José Régio (1901-1969), notável poeta e escritor, da geração da revista Presença, seleccionou para a editora Artis, em 1966, trinta e um sonetos de Antero de Quental, pedindo ainda a quatro amigos artistas que ilustrassem um à escolha, considerando-os como os mais belos, tal como outras almas já tinham realizado, embora indigitando outros sonetos. Não está ainda contabilizado, seja nos registos de selecções e antologias, seja na expressão escrita e testemunhal dos preferidos e menos ainda no interior dos seres que os leram, gostaram e acolheram, quais eram mesmo os melhores sonetos.
Talvez nestes nossos dias se deva fazer um novo inquérito e valorização, mas para já aceitemos a escolha de José Régio e, seleccionando um, dos ilustrados, por Maria Keil, O Inconsciente, comentemo-lo ao de leve e na intenção de maior Luz Divina em Antero de Quental e em nós...
Talvez nestes nossos dias se deva fazer um novo inquérito e valorização, mas para já aceitemos a escolha de José Régio e, seleccionando um, dos ilustrados, por Maria Keil, O Inconsciente, comentemo-lo ao de leve e na intenção de maior Luz Divina em Antero de Quental e em nós...
Um poema de certo modo trágico, pois Antero de Quental identifica a sombra ou fantasma, guardião do umbral ou inconsciente que vê dentro de si, e que deve ser interrogado e vencido, como sendo Deus, quando ele é apenas a sombra da Divindade, provinda do Deus do Antigo Testamento e que fica como um fantasma opressivo em quem não invoca, medita, conhece e ama a verdadeira Divindade ou Deus.
Dessa falta de trabalho de ligação superior com a Divindade e portanto do seu estado gnóstico mais limitado, obscurecido e ignorante resulta a sua projecção ou criação poética de um Deus fantasma que nem sabe quem é ou como se chama...
Certamente que há que contextualizar esta criatividade de Antero seja como simples poesia seja como uma reacção natural ao Deus do Antigo Testamento que embora se chamando "Eu sou aquele que é", IHVH, era tão violento e opressivo que de certo modo Antero o vê ou torna um espectro semi-ignorante projectado pelos seres humanos.
Será que ele quis reduzir esse Deus a um mero fantasma ou espectro familiar, ou para ele esse Deus da religião católica em que fora educado era apenas um fantasma, desconhecendo-se a si próprio, quase que como Jeová tivesse sido criado apenas pela imaginação humana mitificante ou, como ele e "Deus" caracterizam, vã?
De realçar, algo menos coerentemente com a sua constante valorização da voz da Consciência, Antero começar aparentemente de modo socrático, pois de certo modo apresenta o espectro na linha do daimon ou génio interior de Sócrates, que anda consigo e que ele tanto receia como ama, e acabar no fim por o desvendar como um fantasma, um ser ilusório e não auto-conhecedor de si mesmo...
Estará Antero a reflectir algumas posições filosóficas então em moda e que caracterizavam o Absoluto ou o Divino como Inconsciente, ou está antes a reconhecer que uma certa forma de consciência moral, ou voz da Consciência, derivada da religião católica e do Deus Jehova e seus mandamentos, pode ser ilusória e incorrecta, por exemplo aguçando remorsos e problemas de consciência em casos insignificantes?
É bem natural, e poderá tal comentário ter sido feito por algum anteriano, mas talvez o mais importante a termos em conta desta incursão de Antero de Quental no Divino e até, de alguns modos mas não nos melhores, no daimon, ou nosso génio-anjo, é a necessidade de tentarmos despertar e assimilar mais a nossa auto-consciência de sermos um espírito ou centelha de origem divina, e não só para uma identidade e vivência terrena mais luminosa mas para que após a morte não sejamos apenas fantasmas ou seres semi-adormecidos no tal umbral que faz fronteira com os mundos mais subtis.
Quanto à Divindade, esqueçamos, ou aprofundamos, os ensinamentos exteriores de tantas Escrituras, meditando-a e invocando-a mais dentro de nós, e pela união do coração e da cabeça, e numa vida esperançosa e generosa, de trabalho e meditação, amor e sabedoria...
Dessa falta de trabalho de ligação superior com a Divindade e portanto do seu estado gnóstico mais limitado, obscurecido e ignorante resulta a sua projecção ou criação poética de um Deus fantasma que nem sabe quem é ou como se chama...
Certamente que há que contextualizar esta criatividade de Antero seja como simples poesia seja como uma reacção natural ao Deus do Antigo Testamento que embora se chamando "Eu sou aquele que é", IHVH, era tão violento e opressivo que de certo modo Antero o vê ou torna um espectro semi-ignorante projectado pelos seres humanos.
Será que ele quis reduzir esse Deus a um mero fantasma ou espectro familiar, ou para ele esse Deus da religião católica em que fora educado era apenas um fantasma, desconhecendo-se a si próprio, quase que como Jeová tivesse sido criado apenas pela imaginação humana mitificante ou, como ele e "Deus" caracterizam, vã?
De realçar, algo menos coerentemente com a sua constante valorização da voz da Consciência, Antero começar aparentemente de modo socrático, pois de certo modo apresenta o espectro na linha do daimon ou génio interior de Sócrates, que anda consigo e que ele tanto receia como ama, e acabar no fim por o desvendar como um fantasma, um ser ilusório e não auto-conhecedor de si mesmo...
Estará Antero a reflectir algumas posições filosóficas então em moda e que caracterizavam o Absoluto ou o Divino como Inconsciente, ou está antes a reconhecer que uma certa forma de consciência moral, ou voz da Consciência, derivada da religião católica e do Deus Jehova e seus mandamentos, pode ser ilusória e incorrecta, por exemplo aguçando remorsos e problemas de consciência em casos insignificantes?
É bem natural, e poderá tal comentário ter sido feito por algum anteriano, mas talvez o mais importante a termos em conta desta incursão de Antero de Quental no Divino e até, de alguns modos mas não nos melhores, no daimon, ou nosso génio-anjo, é a necessidade de tentarmos despertar e assimilar mais a nossa auto-consciência de sermos um espírito ou centelha de origem divina, e não só para uma identidade e vivência terrena mais luminosa mas para que após a morte não sejamos apenas fantasmas ou seres semi-adormecidos no tal umbral que faz fronteira com os mundos mais subtis.
Quanto à Divindade, esqueçamos, ou aprofundamos, os ensinamentos exteriores de tantas Escrituras, meditando-a e invocando-a mais dentro de nós, e pela união do coração e da cabeça, e numa vida esperançosa e generosa, de trabalho e meditação, amor e sabedoria...
Em 30 de Maio de 2023 escrevi no blogue outro texto sobre o soneto Inconsciente, só vindo a reler este no fim de o ter escrito, para assim se erguerem, e logo complementarem, mais integralmente.
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