terça-feira, 9 de junho de 2015

85ª Feira do Livro de Lisboa, dias 6 e 7 de Junho


85ª FEIRA DO LIVRO DE LISBOA,  6 e 7 de Junho de 2015.

Da sabedoria azulada e deleitosa que se derrama dos jacarandas bordejantes dos livros
Pequenas ofertas, em veículos originais, de grandes autores...
Com nova capa, um pioneiro mas já clássico pessoano da nossa querida amiga Dalila
O Vitor Quelhas, jornalista e esoterista, ensaiando o discernimento na fotografia...
A Maria Inês, best seller de livros para crianças, dialoga
Grandes livrarias já exigem o acordo da fila única...
Jovens que procuram com dificuldade o que as iluminará...
Um título provocante atrai, sobretudo num livro sobre o cérebro. Porém, nele não é aceitado o espírito...
Zonas criminosas na Feira havia...
Zonas de pseudo-espiritualidade também vendem muito...
Especializações no New Age de valor discutível...
Gente nova, uma bela voz com muita presença, ensaiando cantos ou "Salmos", mas não fixei  nome do grupo e da cantora bem talentosos... 
Editoras e vendedoras naturais e suaves...
O Papa Francisco, muito descontraído, apareceu a dar boleia a editoras e leitoras...
Almas de mais qualidade em geral são solitárias...
Crianças indigo, hiper-activas ou do séc. XXI, foram tema de livro e apresentação...
Obras invulgares e desafiantes
Contracapas informativas, janelas que revertem luz sobre os livros e autores
"Os Caminhos de Santo António de Lisboa", página do Facebook, recolheu esta imagem...
Livros baratos e havendo calor vendem-se pouco...
Belas edições de clássicos infantis...
Refrescar a emissão da Palavra ou Sermo, tarefa necessária e bela...
Quem não gostou deste lobo mau foi um cão que não o largava a ladrar...
Passar para além da cegueira fisica e banhar-se na esmeraldina sabedoria é tarefa meritória...
Um bom livro acerca da "Psicosíntese" de Assagioli, há uns anos obra pioneira e complementando a de Jung...
Uma editora nova, a Amanhecer, com um dos seus dinâmicos responsáveis, e a escritora Maria Inês. 
               
Livros bons e vulgares são inevitáveis quando se quer vender bastante...
Um sábio das plantas medicinais, dos melhores tesouros da Natureza...
Autógrafos bem cavados nas leiras das plantas curadoras...
Almas luminosas que ligam a terra e o céu como árvores axiais são raras e passam subtilmente
Parque Eduardo VII, uma panorâmica verde e com belas árvores, algo já raro em Lisboa
Os múltiplos pavilhões da Leya abrem as bolsas das pessoas...
A alegria das crianças em liberdade num ambiente de livros é rara mas muito valiosa e fundadora...
As Publicações Maitreya, a especializar-se no esoterismo e as suas múltiplas correntes e níveis, tem no mestre Omram Aivanhov, que ainda conheci, o seu baluarte doutrinário e comercial...
A apresentação "Da Alma ao Espírito" no pavilhão da Apel, com algumas almas luminosas visíveis: A Lucha e o Filipe, a Antonieta, a Maria, a Leonor e a Eleanora..
Fotografia do Jorge Pires, das três obras minhas que as Publicações Maitreya editaram...
Após a apresentação alguns autógrafos, poucos mas bons. A Vanessa Silva fotografou a poetisa Maria Silvéria Mártires...

                                         Os vídeos da palestra estão no Youtube, canal Pedro Teixeira da Mota
                                                                          Om....

terça-feira, 2 de junho de 2015

"Jorge Ferreira de Vasconcelos, Artista do Renascimento. Explicação da Exposição na Biblioteca Nacional. A sua vida e obra.

     O provável quinto centenário do nascimento de Jorge Ferreira de Vasconcelos (1515-1585) está a ser celebrado com uma exposição bibliográfica na Biblioteca Nacional intitulada "Jorge Ferreira de Vasconcelos: Artista do Renascimento" e que, inaugurada no dia 5 de Maio, terminará a 28 de Agosto. Organizada muito bem por Silvina Pereira, estas imagens documentam a visita guiada por ela, a qual decorreu durante o Colóquio Internacional consagrado a Jorge Ferreira de Vasconcelos realizado em 28 e 29 de Maio na Fundação Calouste Gulbenkian, com alguns dos participantes...
Retrato recente de Jorge Ferreira de Vasconcelos (1515-1585), notável dramaturgo e pedagogo português do Renascimento.

" O amor é perfeito e não pode ser mau. Porque procede de Deus em que não pode haver senão bem, e por amor participamos o bem de Deus e a sua formosura de que a humana é retrato: por amor alcançamos conhecimento de Deus, por o que não somente é bom mas necessário: amor ata as almas em conformidade, e sendo amizade boa, melhor é o amor que a causa: amor levanta os ânimos as grandes coisas que por ele se fazem."
Silvina Pereira, John Cull e Hugo Crespo no começo da visita à Exposição.
John Cull (e Antonio Bernart Vistarini), estudiosos da emblemática e também das parémias ou adágios na literatura peninsular e na obra de Jorge Ferreira de Vasconcelos, e que apontaram, por exemplo, para a possível influência do Livro de Refranes compilado por el ABC... de Pedro de Valdés, impresso em Saragoça, 1549.
Ascendência de D. António de Noronha  casado com D. Briolanja Mendes de Vasconcelos, filha de Jorge Ferreira de Vasconcelos.  A D. António de Noronha se devem as reimpressões das comédias Ulisipo e Aulegrafia, nos anos de 1618 e 1619. Da Ulisipo, uma vez que entrou no Índice de 1561 como proibida pela Inquisição, não se conhecem  exemplares da primeira edição...
Da fortuna das edições sobre o crivo da Inquisição e dos seus Índices tão castradores...
A recente descoberta de um manuscrito da Aulegrafia em Espanha sem cortes de censura permitiu discernir a quantidade imensa de palavras omitidas na edição impressa de 1619, sobretudo as de teor sensual ou erótico, e as de religioso e mágico, menos conformes com a dita "santa" ortodoxia católica.
Assinatura firme e decidida de Jorge Ferreira de Vasconcelos enquanto Tesoureiro do Tesouro Real.
Assinatura inédita de Jorge Ferreira de Vasconcelos encontrada na Torre do Tombo pela Silvina Pereira.
Sylvie Deswarte-Rosa, especialista de Francisco de Holanda e das correntes neo-platónicas e simbólicas do Renascimento, participou também nos trabalhos e diálogos.
Um invulgar opúsculo sobre as primícias literárias de Jorge Ferreira de Vasconcelos, a Eufrosina, onde centenas de provérbios e ditos são utilizados com muita verve e sabedoria, numa comédia de amor e costumes, e de crítica social e religiosa.
Textos sobre a Eufrosina
Os documentos restituídos da tumba ou Tombo à luz da história viva pela Silvina Pereira e o Hugo Crespo...
Belo frontispício da 1ª edição, provavelmente com alguns cortes da censura, do mais doutrinário livro de Jorge Ferreira de Vasconcelos, com páginas muito valiosas acerca do amor e do espírito dos cavaleiros esforçados ou andantes. A parte final com uma primorosa descrição do famoso torneio de  Enxabregas em que o príncipe D. João, pai de D. Sebastião foi armado cavaleiro. Esta valiosa e sempre reeditável obra é dos últimos romances de Cavalaria, Arturiana e Perene, no veio Português...
Uma das edições muito raras da Eufrosina, com a menção na capa da dedicatória ao pai de D. Sebastião, entretanto falecido.
Nesta portada da edição de 1560, sendo a primeira de 1555, pode-se interpretar a grade tanto como sendo a de um convento como a dos cárceres inquisitoriais...
Esta edição já bastante expurgada ou formatizada dos famosos  Adágios de Erasmo, realizada pelo impressor Paulo Manutio em 1575, foi a única autorizada a circular na Cristandade, sendo este exemplar já de 1578, mas nem todas as edições  anteriores desapareceram ou foram riscadas.... 
Há provas do conhecimento que Jorge Ferreira de Vasconcelos tinha dos Adágios (e Maria Luísa Rezende na sua comunicação acerca das fontes gregas na Eufrosine, apresentou alguns casos), tanto mais que nas suas obras deve ter inserido uns 1500 ditos e provérbios, não estando ainda feito grande trabalho sobre os que provinham de fontes livrescas, seja de Erasmo,  Plutarco, Diógenes de Laercio,  Ravisius Textor ou do espanhol Pedro de Vallés (Refranes..., em 1549, com 4.300 refrões) e aqueles recolhidos da voz do povo, mais os que terá inventado ou transformado, quanto a mim bastantes...
Recriação imaginada da vera efígie do nosso pedagogo e cavaleiro de armas cristalinas:  "Amor vence todas as coisas em força e muito mais em gosto".
Os livros, documentos e seres que amamos são atraídos para nós, como dizia o inolvidável comum amigo José V. de Pina Martins.
O Infante Dom Luís (1506-1555),  quarto filho de D. Manuel I e de D. Maria, irmão de D. João III, embora  eclipsado por este foi um notável humanista, aluno do cosmógrafo Pedro Nunes, que elogiou o seu "tão alto e tão claro entendimento e imaginação". Foi protector dos letrados da época, de Gil Vicente a Jorge Ferreira de Vasconcelos, e a sua morte foi muito chorada, contribuindo para o entenebrecimento da aura de Portugal, ao deixar o campo mais livre às "alcateias de relógio", como cripticamente Jorge Ferreira de Vasconcelos chamou aos esbirros da Inquisição.
Damião de Goes, o elo principal da transmissão do Erasmismo a Portugal, que certamente conheceu Jorge Ferreira de Vasconcelos, havendo sinais de ecos recíprocos, tendo ambos visto as suas obras censuradas pela Inquisição, e esteve  mesmo encarcerado quase dois anos, antes de ser enviado para o mosteiro da Batalha donde saiu para morrer em situação não esclarecida. E contudo fora um dos nossos maiores Humanistas, e destemido defensor da justiça e da tolerância, dos Etíopes e do Lapões,  dos humanistas protestantes sábios e de Erasmo, e de uma religião de amor, razão e universalidade...
O Júlio Martín Fonseca, marido de Silvina Pereira, excelente actor, encenador e teorizador do teatro, e que serviu de modelo para o belo quadro imaginário de Jorge Ferreira de Vasconcelos
Jorge de Montemor, o autor da Diana, um romance de cavalaria sobre o qual também se abateu a sanha inquisitorial, nomeadamente no índice de 1581.
A queima de livros no Renascimento teve momentos trágicos e cómicos. Nestes últimos, as Cartas dos Homens Obscuros destacam-se ao serem publicadas anónima e avulsamente com muito sucesso irónico desde 1519 e há ecos delas na obra de Jorge Ferreira de Vasconcelos, um autor muito inteligente e irónico na sua tentativa sistemática de escapulir às censuras e ameaças dos esbirros da Inquisição...
Manuscrito não censurado, presume-se, da comédia Aulegrafia.
É em geral nos prólogos que Jorge Ferreira de Vasconcelos atinge os maiores requintes de criptonímia, falando por alusões e info-textos e dardejando a sua grande erudição e inteligência, ironia e espiritualidade... Neste, o da Aulegrafia, não foi nada por acaso que escolheu o Momo, que era tanto deus da censura como da comunicação, e por tal designação foi conhecido Erasmo de Roterdão, certamente o farol principal da época...
A prof. Isabel de Almeida, com a prof. Silvina Pereira, duas grandes estudiosas ou mesmo especialistas de Jorge Ferreira de Vasconcelos.
Excerto muito curto do famoso  Diálogo da Parvoíce, uma das obras (e que título...) de Jorge Ferreira de Vasconcelos que acabou por ser queimada ou destruída, não passando de manuscrito e fragmentos de cópias... Ora-se para que apareçam mais algumas páginas... Este fragmento apareceu numa miscelânea, numa biblioteca de Espanha.
Resumo da comédia Aulegrafia..
Resumo da comédia Ulissipo

A edição princeps ou primeira desta famosa comédia de Sá de Miranda, o sábio do rio Neiva e das terras de Basto, contemporâneo e amigo de Jorge Ferreira de Vasconcelos .
1ª edição das Obras Completas de Devoção de mestre Gil Vicente, uma obra de grande qualidade, audácia e crítica social, alguns dos autos com claros laivos erasmianos.
Uma das fontes inspiradoras da Eufrosina de Jorge Ferreira de Vasconcelos, a Celestina, de Fernando de Rojas. Ainda está por se fazer uma comparação minuciosa das semelhanças e diferenças  que eles tinham nos sentimentos e visões do amor, dos costumes e das mentalidades na sociedades espanhola e portuguesa.

Um dos famigerados Índices de Livros Proibidos, o quarto impresso, de 1564 e que já inclui de Jorge Ferreira de Vasconcelos o Ulissipo e o Livro das Sortes, este completamente desaparecido ainda que haja referências quanto à sua influência em Espanha.
Redigido por Frei Bartolomeu Ferreira e publicado em 1581 este quinto Índice impresso dos Livros Proibidos inseriu nele as comédias Ulissipo e a Eufrosina, além da Menina e Moça, da Ropica Pneuma, de João de Barros, das obras de Jorge de Montemor, do Desengano dos Perdidos, de Frei Gaspar de Leão, impresso em Goa, místico e erasmiano, etc, etc.
O Índice expurgativo e proibitivo de 1624 foi o maior de sempre (um in-4º de 1050 páginas) e deveu-se à pena apurada do jesuíta Baltasar Alvares e do colégio de censores, nada meigos a fantasiarem maldades ou heresias nocivas a torto e a direito... A Ulissipo e a Eufrosina lá estavam registadas mas quem ocupava mais páginas era Erasmo, talvez a luz então da Cristandade, e de quem diziam na época que andava por todas as mãos  ou corações...
Um dos maiores sucessos de sempre, o Elogio da Loucura, e do Amor, do nosso Erasmo, e do qual encontramos vários ecos em Jorge Ferreira de Vasconcelos, foi uma obra chave na libertação das consciências que o Humanismo antes da Reforma e da Contra-Reforma estava a operar...
Isabel de Almeia e Sylvie Deswarte examinando a zona dedicada às actividades teatrais do Teatro Maizun, fundado por Silvina Pereira e que tem levado à cena as riquíssimas comédias de Jorge Ferreira de Vasconcelos, tão actuais e sempre desafiantes.
Silvina Pereira, notável actriz e investigadora, e hoje já professora doutora, e a quem devemos a ressurreição de Jorge Ferreira de Vasconcelos, 500 anos depois do seu nascimento, mas muito merecida e certamente poderosamente frutífera e impulsionadora, já que ela provém e testemunha a época máxima do espírito livre e sábio, amoroso e cavaleiresco dos Portugueses, certamente com sombras e limitações, mas que pela pedagogia erasmiana e vasconceliana poderão ser vencidas...
Podemos dizer que este livro, o Memorial das Proezas da Segunda Távola Redonda, é verdadeiramente um breviário da Cavalaria do Amor, do espírito gentil e esforçado, destemido e inquebrável que é a essência da grande Alma Portuguesa,  então e sempre. Valete!

terça-feira, 26 de maio de 2015

Jorge Ferreira de Vasconcelos, um Fiel do Amor: Ensinamentos extraídos da "Aulegrafia" com breve hermenêutica..

Ensinamentos do notável e esforçado cavaleiro e dramaturgo Jorge Ferreira de Vasconcelos (1515-1585), extraídos da sua comédia Aulegrafia. Utilizamos a reimpressão realizada por António A. Machado de Vilhena, em 1968, feita sobre a impressão lisboeta e única conhecida de 1619, embora a obra tenha sido escrita provavelmente na década de 1545 a 1555.
Uma reconstituição de Jorge Ferreira de Vasconcelos a partir das indicações da sua dedicada investigadora Silvina Pereira, e que em Março de 2022 dará à luz a 3ª edição da Aulegrafia,
 
Introdução - «Já entendeis quão preciosa, digna de grande estima, e necessária para o uso da vida e a recriação da alma, é a amizade em que se conserva toda a máquina do mundo»
(Comentário: Do amor como a essência da anima mundi, ou alma do todo e que nos abrange e inspira...)

«O animal mais inimigo do homem é o mesmo outro homem, por o desconhecimento que tem da pureza de seus corações: ca [porque] o bem e o mal conhecesse nas coisas, em que consiste, e o verdadeiro e o falso na alma, em que se encobre.»

«Nenhuma coisa destrói o mundo, como quererem muitos viver pelas leis do estado alheio, e fugir às do próprio...»
(Comentário: Sê tu próprio. Realiza a tua missão, o teu dever ou a tua ordem, Swadharma, na tradição indiana).

«Muito devedor é a seus fados quem emprega bem os pensamentos...»
(Comentário: Vigia e pensa  luminosamente os teus pensamentos, e a vida segui-los-á. Sê artífice do teu bom futuro dando graças por poderes criar ou desenvolver boas energias psíquicas...)

«E portanto forrai-vos para contraminar matantes roncadores, que andam feitos relógios...»
(Comentário: Precaver-se, resistir e lutar contra os inquisidores e repressivos. Visão já futurista, quase da inteligência artificial, de espiões ou das polícias desumanas altamente armadas e mecanizadas..)

«Tenho que o interesse o tem feito covarde, e esses sizos dos bons dá ousadia a ruins para tomarem liberdade em seus excessos, e caírem com eles. Eu não vos louvo ser soberbo, nem vos gabo ser sofrido, por não dar licença a cobardes. Entendo que o muito sofrimento acanha espíritos nobres, e dá fôlego aos fracos...»
(Comentário: Da necessidade de reagir ao mal e não deixar que os ruins cresçam em soberba e repressão...)

"De animoso espírito é seguir coisas altas, e desejar o dificultoso."
(Comentário: Da alma espiritual e de amor em aspiração e luta pelo bem, a amada, a justiça, o espírito, a Divindade...).

"Enxergo-vos sensual, e pesa-me: porque é uma seita de amor muito baixa, e pobre de gostos. Põem todo o seu no efeito breve e para brutos. E chegar ver o fim de nada, é triste sorte: pois é claro que no infinito está o mel, empresas atermadas (com termo brve no tempo] não podem ser gostosas."
(Comentário: Das seitas ou escolas do Amor e dos seus níveis. Não carnalizar excessivamente o amor.)

"Contemplando recebem os Espíritos contínuo contentamento contentando os desejos no que cuidam. E como as coisas segundo mais ou menos estão juntas [ou unificadas] da alma, assim lhe imprimem os seus bons ou maus efeitos. O pensamento que reside nela faz ver muito melhor com os olhos do entendimento a quem ama. (…) Mas a contemplação forra destes desaires em ausência, vos faz vente (ver) o que imaginais: o como, entende-o quem o sente. São segredos do amor, que se alcançam por graus de afeição..."
(Comentário. Das forças anímicas que são unificadas pelo ser espiritual na contemplação amorosa e como há graus de afeição secretos, íntimos.)

«Hisopo [Esopo] perguntado que fazia Júpiter [Deus máximo e óptimo], respondeu: abaixa altos, e levanta baixos.»
(Comentário: Do espírito divino da justiça e como tal se manifesta nos cavaleiros andantes...)

«Poucas vezes se viu mal, que não seja aviso de maior bem. … Nada deve esperar-se ou desesperar-se, sem experimentar ventura. Não vos deis ao sofrimento, que vos tolha buscar remédio: Nas coisas duvidosas vale muito o bom conselho, e ousadia, nada vo-la faça perder: que do mal que homem teme, desse morre. Sem perigo não se faz façanha."
(Comentário: Aborrecer o mal, suportando-o, ultrapassando-o, transmutando-o, ousando...)

"Formosura é pedra de cevar corações humanos: e amor um desejo do que bem parece, daqui se move nossa razão, vista e ouvidos, e se deleita: deleitando rouba, e roubando inflama: e quanto mais claro juízo, tanto mais se afeiçoa ao que lhe parece bem.»
(Comentário: Elogio do amor que rapta ou extasia e em que razão e coração estão despertos e em sinergia activa.)

"O tempo, porém, por mais tirano que ande de verdade, nunca pode tirar o preço ao bom: e sabei que contentamentos próprios, quando forem justificados, são gostos que regem a alma, e seguram o porto; triunfos injustos, e de má plumagem, por mais que reluzem, lá têm sempre o seu bicho que desassossega altamente o espírito.»
 (Comentário: Nada como se ter boa consciência, a de que pelo nosso trabalho fizemos o bem com meios justos, ao contrário dos que trapaceiam e roubam e depois sofrerão  a inquietação de que a verdade seja revelado.)

«Bem se mostra nisto como todas nossas diligências e imaginações são vento se lhe Deus não assopra. Donde tinha razão Sócrates, dizendo que não se devia pedir a Deus, salvo simplesmente [o] bem, zombando dos votos humanos, que mostram querer ensinar a Deus o que nos cumpre, sendo só ele o sabedor do bom, e repartidor do melhor: por o que, quando do Céu está ordenado, na mente Divina, o contrário do nosso desejo; por demais é pretendê-lo. Por isso siso, e regra infalível é entregar à vontade de Deus. Ter o cuidado de cipilhar a alma, conforme ao que manda a Lei que professamos. Tomar o leme do honesto trabalho, e deixar o cuidado da viagem a quem tem a cargo, e manda a nau.»
(Comentário: Jorge Ferreira de Vasconcelos, cavaleiro do Amor, amigo espiritual de Erasmo, aqui em ressonâncias das mesmas verdades que circulavam na república das Letras: que não seja o nosso ego a querer isto e aquilo mas que saibamos intuir e cumprir a vontdade divina ou do bem e do amor.)
"Na boca do cavaleiro não deve haver vituperar seu inimigo, e deve sempre defender o nome das mulheres, como faziam os da Távola Redonda, antes louvá-las, e tratar do próprio e não desfazer do alheio. E, então, como dizia o outro, chame-se Alexandre deus: quero dizer, tenha-se cada um na conta em que quiser e lá se avenha com sua vaidade, que se não é prejudicial, pode ser proveitosa...»
(Comentário: Dos esforçados cavaleiros andantes, cuidadosos no maldizer e sempre prontos a defender as mulheres, e pouco intromissivos nas vidas dos outros, algo que no séc. XXI da internet e das redes sociais se torna bem difícil)

"Como se converte a necessidade em razão. Assim nas adversidades é mais eficaz remédio a necessidade que a razão. A discrição consiste em saber sofrer com animo, o que nos sucede contra nossa esperança, e gosto, esperando sempre socorro Divino, que nunca faltou aos bons, e que o bem pedem, e aplicar nosso espírito ao sofrimento, e remédio, pois Deus nos deu razão, e virtude, e juntamente ânimo, para podermos desviar, e vencer todo o movimento, e tempestade adversa, e senhorear nossos sentidos, e apetites: e portanto ganhai-vos a vós: Cá não é bom, nem cumpre ser sempre um em todo o tempo, [pois] a idade, o lugar, ocasião e sucesso requerem sua vez. Perdoa-se o passar pelos vícios, mas querer estar neles, é torpíssimo: os homens hão-de viver da razão pois por ela se diferenciam das bestas, que vão após seu apetite.»
(Comentário: Da prudência e da resistência face às adversidades. Do controle dos apetites  pela razão que discerne as normas e limites que se devem aplicar aos seus actos)

"O estado acanhado abate o saber"

"A grandeza do ânimo faz possível impossibilidades"

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Eis um pequeno contributo introdutório ao colóquio Internacional "Jorge Ferreira de Vasconcelos: Um homem do Renascimento", Fundação Calouste Gulbenkian, 28 e 29 de Maio de 2015. Entrada livre, prévia inscrição. Participarei.
Mais informação: http://vcentenariojfv.weebly.com/