quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Da demanda do som, do ritmo, da Palavra, do Espírito, da Harmonia, da Divindade.

Fala-se, na tradição perene, da música das esferas, do ritmo primordial, do nome ou nomes de Deus, da palavra mágica   e procura compreender-se como se demanda tal mirífico e rítmico som, ou o seu eco, ou ressonância, por diferentes entendimentos, perspectivas e práticas. 
Uma de tais aproximações, pouco falada, e talvez das mais importante quanto  ao nosso ser,  é o do som ou nome verdadeiro de cada um de nós, algo que estaria na base do nome que os padrinhos, ou os pais intuiriam e escolheriam. Algo que está na base dos novos nomes, mais espirituais que são dados em certas iniciações, seja em ordens religiosas, seja de mestre a discípulo.
Outro nível de busca, mais elevado ainda, é o do Ser  Divino, e os seus Nomes ou as sonoridades com que Ele é sentido, ouvido, identificado (limitadamente, claro) ou referido e porventura os sons que nos tocam mais para dele nos aproximarmos vibratóriamente, ou até aquelas com que ele nos possa agraciar. 
Acalenta-se então o sonho que tal audição seja o abre-te sésamo da realização espiritual, ou o abraxas da iniciação, ou entrada e avanço, num caminhar mais consciente de uma vida mais acertada, harmoniosa e plena. 
Pensa-se por vezes que será fácil chegar ao nível da primordialidade e funda interioridade, repetindo a fórmula de um mantra ou oração, por vezes dado por alguém em iniciações mais ou menos superficiais e rápidas, e  assim se entrar no ritmo certo gerador do desabrochamento da visão interior, graças à qual logo se desvendaria a Divindade e se sentiria a vera Felicidade.
Pronunciar devota ou amorosamente orações e mantras e, depois,  deixar acalmarem-se as vagas de pensamentos e silenciar e escutar, tentando ouvir-se o som rítmico interno, ou as palavras orantes e espontâneas, certamente ajuda-nos a aprofundar a nossa autoconsciência e o nosso corpo espiritual e a harmonizar os seus órgãos tão indispensáveis na demanda que é a Vida toda...
                                
              Ihs, uma das sonorizações tidas como  nome de Deus. No claustro dos Jerónimos... 
De facto, antes de podermos chegar aos níveis mais espirituais e divinos, quanto trabalho de crescimento, de purificação, de iluminação e, sobretudo, de discernimento e esforço perseverante, pois não só o desabrochar consciencial é lento e a luta pela sobrevivência é desarmonizante, como há tanta desinformação e manipulação a ser lançada sobre as pessoas que muitas acabam por pouco conseguirem vivenciar de tais estados conscienciais silenciosos e expansivos. Pouca gente consegue ampliar espacialmente a sua consciência, pelo difícil e raro silêncio. no corpo espiritual e no cosmos envolvente
Sendo tantas as vibrações e ondas, desde as terrestres e humanas às cósmicas e espirituais, mais ou menos rítmicas, que nos são transmitidas e que nos movem e compõem, ou que connosco interagem, importará investigar melhor, por exemplo, como devemos lutar pelo desabrochamento interior do nosso  ser e com que  energias e ritmos trabalhar ou nos apoiar para descobrirmos e realizarmos mais a nossa essência e missão. E avançarmos em harmonia com os ritmos e as combinações mais afins criativos e luminosos trabalhos, interesses, investigações, locais, momentos, pessoas, amada ou amado, família, árvores, pedras, objectos, cores, formas, músicas, sons, etc, etc.
                  
                  A estrela de cinco pontas e o Sol, num microcosmo tão puro... 
Certamente que uma base importante desta demanda e alinhamento, além do estudo e da experimentação, do trabalho e da vida, será a meditação de manhã e ao fim do dia, na qual utilizamos a observação dos ritmos mais fáceis de ascultarmos:  respiração,  vibração sonora subtil interior, coração,  ondulações do pensamento, as imagens que se soltam da alma e da memória, a que acrescentamos sabiamente os nossos sons e orações, para que por fim a Luz se manifeste e clarifique e harmonize melhor todos os ritmos e níveis referidos...
Olhando para a Natureza, sem dúvida que os ritmos transmitidos pelo Sol, com a noite e o dia, são os mais fortes e decisivos, ainda que haja muita gente que pouco pode ligar a eles, obrigada a trabalhos que são, como muito sintomaticamente se diz, fora de horas... 
Ora a noite silenciosa e escura, sob a luz das estrelas, tem os seus efeitos harmonizadores rítmicos nos sonhos, nos neurotransmissores, e como tal devia ser mais acolhida, respeitada e aprofundada, sobretudo no silêncio, na luz das velas, na paz ambiental, considerando-se até o ideal  uma pessoa deitar-se às 23:00, para o funcionamento mais livre, de impressões sensoriais externas, do meridiano do fígado e da regeneração do organismo...
                   
      Sandhya,  transição, na tradição indiana. Os momentos mais auspiciosos para a meditação... 
Certamente que a regra geral é aproveitarmos a luz solar, para agirmos, e por ela somos alimentados tanto na pele (útil na fabricação da vitamina D) como nos olhos, como na vitalidade, denominada prana, ou átomos de energia, na Índia. Daqui a voga dos banhos de sol, na época das férias, altura certamente importante para nos recarregarmos de energias diferentes das vividas nos ambientes profissionais habituais, mas, diremos, com conta, peso e medida...
Ver, meditar ou contemplar o nascer-do-sol ou o pôr-do-sol é um acto despertante, um rito valioso, já que participamos de um ritmo multimilenário poderoso e por vezes belíssimo, ainda que os raios e partículas que nos vêm do Sol e que entram pelos chacras etéricos (segundo alguns, em especial o do baço) sejam ainda pouco reconhecidos, e menos ainda os raios ou correntes subtis e espirituais que do Sol se irradiam e até nós chegam, podendo contudo ser observados tanto na visão física como na subtil e espiritual, tudo contribuindo para o ser e corpo de luz desabrocharem mais...
Lembremos neste sentido as deidades solares em tantas tradições, desde Utu ou Babar na Suméria, Assur na Assíria, Râ ou Atum e Aton no Egipto, Surya na Índia, Mitra-Ahura e a glória de Xvarnah na Pérsia, ou ainda Helion e Apollon gregos, o Sol Invictus da Roma, de vários imperadores até Aureliano e por fim Juliano (filósofo, que via uma tríade solar: o Sol do Mundo Inteligível, o Sol do Mundo Intelectual e o Sol do mundo sensível), devendo-se ainda relembrar os filósofos estóicos com o seu Logos Spermatikoi, a Razão divina derramada pelo Universo, em Macróbio afirmado como o Sol mundos mens est, "o Sol é a mente ou inteligência do mundo", antes de muito destes cultos solares desaparecerem no Cristianismo, que ainda assim, destas deidades e aspectos do seu culto e concepções, assimilará algo em termos de concepções, arte, liturgia e calendário religioso, tanto mais que filosoficamente o Logos do Evangelho de S. João tem muito do Logos estóico e do Deus solar antigo.
                       
                            Rumo ao Sol espiritual e primordial da Divindade... Por Bô Yin Râ... 
Os cultos e rituais de saudação e celebração do Sol, realizados como vimos numa continuidade ininterrupta através dos séculos e da religiões, ora diariamente (nos templos ou nas casas) ora em épocas especiais, como nos solstícios, deram origem a tanta festividade e simultaneamente a tanta sacralização de pedras e estátuas, árvores e construções, a qual ainda nos nossos dias a podemos ver e aprofundar, ligando-a com o mistério do Sol divino interno.
Quantos conseguiriam ver clarividentemente os seres espirituais, ou solares, ou a provável entidade divinal do Sol, ou comungar profundamente com a Sua Luz, Poder e Amor não sabemos, mas algumas descrições de visionários ou místicos, bem como os locais, grutas, templos e monumentos, continuam presentes e podem ser assim trabalhados e reactualizados por nós.
Destaquemos então os solstícios e equinócios, marcando esses ritmos de passagem mais importantes da Natureza, hoje em dia ainda celebrados, embora a vivência e compreensão humana, ao urbanizar-se e informatizar-se demais e ao estar rodeada pela degradação dos eco-sistemas naturais, acaba por sentir e comungar menos de tais circulações energéticas, ciclos e seres subtis da Natureza, nomeadamente seja os descritos como  as fadas, gnomos devas, seja os mais elevados dos Anjos e Arcanjos. 
Rudolfo Steiner, o fundador da Antroposofia, foi um ocultista com certa clarividência que deixou muitas páginas valiosas, ainda que por vezes demasiado complexas ou até imaginativas, sobre este ciclo anual e sobre outros ainda mais longos, os das civilizações e épocas.
Quem poder nestes dias de transição estar mais na Natureza e saudar, meditar e comungar com a terra, as árvores, os ventos, as águas, as estrelas nocturnas e os espíritos da Natureza fará bem e será beneficiado... 
E como houve diferentes compreensões e realizações ao longo do tempo  nos vários povos, em Portugal, pela tradição Celta, nomearemos as celebrações valiosas do Samahin, Belaine, Lugdsad e Imbeloc...
Falar de ritmos implica lembrar outros ciclos ainda, tal como o dos sete dias da semana, ligados com os planetas, o das quatro idades da vida ou ashramas indianas, ou ainda os do mês, do ciclo anual, tanto individual como geral, do ciclo de sete em sete anos (que rege o crescimento físico, etérico, emocional e psíquico, numa ascensão em espiral), ou ainda o ciclo das explosões e protuberâncias solares, de doze em doze anos, ou ainda o da órbita de Saturno de vinte e oito em vinte e oito anos. 
Mas talvez o mais importante ainda seja o dos 28 dias da Lua, com as suas fases crescente e decrescente, que tanto afecta a sensibilidade, as emoções, a mulher, o feminino, as plantas, a água e que tem na Lua Cheia um momento de grande intensificação energética, trabalhado por muitas pessoas e grupos para se inspirarem e meditarem, receberem e irradiarem.
Todos estes ritmos envolvem-nos e deveremos saber adaptar-nos a eles e à Natureza exigente, que selecciona, por exemplo, em cada Inverno mais rigoroso as plantas, árvores, animais e pessoas que podem passar mais um ano de vida, e que merecem participar na grande dança vital, feita certamente de alternância de características ou polaridades e portanto passando pela ondulação alternada de ritmos mais frios ou quentes, lentos ou acelerados, interiorizados ou exteriorizados e que caracterizam a polaridade básica Verão Inverno.
                        
                                          A gruta milenária, útero da Terra e das almas... 
Saber-nos adaptar pelo trabalho e descanso, alimentação e jejum, exercício e práticas que fortaleçam as zonas mais expostas ou em esforço é então fundamental, bastando lembrar-nos como o frio e a humidade, o desânimo e a tristeza, podem ser energias ambientais perversas, desequilibrando e adoentando os corpos e as psiques humanas.
Realcemos o valor de uma alimentação baseada em alimentos produzidos biologicamente, o pouco uso do açúcar ou lacticínios, bem como a utilização de roupas o menos artificiais possíveis.
E quanto aos exercícios, para além dos desportos, ginásticas e andar a pé ou nadar, dos hatha yogas e tai chis, aikidos e chi-kungs, realcemos ainda o contributo da medicina oriental em relação ao conhecimento dos rítmicos fluxos energéticos que circulam de duas em duas horas (por exemplo, o do fígado das 23:00 à 1:00, e essencial para a desintoxicação, que não se fará tão bem se estamos ainda a trabalhar a essa hora) através dos meridianos e dos órgãos, estes relacionados ainda com as estações do ano e os Cinco Elementos, donde nasceram certos exercícios, seja de massagem, de estimulação, de respiração, de sons, de visualização ou de movimento benéficos, muito recomendáveis e praticáveis...
Todo o nosso ser é composto de biliões de células, átomos, neurónios, com milhares de ritmos, mas neles destacaremos, além da respiração já referida, o do coração, que impulsiona o sangue e a temperatura, mas que também pensa e sente, e que, no seu ritmo subtil de sístole e diástole, de compressão e de expansão, se conseguirmos verdadeiramente senti-lo, facilita a entrada no nosso coração espiritual, certamente um dos objectivos do Caminho pois nele ou no seu estado de Amor que sentirmos é que estaremos mais próximos do nosso ser profundo, ou ainda do Amor Divino ou mesmo da bênção, influxo ou graça do seu Ser...
Certamente que o ritmo da respiração é muito importante, ao permitir a vida e a purificação e vitalização do organismo, e é por isso o que mais tem sido trabalhado, ao ser voluntário, nas práticas psico-energéticas de muitas das tradições. Assim, além da meditação matinal, fazermos de vez em quando algumas respirações profundas, ou consciencializar-nos do ritmo respiratório em nós, é sempre benéfico. Mas também os rins e o fígado, o estômago e os intestinos têm os seus ritmos de funcionamento, os seus horários, que deveremos respeitar e até cuidar, não os perturbando demasiado...
Num nível mais subtil, tanto a nossa corporalidade física como a psíquica, na nossa aura invisível, precisam de ser alimentadas, sacudidas, limpadas e estimuladas, e daí os banhos, os jejuns, os exercícios, as danças, as contemplações, as peregrinações, os ritos e gestos, etc.
Harmonizarmos os nossos ritmos mais internos, isto é, não deixarmos que se introduzam frequentemente arritmias, ou energias em excesso e nocivas, que se possam tornar quase crónicas e logo causadoras de doenças, é então importante.
Para isto é fundamental uma auto-atenção, uma constante tomada de consciência do nosso estado vibratório, psíquico e postural, para que em nós haja a fluidez correcta e necessária, no estar, no fluir e nas acções e reacções que a vida suscitará em nós.
                       
Estamos de facto em interconectividade com todos os seres e vivemos num microsistema aberto, o qual pode estar em maior ou menor harmonia com o ambiente ecológico, social, planetário, cósmico...
É portanto bom fazermos com regularidade a auto-consciencialização, interna e do que nos está mais a tocar ou a faltar, do que devemos mais dar ou participar, o que podemos investigar ou descobrir, num exercício de constante auto-avaliação, discernimento, sinceridade....
Por exemplo, o que está bloqueado, traumatizado, ferido, oprimido, sem respiração, sem circulação necessária, seja a de sangue, seja a da energia-prana-ki, seja ainda de sentimentos ou de ideias, e que precisa de ser ouvido, desbloqueado, expresso, musicado, massajado, dissolvido a fim de se libertarem energias e se extrair a lição e o impulso ascendente, de modo a que a vivência da unidade e do amor aconteça mais. 
É o "aqui e agora" tão propugnado: como estamos quanto à postura corporal, como estão os pés, as mãos, a respiração, quais são as tensões orgânicas, que sentimentos e emoções predominam em nós e quais deveremos introduzir mais, como está a qualidade do fluxo ondulante dos pensamentos, o equilíbrio entre o inconsciente e o presente, como está o fio e o canal para o mundo espiritual, para os antepassados e mestres, o que sentimos da beatitude da nossa auto-consciência pura, eis alguns auto-diagnósticos correctivos que faremos ao longo do dia...
Quando chegamos a casa, depois do trabalho, estamos em geral um pouco desgastados pelos esforços mentais, oculares, musculares, ou pelo que foi mais trabalhado, mas nada que não se possa recuperar com um bom banho, algum exercício ou mesmo massagem, leitura, música, diálogo, ou o cuidar e tocar as flores ou as árvores, ou mesmo contemplar as estrelas, as pinturas, e ainda o sentar, orar, meditar, ou o simples conversar, cozinhar e estar em amor com a família e os amigos, estes não só virtualmente pois, embora a Internet possa trazer alguns, conviria que eles se actualizassem em encontros e amizades reais.
Podemos interrogar-nos, quanto ao eixo da ligação vertical ou ascendente, se ele  esteve muito presente no dia a dia, se será suficiente lembrar-nos da Divindade ou fazermos uma curta oração e dar-lhe graças, aspirando a Ele, ou se deveremos praticar mais e consciencializar melhor para fortalecer-se a visão e a ligação permanente com o Espírito Divino?
                      
Entremos então mais regularmente nas práticas da oração, da meditação, da contemplação, do canto, do estudo, da revelação, da integração, da auto-consciencialização permanente, algo que contudo nos seus resultados está dependente da nossa vida moral e ética e também da graça, espiritual ou divina...
Cada pessoa terá de descobrir como equilibrar a sua alma em cada aspecto que a perturba e vencer também as tendências obscurecedoras, que tentam-na tendencialmente a  adormecer, desistir, abandonar, esquecer. A luta é para o conseguir receber, elevar-se e permanecer mais na Luz Divina, na ligação com o Espírito, o Anjo, o Mestre, o Amor, o Sol interior, o Divino...
Será útil referirmos aqui a tradição indiana (do darshana Samkya) dos três estados da matéria, gunas e como nela, a modalidade da matéria mais densa ou lenta,  guna tamas, a inércia ou obscuridade, exige uma actividade forte e dinâmica (o guna rajas, ou rajoguna) para ser transformada, impregnada de ritmo e logo permitir ou revelar a luz, a fluidez, a expansão de consciência (satvoguna), nesta grande unidade natural e cósmica da qual fazemos parte...
Daqui termos falado há pouco do canto, dos exercícios respiratórios, dos mantras ou nomes divinos que podem ser activados (de preferência silenciosamente) para se chegar aos estados mais elevados de meditação ou contemplação, passando-se assim do adormecido (Tamas), para o activo (Rajas) e, por fim, o harmonioso, rítmico e luminoso (Satva).
No fundo estamos a valorizar ou realçar a ligação vertical-horizontal-total, algo frágil ainda na nossa sociedade actual, reservada para uns minutos na missa católica ou nos rituais das outras religiões, e em geral mais desenvolvida nos momentos de oração e meditação, calma e alegria criativa que algumas pessoas conseguem dedicar e realizar...
Esta ligação vertical implica então uma sincronização de nós com o nosso espírito, e é a partir dele que nos aproximamos mais íntima e conscientemente do Divino. Daqui que quem não conhece o seu espírito, não conhece bem Deus... 
Ora, quantas pessoas conhecem o seu espírito, ou ainda o seu nome vibratório, a sua essência, a centelha que, unida às múltiplas forças anímicas que a rodeiam ou envolvem, constitui o nosso ser interno e perene?
A dimensão do nosso espírito, a forma do nosso espírito, as suas capacidades, as afinidades com outros espíritos, eis grandes mistérios, que pouca gente sabe, à excepção de alguns mestres, certamente fora do grande barulho mediático, mesmo cultural ou religioso em que proliferam os pseudo-instrutores ou gurus, ou as canalizações, segredos e cursos de milagres... 
Daqui a grande dificuldade das pessoas encontrarem verdadeiros guias que, unidos ao espírito e ao Divino, possam catalisar tal harmoniosamente nas outras pessoas
Claro que há seres já com mais realização interior e, graças a Deus, com a globalização da informação, tudo pode circular e surgir mais facilmente, mas saber discernir com quem poderemos trabalhar melhor o despertar e o plenificar interior é sem dúvida uma grande demanda, dificultada aliás pela concorrência desleal de muitos dos  modernos líderes ou gurus da humanidade e que, de todos os campos das actividades humanas, disputam o cérebro e o coração das pessoas.
Muito se decide neste mundo e palco, diariamente  alterado por nós na nossa pequena escala de receptores ou emissores de frequências vibratórias, ou então de centelhas conscientes e irradiantes, já mais unificadas com a matriz do grande Campo de informação cósmica ou Anima Mundi, a grande alma do mundo, o Logos spermatikoi dos estóicos, a Inteligência Divina... 
Meditar então com certa regularidade é fundamental, repetimos, e devemos esforçar-nos por diariamente conseguirmos chegar a estar num certo nível de sensibilidade interior e essencialidade, de forma a estarmos mais conscientes da nossa dimensão espiritual e mais receptivos às energias e mensagens subtis e espirituais, não importando o tempo que despendemos de quando em quando para nos religarmos a tal estado mais harmonioso ou unificado...
Claro que sentirmos razões e motivações especiais para tais meditações é importante e, portanto, luas novas ou cheias, solstícios ou equinócios, festividades, feriados e fins de semana devem ser aproveitados para meditações as quais, mesmo em pequenos grupos, mesmo solitárias, podem ter uma força irradiativa grande...
                              
                                                   Aum, Rumo à Luz, pintura de Bô Yin Râ. 
Procuremos então conhecer, harmonizar, despertar e unificar mais o nosso próprio ser psicoespiritual, e o dos próximos, e sejamos verdadeiros e compassivos, justos e destemidos, de acordo com os ritmos e tradições que mais sentirmos, com a justiça e necessidades do planeta, e em sintonia de aspiração ou união com o Ser Divino, numa cooperação criativa na Grande Obra Cósmica de Sabedoria e Amor...  Revisto a 25-XI-2018. E a 26.IX.2020.

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

"Grito Global pela Palestina". 2ª parte, a marcha da Embaixada até ao Rossio. Dia 1 de Agosto de 2014, Lisboa.

"Grito Global pela Palestina", e denunciando a violência inqualifícável israelita... 2ª parte, da marcha da embaixada de Israel até ao Rossio. Dia 1 de Agosto de 2014, Lisboa. Talvez umas mil e tal pessoas, mais sensíveis, corajosas e dotadas de cidadania activa e empenho pela justiça e paz no Médio Oriente, condenando  brutalidade e criminalidade israelita.
Estado Palestiniano, livre, moderno, com direitos e capacidades como qualquer outro Estado, fundamental, declara a bandeira ao vento de Lisboa...
Dos activistas anónimos presentes e enviando imagens...
Protestos em frente à famigerada embaixada israelita...
Da tragédia da brutalidade agressora e mortífera...
A criança que contempla atemorizada o que se tem estado a passar há décadas, perante a passividade conivente do Ocidente, rói as unhas e chora interiormente...
Um dos cartazes mais vivos de toda a acção cívica interroga as pessoas sobre os seus comportamentos e passividade perante o mal...

Crianças que merecem o melhor da vida
Muita gente, mulheres e crianças, irmanados na mesma causa da Humanidade fraterna e sem racismo ou sionismo...
Queimas simbólicas contra o ódio, o apartheid, a opressão...
Almas corajosas pela causa Palestiniana...
Almas lúcidas e corajosas, assumindo a cidadania planetária duma humanidade una e fraterna
 
Cores, mensagens, gritos de alma, tanta gente apoiando a Palestina livre.
Tantas almas luminosas, mas algumas mesmo indignadas com tanta crueldade, morte e destruição perpetradas pelos israelitas...
Deter um governo israelita tão violento e opressor...
As crianças com capacetes de protecção dando testemunho de solidariedade com as mais de 500 palestinianas mortas, recentemente, apenas com os seus vestidos e sonhos frustrados...
Mulheres islâmicas presentes...
A Av. Fontes Pereira de Melo a receber mais uma limpeza consciencial da superficialidade alienada ou insensível em que tanta gente vive e se deixa manipular...
Av. Fontes Pereira de Melo, Lisboa, e a Causa Palestiniana...
Sincronias coloridas, esperanças que os milhares de prédios e infraestruturas destruídos poderão ser requalificadas, embora com o dinheiro de quem e a que custo...
Marchar pela paz e a liberdade atrai as boas almas...
 
Bandeiras ao vento, vontades de amor em acção...
A policia acompanhou muito calma e simpaticamente toda a manifestação...
Um primeiro ministro de extrema-direita, Netanyahu, sem qualquer tipo de sentimentos humanos pelos Palestinianos só poderia dar nesta tragédia que tem evaporado a estima que existia ainda por Israel em muita gente... Que seja tratado...
Rossio, Lisboa, apoia a causa Palestiniana
D. Pedro IV, o Libertador, bem quererá nos planos invisíveis que a liberdade do Estado Palestiniano aconteça
Últimas conversas e desejos, aspirações e orações, entre grupos de amigos, o Nuno Costa, de costas...
Alexandra, natural de Castelo Branco, a testemunhar e dar de si a pureza de amante da Natureza e da Justiça
Prontos a passar a noite em vigília, pois já vai demasiado longe a noite opressiva sobre o Estado Palestiniano e a sua população quase indefesa...
Finalizemos com a bandeira do Estado da Palestina, para que ela possa um dia ondular com as brisas mediterrânicas em paz, concórdia e prosperidade...

sábado, 9 de agosto de 2014

Dos livros e das suas vibrações e como eles nos escolhem ou os escolhemos. Da Biblioterapia.

                                                          
Quem vive numa casa com muitos livros, ou que é quase uma biblioteca, algo que sucede a vários amantes de livros, por vezes acorda com a boca seca ou as narinas algo tapadas e sente-se quase um pouco como se estivesse a transformar-se num livro, seco da humidade da vida, como em certa medida acontece a todos os livros que nos rodeiam, ainda que trepidantes ou húmidos de outras vibrações, e que nos atraem por múltiplos mecanismos ou causas vitais mas que por tão subtis nos escapam em geral...
Quando vou a uma estante de cinquenta livros e acabo por seleccionar três ou quatro, posso pensar que foram decisões racionais da mais apropriada leitura as que me fizeram escolher aqueles livros mas por vezes há factores invisíveis a determinarem-nos...
Entre eles referirei a existência em tais livros de informações mais relevantes e que o "meu" Eu espiritual, clarividente no seu nível, vê, escolhe e "sinaliza-me" (e como isto se passa é a grande questão), sem que eu me aperceba e pensando até que foi por acaso que peguei subitamente naquele livro ou abri naquela página que me vai esclarecer ou ajudar em qualquer situação ou demanda...
Não é que esteja agora a recomendar  o que é denominado no Irão, Istixara, a abertura ao acaso de um livro dos seus quatros autores mais sagrados, para se ver que mensagem se recebe, mas que tal pode ser mesmo inspirador, ou mesmo curador, não haja dúvidas, e é pois tal método um bom instrumento de biblioterapia. Quanto aos quatro autores invocados, por várias razões mas em especial pela excelência das suas obras, são eles, no Irão, Maomé, Mevlana Rumi, Saadi e Hafiz. No Ocidente utilizou-se mais a Bíblia, mas hoje em dia há outras opções e escolhas possíveis e a acontecerem. As minhas efemérides mensais do Encontro do Ocidente e do Oriente, bem desenvolvidas no blogue, têm algo disso.
Podemos então admitir que a mera racionalidade das nossas decisões e, no caso, de escolhas de leituras, é não apenas da nossa mente e ego mas também de níveis bem mais subtis que o mero pensar, raciocinar e decidir, seja mentalmente ou neuronalmente como hoje em dia se diz e tenta fazer crer como sendo o único factor em acção. Ora energias psíquicas, o espírito ou espíritos, podem intervir, subtilmente, de modos que a ciência objectiva experimental de facto não consegue provar e menos ainda replicar...
Factor primacial sempre será os livros em si mesmos, enquanto portadores ou ressoadores de vibrações múltiplas e que mesmo menos perceptíveis ou invisíveis, actuam em nós, ou permitem a acção biblioterapêutica do nosso espírito ou do Cosmos ressoante e afim connosco...
Certamente que a nossa personalidade é importante e, quando escolho um livro, faço-o por vezes porque ele está cheio de um potencial que me atrai e que eu intuo, imagino ou sinto e logo acolho, desejo, escolho. Podemos dizer, numa linha animista, que certos livros estão mesmo muito desejosos de serem lidos. É o caso dos livros fechados há muitos anos, ou mesmo que nunca foram lidos, frustrados por terem sido comprados mas nunca abertos ou lidos, por vezes algo cobertos de pó ou sempre à sombra de outros, e que desejam ser abertos, vivificados e derramar algumas das suas potenciais energias e aromas em alguém e no nível psíquico do Universo.
Noutros casos os livros parece que irradiam uma energia atractiva que nos faz ir ter à estante e pegá-los e entrar neles e perder-nos ou encontrar-nos por alguns momentos, antes que de novo singremos na linearidade da vida...
Dirão, mas como é isso do livro falar, querer, sentir, irradiar? Não é isso uma mera antropomorfização ou animismo?
Responderei, que além do livro entidade material, existe um livro invisível, anímico, composto por múltiplas camadas de vibrações e que compõe a sua aura e alma, e que está viva e se altera com o tempo e o uso, e que portanto há livros com almas bem grandes ou poderosas. É preciso é amá-los e senti-los mais demoradamente, com o nosso coração, para que alguma comunicação se estabeleça. Não estou a recomendar de imediato exercícios de psicometria ou como hoje se chama de leitura da aura, dos livros, ainda que mal algum disso possa vir...
Lembro-me até da frase e ideia-força que o amigo e sábio prof. José V. de Pina Martins gostava tanto de dizer: "Os livros procuram quem os ama", e que perpassa bastante pela sua último e notável obra, as Histórias de livros, para a história do Livro, editado na Fundação Gulbenkian, onde me menciona até algumas vezes.
Apresentemos então algumas das forças ou vibrações que se configuram como camadas, linhas de força ou irradiações vibratórias de um livro:
                                           
Quem foram os seus donos, quem o leu, como o leram, que assinaturas possui, quem o anotou?
Quem o escreveu e onde está ele no mundo psico-espiritual? 
Há ligações possíveis até dele connosco, interessado em vir ao de cima, ser de novo divulgado ou mesmo aprofundado?
De que ideias está constituído o livro e que ondulações da alma do mundo perpassam por ele e lhe dão vida maior e,  invisivelmente, nos tocam e atraem, podendo através de nós ser amplificadas, ressoadas?
Como está desenhada ou delineada a sua capa, como está na sua forma ou mesmo encadernação, por quantas vicissitudes já passou, nomeadamente fogos e inundações, censuras e perseguições?
Quem nos ofereceu, o que escreveu, e porquê e para quê? 
Eis alguns aspectos que enriquecem um livro e o tornam mais ou menos animado e mais ou menos susceptível de nos atrair e impressionar. Ou mesmo de se tornar um livro de cabeceira, ou de cama, de secretária ou de altar...
Não falarei por hora  dos livros que são levados sobre o peito ou o coração, como amuletos ou protecções, ou das pessoas que os conseguem amar e sentir tanto com o "cor-acção" que os sabem de cor... 
Ou ainda dos que são mesmo adorados e venerados, em templos ou mesmo em bibliotecas, casas de musas ou santuários do Divino na Terra...
                                                          
Assim, quando pegar num livro para escolher, comprar ou ler, em sua casa, numa livraria ou num alfarrabista, tente estar mais sensitivo ao que o leva a escolhê-lo, e faça, tanto para si como para  o seu autor (tentando mesmo senti-lo ou dialogar com ele) uma leitura curativa, harmonizadora, frutífera, até para que as idéias-forças ali contidas possam tanto instruí-lo ou inspirá-lo como serem anotadas e ampliadas por si...
No fundo, uma leitura em que seja também o Universo a ler e reler, a reflectir e a melhorar, dentro da Grande Biblioteca do Cosmos, para que toda a vida e seres venham a beneficiar...
Muito boas leituras, conscientes, benéficas, verdadeiras, frutíferas...
Alguns dos livros que dei à luz... Ommm
                          

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Hugo Rocha, um dos ocultistas portugueses do séc. XX. "O problema dos fantasmas", sempre actual...

                                       
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                                 Últimas duas páginas do antelóquio... 
                          
                                   Páginas com referências ocultistas 
                           
Páginas finais, com referências à celebre Mens agitat molem: a Mente, ou mesmo o Espírito, move, agita, anima a material, a massa... Em Fernando Pessoa; não te deixas adormecer massificado... 

Hugo Rocha é um escritor português portuense que viveu entre 1907 e 1993 e está bastante esquecido, apenas visível num ou noutro alfarrabista ibérico. E contudo teve vários méritos, pois sendo durante décadas jornalista do Comércio de Porto, viajou e escreveu bastante sobre África, Goa, Açores, Madeira e Galiza e acerca da espiritualidade e da procura serena da Verdade.
Em 1933 publicava tanto o seu 1º livro, de crónicas africanas, intitulado Bayete, como o 2º, Rapsódia Africana, de poemas.
Em 1934 publica o ensaio e extracto de conferência intitulado Espiritualismo, que seria valioso conhecermos mas que ainda não vimos [entretanto já encontramos um exemplar, mas transmite pouco de espiritualidade, para além da oposição ao materialismo, considerando Júlio Dantas um dos soldados do Espírito], e uma novela O homem que morreu no deserto, incluído no I volume da Colecção Amanhã.
Até 1962 serão cerca de quatorze obras publicadas, das quais destacaremos, como nos sinalizou o amigo Paulo Andrade como sendo de qualidade no tema, O Enigma dos «Discos Voadores» ou a Maior Interrogação do Nosso Tempo, em 1951, o qual teve uma edição brasileira aumentada em 1961. Outras obras também interessantes são o Namaste, roteiro de uma viagem a Goa, em 1953, e em 1958 o estudo Outros Mundos/Outras Humanidades.
Se em 1946 escrevera a sua primeira obra sobre a Galiza, crónicas de viagem, intituladas Itinerário na Galiza, será já em 1961 e 1963 que escreverá os dois volumes dos Encontros da Galiza, com capítulos de grande sensibilidade e conhecimento. Um critico da época, Francisco Leal Insua, no El Progresso de Lugo dirá: "En estilo directo y expressive, Hugo Rocha supo penetrar en el alma de Galicia como ningún visitante extrangero lo habia hecho hast hoy. Ahi esta nuestra amada region, palpitante y saudosa. Con la inquietude sonante de su atlantismo en el litoral; con la serenidade de sus lejanias en el interior".
      Lista das suas obras publicadas até dar à luz Os 4 Irmãos:
 
É de 1937  O Problema dos Fantasmas. Ensaio sobre certos aspectos da fenomenologia sobrenatural, numa edição da Sociedade Portuense de Investigações Psíquicas (uma sociedade a merecer investigação histórica) e que descreveremos um pouco em seguida...
Nesta obra, num in-8º gr. de 169 páginas, e terminando com o Finis Laus Deo, destacamos nas três dedicatórias iniciais a última: "a todos os que crêem na sobrevivência e na eternidade da vida", este pequeno livro, sereno, desapaixonado e despretensioso"
São oito os seres ou mestres invocados antes do antelóquio: Sócrates, com a frase "Conhece-te a ti mesmo." Alexandre Herculano, "A tradição é verosímil." Leonardo Coimbra, "A tragédia do homem está na ignorância de si e do Universo em que vive, ou antes, convive." Charles Richet, "O mundo oculto existe. Arrisco-me a ser considerado insensato pelos meus conterrâneos, mas acredito que há fantasmas." S. Paulo, "O homem é posto na terra como um corpo animal e ressuscitará como corpo espiritual. Assim como há um corpo animal, também há um corpo espiritual."; Farady, "Com o que ignoramos das leis espirituais poderia criar-se o mundo."; Newton, "É loucura acreditar que se conhecem todas as coisas e é sabedoria estudar sempre."; Santo Agostinho, "Porque não atribuir esses factos aos espíritos dos finados e não deixar de acreditar que a Divina Providência faz de tudo um uso acertado para instruir os homens, consolá-los e atemorizá-los?"»
Nesta obra, além das referências a Leonardo Coimbra, Antero de Quental, Antero de Figueiredo (transcrevendo as suas descrições das aparições em Fátima) realçaremos as que faz a João Antunes e às suas obras sobre Ocultismo, publicadas na Livraria Clássica A. M. Teixeira Gomes, onde Fernando Pessoa traduzira em 1915-1916 alguns clássicos da Teosofia, que Hugo Rocha também cita. 
Outro autor apreciado em comum por Fernando Pessoa e Hugo Rocha é Heitor Durville, com quem Fernando Pessoa se chegou mesmo a corresponder e a expor o seu caso de desdobramento psíquico. Mas os autores mais citados são os que se dedicaram mais à investigação experimental da existência de uma vida post-mortem, nomeadamente Ernesto Bozzanno, Charles Richet, Arthur Conan Doyle, William Crookes, Camille Flammarion, ou mesmo o Henry Bergson, tão apreciado, mas também rectificado, por Leonardo Coimbra, e que chegou a ser o presidente da famosa Society for Psychical Research, de Londres, a qual Fernando Pessoa louvou, quando os seus investigadores desmontaram alguns truques nas pretensas aparições e cartas de Mestres dos Himalaias a Helena P. Blavatsky, em Adyar, Índia.
A obra, com descrições de vários casos de aparições das almas do além, acaba com um apelo a que pela união do "esoterismo e do exoterismo" se ultrapasse o gemido de Dante posto à entrada da porta da Dolência no Inferno, Lasciate ogni speranza, ó voi ch'entrate... "Deixai toda a esperança, ó vós que entrais"...
Destaquemos para terminar, nas páginas finais, a transcrição da famosa frase da Eneida de Virgílio) que Fernando Pessoa conheceu e glosou (Mens agitat molem) ao dar o título de Mensagem à sua última obra), transcrita por Hugo da Rocha mais extensamente:
Spiritus intuis alit, totamque infusa per artus. 
Mens agitat molem, et magno se corpore miscet.
Hugo Rocha, provavelmente com a ajuda do seu amigo Manuel Cavaco, traduziu assim: 
«Tudo o que existe no Universo está penetrado do mesmo princípio: a alma, que anima a matéria, que se mistura com este grande corpo...»
Mas talvez fique melhor:
«O espírito íntimo sustenta e infunde-se plenamente em tudo.
A mente agita (ou anima) a matéria e mistura-se no grande corpo...»
Se quisermos alongar ainda mais, que Fernando Pessoa e Hugo Rocha, a transcrição dos versos 744 a 748 do canto VI da Eneida, aquele no qual Eneias consulta a sibila Cumeana (e teremos aqui outra ligação subtil profética com a Mensagem), leremos:

Principio caelum ac terras camposque liquentis 
lucentemque globum Lunae Titaniaque astra 
spiritus intus alit, totamque infusa per artus 
mens agitat molem et magno se corpore miscet.

Oiçamos a tradução de Manuel Odorico Mendes (1799-1864):
«Desde o princípio intrínseco almo espírito
Céus e terra aviventa e o plaino undoso,
O alvo globo lunar, titâneos astros,
E nas veias infuso a mole agita,
E ao todo se mistura.»

E uma tradição inglesa, a de E. Fairfax Taylor:
"First, Heaven and Earth and Ocean's liquid plains, 
The Moon's bright globe and planets of the pole, 
One mind, infused through every part, sustains; 
One universal, animating soul
Quickens, unites and mingles with the whole." 

Terminemos com mais uma tradução, a nossa:
«Ao Princípio, o Céu (Ouranos) e a Terra (Gaia) e as extensões líquidas,
O globo luminoso da Lua e os astros dos Titãs 
São sustentados pelo Espírito íntimo, infundido plenamente em tudo,
E a mente (ou alma spiritual) move a matéria e no grande corpo tempera-se.»

Fiquemos então com a ideia, ou melhor consciencializemo-nos mais, do Espírito omnipresente e da nossa quota parte de temperarmos harmoniosamente o grande corpo do Universo, o Cosmos, pela nossa vida harmoniosa e receptiva ao Espírito, que nos fala e inspira interiormente, seja como o daimon socrático, seja como os fantasmas do Antero de Quental ou do Hugo Rocha, seja como os guias ou mestres ocultos do Fernando Pessoa e do Hugo Rocha, seja ainda como o nosso Anjo ou Musa...
                              
                                A Musa de Hesíodo, ou a sua fravashi... 

terça-feira, 5 de agosto de 2014

Das crenças, conflitos e religiões, e da Religião universal do auto-conhecimento do Espírito e do Amor...

I - Uma das questões culturais e cultuais bastante actual é a de saber se devemos manter-nos simplesmente nas Religiões em que nascemos, ou que viemos a escolher mais tarde, e apenas dialogarmos com as outras, reconhecendo ou não entre elas insuperáveis diferenças ou se, pelo contrário, quer nos mantenhamos numa Religião ou não, deveremos reconhecer que por detrás delas, e das suas diferentes crenças e ritos, visões, concepções e adorações encontra-se (ainda que pouco a encontremos ou aprofundemos..) a mesma Realidade, Fonte, Origem e Essência última, Absoluta, Divina, Primordial, qualquer que seja o nome ou a ideia que Dela façamos...
Ora esta última hipótese ou posição parece-me a mais correcta, ou seja que há uma Unidade das Religiões, e daí a actualidade e perenidade da admissão ou abertura a uma posição religiosa em que a Fonte ou o Ser Primordial seja reconhecida como o fundamental, "relativizando-se" de certo modo todas as Religiões enquanto aproximações históricas e condicionadas a Ele Ser ou Ela Fonte...
Talvez pudéssemos mesmo então chamá-la a Religião da Divindade Primordial, ou ainda Religião do Espírito Primordial, ou ainda mais simplesmente a Religião Universal, a Religião do Espírito, a Religião do Amor, a Religião da Verdade Última, esta afirmações e posicionamentos feitos com humildade mas com esperança de avançarmos mais tanto no seu sentimento e conhecimento, como na diminuição das ignorâncias e dos ódios responsáveis por tantos conflitos, assassinatos e sofrimentos...

II - Quanto à existência de diferenças insuperáveis haveria ainda a considerar se elas são tão fundamentais e exclusivistas, se são tão reais, ou se teremos de reconhecer que circunstâncias e condicionalismos diferentes fizeram com que as revelações e religiões adoptassem formas muito diferentes mas em todas elas subsistindo um núcleo comum e essencial e que é tanto o do Bem, da Verdade e do Ser como o das metodologias semelhantes ou próximas para nos religarmos a tal...
Simultaneamente, devemos reconhecer que, ligando todos os fundadores, profetas e mestres, há um Espírito universal comum, ou que em todo o Cosmos perpassa e providencia (inspirando) um Logos (Razão animante) comum, provavelmente primeiro substracto ou emanação da Divindade Primordial....
Contribuindo para a diminuição do exclusivismo e fanatismo religioso está o evoluir da Humanidade, pois, graças ao expandir dos conhecimentos e das consciências, seja em relação à génese, transformações e desvios das religiões seja em relação aos mistérios e pormenores da existência humana, naturalmente certas formulações, crenças e dogmas deixam de ter o sentido imperativo ou absoluto e passam a ser compreendidos na sua contextualidade e relatividade...
 Estão neste caso muitos aspectos do legendário que as Religiões Reveladas ou do Livro, usaram e abusaram. E assim, menos oprimidos ou limitados por essas cinturas e balizas, cargas e nacionalismos poderemos caminhar em diálogo permanente com qualquer tradição ou religião, numa abertura perseverante à subjacente e coroante religação mais consciente, efectiva e realizadora à Verdade ou à Fonte, a qual é a essência da Religião Universal ou da Religião da Divindade Primordial, ou da Religião do Espírito e do Amor, que terá sempre de ser realizada interiormente no caminho da vida...
Seria também muito importante que as Nações Unidas ou a Unesco e representantes das religiões e vias espirituais se reunissem e chegassem à formulação de um manual básico da Religião da Humanidade e do Espírito que, lido e estudado nas escolas, abrisse as crianças e jovens para as vias da Unidade das Religiões e idealmente não só por teoria mas também por vivências, visitas de estudo, práticas espirituais, etc.
Estejamos pois mais auto-conscientes e bem abertos à Tradição perene que engloba todos os fiéis e mestres das diversas religiões e vias e saibamos escolher e praticar o melhor possível numa ampla base, de modo a que a Presença Espiritual e Divina em nós, base flamejante e iluminante da Religião Universal ou do Espírito, desperte e brilhe mais ou, se quisermos, esteja mais presente e activa em nós e diminuindo-se assim a ignorância e o ódio (que tanto grassam e aparentemente baseados em conflitos religiosos) e aumentando-se e intensificando-se o conhecimento e o amor que ainda tanto faltam...

III - Nos nossos dias, nos quais uma violência inaudita se tem desencadeado em diversos locais do planeta, de forma orquestrada por várias potências, em que a manipulação das populações é também imensa e em que posicionamentos religiosos conflituam, ou então não dissuadem ou impedem os conflitos, como poderemos ser e agir correctamente, sabendo nós que a interconectividade de todos os seres é uma realidade a todos os níveis e que contudo as barreiras da ignorãncia, da insensibilidade e do ódio bloqueiam nas consciências tal circularidade fraterna?
Que posicionamento religioso e espiritual, mas também cívico e planetário, devemos aprofundar, assumir, partilhar? Que consciência ética e prática, ecológica e harmonizadora devemos desenvolver?
É fundamental a investigação constante da verdade em todos os campos que possamos, o viver diariamente com sentimento religioso e alguma prática meditativa (em que vamos despertando os sentidos espirituais e recebendo a luz) e a harmonização consequente das nossas vidas, ambientes, ritmos e relações, de modo a não nos deixarmos desviar ou destruir por todo o caos e violência que nos possa chegar ou afectar. E, corajosamente,  pensando e falando a verdade, denunciando a mentira, a opressão, a violência, o ódio, resistindo civilmente, só ou em grupos afins, quando for necessário, propondo e apoiando o diálogo para a resolução dos conflitos pela sabedoria justa e não pelos egoísmos dos mais fortes...
Para isto de novo a Religião do Espírito e do Amor, e da Fraternidade Humana, que é a essência de todas religiões e que é também no fundo o objectivo filosófico da vida, conforme o dito milenário dos gregos: Gnothi seauton, "conhece-te a ti próprio”, é fundamental e devemos manter o vertical o eixo da coluna, da coragem, da sinceridade, da aspiração e da ligação com os espíritos afins, os mestres e Anjos, para que o Espírito Primordial esteja mais activo e poderoso em nós, irradiante mesmo do coracão, e saibamos assim vencer os enfraquecimentos e lutas, renascendo e crescendo pela Luz e Amor do Alto, do Espírito e da Fraternidade, constante, criativa e amorosamente...