segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Sintra mágica, com suas casas e monumentos, jardins, pedras e Espíritos da Natureza, 29/2/2016.

 Uma ida a Sintra é sempre mágica, pois nunca sabemos onde vamos sentir mais as energias ou mesmo espíritos da Natureza, nem como está vestida a Nossa Dama Natureza.
Hoje tive de ir ao dentista, diga-se de passagem, certamente um dos melhores e mais espirituais da nossa nação, o Octávio Veiga Santos, com quem dialoguei ainda sobre o caminho espiritual, os pseudo-gurus e as verdadeiras características da iluminação...
A saída do seu consultório veio o primeiro aroma e beijo da Natureza pelas Frésias, as primeiras do ano vistas, tocadas e apreciadas...



Depois o mergulho no jardim natural e não podado, pleno de matizes verdes e conúbios de árvores e arbustos, aves e insectos...

Pinheiro manso que nos dizes que a costa oceânica não está longe..
A casa do casal Jones, em que a Adriana é livreira e ecologista e o filho Vitor cantor, desfruta duma proximidade maravilhosa com o palácio e a serra, sempre verdejante e fresca.
A mulher é tanto a Natureza como o Jardim, tanto o ventre aquático do Futuro como o fogo do Amor do Presente...
Vem, adentra-te, caminha em comunhão viva com o que te rodeia...
Gritos perfumados de Jasmid, o Jasmim Persa, que outrora possuía a taça do santo Graal, a taça de Jasmid, Jam-e-Jam, e que agora no seu perfume respirado ainda nos encanta e eleva
Ervas medicinais, os remédios mais cordiais...
Serra de Sintra, com seus segredos oculta ergue-nos em planos sucessivos, desde a voz do canavial até à musica das esferas azuladas...
Minha alma, como uma flauta ao vento do Espírito, cantou os hinos do Amor e da Paz

O Sol que se escondia e a árvore que sorria...
O palácio encantado, já vindo dos mouros e passando por templários e reis, e que tem tanto para contar, tantos momentos de amor e de brilho para nos fortificar.
Agulhas que captam e que irradiam, assim deveríamos ser nós todos em harmonioso concerto de nações e povos. se não houvesse o capitalismo feroz e os imperialismos opressivos. Pax! Lux!
Sol que se oculta mas deixa a sua aura multicolorida, lembrando-nos que somos seres dotados de corpos espirituais maravilhosos e não apenas o físico tão manipulado por uma agricultura agro-quimíca e toda uma sociedade de alienação e massificação consumista baixa..
Ah, a liberdade das árvores não podadas, beijadas pelas brisas do mar ou as neblinas do Olimpo sintrense...

Para ti, Para Ti, nosso Amor, gratidão e beleza..
                         Água que corres humilde e eterna, leva as minhas desilusões e refresca-me

Folhas em formas subtis que dialogam e que nos despem e atraiem ao curso rápido do riacho
Gate, Gate, Paragate, Parasangate, Bodhi Svaha...
Vai, vai, para além do ego e das limitações, atravessa a margem, brilha, sê.

Passadas as águas purificadoras da cegueira e da surdez podemos encontrar este plátano, povoado de duendes e de espíritos da Natureza que nos surgem em faces...
Sou um duende bem antigo...

Uma árvore Kami que bem merecia ser abraçada...

    Os chorões crescem junto a um curso de água que escorre da montanha e gostam de pentear e acariciar as mouras e bruxas do palácio da vila e seus jardins. Mas não é fácil vê-las...

Nas faldas da montanha sagrada, no parque da Liberdade há ainda alguns monólitos graníticos que tem alma e seres subtis. Gostam de subitamente emergirem do mundo eterico e tornarem-se visíveis nos contornos das pedras ou dos seus cortes, em geral como faces sorridentes, mas também meditativas, firmes, extáticas, sonhadoras, amorosas...

Este pataru socializou e mostrou alguma apetecência de humanidade, ou pelo menos de diálogo com ela...
Tcheis, tcheis...
Musicas de amor primaveril já brotando de mansinho...
Ser poderoso que te ocultas, nós te saudamos e invocamos e comungamos
Diálogos subtis nos mundos superiores e que exigem meditações mais prolongadas para nos inspirarem...
Um granito algo búdico...
Faces que subitamente emergem e comunicam o puer eternus...
Bem expressiva
Seio, monte ou vulcão, assim cada ser contem em si toda a Natureza..
Pedras altares abundam muito e todos nós as podemos consagrar e apreciar...


Janelas que queremos abrir na alma, e elevar a consciência
Nos eixos do mundo há sempre almas que trepam por eles
Horizontes de luz distantes...
As humildes e ferruginosas urtigas oferecem-se
Japoneiras dos jardins nipónicos e de Gagos que por Sintra incarnastes, desabrochai o vosso amor no nosso coração e uni-nos com Deus...
Um ramo de verdura para o pato ou pata, que será apreciado e subitamente levado
Caminhos inesperados, sonhos ou visões, "ichi go ichi e" nipónico, sabemos receber o imprevisível ou gerar a disponibilidade grata...
Sabermos controlar os apetites, sabermos levar connosco as memórias e cultivar os melhores momentos, eis uma arte que mesmo a pataria trilha
Da Mulher Árvore e Amante, pelo mestre Anjos Teixeira
Da Mulher Mãe e ensinante
Quando o mito vela a visão da alma e só ficam os símbolos
Água pura repetidamente bebida, e depois cantada e por fim, por ela, a face lavada, Sintra Mourisca, Noras e Fontes vivas da Água eterna do ardente Amor
O Espírito bem poderoso desta árvore espreita-nos...
Saudações com muito Amor aos Espíritos da Natureza!
Aspiração, benção e irradiação ou a comunicação subtil entre a terra e o céu, a Humanidade e a Divindade, para que a maravilha da Unidade se desvende e nos harmonize mais...
Que as bênçãos dos Anjos e do Arcanjo de Portugal, e dos antigos cavaleiros e fiéis do Amor, sejam acolhidas por todos os seres e ardentemente cultivadas...

sábado, 20 de fevereiro de 2016

Antero de Quental e o soneto "O Inconsciente", comentado. Com ilustração de Maria Keil.

José Régio (1901-1969), notável poeta e escritor, da geração da revista Presença, seleccionou para a editora Artis, em 1966, trinta e um sonetos de Antero de Quental, pedindo ainda a quatro amigos artistas que ilustrassem um à escolha, considerando-os como os mais belos, tal como outras almas já tinham realizado, embora indigitando outros  sonetos. Não está ainda contabilizado, seja nos registos de selecções e antologias, seja na expressão escrita e testemunhal dos preferidos e menos ainda no interior dos seres que os leram, gostaram e acolheram, quais eram mesmo os melhores sonetos.
Talvez nestes nossos dias se deva fazer um novo inquérito e valorização, mas para já aceitemos a escolha de José Régio e, seleccionando um, dos ilustrados, por Maria Keil, O Inconsciente, comentemo-lo ao de leve e na intenção de maior Luz Divina em Antero de Quental e em nós...
Um poema de certo modo trágico, pois Antero de Quental identifica a sombra ou fantasma, guardião do umbral ou inconsciente que vê dentro de si, e que deve ser interrogado e vencido, como sendo Deus, quando ele é apenas a sombra da Divindade, provinda do Deus do Antigo Testamento e que fica como um fantasma opressivo em quem não  invoca,  medita,  conhece e ama a verdadeira Divindade ou Deus.
Dessa falta de trabalho de ligação superior com a Divindade e portanto do seu estado gnóstico mais limitado, obscurecido e ignorante resulta a sua projecção ou criação poética de um Deus fantasma que nem sabe quem é ou como se chama...
Certamente que há que contextualizar esta criatividade de Antero seja como simples poesia seja como uma reacção natural ao Deus do Antigo Testamento que embora se chamando "Eu sou aquele que é", IHVH, era tão violento e opressivo que de certo modo Antero o vê ou torna um espectro semi-ignorante projectado pelos seres humanos.
Será que ele quis reduzir esse Deus a um mero fantasma ou espectro familiar, ou para ele esse Deus da religião católica em que fora educado era apenas um fantasma, desconhecendo-se a si próprio, quase que como Jeová tivesse sido criado apenas pela imaginação humana mitificante ou, como ele e "Deus" caracterizam, vã?
De realçar, algo menos coerentemente com a sua constante valorização da voz da Consciência, Antero começar aparentemente de modo socrático, pois de certo modo apresenta o espectro na linha do daimon ou génio interior de Sócrates, que anda consigo e que ele tanto receia como ama, e acabar no fim por o desvendar como um fantasma, um ser ilusório e não auto-conhecedor de si mesmo...
Estará Antero a reflectir algumas posições filosóficas então em moda e que caracterizavam o Absoluto ou o Divino como Inconsciente, ou está antes a reconhecer que uma certa forma de consciência moral, ou voz da Consciência, derivada da religião católica e do Deus Jehova e seus mandamentos, pode ser ilusória e incorrecta, por exemplo aguçando remorsos e problemas de consciência em casos insignificantes?
É bem natural, e poderá tal  comentário ter sido feito por  algum anteriano, mas talvez o mais importante a termos em conta desta incursão de Antero de Quental no Divino e até, de alguns modos mas não nos melhores, no daimon, ou nosso génio-anjo, é a necessidade de tentarmos despertar e assimilar mais a nossa auto-consciência de sermos um espírito ou centelha de origem divina, e não só para uma  identidade e vivência terrena mais luminosa mas para que após a morte não sejamos apenas fantasmas ou seres semi-adormecidos no tal umbral que faz fronteira com os mundos mais subtis.
Quanto à Divindade, esqueçamos, ou aprofundamos, os ensinamentos exteriores de tantas Escrituras,  meditando-a e invocando-a mais dentro de nós, e pela união do coração e da cabeça, e numa vida esperançosa e generosa, de trabalho e meditação, amor e sabedoria...
Em 30 de Maio de 2023 escrevi no blogue  outro texto sobre o soneto Inconsciente, só vindo a reler este no fim de o ter escrito, para assim se erguerem, e logo complementarem, mais integralmente.