domingo, 30 de junho de 2024

O Único Contraveneno da Incerteza Moral, ou tentativa de clarificarmos os modos de discernirmos o que é o real, útil e verdadeiro bem.

                                                

Uma alma discreta, que escondeu o seu nome abreviando-o como J. P. de B. B. M., publicou em 1838, no Porto, numa pequena tiragem, na saudosa Imprensa Constitucional, o Unico Contraveneno da Incerteza Moral, ou real, verdadeiro e unico Elemento Moral, num in-8º de 43 páginas, e na castiça e inteligente justificação, ou Motivo, diz-nos que no seu opúsculo juntou, para os que não podem ler livros volumosos, muita informação, na ambição de ser útil.  Temos nós esta ambição, esta aspiração, esta vontade perseverante e sempre renascendo como uma fénix das cinzas das suas desilusões, doenças, mortes, de sermos úteis?
Vejamos então o que e
le cogitou, reuniu, descobriu, e como por tal lutou, e as boas perguntas e indicações que lançou:

«Este opúsculo que ofereço à Multidão, é fraco no crédito que me dá, por ser um plagiariato; mas forte e de colossal utilidade, para os impossibilitados de ler obras volumosas. Num Professor de ciências positivas seria julgado um grande atrevimento, ou um roubo indecoroso; mas em mim que não sou Facultativo [ou vinculado por formação a uma ciência], é uma curiosidade desculpável pela ambição de ser útil. Muitas coisas úteis deixam de o ser, por não serem acomodadas à capacidade popular [e muitos exploram tais incapacidades, ou são tidos por superiores graças a elas], (...) Arruinadas iam as oficinas [tipografias] Literárias, decorreriam séculos em trabalharem, se as invenções novas com exclusão das cópias das traduções, e dos resumos, somente vissem a luz.
Se um povo se enganou, deverá ele marchar eternamente na estrada do erro, a perdição e da infelicidade? Todo o homem deseja ser feliz. Se não o é com a verdade, não o pode conseguir com o erro. Se a opinião pública é errada, a culpa não é do povo, nem do filósofo que destruiu o erro; mas do legislador que não faz uso da verdade. Se os melhores projectos se quebram contra a opinião popular, ou a multidão, é porque esta é abandonada à influência das trevas.»
O problema, diremos, é que há vários níveis de felicidade -  a qual é alegria, sentir-se bem, ter prazer, sentir-se que se está a cumprir a sua missão ou o seu dever, ou ainda que se está a fazer o bem. Por vários níveis causais poderemos sentir felicidade pelo que pode até não ser o verdadeiro bem o que acreditamos e procuramos, ou ser até no erro que nos sentimos bem, justos, deliciados, pelo que há que discernir muito bem o que nos faz verdadeiramente felizes, individual ou colectivamente.
Ora as pessoas abandonadas às trevas que (actualmente) os meios de informação manipuladores, consumistas e sensacionalistas lhes ditam, não conseguem deslindar o que é a verdade nem o melhor para elas, nem conseguem perceber o que deveriam desenvolver da sua própria personalidade e capacidade intelectual e anímica, a qual depende sobretudo «em se lembrar das ideias adquiridas, adquirir outras novas», e  assenta na capacidade de atenção, clareza do discernimento, exactidão da memória, vivacidade de imaginação», para cujo desenvolvimento ou educação tão importantes são a firmeza de alma e a perseverança.
Face ao imediatismo, ou à atração do poder do prazer imediato, o melhor é sabermos cogitar, equacionar prazeres actuais e prazeres ou dores que virão como consequências no futuro, e portanto saber sacrificar prazeres imediatos por maiores satisfações futuras, ou sofrer penas ou dores actuais para evitar outras ou piores no futuro, conselho ou regra esta que devemos equacionar com regularidade...
J.P. de B. B. M, considera, por exemplo, que em certas pessoas o amor pode ocasionar inveja, ódio, antipatia contra os que podem colher a fruição do objecto agradável no lugar delas, sendo tal posicionamento uma forma errada do sentimento do amor exagerado se erigir em regra da utilidade ou justiça dos nossos sentimentos e actos.
Ora a Utilidade é o poder ou tendência duma qualquer coisa para evitar dor ou conseguir algum bem para nós, sendo o bem o prazer, ou o que o motiva, e o mal a pena, a dor, ou o que a causa.
Discernir onde está o que tem maior valor de utilidade, através da comparação dos bens e males que resultam, é a verdadeira base do que é virtuoso, do que gera o melhor bem pessoal e colectivo.
Porque é que as pessoas não conseguem discernir (ou aplicar e implementar) nas suas vidas e caminhos o que lhes é mais útil e logo mais gerador de felicidade?
Porque as pessoas não se conseguem reger por tal racionalidade e discernimento da utilidade e valor e são influenciadas pelos seus desejos, tendências, vícios e influências exteriores.
Nesses factores estão os falsos princípios, filosóficos, religiosos ou morais que as pessoas estabelecem e que as levam a repudiar o que seria o equilibrado e o justo, ou o mais útil, pensando que assim se valorizam ou glorificam nesta ou noutra vida.
O básico dum princípio arbitrário é a pessoa persuadir-se do que o que gosta ou não gosta, deve ser a sua regra e que pode propor os seus sentimentos ou opiniões, como a regra, aos outros.
O anónimo mas benemérito ou útil autor, numa obra rara pois não encontramos qualquer referência a ele e a ela na bibliografia geral nem no catálogo online das bibliotecas públicas (PORBASE), tenta no fundo despertar as pessoas para se autonomizarem de ideias feitas provindas do exterior e de sentimentos e pensamentos subjectivos e antes racionalmente ponderarem onde está a maior utilidade, para si e para os outros, e aplicá-la.
Embora o fim da moral e da lei sejam o mesmo, têm campos de aplicação ou órbitas diferentes, pois é na interioridade pessoal que se registam os valores e utilidades, sendo difícil regê-los por leis, nomeadamente quanto aos sentimentos e actos, tais os negativos de ingratidão e de perfídia, mas mesmo assim conseguiremos discernir três regras de Moral privada: a Prudência, para não se fazer mal a si mesmo, ou não faltar ao seu interesse; a Probidade para se gozar confiança e se poder interelacionar com felicidade recíproca; e a Beneficiência com os mais desfavorecido ou os seres da natureza,  obtida pelo desenvolvimento da benevolência.
Saibamos pois discernir constantemente o que de mais útil a nós e aos outros podemos sentir, pensar e realizar, e perseverar no que pensamos poder ser mais útil ao nosso ser eterno e ao dos outros seres...

Como e quando se resolverá o enigma do seu nome, verbo, palavra?

                                

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