é constantemente abalado, o que não somente diminui umas vezes mais, outras vezes menos, a sua receptividade para o espiritual, mas em certas ocasiões pode provocar  mesmo mais prolongadamente uma espécie de "paralisia" “da alma”.

Para quem já experimentou este fenómeno, - e poucos serão o que ainda não o experimentaram -, pouco preciso de dizer quanto a como esta "paralisia" da "alma" tem um efeito recíproco sobre a consciência cerebral…

Assim existem continuamente no interior do ser humano  interacções recíprocas e uma higiene da "alma" não tem certamente menos importância que uma higiene do comportamento do corpo terrestre visível e dos seus órgãos.

Nós precisamos constantemente duma “renovação espiritual” no sentido duma renovação da vitalidade anímica, a fim de que a alma  permaneça capaz de receber e transmitir o espiritual, tal como não podemos dispensar a renovação das forças do nosso corpo terrestre se queremos cumprir a existência terrena.

Não existe, contudo, maneira mais eficaz de se alcançar uma renovação espiritual incessante que estar-se continuamente pronto a "orar", - tal como a “oração sem cessar” que dela provém.

Para  quem está sempre pronto a orar, por todo o seu posicionamento na vida interior e exterior: - a sua vida contemplativa e activa, a verdadeira oração é tão necessária à sua existência como a alimentação do seu corpo terrestre, e não tem mais necessidade de qualquer circunstância especial para ser levado a “orar”, se bem que tais ocasiões nunca lhe faltarão.

E não são somente os elos de corrente de ouro de actos de orações, modeladas conscientemente, que conferem bênçãos às suas vidas!

É  a  contínua  vontade de orar deles, que por assim dizer “ora”  por eles, quando os seus deveres diários e diversões tornam impossível  a formação consciente da oração.

Se uma pessoa já alcançou este estado, então é impensável que o dia de trabalho possa começar ou  acabar sem uma verdadeira “oração”.

Todavia, foi dito: - “Quando queres orar, fecha-te no teu quarto!”

 Assim não é de modo algum necessário, - e seria mesmo violar o "pudor da alma", - que a vizinhança de quem reza saiba dos seus actos de oração, a não ser que várias pessoas se encontrem na mesma vontade de orar e um deles procure dar a tal vontade uma expressão verbal.

Mas então têm de ser pessoas nas quais cada uma sabe o que é a verdadeira "oração", e é preciso que cada uma já se tenha, na sua vida,  elevado ao estágio de estar contínuamente pronta a orar, -  senão a oração em grupo tornar-se-á um gesto vazio, ou no melhor dos casos, como no dar-se graças em conjunto à refeição, a adesão a um costume piedoso. É verdade que esta tradição  nasceu de actos colectivos de oração de pessoas que conheciam o segredo da verdadeira oração e que não queriam também deixar de sustentar o corpo terrestre sem “orar”.

À criança devem ser dadas  fórmulas de oração calmas, adaptadas ao seu sentimento e à sua receptividade sem esperar dela uma atitude interior que esteja para além da capacidade concentração das forças da sua alma!

Com todo o cuidado deve-se  introduzir o adolescente na prática da "oração" verdadeira, antes de lhe ser desvendado o modo como tudo se entrelaça espiritualmente.

Assim, quem que já aprendeu  a rezar na prática, só ouvirá em seguida noções já familiares, ao receber todo o ensinamento na sua interdependência.

A expressão verbal que o verdadeiro iniciado na "oração" quer dar a cada acto seu de oração pertence inteiramente a ele só.

Pode, com a mesma eficácia, adoptar fórmulas de orações existentes, que lhe são talvez queridas e familiares desde a sua infância, como pode formular ele próprio as palavras, do amplo fundo dos seus sentimentos, mesmo se na sequência de palavras tal oração não representasse mais que um balbuciar emocionado.

Apesar de em verdade tal balbuciar possa tornar-se uma "oração", não se deve pensar erradamente  que a verdadeira "oração" é mais um “balbuciar” que a formulação duma sequência  de palavras. 

Trata-se aqui dos altos efeitos de leis espirituais e da sua utilização, de modo que a reverência diante da ordem espiritual compele-nos já a esforçar-nos por dar uma forma tão perfeita quanto possível ao acto de orar…

E, elevando-se  ainda muito acima disso, são possíveis sequências de palavras, que ordenadas segundo o valor espiritual dos sons, afectam   indizível e beneficamente a alma, de modo que a oração que as utiliza, eleva-se por assim dizer com uma força duplicada…

Quando uma pessoa pode  “orar” verdadeiramente, pensa saber o que deverá pedir, todavia é necessário  dizer ainda algumas palavras, a fim de não se perpetuar ad infinitum o erro que tantas pessoas cometem e que desconhecendo o mistério da verdadeira “oração”, todavia na seu tipo de devoção pensam  que estão orar de boa fé, tal como a conseguem compreender.

 Para quase todos dos que assim supõe orar, é algo natural em primeiro lugar orarem para o seu próprio bem e para o bem daqueles - como se costuma dizer - que lhes são mais “próximos” na vida terrena…

Sem dúvida foi ouvida a exortação: “Orai por aqueles que vos odeiam e vos perseguem”; e nas igrejas “romanas” reza-se no dia da Gólgota com uma insistência significativa pelos “heréticos”, os judeus e os pagãos, mas não se pensa que do ponto de vista dos que estão despertos espiritualmente os nossos inimigos e os que nos desprezam, do mesmo modo que os homens mais afastados e em quem nunca pusemos os olhos, estão também tão ligados espiritualmente a nós quanto os nossos mais próximos e queridos, ainda que não possamos consagrar o mesmo tipo e o mesmo grau de amor a desconhecidos e a pessoas que nos fizeram muito mal, - e em verdade nenhuma Lei divina “ exige” tal, pois é ela mesma que estabelece e opera esta diversidade.

Mas quem aprendeu realmente a orar deverá consequentemente alargar o seu campo de visão, a fim de orar sobretudo e em primeiro lugar, por todos os que sobre a Terra querem tornar-se Homens, e se esforçam por ser Homem: - que sofrem sob a natureza animal e que procuram domar a natureza animal! – 

Só então é permitido a quem reza pensar em certos grupos de pessoas, - depois nos seus amigos e familiares, - em seguida na sua pequena família, - e em último lugar: - também em si próprio!»


sexta-feira, 17 de setembro de 2021

"A ORAÇÃO", de Bô Yin Râ. 5º cap. Renovação Espiritual. (1ª p.) Tradução por Pedro Teixeira da Mota.

                               RENOVAÇÃO ESPIRITUAL

«Se alguém em si acreditasse que  graças à  “oração” verdadeira toda a humanidade poderia encontrar uma renovação espiritual, ele não teria de modo algum caído em erro.

Mas uma vez que, na Terra, “a humanidade” está constituída simplesmente de um grande número de seres humanos individuais, uma tal renovação só pode partir de uma pessoa, pelo que falaremos aqui somente da pessoa individual em vez de nos perdermos no conjunto, pois desse modo perder-se-ia muito para o indivíduo.

Se uma só pessoa, algures nesta Terra, se encontrar preparada e a querer renovar-se pela  “oração” verdadeira, já muito terá sido ganho para toda a humanidade, pois nós, seres humanos, não estamos isolados uns dos outros no espaço vazio, mas o bem ou o mal que flui através de um, flui  dele ainda mais através de todas as almas humanas mesmo que elas estejam em acção nos mais remotos lugares e possam sabê-lo ou não.

Se  dei, nos capítulos anteriores,  dum modo tão detalhado o que se relaciona com a verdadeira “oração” e em que é que consiste a autêntica "oração", isso aconteceu sobretudo porque muitas pessoas não imaginam nada mais fácil que rezar, - pois muitas pensam que  já  oraram,  quando na sua compreensão imaginativa  têm conversas, numa familiaridade demasiado presunçosa, com uma criatura dos seus sonhos a quem chamam o seu “Deus”, e que aceitam como consolação fácil o efeito recíproco de auto-sugestão produzido nos seus sentimentos. -

Desta pseudo-maneira de orar só pode certamente resultar auto-ilusão e  um sentimento passageiro e falso de exaltação, - nunca a verdadeira renovação espiritual que quem ora tem tanta necessidade .

Todavia, nada seria  mais errado se as pessoas sentissem o mais pequeno desencorajamento face à minha explicação.

É fácil imaginar-se que este ou aquele estaria disposto a dizer:«Se orar verdadeiramente encerra em si todas estas condições prévias, então eu nunca a aprenderei! - Eu desabafarei com o meu Deus, e encontrarei consolação no pensamento que serei ouvido, e talvez mesmo atendido!”

Mas quem  tenha lido o livro até aqui com a mente desperta,  e contudo pode falar assim, em verdade não compreendeu  plenamente as minhas palavras.

Quando eu procurei apresentar os requisitos da verdadeira “oração”,  com base na promessa de “procurar”, “pedir” e “bater”,  foi-me necessário  entrar nos detalhes, para que o leitor não duvidasse mais que a verdadeira “oração” é algo diferente da piedosa recitação de certas fórmulas de oração.

Assim instruído, o leitor com discernimento  rapidamente estará certo em si e saberá o que para ele próprio doravante  se segue.

Compreenderá que só lhe será possível “orar” verdadeiramente quando tiver ocorrido uma reorientação total do pensar,  sentir e agir, do modo a que estejam  preenchidas todas as pré-condições da real "oração" , antes mesmo que ele comece a “orar”.

Agora por causa dos  demasiado receosos, gostaria de salientar aqui  que apesar de ter descrito o que acontece na verdadeira “oração” ,  tudo isso manifesta-se por si mesmo, depois que a vida inteira foi modelada de tal modo que se está sempre pronto a orar. -

Aos que só podem conceber a oração como algo para pessoas abatidas e afligidas, devo dizer que em verdade uma vida pronta para a oração não precisa de renunciar a qualquer alegria nobre, e  pode francamente tornar-se garantida de contínua serenidade, uma constante  felicidade. - -

Quanto à necessidade de "desabafar o seu coração", sentida pelo ser que é levado tal, ela é apenas o sentir particularmente intenso da verdade que ele não é um ser totalmente isolado e reduzido só a ele  no espaço cósmico, - que apesar do seu isolamento cósmico e da fuga da vontade em relação ao Espírito, mantém-se ligado - mesmo que passivamente - à sua pátria original: o reino do Espírito puro e essencial, e que a ajuda que pode vir de lá, tem uma abrangência bem mais vasta que toda a ajuda provinda do mundo sensorial físico das coisas manifestadas espacialmente.

Ele engana-se somente na interpretação do seu sentimento, quando acredita  ser, como se o fosse, um interlocutor pessoal, sem um nível intermediário, face ao Ser Original eterno, e não erra menos quando considera como "oração" esta auto-confissão da sua aflição  diante testemunhas invisíveis, a qual é de facto uma confissão verdadeira, justa e santa…

Uma tal “confissão” cumpre uma necessidade inata da natureza humana e constitui uma obra libertadora da alma, duma importância inestimável na vida, de modo que todo ser humano terrestre, qualquer que seja,  de tempos a tempos deveria confessar-se assim diante dos “sacerdotes” verdadeiros invisíveis, de modo a tornar-se capaz de receber constantemente novas forças do mundo invisível.

Não se deve esperar que a alma seja invadida por uma aflição muito difícil, para recorrer-se a uma tal verdadeira “confissão”, que traz sempre em si mesma a sua eternamente válida “absolvição” .

Só depois duma tal “confissão”, e a consequente libertação da alma graças a ela obtida, se deve pedir, através duma verdadeira “oração”, o que uma pessoa pode “pedir”.

O homem que “ora” então da maneira certa, tal como deve pedir-se, - atingirá verdadeiramente um renovação espiritual, e esta renovação é  necessária sempre que a vida exterior entorpece insensibilizadoramente  os sensores da alma. -

A “renovação espiritual” não reside portanto num renovamento da centelha vital espiritual no ser humano, mas numa renovação da receptividade da alma para todos influxos que, emanando do Reino do Espírito puro, podem e querem atingi-la pelas “antenas” do   núcleo da sua essência espiritual. -»

quinta-feira, 16 de setembro de 2021

"A ORAÇÃO", de Bô Yin Râ. 4º cap. "Batei e abrir-se-vos-á". Tradução por Pedro Teixeira da Mota.

                                    "BATEI E ABRIR-SE-VOS-Á

«Não é por acaso que em seguida, na antiga promessa,  tem lugar a imagem de  “bater à porta"!

Se “procurar” é um mergulhar em si mesmo, para  encontrar no mais íntimo, na profundeza mais funda, - se “pedir" é querer na firme confiança que se “receberá “-  assim é “bater", -  ou seja, bater à porta para obter acesso, é um comportamento activo no exterior, que  confere apoio a um pedido.

Diga-se aos que querem aprender a orar, que eles têm o direito de exigir, de pedir, - por presunçoso que isto possa parecer, - e que só se activa este insigne direito, quando  eles souberem também orar activamente:- quando  os seus actos corresponderem também às condições da verdadeira “oração “…

Esta deve ser a atitude geral em todas as orações - mesmo as que se relacionam com os assuntos da existência exterior.

- Só será ouvido aquele que “bate" verdadeiramente, - que verdadeiramente bate à porta" – aquele que reforça o seu "pedido" correcto, a sua espera, pelo correspondente comportamento activo graças ao qual deixa desenvolver o pedido, o qual será  satisfeito a partir da necessidade.

Quem ora não se deve espantar de não ser ouvido, ainda que o seu “procurar “ e “pedir" brilhem sem reparo aos seus olhos, se não souber ao mesmo tempo “bater" correctamente.

Ainda falta a terceira condição duma oração perfeita.

Talvez ore por coisas que terão de ser mesmo suas, - mas quando a oração conta com ele próprio, quando  é necessário agarrar precisamente essas coisas, não move uma mão.

Talvez quisesse pela sua oração, enviar auxílio a um outro ser humano, para tentar libertá-lo das necessidades materiais, mas está longe de usar os seus próprios meios para tal, ou em tirar partido das circunstâncias que  poderiam trazer  utilidade prática  ao outro…

Pela oração, queria ver-se a si próprio ou outrem livre da doença, mas  esquece-se do médico e não se mexe para procurar uma possibilidade de cura…

Em todos estes e ainda em mil outros casos falta a terceira condição fundamental duma verdadeira “oração”,  expressa na promessa pela imagem de um homem que não se mantém somente diante de porta, e espera, até ser chamado, mas que “bate", a fim de que lhe “seja aberto".

Mesmo naquela espécie de piedosa suplicação do céu, tomada tão comummente por “oração” , os que procuram ajuda erram na maior parte dos casos ao considerarem totalmente supérfluo o “orar" activamente.

Muitos poderiam ser ajudados, se isto não se passasse assim, mesmo que a  concepção deles não saiba o que significa verdadeiramente a oração; mesmo assim, um ou outro deles consegue, confusa e inconscientemente, pelo seu ardor,  “encontrar" e “receber" imperfeitamente.

Mesmo quando o seu “bater" seja também  incorrecto, pode mesmo assim  não resultar em vão a oração tida por normal e assumida de boa fé.

também ainda, entre os que não compreendem o que significa em verdade “orar", um bom número de seres, que por sentimento interior fazem o que é requerido pelas três condições, ainda que pudessem realizar bem mais se conhecessem todo o segredo da verdadeira “oração”.

Todavia, também na promessa o  “bater à porta" correcto,  não se relaciona somente no “orar” por coisas terrestres, mas deve em primeira linha, abrir acesso ao augusto Templo da eternidade, afim de que aí o que procura vivencie com intensidade o mistério do Ser Humano: a sua saída da Luz, e o seu retorno à Luz…

Ninguém pode ganhar entrada no Templo, se não se tiver mostrado antecipadamente apto a “procurar” e a “encontrar”, - se não tiver primeiro aprendido a “pedir" de tal modo que possa “receber".

No “interior" sabe-se, - e também neste caso o interior deve-se procurar unicamente no próprio ser humano -  muito claramente quem é que bate de fora, e não se lhe abrirá a porta antes que ele tenha sabido cumprir as duas outras condições da verdadeira “oração”.

"Bater" significa aqui, modelar activamente a sua vida de maneira a qualificar-se por cada um dos seus actos,  a ser admitido no interior do Templo, e em verdade: “abrir-se-á” a quem bate deste modo porque as condições requeridas foram geradas por ele próprio.

O ser humano no decorrer dos séculos imaginou e procurou os mais estranhos mistérios por detrás de tais palavras “bater” e “abrir” de tal modo que, aqui e acolá, cabeças  vazias ou então demasiado espertas, inventaram os mais abstrusos exercícios que deveriam representar o pretenso “bater”.

Conheço, mesmo nos nossos dias, certas pessoas que conservam consigo, cheios de veneração, como relíquias sagradas, os oráculos de zelotes extraviados, e que são suficientemente modestos para atribuir o fracasso completo dos “exercícios” deste género ao facto  de não os terem realizado correctamente, apesar de seu zelo. Imaginam que o seu hierofante deve ter obtido para si o resultado prometido, senão – sancta simplicitas! - não poderia ter formulado as suas instruções cheias de asneiras.

Há sempre novos crentes para tais aberrações e surgem sempre de novo mistagogos que, ora porque se enganem a si mesmos, ora  porque  não saibam fazer de outro modo os seus lucros,  com gestos cheios de mistério, distribuem ao vento as piores tolices.

  Que tal seja possível, só se pode compreender porque para numerosos seres na demanda o que em realidade lhes é exigido  parece-lhes - demasiado simples e pouco extravagante,  porque a sua vontade de crerem só desperta quando se lhes pede para crerem no absurdo.

A pessoa que quer fazer bem  fica chocada quando vê tais aberrações, e desejaria com todas as forças salvar os enganados, porém toda a vontade de ajuda fica aqui em lugar falso.

Pode-se somente advertir aqueles que não estão ainda perdidos, e chamar pelos seus próprios nomes as coisas de que eles já ouviram falar. Pode-se somente procurar mostrar que a promessa não tem nada a ver com todos esses abstruso “exercícios” que foram nitidamente inventados .

“Bater”, no sentido da promessa, significa “orar” pelos actos e pelas “obras”, e quem não consegue compreender isto esperará em vão que se lhe “abra”…

Todavia não deve cair na falsa ideia de que tal “abertura”,  no sentido da nossa promessa, é uma uma revelação súbita  de insuspeitada glória espiritual,  uma desvendação imediata da mais secreta sabedoria, uma abertura  de todas as portas do Templo e um afastar  instantâneo do véu ocultador que protege o santuário mais sagrado dos olhares não preparados!

O Templo de Eternidade têm também  os seus átrios e o neófito poderá verdadeiramente congratular-se com felicidade quando, - falando metaforicamente -, o seu pé pode pisar  o mais exterior destes pórticos.

Quem chega com grandes ambições, e se julga digno de entrar , senão logo directamente no santuário mais elevado, pelo menos num dos santuários que o ladeiam,  não se deparará com a porta aberta,  de tal modo que só verá os pátios.

Contudo, ninguém é aqui tratado como que “injustamente”!

Nada aqui depende de qualquer arbitrariedade! 

Tudo é ordenado através de uma lei espiritual, e esta lei não é nenhum trabalho planeado, mas um efeito consequente da vida espiritual, imutável como a própria Divindade,   cuja  forma e essência (art und weisen) se revela aos Conhecedores, depois de eles se tornarem “conhecedores” através da sua realização!

Certamente está a Divindade  também no próprio ser humano, - certamente tem o seu templo mais sagrado  nas profundezas do ser humano, - e também sem dúvida “Deus”, qualquer que seja a interpretação dada a esta palavra não é que senão no mais profundo da alma humana que pode ser alcançado e sentido.

Mas a maioria dos humanos não pressente as infinitas extensões que  a sua alma abrange, continuamente vibrando no seu ritmo eterno.

A maioria dos seres não suspeita das distâncias incomensuráveis que separam o seu estado de consciência do Ser consciente de Deus, ainda que “Deus” os encha e que só tenham a sua existência em “Deus”---

Na sua imaginação estão num “ tu cá, tu lá” com Deus, sem tomarem a mínima consciência do sacrilégio que uma tal concepção encerra…

É na verdade difícil de lhes fazer perceber que Deus sem dúvida como vida divina não pode estar mais perto delas , - mas não pode estar mais longe delas como ser divino consciente, - que é necessário erguer nelas uma “escada de Jacob” sobre os degraus da qual as hierarquias espirituais de todos os graus de luz devem antes de mais descer dando-se a mão, para que a consciência humana terrestre possa fazer experiência de entrar conscientemente em comunicação com o ser consciente divino, eterno e inconcebível, sem ter de temer o aniquilamento…

Uma arrogância espiritual estupidamnte orgulhosa pensa que nada se deve interpor entre Deus e o ser humano, - mas a única resposta adequada a esta pretensão é: “Senhor, perdoai-lhes, pois, eles não sabem quão vos injuriam”.

Quem, portanto, quer verdadeiramente que se lhe “abra”, e quando  ousa  “bater” por toda a sua vida, por todos os seus actos e obras terrestres, que  não  espere que “Deus” - qualquer que seja a forma com que possa crer em Deus -, esteja como Ser original eterno à porta para “lhe abrir”.

Quem quer "bater à porta" correctamente, deve antes de mais sentir tanta reverência para com a Divindade que se sentiria feliz para além de todas as medidas, se - numa linguagem metafórica - mesmo o último dos servidores do Templo de Deus o quisesse “abrir” para ele...

Nunca se abrirá de outro modo para quem ora verdadeiramente,  o que só se pode “abrir”  nele próprio!»

quarta-feira, 15 de setembro de 2021

"A ORAÇÃO", de Bô Yin Râ. 3º cap. 3ª p. "Pedi e recebereis". Tradução por Pedro Teixeira da Mota.

«A promessa, de que  quem pede “receberá”, certamente não deve  ser tomada como aplicando-se só às coisas da existência terrestre, e os que virem a promessa apenas pelo ângulo terrestre, devem consciencializar-se que ela pode ser cumprida mesmo quando o que pede recebe algo diferente do que pedira.

No entanto o que está presente neste caso, e que é muito instrutivo quanto ao ensinamento transmitido, é que o que está reservado por toda a eternidade para o ser terrestre, pode ser "recebido" através da correcta oração.

Deve-se fazer uma coisa, mas não negligenciar a outra por causa dela!

Como para o homem da terra são primeiramente os aspectos da sua vida terrestre os mais urgentes e veementes, ele deve certamente recorrer ao poder da “oração” para aligeirar também o seu fardo terrestre ou para socorrer o seu vizinho, mesmo quando toda a possibilidade de ajuda exterior está esgotada desde há muito ou se verificou insuficiente.

Acima de tudo porém a oração é dada ao ser humano  para que ele possa de novo possuir a sua herança eterna - de modo a que ele possa “receber" o que, na linguagem dos denominados "teólogos" se designa com uma palavra muito melindrosa, a chamada Graça. - - 

O que aqui em verdade se quer significar pelos que ainda sabiam do que se tratava, é tudo menos um dom da arbitrariedade!

Até mesmo o Amor Primordial eterno, donde emana tudo o que está em “Ser" e em "Existência", não pode modificar a sua própria "estrutura" - não pode negar por amor a Lei,  assumida pela Sua própria Essência eterna, e pelo contrário tem de ver se estão cumpridas as condições necessárias para poder acolher de novo no seu seio o que se desviara de si. --

Assim é o verdadeiro “pedido" que abre de novo à corrente do Amor eterno a possibilidade de circular através da consciência do ser terrestre.

O "pedido", que não é mendicidade nem vontade de regatear, mas um calmo dom de si na plena certeza  de que não lhe será recusado o receber a corrente do Amor divino, - não pode ser-lhe recusado.

Trata-se de nada mais do que uma Lei espiritual, que é preciso cumprir, antes que os efeitos aconteçam.

Deste modo, tal como o que procura só encontra em si mesmo o que antes em vão procurava no exterior, assim o que pede recebe agora em si mesmo a necessária corrente vital do Amor. - - 

Anteriormente era comparável a um motor eléctrico verificado cuidadosamente em todas as peças e pronto a trabalhar, mas que não está ainda percorrido pela corrente de energia vinda da central eléctrica.

Agora, o contacto está fechado: - o motor é posto em movimento pela corrente, - mas  aguarda pela utilização da sua potência de trabalho, pois a corrente de energia percorre-lo-ia em vão, se não houvesse qualquer possibilidade de fazer uso do seu movimento.

Nesta imagem mostram-se de igual modo os três requerimentos da verdadeira “oração“.

Procurar" e “encontrar" é comparável à verificação técnica do motor, até às suas partes mais internas.

Pedir" e “receber" reconhecem-se no estabelecimento do contacto e na passagem da corrente eléctrica.

Já o “bater" e “abrir" podem ser correctamente assimiladas por um lado à conexão do motor com a máquina que ele  accionará, e por outro lado à actividade que será assim produzida.

Todavia esta analogia, tomada do âmbito da técnica dos nossos dias, não pretende ser em caso algum mais do que uma indicação que poderá talvez apoiar as minhas palavras.

Quem não tem necessidade desta indicação ou que se sente incomodado por eu não ter hesitado em inserir aqui uma comparação de vida diária, pode calmamente deixar desapercebido o que contudo eu desejei manter incluído na minha narrativa!

Creio ter assim lançado a ponte da segunda para a terceira condição duma verdadeira “oração”, e espero que todos aqueles a quem falo aqui me sigam mais para a frente sobre esta ponte.» 

Fim do 3º capítulo do livro Das GebetA Oração, publicada em 1921, por Bô Yin Râ (1876-1943), artista e mestre espiritual bem valioso e verdadeiro, o que é raro, em baixo numa fotografia.