sábado, 12 de dezembro de 2020

Sa'adi, e a sabedoria do Irão. "Gulistão", 11ª história. Não sejas básico e medita antes...

Mais uma história muito actual do nosso grande viajante e sábio observador Sa'adi (1210-1292, Shiraz, Irão), sobre a responsabilização dos actos e seus resultados, pois correndo-nos mal alguma situação em que nos envolvemos com um terceiro,  frequentemente não será fácil depois chamá-lo à responsabilidade do que aconteceu, ainda que tal nos pareça justo.                                                                         Um caso actual flagrante disso é a isenção de responsabilidade que alguns fabricantes de vacinas, mais conscientes do atabalhoado produto que estão a oferecer, ou a impôr por vias indirectas e por vezes corruptas, aos cidadãos, têm conseguido obter de Governos e grande organizações. Maior transparência dos ingredientes e maior verificação dos efeitos é fundamental...                                           Para que não sejamos como burros a ser tratado por como tal, pensemos muito bem antes de acreditares que tal negócio da China, método ou vacina vai ser a nossa salvação, pois podemos depois arrepender-nos e ninguém nos ressarcir ou restituir ao nosso estado original...
Oiçamos então o nosso notável mestre persa Sa'adi, e a sua sabedoria perene oriental e universal...

«Um homem que não pensava muito e que estava com os olhos a doer foi ter com um ferreiro conhecido para que o tratasse. Este derramou nos seus olhos o que ele costumava aplicar nos quadrúpedes mas de tal modo que o homem ficou praticamente cego e logo decidiu apresentar uma queixa ao juiz, o qual, contudo, escusou-se a punir o ferreiro, dizendo: “Se este homem não fosse um burro, ele não teria ido ao ferreiro.”                                                                                                                 O moral desta história é que saibas que quem quer que confia numa pessoa inexperiente ou pouco séria sobre um assunto importante e depois se arrepende é considerado pelas pessoas sábias como sofrendo de frivolidade mental.

Um homem sagaz e iluminado não dará
A uma pessoa básica assuntos importantes para tratar.

Quem está empregado na tecelagem de colchões
Não está preparado para tecer logo seda.»

Saibamos discernir tanto as nossas capacidades como as dos outros e não nos deixamos iludir pelas banhas da cobra ou negociatas da china, ou curas e iluminações rápidas que tantos apregoam, antes cogitemos e meditemos até estarmos mais próximos ou integrados com a verdade do subcampo unificado de energia informação consciência em causa, pois há muita manipulação e desinformação de factos e intenções.  Vigia, dialoga, ora, medita!

                                                     

sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

Sa'adi, e a sabedoria do Irão. "Gulistão", 10ª história. As amizades e os merecimentos imortalizam-nos.

De Sa'adi, do seu Jardim da Rosas, Gulistan, mais uma história, esta bem pequena: «Encontrei um homem no deserto que estava a falar assim para o seu rapaz:

”- Ó filho, no dia em que ressuscitares para o mundo espiritual perguntar-te-ão o que é que tu realizaste vitoriosamente e não de quem é que tu descendes, isto é, interrogar-te-ão acerca dos teus merecimentos e não dos teus ascendentes ou como foi o
teu pai.” 

A cobertura da Ka’bah que é beijada
Não foi enobrecida pelo bicho da seda.

Ele esteve uns dias na companhia de um homem sábio,
Pelo que se tornou uma pessoa respeitável como ele. »

Esta história, e seus dois dísticos, bem pequena mas desafiante, lembra-nos que devemos agir enquanto estamos sob a luz do sol e com o corpo físico vivo, se queremos conquistar a imortalidade da alma e a ligação a Deus, isto é também, a possibilidade de entramos conscientes nos mundos espirituais e com luz e amor, derivadas dos nossos trabalhos ou merecimentos na terra física.                                                     Lembra-nos ainda Sa'adi que os objectos, os ritos, os ícones valem pelo que as pessoas lhes transmitem e pelo que eles dos  mundos espirituais, ou mesmo do Divino,  passam para nós de energias e inspirações salutíferas e luminosas.                              E, por fim, que a companhia de gente luminosa é fundamental. satsanga, companhia da verdade, na Índia dos yogis, ou as tariqas, as associações espirituais fraternas sufis, são exemplos de grupos, em que uns dias ou umas horas com um sábio ou mestres podem ser  suficientes para acordarem, intensificarem, transformarem uma pessoa.                               Nestes tempos de crise grande, saibamos associar-nos, pelos melhores meios possíveis, com os seres de luz e amor e para o bem da Humanidade e do planeta Gaia...

quinta-feira, 10 de dezembro de 2020

Sa'adi, e a sabedoria do Irão. "Gulistão", 9ª história. Quando os animais falavam: o corvo e o papagaio.

 
                                                                      
Um papagaio, tendo sido aprisionado numa gaiola com um corvo, sentiu-se vexado pela vista dele e exclamou assim: “Que aspecto tão feio tem este. Que figura odiosa. Que coisa amaldiçoada, com hábitos tão rudes! Ó corvo da separação, como desejaria que a distância entre o Oriente e o Ocidente estivesse entre nós.” 

Para quem quer que te veja quando se levanta de manhã,
A alvorada de um dia seguro torna-se um entardecer.
Só uma pessoa de mau augúrio como tu é que te deve fazer companhia,
Mas onde é que no mundo inteiro há alguém como tu?

O que é mais bizarro ainda é que o corvo estava igualmente desanimado  pela proximidade do papagaio e, desgostoso, berrava La hual e lamentava as vicissitudes do tempo. Esfregando as garras da tristeza uma contra a outra, clamava: “Que má sorte é esta? Que destino tão baixo e que tempo tão de cameleão é este, quando eu estava de acordo com a minha dignidade a pavonear-me num jardim murado na companhia de outro corvo. 
                                                                                                  É  já um emprisionamento suficiente para um devoto estar no mesmo estábulo com desregrados. Que pecado cometi eu  nesta vida, para ter já caído, como  punição,  nas limitações desta calamidade que é a companhia de tão convencido, incoerente e destravado tolo?”

Ninguém aproximará o seu pé do muro
Sobre o qual pintarem o teu retrato,
Pois se o teu local fosse o Paraíso,
Os outros escolheriam o Inferno.

Eu acrescentarei ainda a seguinte  parábola para que saibas que não importa quanto um homem sábio possa não gostar de um ignorante pois este último há-de igualmente  de o detestar:

Um homem devotado a Deus (zahid) viu-se no meio de depravados,
e eis que um deles, uma bela mulher de Bhalki, lhe disse:
Se estás cansado de nós não o sintas amargamente
Pois és tu próprio o mais amargo entre nós.”

Uma assembleia juntara-se como rosas e tulipas!
Tu és como uma madeira seca a crescer no meio,
Ou como um vento contrário e uma geada desagradável, 
Ou como neve inerte ou gelo preso firmemente. »

Breve comentário: Nestas histórias, parábolas e poemas Sa'adi estimula-nos a reconhecermos que ninguém é perfeito, que não podemos agradar a todos e que  é melhor aceitarmos  os outros tal como eles são, sobretudo se estamos na sua companhia, para não sermos quem azeda a refeição comum que é cada encontro ou convívio de pessoas. Daí que se recomende sabiamente juntar-nos de preferência com os que têm mais afinidades connosco, pois podemos estimular-nos nas criatividades, descobertas e realizações. É a famosa satsanga indiana, a companhia da verdade, ou ainda seres que se reúnem verdadeiramente pelo amor com que aspiram ao conhecimento e pelo amor e unidade que entre si sentem, comunicam e comungam.
Para que estejamos mais em amor e sabedoria e possa crescer a nossa ligação e consciência espiritual e divina...

quarta-feira, 9 de dezembro de 2020

Sa'adi, e a sabedoria perene do Irão. "Gulistão", 7ª e 8ª histórias. Da palavra e da voz justa.

                            Nour

Entremos em mais algumas das histórias do Jardim das Rosas, de Sa'adi, aqui representado numa iluminura no seu jardim de rosas...

 «Um pregador imaginava que a sua miserável voz era agradável e erguia berros de tal modo desnecessários que tu dirias que o corvo da separação se tinha tornado a tonalidade do seu canto. Até este verso –  "a mais detestável das vozes é certamente a voz dos burros" – parece aplicar-se a ele, tal como também lhe diz respeito este dito:

Quando o pregador Abu –al- Fares zurra
Mesmo ao pedir a Deus dará  saltos.

Devido à posição religiosa que ele ocupava os habitantes da povoação submeteram-se à provação e não pensaram que fosse adequado criticarem-no.   Todavia, com o decorrer do tempo, outro pregador daquela região, e que mantinha uma inimizade secreta contra ele, chegou numa visita e disse-lhe: “Tive um sonho contigo, possa ele terminar bem!” - "O que sonhaste? “ - "Sonhei que a tua voz se tornara muito agradável e que as pessoas se sentiam  bem nos teus sermões”. O pregador reflectiu um pouco  sobre tais palavras e disse-lhe: “Tu sonhaste um sonho abençoador porque me tornaste consciente do meu defeito. Fiquei a saber que tenho uma voz desagradável e que as pessoas sentem desagradável a minha recitação em voz alta. De acordo com isto, determinei de que a partir de hoje não me dirigirei mais a elas sem ser numa voz controlada.”

Não gosto da companhia dos amigos
A quem as minhas qualidades más parecem boas.
Eles fantasiam que as minhas faltas são virtudes e perfeição.
E os meus espinhos consideram serem rosa e jasmim.

Responde-me: - Onde está o ousado e veloz inimigo
Que me torne consciente dos meus defeitos?
Aquele a quem as faltas ou defeitos não são ditas,
Ignorantemente imagina que eles são virtudes…. 

História:    «Um homem com uma voz desagradável estava a realizar a leitura do Corão, quando um homem piedoso passou ao lado e perguntou-lhe quanto é que ele auferia de salário mensal. Ele replicou: “Nada”. Ele interrogou-o ainda: “Então porque é que assumes esse trabalho?” Ele respondeu: “Estou a ler por causa de Deus”. Ele pediu-lhe então: “Pelo amor de Deus, não leias mais.”

Se leres assim o Corão,
Privarás a religião da sua glória. »

Nestas histórias Sa'adi lembra-nos que no caminho real da vida devemos saber ouvir quem nos critica, não se reagindo logo fortemente. É mais sábio meditarmos ou dormirmos, antes de replicamos. Podemos aprender seja por advertências nos sonhos ou sinais seja através de críticas que não nos sendo agradáveis podem ter ou têm algo de verdadeiro. Como que Sa'adi  nos diz: - Sabe usar o dom da tua palavra, ou da tua escrita, com muita conta, peso e medida, ou seja, com o máximo de harmonia e de amor. E atenção aos efeitos que vais ter nos outros, pois não basta a tua intencionalidade, pois de boas intenções está o inferno cheio. Inferno que podemos criar nos outros sem que eles o mereçam, sobretudo quando estás a falar de religiosidade ou de orações. Saibamos então ser sempre pupilos humildes da Palavra, Logos e Primordialidade Divina e dos seus verdadeiros mestres e sábios...

terça-feira, 8 de dezembro de 2020

Sa'adi, e a sabedoria perene do Irão. "Gulistão", 6ª história. Vive o presente sintonizando o futuro.

Na história que vamos ouvir, Sa'adi relembra-nos que devemos ter uma consciência não apenas do presente, mas também do passado e do futuro, para que assim possamos ter uma vivência mais harmoniosa e frutífera na peregrinação terrena. Do passado, pelos que nos ensinam e nos trazem e entregam a história e a sabedoria dos séculos. Do futuro, pelas considerações que fizermos a partir do que eles nos dizem e nós lemos e vivenciamos, pois não há separação temporal rígida e o agora está sempre a passar. Por isso  alguns até tentaram cravar com uma espada esse momento sempre evanescente e clamaram Hic et nunc, aqui e agora, e com razão quando por esse meio se procura uma intensificação heróica, criativa e vencedora, de dar tudo por tudo.

No fundo, esta narrativa muito rica de expressões psico-físicas persas invulgares entre nós aconselha-nos a viver equilibradamente,  se queremos verdadeiramente chegar ao fim da vida terrena em boas condições materiais, corporais, psíquicas e espirituais.

Oiçamos então Sa'adi Shirazi, isto é, natural da bela cidade de Shiraz, onde nasceu (1210) e morreu já de idade bem avançada (1292) após ter muito viajado e vivenciado, reflectido e dialogado, meditado e escrito, e amado...

 «O filho de um homem piedoso, herdando uma fortuna enorme deixada por uns tios, mergulhou imediatamente na dissipação e libertinagem, tornando-se um perdulário e, para resumir, não houve transgressão alguma odiosa por perpetrar nem intoxicante por provar. Eu aconselhei-o porém, dizendo-lhe: “Meu filho, o rendimento é uma água em movimento e a despesa um moinho a rodar; isto é, só quem tem um rendimento fixo é que pode entregar-se a despesas muito abundantes.”

Se não tens um rendimento, gasta frugalmente

Porque os marinheiros cantam esta canção:

Se não houver chuva nas montanhas,

O leito do rio Tigre secará num ano.


“- Segue a sabedoria e a decência, abandona os espectáculos e o jogo pois a tua riqueza ficará exausta e depois  cairás em problemas e arrepender-te-ás”. O jovem foi porém impedido, pelas delícias da música e da bebida, de aceitar o meu conselho, considerando-o mesmo desacertado, dizendo que era contrário à opinião das pessoas inteligentes alguém amargar a tranquilidade do presente com preocupações do futuro.

Porque é que os possuidores de sorte e prazeres

Hão-de suportar a tristeza pelo medo de apreensões.

Vai, sê alegre, meu amigo de coração alegre

A dor do amanhã não deve ser tragada já hoje.

 Como poderia eu calar-me, eu que ocupo o mais alto assento da liberalidade, tendo dado o nó da generosidade e de cuja beneficiência a fama se tinha tornado o tema da conversa geral?

Aquele que se tornou conhecido pela sua liberalidade e generosidade

Não deve pôr um cadeado sobre os seus dinheiros.

Quando o nome de uma pessoa boa se espalhou por uma localidade

A porta não pode ser doseada contra a bondade da pessoa.

Quando percebi que ele não aceitara o meu aviso e que o meu hálito quente não estava a ter efeito sobre o seu ferro frio, deixei de o advertir e retirei a minha face da sua companhia, agindo de acordo com os filósofos, que disseram: “Transmite-lhes o que tu tens e, se eles não o receberem, não é tua a falta.”

Apesar de saberes que não serás escutado, diz

O que possas saber de bons conselhos e avisos.

Pode ser que brevemente contemples um infeliz companheiro

Com os seus dois pés a caírem no cativeiro,

Batendo as suas mãos juntas, e dizendo:”Infelizmente,

Eu não acolhi o conselho de um sábio”.

 Algum tempo depois vi realizadas as consequências que eu previra do seu comportamento dissoluto. Quando o vi a cozer remendo sobre remendo e a recolher migalha sobre migalha, o meu coração sentiu piedade pela sua condição empobrecida, mas como não considero humano coçar as feridas internas com reprimendas ou derramar sal sobre elas, de acordo com isso, disse-me apenas a mim próprio:

Um indivíduo tolo nos píncaros da sua intoxicação

Não se preocupa com o dia que há-de vir de aflição.

À árvore que deixa cair a sua folhagem na Primavera

Certamente não lhe restarão folhas no Inverno.»

 

Saibamos trabalhar e viver, como nos recomenda Sa'adi, pela frutificação espiritual perene, e divina até... 

segunda-feira, 7 de dezembro de 2020

Sa'adi, e a sabedoria do Irão. "Gulistão", 5ª história. Apressa-te gentilmente, ou "Festina lenta".

Nesta breve história Sa'adi leva-nos a viajar numa caravana que se estende na travessia do deserto, com uns mais apressados e outros mais lentos, todos procurando chegar às zonas mais apropriadas para descansar, de preferência algum oásis, com água fresca e palmeiras, e por fim chegar à casa ou Meca do destino da viajem. 
Lembra-nos então Sa'adi que a corrida contra o tempo em que muita gente se deixa levar pode ser contraproducente, pois podemos desgastar-nos demasiado e não estaremos prontos depois para os momentos decisivos. 
Ou ainda podemos no fundo perder o desfrutar e aprender durante a peregrinação, só com a pressa de se chegar à finalização da obra, trabalho ou viagem.
 O preceito grego antigo,
Speûde bradéōs, "Apressa-te lentamente", latinizado como Festina lenta e amplamente desenvolvido por Erasmo de Roterdão nos seus Adágios, tanto mais que o seu grande amigo Aldo Manutio, usava tal dito como a letra da marca ou empresa da sua famosa tipografia, a aldina, na Veneza do começo do Humanismo, diz-nos o mesmo que Sa'adi: o golfinho rápido (e em nós a mente veloz) sabe também enlaçar-se quando é a altura certa na âncora que o prende, limita e poupa, ou mesmo tem ou assume essa conta e peso em si, como discernimento e controle do que diz, pensa, faz, se movimenta. Para assim estar mais integrado no fluir certo da vida, que é o Tao dos Chineses ou o Dharma dos indianos...
Há aqui também algo do símbolo da Rosa e da Cruz, fazer desabrochar da gravidade e matéria a beleza e o movimento e a elevação apropriada e transformadora.
Sabermos prosseguir os objectivos maiores espirituais da vida, bem como os criativos, os familiares e os profissionais de modo harmonioso é então uma grande arte, que deve ser prosseguida e trilhada, mais do que com rapidez ou lentidão, com harmonia, gentileza e calma.
Oiçamos então a história de Sa'adi: «Um dia, na irreflexão convencida da juventude, eu viajara dando tudo por tudo e chegara ao anoitecer completamente exausto à base da encosta de uma montanha. Um ancião já frágil, que viera atrás da caravana, chegou e perguntou-me porque é que eu estava a dormir, não sendo aquele o lugar mais apropriado para isso. Eu repliquei: “Como é que eu posso caminhar mais, se perdi o uso dos meus pés?”                                                                               Ele respondeu-me então: “Não ouviste dizer que é melhor caminhar calmamente e parar aqui e acolá do que correr e ficar-se exausto?”

Ó tu que desejas chegar ao fim da viagem, 

Toma o meu conselho e aprende a paciência. 


Um cavalo árabe galopa duas vezes uma corrida,

Um camelo move-se gentilmente noite e dia.»

                   Saibamos mover-nos mais com o coração aberto e a plena consciência....

domingo, 6 de dezembro de 2020

Sa'adi, e a sabedoria do Irão. "Gulistão", 4ª história. Cultivar as amizades puras...

                                      

Nesta história do seu Gulistan, Sa'adi (1210-1292) valoriza diante de nós os comportamentos invulgares, quase ingénuos, de abnegação e de amor ao Amor, e põe-nos de ainda de sobreaviso quanto à necessidade de sabermos discernir bem as pessoas amigas, para que não sejamos nem enganados nem mal influenciados. Ou ainda, que saibamos associar-nos às pessoas mais puras, ou seja, de coração mais no caminho de abertura à realização espiritual e presença divina e à vida justa, harmoniosa e em boas sinergias. Oiçamo-lo então:   «Um ladrão fez uma visita à casa de um homem espiritual, mas apesar de ter procurado com grande afã não encontrou nada e lamentou-se em voz alta. O homem piedoso, ao dar-se conta do que se passava, atirou logo o cobertor que o cobrira no sono para o caminho do ladrão para que este não se fosse frustrado.

«Ouvi dizer que os homens no caminho de Deus
Não perturbam os corações dos inimigos.

Como podes tu obter tal dignidade
Quando discutes e fazes guerra a amigos?

A amizade das pessoas puras, quer na tua presença ou ausência, não é como a daquele que encontra defeitos por detrás das tuas costas mas que está pronto para morrer por ti diante da tua face. 

 Na tua presença, gentil como um cordeiro,
Na tua ausência, como um lobo devorador.

Aquele que te trás e conta as faltas dos outros,
Certamente levará as tuas faltas aos outros.»

Saibamos  então ver e valorizar as melhores potencialidades e criatividades dos que nos rodeiam, ou mais sentimos ou gostamos, não demos atenção aos maldosos, para que tanto a humanidade como o nosso grupo de almas vibratoriamente próximas ou afins evolua e intensifique a sabedoria e o amor perenes, tão poetizados e filosofados por Saadi, Hafiz, Sohrawardi e outros luminosos mestres da tradição persa ou iraniana...