sábado, 24 de maio de 2014

Marcha contra a Monsanto, 24 de Maio de 2014, Lisboa. Ecologia e sobrevivência.

STOP Monsanto Portugal organizou e liderou mais uma participação de Portugal na jornada mundial da Millions Against Monsanto by OrganicConsumers.org . Estranhamente nenhum partido se fez representar... 
Entre as suas reivindicações, realcemos:
 - Apoios coerentes para a Agricultura em pequena escala. -Liberdade das Sementes, ou ainda Sementes à solta. -Não ser-se expulso de terrenos abandonados por estarem a ser usados como hortas. - Maior apoio aos agricultores da agricultura biológica e aos consumidores mais conscientes. - Acabarem-se com os transgénicos e os pesticidas, alguns destes estando a dizimar as abelhas. - Pôr em tribunal a companhia Monsanto e as suas congéneres pelas muitas mortes e doenças de que é responsável.- Pressionar os partidos políticos, a Assembleia e o Governo a tomarem medidas que protejam o ambiente português e os seus eco-sistemas....
Preparação das frases e imagens aos pés dos antigos mestres da palavra histórica e poética..
O vate máximo da nação, os lemas e bandeiras actuais e ao lado os vestígios da bola madrilena
Uma das almas liderantes da marcha prepara cartazes junto ao vate da Pátria, Luís de amões..

Consciência firme brandindo um aviso humano, bem quotidiano, mas quantas vezes se torna difícil discernir o nocivo e  transgénico, face a aos grandes cartéis e marcas que estão associadas à Monsanto
Talvez para o ano deva haver já algumas leituras ou discursos pedagógicos para quem chega, passa ou vigia...
Preparação de auras resistentes, ou seja, informadas, com sensibilidade e corajosas
Pessoas conhecidas, sensíveis, com capacidade de serviço, de cidadania marcam de novo a sua presença luminosa...
O Álvaro, um activista da democracia participativa e directa, com um dos melhores cartazes, e um seu amigo, estabelecendo-se um bom diálogo antes do começo da marcha...
Conversas animadas entre adeptas e defensoras da Agricultura Biológica e da Ecologia...
Uma patcharunha bem feliz por ser bem tratada...
Irradiar forças luminosas de ligação harmoniosa entre a terra e o céu pelo Chiado a dentro, ou a fora?
O poeta Chiado apoia a Manifestação por uma agricultura biológica e sem transgénicos e os sonhos de liberdade das sementes e das abelhas em Portugal, como o Álvaro lhe mostra...
A Mãe e as crianças já bem conscientes dos efeitos nocivos dos transgénicos...
Fernando Pessoa, como mestre de Portugal, bem gostaria  de dar a mão em apoio
à Stop Monsanto Portugal, ao activista Álvaro Fonseca e a mim por o termos saudado e por lutarmos pela Natureza Portuguesa.
O mal e o bem, ainda que relativos, ainda existem. E portanto erga-se, una-se, dinamize as almas para o  Bem Comum, e não se deixe manipular nem aburguesar...
Frases que resumem a aspiração evolutiva de uma humanidade livre e dona de si mesma, face a um sistema desalmado que só vê lucros e rendimentos...
O colectivo musical animador esteve sempre em grande entusiasmo, contagiante, despertante...
Almas jovens bem despertas e alegres tentando acordar a multidão que passeia ou faz horas no Chiado para a bola que se avizinha...
Outra manifestação, mal paga e só materialmente, com as suas almas sensíveis
a interrogarem-se
Luz Miguel Guarani Kaiowá, tal como no ano passado, representou, com a Filipa van Uden, os amigos do Facebook e não só: da alma e das causas... 
Escultora de mármores e de almas, a Luz preferiu a entrega de folhetos e o diálogo maiéutico com as pessoas...
Almas jovens mas já bem luminosas e conscientes, olhando apreensivas os Governos inconscientes ou vendidos e os venenos destilados pela Monsanto e suas congéneres fármaco-agro-alimentares...
O Chiado atravessado por uma das manifestações mais prenhas ou grávidas de futuro harmonioso para a Terra, Grande Deusa, Mulher ou Mãe...
A ecologia e a ética tornam o caminho estreito por entre uma sociedade de consumo tão alienada, mas ainda assim levar a criança às costas e ensiná-la que o Caminho faz-se caminhando ligando o céu e a terra, vale mesmo a pena se alma não é pequena

Muitas almas conscientes e erguendo bem alto os simbolos ressoadores da harmonização planetária necessária e a que a todos nós apela...
A Alice e a sua amiga, determinadas na defesa do Ambiente e da denúncia das forças negativas que se entranhram e geraram em companhias agroquímicas, tal a Monsanto e que têm de ser detidas...
Chegada ao Rossio, com os jacarandás em flore  leite, mas sem abelhas, quem sabe porque muitas delas já morreram nos prados e caminhos que ainda deviam desaguar e fecundar as cidades...
E educação, a imitação do exemplo que os pais, grandes ou educadores dão às crianças foi vista manifestando-se essa lei básica do crescimento infantil aplicada à cidadania...
No Rossio sob as bandeiras e os manes, a marcha mostra a sua frente mais desmascarante da toxicidade da Monsanto...
O grupo de música de resistência que dinamizou e ritmizou muito bem a marcha...
Por vezes a Natureza divina e bela encarna numa mulher que se torna então um símbolo vivo dela e da sua defesa e liberdade...

Uma das bandeiras que inspira as almas que participam na defesa da Natureza e da Humanidade livre, empunhada persistentemente por quatro guardiões dela...
O espírito das abelhas, tão ameaçado pela Bayer e a Monsanto, encontrou uma almazinha sensível a elas e pô-la a bater as asas, a sonhar com flores e voos futuros e a sorrir...
Um amante das flores, mel e abelhas, ecologista e espiritualista, lembra também que a água está frequente cheia de químicos e que devíamos salvaguardar mais as nossas fontes, alvos de entulhamentos, e as águas e rios, vítimas de negociatas e privatizações que a encarecem
demasiado...
Juventude alegre, desperta e combativa, com referências históricas e religiosas, diante da Igreja dos Dominicanos e da Inquisição, denunciando outra fonte de mal e de morte, actual, a Monsanto...
Salvar as abelhas dos pesticidas da Bayer, Sygenta e da Monsanto é uma prioridade mundial, e apela a uma restauração da Independência das abelhas e flores de tais companhias agro-quimicas e farmacológicas nocivas...
Saving the bees from the pesticides of Bayer, Sygenta and Monsanto is a world priority...
STOP Monsanto Portugal 
Alminhas novas a aprenderem a cidadania e a transmitirem as suas energias puras e inocentes que bem mereciam um Ambiente menos cinzentão tal como resulta do Centralão...
A interioridade auto-consciente demarcando-se do que é mal e inconsciente: as manipulações transgénicas, os pesticidas e adubos associados, os sofrimentos e pragas daí resultantes...
Arte objectiva, tirando a pele ao bicho agro-quimico e transgénico

Jovens que marcaram os ritmos com corpos, almas e espiritos luminosos, belos e combativos...
Diálogos com os agentes da polícia decorreram com urbanidade
Vozes bem lúcidas e determinadas talvez inspirem alguma peça que desperte consciências no teatro D. Maria
Um casal de activistas e adeptos da agricultura biológica, com quem já dialogámos o ano passado, com cartazes simples e pequenos mas que estão vivos por dentro e germinarão pelo futuro a dentro...
O regresso final à Natureza, num belo jardim lisboeta
Eixos entre o a terra e o céu, eixos dos mundos, árvores da vida, eis o que se pede aos portugueses e que os participantes demonstraram na sua verticalização ética e mental, ecológica e espiritual ...

segunda-feira, 19 de maio de 2014

Tolstoi, em Portugal. "Guerra e Paz". Da tradução portuguesa, o prefácio de José Marinho...

                                 Tolstoi, em Portugal.
Guerra e Paz, escrita por Tolstoi e publicada 1869, é reconhecidamente uma das obras primas da literatura mundial, pela sua pujança história e profundidade psicológica, para além dos aspectos revolucionários estilísticos. 
Frontispício da edição original
A sua primeira edição em Portugal, de 1942, foi publicada pela editorial Inquérito, certamente a partir de uma versão francesa, sendo o seu tradutor o notável filósofo José Marinho que destilou ou elaborou ainda um valioso prefácio, que digitalizamos, deixando-o à sua consideração.
Há dias, visitando a casa de uma pessoa amiga, para lhe aconselhar o destino a dar a muitos livros, eis que o 1º tomo da Guerra e Paz me veio parar às mãos...
Sancte Tolstoi, ora pro nobis...
Que as guerras e a violência sejam substituídas pela paz fértil e o amor unificador...
José Marinho foi um pensador notável da Filosofia Portuguesa, pelo que este seu prefácio será certamente original na sua compreensão de Tolstoi...

domingo, 11 de maio de 2014

A serra mágica da Gardunha e os seus penedos e espíritos da Natureza. Imagens em 2014.

A alcantilada serra da Gardunha, formando como que o anfiteatro que rodeia a vila acastelada templária do Castelo Novo, está por sua vez encimada pela Penha, flecha ou pirâmide para o céu...
A serrania e a sua pirâmide de ressonância: a Penha...
     Penedos graníticos que surgem como serpentes, brotam e erguem-se, fortificando-nos...
Seres subtis da Natureza, quais extra-terrestres parecem estar esculpidos em penedos...

Animais gigantescos, memórias de uma natureza antiga subtil, parecem vir ao de cima...


Vigilantes, costas com costas, calmos, 360º de visão....

Sáurio, Sáurio, parece que nos grita um penedo, a boca rasgada, olhando para o céu...

O espírito tão subtil reflecte-se na aura e coração puro e surge a
 estrela pentagonal, contendo o sol do Amor no seu centro. Eis-nos...

sábado, 3 de maio de 2014

Antero de Quental. "As Tendências Gerais da Filosofia na segunda metade do séc.XIX". Excertos e Reflexões...

                                              
«Eu tenho por certo os pressentimentos. Agora como, isso não sei e penso que ninguém sabe». 1886.
                                             
Reflexão sobre a primeira das três partes das Tendências Gerais da Filosofia na segunda metade do século XIX.

A demanda filosófica e espiritual de Antero de Quental teve na publicação, em Janeiro de 1890 e nos dois meses seguintes, no seio da Revista Portugal, do ensaio Tendências Gerais da Filosofia na segunda metade do século XIX, o seu momento culminante, concluído o qual Antero pode partir rumo à ilha utópica dos seus ideais que, naturalmente, não existindo em parte alguma do exterior, só podia esperar (e resta-nos saber o que ele antevia...) encontrar nos mundos subtis do além e do Espírito, onde apressada ou samuraicamente ingressou, sentado num banco dum jardim sob o símbolo da Esperança...
                                                  
           Antero de Quental, numa fotografia da qual gostava e pouco conhecida...

Nas Tendências Gerais da Filosofia na segunda metade do século XIX Antero de Quental presenteia-nos com várias deduções, conclusões e intuições de grande qualidade que ainda hoje são valiosas e úteis, das quais apresentamos algumas, de acordo com a nossa visão. Este ensaio, e viram-no bem tanto Leonardo Coimbra como Sant'Anna Dionísio, é verdadeiramente o seu "testamento filosófico" e, embora bem analisado ou debatido filosoficamente por muitos pensadores portugueses e em especial anterianos, tem sido ainda insuficientemente compreendido ou acolhido espiritualmente...
Oiçamo-lo dentro desta perspectiva ou assunção mais espiritual, em alguns passos do seu texto, já comentados ou parafraseados por nós:
Se o descobrir "a directriz da força íntima inicial", ou a nossa própria, é a base da via do conhecimento, seja pessoal seja geral, constantemente devemos retemperar-nos e redescobrirmo-nos, ou melhor ainda recentrar-nos, enraizar-nos na nossa essência para enfrentarmos "a acção mais ou menos perturbadora das forças que lhe condicionam a expansão" e que desequilibram o corpo, as emoções e a psique envolventes.
Esta busca do "misterioso princípio ideal" que tenta manifestar-se em nós e na Humanidade faz-nos consciencializar da sua "potência infinita" e da expressão ou "acto limitado" que vamos conseguindo conceptualizar ou realizar.
Infelizmente poucos de nós sondamos ou visualizamos esse potencial nosso e assim deixamo-nos vulgarizar, diminuir, oprimir...
Desta limitação humana e da sua capacidade expressão resulta que a Verdade tem de ser para nós simbólica pois "não é o Absoluto mas participa da natureza do Absoluto e tem em si, como diz o poeta, parte alguma do infinito".
Quem é então o Filósofo ou o que é a Filosofia: "`é a equação do pensamento e da realidade", ou "equilíbrio momentâneo entre a reflexão e a experiência: a adaptação possível em cada momento histórico...".
O que Antero de Quental nos pede é então coerência, verdade, sinceridade entre o que conhecemos e cremos, sentimos e pensamos e logo vivemos. Certamente na medida do possível, num fazer-se incessante, no desenvolvimento da nossa própria especificidade, equilibrando, diremos nós, por exemplo, a contemplação e a acção, ou os nossos anseios e uma certa aura constante de aceitação transformante dos condicionalismos inevitáveis.
Este é o trabalho do amante da Sabedoria, o "Filo Logos", que é também aquele que ama a Inteligência ou a Razão, o Espírito ou o Ser...
                                         
Antero de Quental em vários aspectos deste valioso ensaio foi bastante clarividente e espiritual e, na compreensão que apesar dos vários sistemas filosóficos serem irredutíveis entre si há algo de comum, afirma: "O espírito da época penetra-os a todos: o génio da raça e da civilização, que os viu nascer, imprimiu em todos igualmente o seu cunho indelével", intuindo que: "haverá em cada época em cada civilização, uma metafísica latente, mais profunda que a que se formula nos diversos sistemas e tão profunda que a todos escapa, mas que influa insentida em todos e de que cada um murmure muito confusamente um eco?"
Esta ideia da existência de uma metafisica comum tanto pode ser vista como a Anima mundi, da Antiguidade e do Renascimento, como também a de uma aura psico-espiritual, e neste sentido se encaminhou C. G. Jung com o seu inconsciente colectivo, certamente um aperfeiçoamento das noções que vinham do séc. XIX, nomeadamente de Hartman e que Antero tão bem conhecera, e também com a ideia de sincronicidade, por exemplo, quando vemos diversos autores murmurarem um eco dessa comunicação subtil do que do mundo dos arquétipos está mais próximo e afim da humanidade numa determinada época e que chega até às suas mentes mais prescrutantes ou às suas almas mais sensíveis e receptivas.
Seria interessante estarmos mais conscientes, por exemplo, dos esforços (e resultados...) meditativos e contemplativos de Antero para captar os ecos ou reflexos de tais arquétipos, princípios, leis, formas geométricas e ideias do mundo intermediário intelectual e causal entre a Divindade ou o Absoluto e a mente racional humana, a Humanidade, não só na poesia e nos Sonetos como no seu esforço ingente filosófico e metafísico. Ou seja, onde, mais do que espraiar o que lera ou pensava, captou intuitivamente dos mundos subtis e espirituais algo que nos transmite e impressiona, seja pela beleza, a concisão, a clareza, a novidade, a hipótese possível arrojadamente lançada.
Da complementaridade dos sistemas e visões resulta que "sem o quererem, completam-se uns aos outros, e é só no conjunto deles que o espírito que anima a idade, o ciclo humano que os produziu, se encontra inteiro e pode ser bem estudado e compreendido. A expressão completa deste espírito seria pois um teoria geral do Universo, que formulasse superiormente, reduzindo-os à sua unidade, todos aqueles pontos de vista parciais, aqueles momentos limitados de compreensão, que cada sistema representa isolada e divergentemente"
Neste aspecto, a procura contemporânea da compreensão, comprovação e exposição de uma teoria do campo unificado de energia-consciência do Universo, e vemos de novo a actualidade de Antero que além de ter intuído que já no que se designava como magnetismo se encontrava essa força orgânica unitária (conforme a Carta a Cirilo Machado, de 1886, tratada num artigo neste blogue) considera que, na impossibilidade de um síntese perfeita dos diferentes pontos de vista, doutrinas e sistemas "um ecletismo ou um sincretismo mais ou menos sistemático" é o "possível sucedâneo daquela síntese irrealizável".
Este é um dos aspectos mais valiosos de Antero, que por vezes ele aponta ou aspira ou intui nalguns dos seus psicomorfismos ou ideias forças, tal a da comunhão com os mortos queridos ou com as grandes ideias e ideais da Humanidade.
Antero adianta então que na história da Humanidade algo disso se conseguiu na época ou período de Alexandria «quando Pitagóricos, Platónicos, Estóicos e até Peripatéticos se uniram» e no declinar da Idade Média, quando Thomas de Aquino formulou na «gigantesca Summa, senão uma verdadeira síntese, pelo menos a redução a uma unidade sistemática das tendências das várias correntes do espírito medieval, mais ou menos confundidas ou harmonizadas no seu sábio ecletismo.
«Hoje, ao cabo de quatro séculos de elaboração do pensamento moderno, parece dar-se alguma coisa semelhante... A hora do joeiramento das verdades adquiridas, da crítica e coordenação dos diversos pontos de vista e da conciliação dos sistemas parece ter soado para a filosofia moderna... O adepto de uma escola, segundo os velhos moldes, absoluto e intransigente, faz-nos hoje muito proximamente o efeito de uma inteligência acanhada, às vezes quase de um extravagante. Um largo criticismo vai substituindo o antigo dogmatismo. Por este lado ainda, tudo indica que somos entrados no que se pode chamar o período alexandrino do pensamento moderno", algo que nos nossos dias de globalização e da instrumentalidade da Internet amplificou poderosamente, permitindo recolhas de informação e sínteses cada vez mais abrangentes das múltiplas esferas e fontes do conhecimento.
Antero vai então destacar no substrato do pensamento geral actual quatro noções capitais, "quatro palavras que representam em amplitude como em profundeza, a maior revolução intelectual da humanidade": força (a essência comum da matéria e o espírito), lei ("as leis do espírito são as leis do universo"), imanência ("o espírito é o ser tipo, medida de todos os seres, revelação da sua mais íntima natureza") ou espontaneidade, e desenvolvimento ("a força manifesta-se em actos que alargam a esfera da acção").
                                           
Ao comparar o que até então se pensara e o que se começava a compreender, realça que "se, para o pensamento antigo, a realidade aparecia como uma emanação do ser em si absoluto e só verdadeiramente existente, para o pensamento moderno é a realidade o fieri incessante de um ser em si só potencialmente existente e que só realizando-se atinge a plenitude...", acrescentando ainda que "segundo o pensamento moderno matéria e forma são indissolúveis, fundem-se na natureza autónoma dos seres cujo princípio de energia lhes é próprio, ou antes, constitui a sua mesma essência" e que hoje em dia se "vê na realidade o acto único de uma substância omnímoda, por virtude da qual todos os seres, momentos e modalidades dela, comunicam continuamente entre si, influenciando-se mutuamente, opondo-se e, por essa constante e universal oposição, realizando, não a recíproca anulação, mas a integração de todos os momentos na unidade, cujas diversas potências manifestam."
Isto é algo que a ciência moderna vai confirmando, nomeadamente com a sua noção do emaranhamento da mente que, por exemplo o cientista Dean Radin tem exposto e comprovado, ou que muitos de nós vão sentindo em diversos tipos de telepatia e pressentimentos, estes referidos por Antero em 1886: «eu tenho por certo os pressentimentos. Agora como, isso não sei e penso que ninguém sabe».
Realcemos então neste excerto a posição de síntese ecléctica de Antero, as quatro palavras que para ele eram as ideias-forças mais importantes, que nós hoje devemos reactualizar e aprofundar com os dados da física quântica e das neuro-ciências, e por fim a sua dinâmica visão do Ser, que em nós é a energia própria e íntima, a nossa essência, e que na "identidade do ser e do saber" vive em ampla unidade comunicativa com todo o Universo.
                                               
Transcrevamos uma parte do significativo parágrafo em que Antero desenvolve a "sublime" ideia de desenvolvimento, ela:
 «é a consequência e o complemento natural das ideias de força e de imanência.... todo o ser tende para a afirmação de si mesmo, isto é, para a expansão e a realização da sua essência. Se essa essência, que exprime a sua mesma existência, lhe é imanente, a sua potência ou virtualidade de expansão e realização é necessariamente ilimitada, pois no momento em que encontrasse um limite absoluto a essência do ser estaria em contradição consigo mesmo: realizar-se, e realizar-se numa sucessão ilimitada de momentos, em que cada um abrange o anterior e por isso compreende mais do que ele, tal é a sua lei. Ainda por este lado chegamos à ideia de desenvolvimento. O Universo aparece-nos agora já não somente como o grande ser autónomo e eternamente activo, mas como ser de ilimitada e infinita expansão, tirando de si mesmo, da sua inesgotável virtualidade, de momento para momento, criações cada vez mais completas, mais ricas de energia, vida e expressão, envolvendo-se e desdobrando-se, em voltas cada vez mais largas e sinuosas, na espiral sem termo do seu maravilhoso desenvolvimento. Divino e real ao mesmo tempo, manifesta a si mesmo a sua essência prodigiosa, contempla-se numa infinidade de espelhos e em cada um sob um aspecto diverso, desenrolando a sua eterna existência numa série de panoramas, desde as forças elementares e puramente mecânicas, as mil afinidades da matéria bruta, até ao instinto que sonha, à inteligência que observa e compara, à razão que ordena, ao sentimento que fecunda, até à contemplação e à virtude dos sábios e dos santos».
É uma bela visão da evolução da Humanidade numa escala de virtude e sabedoria, rumo à sua perfeição...

Na parte final do último parágrafo da I parte das Tendências Gerais da Filosofia na segunda metade do século XIX, diz-nos ainda Antero:
" A nova filosofia fundada sobre a «identidade do ser e do saber» leva as ideias fundamentais do espírito moderno, as ideias de força, de imanência e de desenvolvimento, até ao máximo grau de condensação. Schelling e Hegel fundaram definitivamente a doutrina da evolução, e fundaram-na na mais alta região das ideias, donde ela domina todo o pensamento do nosso século. A evolução, vista dessa altura, não é somente o processo mecânico e obscuro da realidade [hoje bem menos...] : é o próprio processo dialéctico do ser, tem as suas raízes, comuns com as raízes da razão, na inconsciente [ou seremos nós que estamos inconscientes de tal?] mas fundíssima aspiração da natureza a um fim soberano, a consciência de si mesmo, a plenitude do ser e a ideal perfeição. A lei suprema das coisas confunde-se com a sua finalidade e essa finalidade é espiritual. Com Schelling e Hegel a filosofia da natureza compenetra-se dos seus verdadeiros princípios metafísicos: o mecanismo dissolve-se no dinamismo, cujo tipo ultimo é o espírito. O universo, à luz do realismo transcendental dos dois grandes sucessores de Kant, transfigura-se: o seu movimento aparece como uma sucessão e encadeamento de ideias e a sua imanência define-se como a da alma infinita das coisas».
 
Realcemos esta intuição de Antero de que a nossa imanência mais íntima é a própria alma infinita e divina do Universo.
Sejamos pois mais nós próprios, realizando a nossa essência e expandindo-a num fazer incessante, mais conscientes da "substância omnímoda" viva e inter-dialogante, "alma infinita das coisas",  "na espiral sem termo do seu maravilhoso desenvolvimento, Divino e real ao mesmo tempo", na qual temos o nosso ser, e onde a Tradição Espiritual Portuguesa, de que Antero de Quental e nós fazemos parte, é um dos veios ou rios auríferos...