O provável quinto centenário do nascimento de Jorge Ferreira de Vasconcelos (1515-1585) está a ser celebrado com uma exposição bibliográfica na Biblioteca Nacional intitulada "Jorge Ferreira de Vasconcelos: Artista do Renascimento" e que, inaugurada no dia 5 de Maio, terminará a 28 de Agosto. Organizada muito bem por Silvina Pereira, estas imagens documentam a visita guiada por ela, a qual decorreu durante o Colóquio Internacional consagrado a Jorge Ferreira de Vasconcelos realizado em 28 e 29 de Maio na Fundação Calouste Gulbenkian, com alguns dos participantes...
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Retrato recente de Jorge Ferreira de Vasconcelos (1515-1585), notável dramaturgo e pedagogo português do Renascimento.
" O amor é perfeito e não pode ser mau. Porque procede de Deus em que
não pode haver senão bem, e por amor participamos o bem de Deus e a
sua formosura de que a humana é retrato: por amor alcançamos
conhecimento de Deus, por o que não somente é bom mas necessário:
amor ata as almas em conformidade, e sendo amizade boa, melhor é o
amor que a causa: amor levanta os ânimos as grandes coisas que por
ele se fazem."
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Silvina Pereira, John Cull e Hugo Crespo no começo da visita à Exposição. |
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John Cull (e Antonio Bernart Vistarini), estudiosos da emblemática e também das parémias ou adágios na literatura peninsular e na obra de Jorge Ferreira de Vasconcelos, e que apontaram, por exemplo, para a possível influência do Livro de Refranes compilado por el ABC... de Pedro de Valdés, impresso em Saragoça, 1549. |
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Ascendência de D. António de Noronha casado com D. Briolanja Mendes de Vasconcelos, filha de Jorge Ferreira de Vasconcelos. A D. António de Noronha se devem as reimpressões das comédias Ulisipo e Aulegrafia, nos anos de 1618 e 1619. Da Ulisipo, uma vez que entrou no Índice de 1561 como proibida pela Inquisição, não se conhecem exemplares da primeira edição... |
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Da fortuna das edições sobre o crivo da Inquisição e dos seus Índices tão castradores...
A recente descoberta de um manuscrito da Aulegrafia em Espanha sem cortes de censura permitiu discernir a quantidade imensa de palavras omitidas na edição impressa de 1619, sobretudo as de teor sensual ou erótico, e as de religioso e mágico, menos conformes com a dita "santa" ortodoxia católica. |
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Assinatura firme e decidida de Jorge Ferreira de Vasconcelos enquanto Tesoureiro do Tesouro Real. |
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Assinatura inédita de Jorge Ferreira de Vasconcelos encontrada na Torre do Tombo pela Silvina Pereira. |
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Sylvie Deswarte-Rosa, especialista de Francisco de Holanda e das correntes neo-platónicas e simbólicas do Renascimento, participou também nos trabalhos e diálogos. |
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Um invulgar opúsculo sobre as primícias literárias de Jorge Ferreira de Vasconcelos, a Eufrosina, onde centenas de provérbios e ditos são utilizados com muita verve e sabedoria, numa comédia de amor e costumes, e de crítica social e religiosa. |
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Textos sobre a Eufrosina |
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Os documentos restituídos da tumba ou Tombo à luz da história viva pela Silvina Pereira e o Hugo Crespo... |
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Belo frontispício da 1ª edição, provavelmente com alguns cortes da censura, do mais doutrinário livro de Jorge Ferreira de Vasconcelos, com páginas muito valiosas acerca do amor e do espírito dos cavaleiros esforçados ou andantes. A parte final com uma primorosa descrição do famoso torneio de Enxabregas em que o príncipe D. João, pai de D. Sebastião foi armado cavaleiro. Esta valiosa e sempre reeditável obra é dos últimos romances de Cavalaria, Arturiana e Perene, no veio Português... |
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Uma das edições muito raras da Eufrosina, com a menção na capa da dedicatória ao pai de D. Sebastião, entretanto falecido. |
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Nesta portada da edição de 1560, sendo a primeira de 1555, pode-se interpretar a grade tanto como sendo a de um convento como a dos cárceres inquisitoriais... |
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Esta edição já bastante expurgada ou formatizada dos famosos Adágios de Erasmo, realizada pelo impressor Paulo Manutio em 1575, foi a única autorizada a circular na Cristandade, sendo este exemplar já de 1578, mas nem todas as edições anteriores desapareceram ou foram riscadas....
Há provas do conhecimento que Jorge Ferreira de Vasconcelos tinha dos Adágios (e Maria Luísa Rezende na sua comunicação acerca das fontes gregas na Eufrosine, apresentou alguns casos), tanto mais que nas suas obras deve ter inserido uns 1500 ditos e provérbios, não estando ainda feito grande trabalho sobre os que provinham de fontes livrescas, seja de Erasmo, Plutarco, Diógenes de Laercio, Ravisius Textor ou do espanhol Pedro de Vallés (Refranes..., em 1549, com 4.300 refrões) e aqueles recolhidos da voz do povo, mais os que terá inventado ou transformado, quanto a mim bastantes...
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Recriação imaginada da vera efígie do nosso pedagogo e cavaleiro de armas cristalinas: "Amor vence todas as coisas em força e muito mais em gosto". |
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Os livros, documentos e seres que amamos são atraídos para nós, como dizia o inolvidável comum amigo José V. de Pina Martins.
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O Infante Dom Luís (1506-1555), quarto filho de D. Manuel I e de D. Maria, irmão de D. João III, embora eclipsado por este foi um notável humanista, aluno do cosmógrafo Pedro Nunes, que elogiou o seu "tão alto e tão claro entendimento e imaginação". Foi protector dos letrados da época, de Gil Vicente a Jorge Ferreira de Vasconcelos, e a sua morte foi muito chorada, contribuindo para o entenebrecimento da aura de Portugal, ao deixar o campo mais livre às "alcateias de relógio", como cripticamente Jorge Ferreira de Vasconcelos chamou aos esbirros da Inquisição. |
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Damião de Goes, o elo principal da transmissão do Erasmismo a Portugal, que certamente conheceu Jorge Ferreira de Vasconcelos, havendo sinais de ecos recíprocos, tendo ambos visto as suas obras censuradas pela Inquisição, e esteve mesmo encarcerado quase dois anos, antes de ser enviado para o mosteiro da Batalha donde saiu para morrer em situação não esclarecida. E contudo fora um dos nossos maiores Humanistas, e destemido defensor da justiça e da tolerância, dos Etíopes e do Lapões, dos humanistas protestantes sábios e de Erasmo, e de uma religião de amor, razão e universalidade... |
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O Júlio Martín Fonseca, marido de Silvina Pereira, excelente actor, encenador e teorizador do teatro, e que serviu de modelo para o belo quadro imaginário de Jorge Ferreira de Vasconcelos |
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Jorge de Montemor, o autor da Diana, um romance de cavalaria sobre o qual também se abateu a sanha inquisitorial, nomeadamente no índice de 1581. |
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A queima de livros no Renascimento teve momentos trágicos e cómicos. Nestes últimos, as Cartas dos Homens Obscuros destacam-se ao serem publicadas anónima e avulsamente com muito sucesso irónico desde 1519 e há ecos delas na obra de Jorge Ferreira de Vasconcelos, um autor muito inteligente e irónico na sua tentativa sistemática de escapulir às censuras e ameaças dos esbirros da Inquisição... |
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Manuscrito não censurado, presume-se, da comédia Aulegrafia. |
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É em geral nos prólogos que Jorge Ferreira de Vasconcelos atinge os maiores requintes de criptonímia, falando por alusões e info-textos e dardejando a sua grande erudição e inteligência, ironia e espiritualidade... Neste, o da Aulegrafia, não foi nada por acaso que escolheu o Momo, que era tanto deus da censura como da comunicação, e por tal designação foi conhecido Erasmo de Roterdão, certamente o farol principal da época... |
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A prof. Isabel de Almeida, com a prof. Silvina Pereira, duas grandes estudiosas ou mesmo especialistas de Jorge Ferreira de Vasconcelos. |
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Excerto muito curto do famoso Diálogo da Parvoíce, uma das obras (e que título...) de Jorge Ferreira de Vasconcelos que acabou por ser queimada ou destruída, não passando de manuscrito e fragmentos de cópias... Ora-se para que apareçam mais algumas páginas... Este fragmento apareceu numa miscelânea, numa biblioteca de Espanha. |
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Resumo da comédia Aulegrafia.. |
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Resumo da comédia Ulissipo |
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A edição princeps ou primeira desta famosa comédia de Sá de Miranda, o sábio do rio Neiva e das terras de Basto, contemporâneo e amigo de Jorge Ferreira de Vasconcelos . |
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1ª edição das Obras Completas de Devoção de mestre Gil Vicente, uma obra de grande qualidade, audácia e crítica social, alguns dos autos com claros laivos erasmianos. |
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Uma das fontes inspiradoras da Eufrosina de Jorge Ferreira de Vasconcelos, a Celestina, de Fernando de Rojas. Ainda está por se fazer uma comparação minuciosa das semelhanças e diferenças que eles tinham nos sentimentos e visões do amor, dos costumes e das mentalidades na sociedades espanhola e portuguesa. |
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Um dos famigerados Índices de Livros Proibidos, o quarto impresso, de 1564 e que já inclui de Jorge Ferreira de Vasconcelos o Ulissipo e o Livro das Sortes, este completamente desaparecido ainda que haja referências quanto à sua influência em Espanha. |
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Redigido por Frei Bartolomeu Ferreira e publicado em 1581 este quinto Índice impresso dos Livros Proibidos inseriu nele as comédias Ulissipo e a Eufrosina, além da Menina e Moça, da Ropica Pneuma, de João de Barros, das obras de Jorge de Montemor, do Desengano dos Perdidos, de Frei Gaspar de Leão, impresso em Goa, místico e erasmiano, etc, etc. |
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O Índice expurgativo e proibitivo de 1624 foi o maior de sempre (um in-4º de 1050 páginas) e deveu-se à pena apurada do jesuíta Baltasar Alvares e do colégio de censores, nada meigos a fantasiarem maldades ou heresias nocivas a torto e a direito... A Ulissipo e a Eufrosina lá estavam registadas mas quem ocupava mais páginas era Erasmo, talvez a luz então da Cristandade, e de quem diziam na época que andava por todas as mãos ou corações...
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Um dos maiores sucessos de sempre, o Elogio da Loucura, e do Amor, do nosso Erasmo, e do qual encontramos vários ecos em Jorge Ferreira de Vasconcelos, foi uma obra chave na libertação das consciências que o Humanismo antes da Reforma e da Contra-Reforma estava a operar... |
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Isabel de Almeia e Sylvie Deswarte examinando a zona dedicada às actividades teatrais do Teatro Maizun, fundado por Silvina Pereira e que tem levado à cena as riquíssimas comédias de Jorge Ferreira de Vasconcelos, tão actuais e sempre desafiantes. |
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Silvina Pereira, notável actriz e investigadora, e hoje já professora doutora, e a quem devemos a ressurreição de Jorge Ferreira de Vasconcelos, 500 anos depois do seu nascimento, mas muito merecida e certamente poderosamente frutífera e impulsionadora, já que ela provém e testemunha a época máxima do espírito livre e sábio, amoroso e cavaleiresco dos Portugueses, certamente com sombras e limitações, mas que pela pedagogia erasmiana e vasconceliana poderão ser vencidas... |
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Podemos
dizer que este livro, o Memorial das Proezas da Segunda Távola Redonda, é verdadeiramente um breviário da Cavalaria do Amor, do
espírito gentil e esforçado, destemido e inquebrável que é a essência da grande Alma Portuguesa, então e sempre. Valete! |
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